57 anos do assassinato de Martin Luther King,
expoente da luta contra a segregação racial
Há 57 anos, em 4 de abril de 1968, Martin
Luther King era assassinado em Memphis, no Tennessee. Pastor batista e
militante do movimento pelos direitos civis, King foi um dos maiores nomes da
luta contra o racismo e contra as leis segregacionistas dos Estados Unidos.
Ele liderou ações históricas do movimento
negro, como o boicote aos ônibus de Montgomery e a Marcha sobre Washington —
ocasião em que proferiu seu célebre discurso professando o sonho de construir
uma sociedade mais justa. King também mobilizou o povo norte-americano para
lutar contra a pobreza, a desigualdade e a guerra.
Sua atuação foi crucial para concretizar
avanços como a Lei dos Direitos Civis e a Lei dos Direitos de Voto, mas também
lhe custaram a oposição e perseguição de inimigos poderosos — incluindo o
governo dos Estados Unidos, que o submeteu a uma insidiosa campanha
difamatória.
• Os
anos iniciais
Michael King Junior nasceu em Atlanta, no
estado da Geórgia, em 15 de janeiro de 1929. Ele era o segundo dos três filhos
de Alberta e do reverendo Michael King. Assim como seu pai, ele mudaria o nome
para Martin Luther King (Junior), em homenagem ao líder da reforma protestante,
Martinho Lutero.
King foi confrontado pela discriminação desde
muito cedo, crescendo em uma sociedade marcada pelo ódio racial, estimulado
pela vigência das Leis de Jim Crow — a legislação que oficializava a segregação
racial e submetia a população afro-americana à condição de cidadãos de segunda
classe.
Aos seis anos de idade, King foi forçado a se
afastar de um amigo branco, por exigência dos pais do menino. No mesmo período,
ele foi obrigado a frequentar uma escola segregada. Essas experiências o
marcaram profundamente e despertaram sua consciência sobre a injustiça racial.
Ao longo da infância, King teve contato com
uma série de agressões e humilhações contra os afro-americanos — mas também
testemunhou de perto a vigorosa reação de seus pais aos abusos e atos racistas.
O jovem King se vinculou à vida religiosa por
influência da família, participando desde pequeno das atividades da Igreja
Batista. Após concluir o ensino secundário, ele ingressou no curso de
sociologia da Morehouse College, renomada instituição de ensino superior ligada
à comunidade afro-americana.
King também cursou o Seminário Teológico
Crozer, na Pensilvânia, graduando-se em 1954. Posteriormente, ele se doutorou
em Teologia Sistemática pela Universidade de Boston — ocasião em que conheceu
sua futura esposa, Coretta Scott King, que se tornaria mãe de seus quatro
filhos.
• A
luta antirracista
King se filiou à Associação Nacional para o
Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, no acrônimo em inglês) e intensificou sua
militância antirracista após assumir o cargo de pastor em uma igreja de
Montgomery, no estado do Alabama, onde as tensões raciais e conflitos étnicos
eram historicamente inflamados.
Em 1955, King liderou os protestos contra a
prisão da costureira negra Rosa Parks, detida por se recusar a ceder o seu
lugar no ônibus a um homem branco. O episódio levou à criação da Associação de
Melhoria de Montgomery (MIA), uma organização criada para reivindicar o fim da
segregação racial na cidade. King assumiu a presidência da organização.
O pastor conduziu um movimento de boicote aos
ônibus de Montgomery que durou 382 dias e ensejou a primeira grande vitória do
movimento dos direitos civis: uma decisão da Suprema Corte determinando a
abolição da segregação racial nos ônibus da cidade.
O veredito criou a jurisprudência utilizada
para pressionar pelo fim das políticas de segregação racial em todo o país. A
façanha, entretanto, também atraiu o ódio de grupos supremacistas — e a
perseguição por agentes do Estado. King sofreu a primeira das 29 prisões que
enfrentaria até o fim da vida. Ele teve sua casa bombardeada, foi alvo de uma
série de atentados e chegou a ser esfaqueado.
Em 1957, King fundou a Conferência da
Liderança Cristã do Sul (SCLC), organização de ação social constituída pelas
comunidades negras da Igreja Batista. O pastor presidiu a instituição até a sua
morte, convertendo-a em um importante instrumento de pressão política.
Pautado pela aderência aos princípios
cristãos, King buscou conceber sua militância aliando a estratégia de
desobediência civil — preconizada pelo abolicionista Henry David Thoreau e
adotada por Nelson Mandela na luta contra o apartheid sul-africano — à concepção
de resistência não violenta derivada de Mahatma Gandhi.
Apoiando-se em seu domínio excepcional da
retórica e em um ativo trabalho de base, King organizou uma série de passeatas
e manifestações que ajudaram a fortalecer a luta pela igualdade racial.
Sua militância trouxe importantes vitórias
para o movimento negro. Até o fim da década de 50, King conseguiu liberar o
acesso dos afro-americanos a parques públicos, bibliotecas, lanchonetes e
restaurantes em várias cidades dos Estados Unidos.
• As
grandes marchas e a Lei dos Direitos Civis
Por meio da SCLC, King organizou algumas das
mais importantes iniciativas da luta antissegregacionista, como o Movimento de
Albany (1961), a Campanha de Birmingham (1963) e as Marchas de Selma (1965).
Ele se tornou uma das grandes lideranças do movimento negro, atraindo não
apenas o apoio das comunidades cristãs, mas de amplos segmentos do movimento
operário, por reivindicar pautas como salários mais dignos e mais postos de
trabalho para os afro-americanos — malgrado as divergências com Malcolm X e
lideranças do futuro Partido dos Panteras Negras, ressabiados com o pacifismo
do pastor e sua postura aberta ao diálogo com representantes da elite
norte-americana.
Em 1963, King organizou a Marcha sobre
Washington, que se tornaria um marco histórico do movimento dos direitos civis.
O ato reuniu mais de 250 mil pessoas na capital norte-americana e serviu de
palco para o célebre discurso “Eu Tenho um Sonho”, em que King externava o
objetivo de construir uma sociedade fundada sob a igualdade racial.
A gigantesca manifestação e a repercussão do
discurso de King pressionaram o congresso a encampar as reivindicações do
movimento negro. Logo após a marcha, o pastor foi recebido pelo presidente John
Kennedy.
Em 1964, o Congresso dos Estados Unidos
aprovou a Lei dos Direitos Civis, estabelecendo a igualdade formal e jurídica
entre negros e brancos e abolindo a política segregacionista das Leis de Jim
Crow. No ano seguinte, King viabilizou a aprovação da Lei dos Direitos de Voto,
banindo uma série de restrições e práticas eleitorais discriminatórias, que
restringiam a participação política dos afro-americanos
• Sob
a mira do FBI
As vitórias legislativas impulsionaram
internacionalmente a imagem de King, que seria agraciado no ano seguinte com o
Prêmio Nobel da Paz. Mas o triunfo dos afro-americanos também atraiu a fúria
dos supremacistas brancos — nomeadamente da Ku Klux Klan (KKK) — e alarmou o
governo dos Estados Unidos, que passou a tentar neutralizar King como líder do
movimento dos direitos civis.
O diretor do FBI, J. Edgar Hoover, rotulou o
pastor como “o mais perigoso e efetivo líder negro no país”. King passou a ser
monitorado pelo FBI, pela CIA e pela Agência de Segurança Nacional (NSA) e foi
submetido a uma implacável campanha de perseguição e de difamação.
O FBI o acusou de possuir vínculos com o
Partido Comunista dos Estados Unidos e com a União Soviética. Agentes do
governo norte-americano também fabricaram evidências sobre supostos casos
extraconjungais e chegaram a enviar uma carta apócrifa com chantagens,
sugerindo ao pastor que cometesse suicídio.
Apesar as tentativas de intimidação, King
seguiu cada vez mais ativo em sua militância antirracista. Em 1966, buscando
expandir as atividades da SCLC para o norte dos Estados Unidos, King fundou o
Chicago Freedom Movement, que organizou uma série de manifestações no estado de
Illinois.
• A
Campanha dos Pobres
O pastor também se tornou progressivamente
mais aberto às ideias socialistas, criticando problemas estruturais do
capitalismo e o imperialismo americano.
King se destacou entre os mais notórios
opositores da Guerra do Vietnã, chegando a acusar o governo dos Estados Unidos
de ser “o maior perpetuador de violência no mundo” — fato que lhe custou a
perda significativa de apoio de seus simpatizantes brancos.
A adesão de King ao pensamento
anticapitalista atingiu seu ápice durante a chamada “Campanha dos Pobres”,
lançada em 1968, quando o pastor priorizou as questões de injustiça econômica,
a exclusão social e passou a exigir a criação de uma “Declaração dos Direitos
Econômicos”, asseverando que a “reconstrução da sociedade é a verdadeira
questão a ser enfrentada”.
A Campanha dos Pobres causou controvérsias
até mesmo dentro do movimento negro, levando ao afastamento de militantes
liberais que viram a adesão a essas pautas como uma prova de que King havia
sido “cooptado pelo socialismo”.
• Assassinato
King planejava uma nova marcha rumo a
Washington quando viajou até Memphis, no Tennessee, para apoiar uma greve dos
funcionários negros da limpeza urbana por melhores salários e condições dignas
de trabalho. Em 4 de abril de 1968, enquanto estava na sacada do Hotel
Lorraine, King foi alvejado por um tiro. O disparo foi atribuído a James Earl
Ray. O pastor chegou a ser socorrido e a passar por uma cirurgia de emergência,
mas não resistiu aos ferimentos e faleceu algumas horas depois.
A morte de King causou grande comoção
internacional e provocou a fúria da comunidade afro-americana, que organizou
protestos massivos em Washington, Chicago, Baltimore e Kansas City.
Há suspeitas de que o assassinato de King
pode ter sido orquestrado pelo governo dos Estados Unidos e que James Earl Ray
seria apenas um bode expiatório. Ray confessou formalmente o assassinato para
escapar de uma sentença de pena de morte, mas sempre sustentou que era
inocente.
As suspeitas sobre uma conspiração foram
reforçadas em 1993, quando um homem chamado Loyd Jowers afirmou ter recebido
100 mil dólares para arquitetar o assassinato de King. O verdadeiro assassino,
segundo Jowers, seria Earl Clark, um oficial da polícia de Memphis.
King foi postumamente laureado com a Medalha
Presidencial da Liberdade e com a Medalha de Ouro do Congresso Americano e
segue até hoje como um dos maiores símbolos do movimento negro e da luta contra
o racismo. Sua data de nascimento foi convertida em feriado nacional — o “Dia
de Martin Luther King”.
Fonte: Por Estevam Silva, em Opera Mundi
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