Crianças
com diabetes sem controle da glicemia podem crescer menos
A falha
no controle da glicemia em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 pode
prejudicar a estatura na idade adulta, mostra um estudo do Instituto
Karolinska, na Suécia, publicado no The Journal of Clinical Endocrinology and
Metabolism.
Os
autores comprovaram essa associação após analisar dados de mais de 12 mil
pessoas nascidas entre 1982 e 2002, registrados no National Diabetes Register
(NDR). Todos foram acompanhados em check-ups periódicos desde o primeiro
registro no sistema até atingirem a maioridade.
O
controle da glicemia foi avaliado pela dosagem da hemoglobina glicada, que faz
um retrato dos níveis de glicose no sangue nos três meses anteriores ao exame.
O estudo também levou em conta fatores como idade no início da doença,
comorbidades e histórico familiar.
Aqueles
com controle glicêmico inadequado atingiram menor estatura final em relação aos
que tinham a doença sob controle. Em média, os homens mediam 1,78 cm contra
1,81 cm. Já entre as mulheres, as que não cuidaram dessas dosagens tinham 1,66
cm, contra 1,67 cm das que mantiveram os níveis controlados. Nas meninas, o
maior impacto ocorreu quando as taxas de glicemia estavam fora de controle
antes da puberdade.
No
diabetes tipo 1, o pâncreas não produz insulina adequadamente e a pessoa
precisa receber esse hormônio de forma sintética. É ele que “empurra” a glicose
que está no sangue, obtida na alimentação, para dentro das células. A falha no
controle glicêmico mostra que a insulina está em baixa e que, portanto, também
está desregulada.
Mas a
insulina não tem apenas esse papel. Ela também é essencial para a síntese de
proteínas. “O estudo ressalta a importância da insulina como hormônio
anabolizante”, explica o endocrinologista Simão Lottenberg, do Hospital
Israelita Albert Einstein. “Esses pacientes precisam de um controle muito
adequado da alimentação, que deve ser balanceada para garantir todos os
nutrientes necessários, além da dosagem correta de insulina.”
Segundo
o especialista, esses pacientes não podem adotar uma dieta restritiva para
controlar a doença, pois isso pode levar à falta de hormônio para sintetizar
proteína, prejudicando o crescimento.
É um
cenário diferente dos portadores de diabetes tipo 2, doença normalmente
associada ao excesso de peso. Nesse caso, sim, uma dieta mais restritiva pode
ser necessária.
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Sintomas e tratamento
As
manifestações do diabetes tipo 1 incluem sede excessiva, fome aumentada,
vontade frequente de fazer xixi, cansaço extremo e infecções recorrentes, além
da perda de peso.
O
diagnóstico precoce, bem como manter as taxas de glicemia no sangue adequadas
desde cedo, é essencial para evitar prejuízos ao crescimento e afastar o risco
de outras complicações associadas ao diabetes, como problemas nos vasos,
nervos, rins, entre outras.
Além de
administrar insulina diariamente, o tratamento do diabetes tipo 1 inclui adotar
uma alimentação balanceada, praticar exercícios físicos regularmente e
monitorar o nível da glicose ao longo do dia.
• Diabetes tipo 2 na gestação aumenta
risco de malformações congênitas
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, 6% dos bebês nasçam
com algum distúrbio congênito. E uma das possíveis causas desses problemas é a
presença de diabetes na mãe. Um estudo brasileiro, publicado na revista
científica Diabetology & Metabolic Syndrome, aponta uma prevalência de
13,8% de malformações congênitas em bebês de mulheres diagnosticadas com
diabetes tipo 2 antes ou durante a gestação.
“O
nosso estudo chama a atenção para uma situação alarmante: a ausência
praticamente total de preparação para a gravidez nas mulheres com diagnóstico
de diabetes tipo 2”, afirma a médica Maria Lúcia da Rocha Oppermann, uma das
autoras do estudo e professora titular da Faculdade Medicina da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O preparo pré-concepcional, com o
controle adequado da glicemia, substituição de eventuais medicamentos em uso e
a administração de ácido fólico poderia evitar possivelmente a maioria desse
contingente de malformações congênitas.”
De
acordo com a pesquisadora, apesar de a relação entre o diabetes e o aumento do
risco de malformações congênitas já ser conhecida, a maioria das publicações
que estuda a prevalência e o tipo de malformações congênitas nas gestantes não
diferencia o tipo de diabetes materno.
Além
disso, o aumento da obesidade em todas as faixas de idade repercutiu no aumento
de diabetes tipo 2 em mulheres mais jovens, incluindo aquelas no período
reprodutivo.
“Por
conta disso, nos interessamos em analisar especificamente a prevalência de
malformações congênitas na prole de mulheres com diabetes tipo 2”, explica
Oppermann, que coordena o Ambulatório de Diabetes e Gestação do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre.
Em
estudo anterior publicado pelo mesmo grupo, foram avaliadas gestantes
diabéticas em dois períodos (2005-2010 e 2011-2015) e constatou-se aumento
abrupto dos casos de diabetes tipo 2 a partir de 2010.
Na
pesquisa recente, a equipe fez uma análise retrospectiva de maio de 2005 a maio
de 2021, incluindo todas as participantes grávidas com diabetes tipo 2 dos dois
principais hospitais públicos do Rio Grande do Sul: o Hospital Nossa Senhora da
Conceição e o Hospital de Clínicas, ambos em Porto Alegre e considerados
referência em gestações de alto risco.
Ao
todo, foram analisadas informações de 567 mulheres com diagnóstico
pré-concepcional de diabetes tipo 2 ou que preenchessem os critérios da OMS,
que incluem a glicemia de jejum, o teste de tolerância à glicose por via oral e
a hemoglobina glicada.
De
acordo com os resultados, as anomalias congênitas ocorreram em 78 bebês
(13,8%), sendo que 73 deles (93,6%) apresentaram anomalias maiores, aquelas
consideradas graves, que podem resultar em morte ou dano permanente.
Por
exemplo: nascer com um dedo a mais é uma anomalia congênita, mas a princípio
não é grave, pois pode ser facilmente corrigida e a criança ter uma vida
normal. Já algumas malformações cardíacas dificultam a correta distribuição do
sangue e podem exigir cirurgias complexas.
As
anomalias cardíacas foram as mais frequentes, seguidas das neurológicas. “Nosso
estudo confirmou a hiperglicemia materna como o fator de risco mais importante
para malformação congênita em mulheres com diabetes. Seria de esperar uma
prevalência menor de malformações nas mulheres com diabetes tipo 2 que a
descrita no diabetes tipo 1, mas tem-se mostrado equivalente”, pontua a docente
da UFRGS.
A taxa
de obesidade encontrada no estudo foi de 77%, e a doença é um grande fator de
risco para diabetes.
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Ligação entre hiperglicemia e anomalias
O
diabetes é uma doença que se caracteriza pela falha na utilização de glicose
pelo corpo, por deficiência de insulina ou por redução da sensibilidade dos
tecidos à insulina (essa última condição é o que se chama de diabetes tipo 2).
Como consequência, a circulação de glicose aumenta no sangue.
Na
gravidez, esse excesso é difundido ao feto pela placenta. Vários mecanismos
moleculares provavelmente são alterados pela hiperglicemia persistente,
resultando no desarranjo anatômico fetal (malformação congênita), e que ainda
estão em estudo.
De
acordo com ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador-médico da
obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, tanto no organismo das
mulheres quanto no dos bebês, as hemoglobinas (proteínas dos glóbulos vermelhos
do sangue) são responsáveis pelo transporte de oxigênio para os tecidos. Elas
levam o oxigênio captado nos pulmões da mãe para a placenta, de onde segue para
o bebê.
Estando
em excesso, a glicose se liga à hemoglobina, formando a hemoglobina glicada
(HbA1c). “O problema é que esta hemoglobina apresenta alta afinidade pelo
oxigênio e não o libera adequadamente aos tecidos. Quanto mais glicose tiver,
mais hemoglobina glicada vai se formar e menos oxigênio vai ser liberado. Isso
significa que o bebê em formação recebe menos oxigênio do que deveria,
resultando em possíveis malformações”, explica Negrini.
Em
exames de sangue, a hemoglobina glicada indica os níveis de glicemia no
organismo nos três meses anteriores, e funciona como um marcador dos índices
glicêmicos. Espera-se que seus níveis estejam normais já no início da gestação.
Quanto mais alta estiver, maior o risco de malformações.
Para o
médico do Einstein, os resultados encontrados no estudo brasileiro reforçam a
alta prevalência de obesidade e diabetes no país. “Estima-se que cerca de 60%
das gestações no Brasil não sejam planejadas, o que por si só já reduz o
controle da doença. Soma-se a isso o fato de que muitos afetados pelo diabetes
ignoram esse diagnóstico, que em aproximadamente 70% das vezes é feito em
estágio avançado”, alerta.
Segundo
o estudo, a frequência de diabetes não diagnosticada entre os brasileiros de 20
a 79 anos chega a 31,9%. “Assim, é importante primeiramente realizar
acompanhamento médico para o correto rastreamento da doença. Além disso,
planejar a gravidez para que todos os controles prévios sejam realizados
visando uma gestação saudável”, orienta Rômulo Negrini.
Fonte:
Metrópoles
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