Alemanha
puxa queda de pedidos de asilo na Europa
Cada
vez menos pessoas estão pedindo asilo na Alemanha, de acordo com dados
preliminares da Comissão Europeia divulgados pelo jornal alemão Welt am Sonntag
no último fim de semana. Especialistas, contudo, dizem que esse cenário deve
ser interpretado com cautela.
O
número de pessoas que pediram proteção à Alemanha no primeiro trimestre deste
ano caiu 45% em comparação com o mesmo período do ano passado, para um total de
37,4 mil, segundo a publicação. Dessa forma, França e Espanha ultrapassaram a
Alemanha como os países mais procurados para asilo – com 40,9 mil e 39,3 mil
pedidos, respectivamente.
O
jornal não revelou os números relativos a toda a União Europeia, mas destacou
que há uma tendência geral de queda nos pedidos, especialmente de pessoas da
Síria, Afeganistão e Turquia – origem da maioria dos requerentes de asilo na
Alemanha.
A
ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, comentou que os números do primeiro
trimestre refletem as últimas medidas tomadas para restringir a "migração
irregular" para a Europa. Entre elas, estão maior controle de fronteiras e
restrições de benefícios para solicitantes.
"Pela
primeira vez em muitos anos, a Alemanha não é mais o país em que se registra o
maior número de solicitações [de asilo]" na Europa, disse.
• Tendência de queda
Embora
os dados do primeiro trimestre não tenham sido confirmados pela Agência da
União Europeia para Asilo (EUAA), o declínio nos pedidos para a Alemanha
aparece em relatórios recentes publicados pelo bloco e pelo Escritório Federal
de Migração e Refugiados (Bamf) do país.
Nesta
semana, o Bamf informou que 10.647 pedidos foram registrados na Alemanha em
março, o menor número para qualquer mês desde o início da pandemia de covid-19.
Em
2024, os pedidos de asilo ao país caíram um terço em comparação com 2023, mas o
país continuou liderando as solicitações dentro do bloco europeu naquele ano.
No mesmo período, a UE registrou uma queda de 11%, totalizando cerca de 1
milhão de pedidos.
• "Não é uma escolha"
As
pessoas podem ser forçadas a fugir de seu país de origem e buscar asilo por
vários motivos, incluindo instabilidade política, conflitos, ameaças à
segurança física, perseguição e mudanças climáticas.
"Não
é uma escolha se tornar um refugiado ou solicitante de asilo", explica
Sarah Wolff, professora de política de migração e asilo da Universidade de
Leiden, na Holanda.
Wolff
afirma que os solicitantes de asilo também não "procuram" diferentes
países para pedir asilo. Normalmente, eles têm pouca informação sobre os
possíveis destinos quando fogem e, em geral, tentam encontrar abrigo seguro em
países próximos ao seu ponto de origem.
"Portanto,
a Europa não é necessariamente o primeiro destino porque é difícil [chegar
lá]", disse Wolff.
A
presença de comunidades culturais familiares, chamadas de diásporas, é
geralmente uma das considerações mais importantes ao solicitar asilo. Um estudo
de 2024 da Universidade de Southampton, no Reino Unido, identificou os laços
sociais como o fator de atração mais forte para aqueles que buscam asilo.
Embora
os números oficiais mostrem um declínio de pedidos inédito na Europa, eles são
apenas uma face de uma questão complexa.
• Números em perspectiva
A
melhoria de vida em locais que têm sido fontes históricas de solicitações de
asilo pode até ser uma explicação, mais há outros fatores que explicam a queda
recente.
Na
Síria, responsável pela maior parte dos pedidos de asilo na Alemanha, a
derrubada do regime de Bashar al-Assad fez com que o governo alemão suspendesse
pedidos de cidadãos sírios.
Portanto,
não está claro se uma situação política potencialmente mais estável está
fazendo com que menos sírios deixem seu país ou se as políticas alemãs estão
dissuadindo os solicitantes.
"O
impacto da mudança de regime sobre o número de sírios que chegam à Alemanha
pode não ser totalmente compreendido em escala e profundidade até que tenhamos
esperado um pouco mais de tempo", disse à DW Alberto-Horst Neidhard,
diretor do programa de Diversidade e Migração Europeia do Centro de Políticas
Europeias.
"Vimos
altos e baixos nos últimos anos, o que justifica alguma cautela, especialmente
quando se trata de estatísticas de asilo", disse Neidhard.
No caso
do Afeganistão, que voltou ao regime fundamentalista talibã em 2021, fatores
políticos foram decisivos para uma queda nos pedidos.
"Não
é que eles não queiram vir e solicitar asilo, é que eles não podem mais fugir
do país. Isso está se tornando cada vez mais difícil", explica Wolff.
• Não se trata de um indicador de
segurança
Um
declínio recente nas solicitações de asilo em determinados países ou num bloco
regional como a UE não significa que menos pessoas estão à procura de asilo.
Mudanças
em políticas locais, como a declaração de um país de que não processará
pedidos, ameaças de deportação, controles de fronteira ou hostilidade pública
em relação a refugiados podem desencorajar potenciais solicitantes,
especialmente aqueles vítimas de violência e perseguição.
Na
Alemanha, imigração e asilo foram temas centrais nas eleições alemãs de
fevereiro, nas quais o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha
(AfD), dobrou sua participação com uma retórica antimigratória e em meio a
vários ataques violentos atribuídos a refugiados ou solicitantes de asilo.
"Essas
pessoas precisam passar por muitas situações diferentes, inclusive algumas
perigosas, investir quantias consideráveis de dinheiro e também navegar por
diferentes tipos de complexidades legais para chegar aos países de
destino", disse Neidhard.
Além de
ser caro, o processo de busca de asilo também leva tempo.
Por
fim, os dados sobre asilo devem ser considerados em termos históricos e como
parte de tendências de longo prazo, disse Neidhard.
"Em
termos históricos e em relação aos números gerais da população, eles são
geralmente consistentes com os números que vimos no passado", disse ele.
"A
menos que ocorram alguns eventos realmente perturbadores, como a pandemia, por
exemplo, não acho que veremos uma redução significativa adicional nos números
[de asilo]."
"Também
é importante evitar a expectativa do público de que a migração irregular possa
ser reduzida a zero, ou que a redução dos pedidos de asilo seja uma indicação
de quão seguro é o nosso mundo", avalia.
Fonte:
DW Brasil
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