Aquíferos:
a riqueza subterrânea vital para a segurança hídrica do Brasil
SGB amplia
conhecimento técnico-científico e monitora águas subterrâneas com ferramentas
estratégicas como SIAGAS, RIMAS, Cartografia e Projetos
Hidrogeológicos.
A
informação é do Serviço Geológico do Brasil, publicado pelo núcleo de
comunicação do Ministério de Minas e Energia.
O
Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), do Serviço Geológico do
Brasil (SGB), tem registrado em sua base de dados 382.333 pontos de água/poços,
representando um aumento de 3,35% em relação a 2023. No período de janeiro a
dezembro de 2024, 12.693 novos poços foram adicionados à base de dados.
As
maiores concentrações de poços cadastrados estão nos sistemas
aquíferos: Alter do Chão (Região
Norte), Bauru-Caiuá (Região Sudeste e Centro-Oeste), Barreiras
(grande parte do litoral brasileiro), Guarani (Região Sul, Sudeste e
Centro-Oeste), Piauí (Região Nordeste), Cabeças (Região
Norte e Nordeste), Serra Grande (Região Norte e Nordeste), entre
outros.
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Afinal, o que são os aquíferos?
Os
aquíferos são reservatórios subterrâneos formados por rochas, sedimentos ou
minerais com capacidade de armazenar e transmitir esse recurso essencial para a
vida, a água. Eles desempenham um papel crucial no ciclo hidrológico, pois
recebem água das chuvas, rios, lagos e outros corpos hídricos por meio da
infiltração no solo. Esse processo ocorre através de poros ou fraturas nas
formações geológicas, permitindo que a água se acumule e circule lentamente.
De
acordo com Daniele Genaro, pesquisadora da Rede Integrada de Monitoramento
das Águas Subterrâneas (RIMAS) do Serviço Geológico do Brasil (SGB), é sabido
que os aquíferos representam 97% das águas doces acessíveis do planeta. “Por
estarem localizados no subsolo, estão relativamente protegidos dos impactos
diretos das atividades humanas e das mudanças climáticas. Além disso, possuem
uma distribuição espacial mais ampla do que os leitos dos rios, o que tem
tornado as águas subterrâneas uma fonte cada vez mais demandada para o
abastecimento”, explica.
Porém,
a pesquisadora da Divisão de Hidrogeologia e Exploração
(DIHEXP), Priscilla Silva, chama atenção para a exploração exacerbada dos
poços. “Diante da crescente demanda por água e da vulnerabilidade das fontes
superficiais, a preservação dos aquíferos se torna essencial para garantir a
segurança hídrica das futuras gerações. O monitoramento e a gestão sustentável
desses reservatórios subterrâneos são fundamentais para evitar sua contaminação
e exploração excessiva, assegurando, assim, a disponibilidade desse recurso
vital”, relata.
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Tipos
Os
aquíferos podem ser classificados conforme sua capacidade de armazenar e
transmitir água:
- Aquífero:
formação geológica capaz de armazenar e transmitir água em volumes
aproveitáveis para o abastecimento (exemplo: arenitos e calcários
carstificados).
- Aquitarde:
permite a acumulação de água, mas seu transporte ocorre de maneira muito
lenta (exemplo: argila arenosa).
- Aquiclude:
material impermeável que pode armazenar água, mas sem capacidade de
transmissão significativa (exemplo: argilas).
- Aquífugo: rocha
impermeável que nem armazena nem transmite água (exemplo: granito não
fraturado).
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O Sistema Aquífero Guarani: uma reserva estratégica
Dentre
os diversos aquíferos existentes no mundo, o Sistema Aquífero
Guarani (SAG) se destaca como um dos maiores e mais importantes. Com uma
extensão de aproximadamente 950.000 km², distribui-se pela Bacia
Sedimentar do Paraná, abrangendo territórios de quatro países da América do
Sul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Segundo
pesquisas, estima-se que cerca de 90 milhões de pessoas sejam direta ou
indiretamente beneficiadas pela exploração das águas do SAG. No Brasil,
aproximadamente 43% da população vive sobre essa reserva subterrânea,
contrastando com menos de 1% da população uruguaia. Por sua dimensão e
capacidade de armazenamento, o SAG é considerado uma reserva estratégica para o
abastecimento público e para atividades agroindustriais na região.
Os
projetos do Serviço Geológico do Brasil contribuem para ampliar o
conhecimento dos principais aquíferos do país dando subsídios para a gestão dos
recursos hídricos subterrâneos, dentre os quais destacam-se
o SIAGAS (Sistema de Informação de Águas
Subterrâneas), RIMAS (Rede Integrada de Monitoramento de Águas
Subterrâneas), Cartografia Hidrogeológica (publicação de mapas em
escalas e detalhes diversos), Estudos Hidrológicos e Hidrogeológicos Integrados
(realizados em parcerias com Estados e ANA - Agência Nacional de
Águas e Saneamento) e Estudos Hidroquímicos e Isotópicos.
¨ Investindo em um banco de águas
Imagine
que uma civilização tenha sempre e apenas utilizado
as águas dos rios e lagos; mas nunca as de poços,
nascentes e cacimbas. As águas usadas seriam descartadas nos solos; e
não nos rios de onde provêm a água para o consumo. Contudo, suponha que em
uma crise hídrica alguém proponha
usar as águas subterrâneas! De forma quase inversa, é isso o que ocorre
no Brasil: usamos águas superficiais e subterrâneas e as descartamos nos
rios, independentemente de sua origem.
Apesar
de quase 80% da população brasileira ter o abastecimento público por águas
superficiais, extraem-se mais 17,6 trilhões de litros de água subterrâneas por ano (quase
20.000 piscinas olímpicas por dia), através de 2,5 milhões de poços tubulares e
de outros milhões de poços escavados e nascentes, para atender os diversos usos
da demanda nacional.
As águas
subterrâneas possuem vantagens, como uma melhor qualidade natural (que
dispensa tratamentos químicos) e um menor custo de operação que as
superficiais. Além disso, costumam ser uma reserva confiável, especialmente em
períodos de estiagem. Por estes motivos, mesmo pequenas cidades com ampla
disponibilidade superficial acabam optando pelo recurso hídrico subterrâneo – e o mesmo
para o seu uso na agricultura.
Essas
vantagens fizeram com que o abastecimento público com as águas
subterrâneas fosse uma prática comum na Europa, como
na França (65%), Alemanha (70%), Itália (80%)
e Dinamarca (100%). E no Brasil, esses benefícios têm
multiplicado a perfuração de poços em áreas urbanas – para
condomínios, serviços e indústrias.
O Brasil é
repleto de volumosos rios em seu território. Porém, nem todos os brasileiros
vivem próximos a eles: milhões vivem em regiões semiáridas ou que sofrem
racionamentos recorrentes por diferentes motivos. Ao mesmo tempo, o país também
está sobre duas das maiores reservas subterrâneas do mundo: o Aquífero Alter do
Chão (na
Amazônia) e o Sistema Aquífero
Guarani (SAG).
A grande vantagem do SAG, do ponto de vista estratégico, é que ele é um grande
manancial sob uma grande demanda por água.
O Guarani se
estende por oito estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além
de Paraguai, Uruguai e Argentina. O SAG não é um grande
lago subterrâneo, com bordas delineadas e um nível equilibrado, mas um reservatório
de águas em camadas de arenito intercaladas, com diferentes permeabilidades – e
por isto considerado um sistema. A maior parte deste é confinado, com pequenas
áreas de afloramentos – onde há acesso mais fácil, tanto para a explotação
(extração para o uso) e recarga, mas também mais vulneráveis às contaminações.
As profundidades e espessuras do SAG variam: por exemplo, na região
de Bauru, no interior do estado de São Paulo, os poços
do Guarani explotam suas águas (em área confinada) à cerca de 250 m
de profundidade e abastecem cerca de 70% da população.
As águas
subterrâneas podem ser encontradas e explotadas em diferentes
profundidades. Porém, enquanto as águas de aquíferos rasos
e livres (não confinados) podem ser rapidamente repostas com as chuvas, na
parte confinada (como o caso de 80% da área do SAG) não há recarga direta e a
sua reposição pode levar milhares de anos – contendo assim as chamadas “águas
fósseis”.
Um aquífero é
como um banco de águas: se os saques são maiores que os depósitos, há prejuízos
neste balanço hídrico. E, assim como um banco, isto exige uma adequada
gestão: sobre a sua qualidade e quantidade. Assim como qualquer poupança, os aquíferos permitem
saques maiores que os ingressos por tempo limitado. Mas, estes também possuem
uma grande capacidade de armazenamento, o que pode permitir acumular
rendimentos gerados por investimentos – uma janela de oportunidade disposta
pela natureza e que deve ser usada. Apesar de aquíferos livres serem
naturalmente recarregadas com o ciclo das águas, em áreas urbanas acabam
sofrendo perdas, como juros, devido a impermeabilização das superfícies.
A Recarga
Gerenciada de Aquíferos, que poderia ser vista como um fundo de investimento em
nosso metafórico banco de águas, é utilizada em diversos países há mais de 50
anos para garantir a segurança hídrica. Apesar de
o Brasil já possuir regulamentações relacionadas, a técnica ainda não
é efetivamente aplicada no país. A recarga de um aquífero pode ocorrer de forma
natural ou mesmo de forma não proposital, por vazamentos de redes de água e
esgotos. Assim, a Recarga Gerenciada visa esta reposição, de forma
intencional e controlada – seja por infiltração superficial ou com injeção
direta no aquífero (necessária nos confinados).
No Brasil,
constitucionalmente as águas subterrâneas são bens dos estados,
independentemente de sua extensão – ao contrário do que ocorre com as águas superficiais. E por resoluções,
os aquíferos transfronteiriços ou subjacentes a estados devem ser
gerenciados com a integração de órgãos gestores; e estes órgãos devem estimular
os municípios para a recarga dos aquíferos. Os estados podem inclusive incentivar
a recarga artificial de aquíferos por entidades privadas, pessoas físicas ou
jurídicas – os denominados empreendedores.
Na
realidade brasileira, enquanto os piscinões focam na contenção das cheias dos
rios, trincheiras ou barreiras de infiltração poderiam auxiliar no controle
centralizado das chuvas – e na recarga dos aquíferos rasos
e livres. Jardins de chuva e outras Soluções Baseadas na
Natureza podem atuar também de forma descentralizada. Já para o caso do
SAG, precisaria ocorrer através de poços de injeção – como já ocorre
em Madri, na Espanha.
Com
milhões de poços explotando e nenhum repondo, é de interesse coletivo
a manutenção da segurança hídrica. E em um cenário de
aumento de demandas, somado às mudanças climáticas, as crises hídricas se tornarão
cada vez mais frequentes. As águas subterrâneas, manejadas adequadamente,
são uma gigantesca poupança ainda pouco usada no Brasil – e que podem
nos ajudar a equacionar o balanço entre ofertas e demandas.
Fonte:
GOV./((O))eco

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