O
que é a doença de Parkinson e por que é tão difícil de diagnosticar?
Em
1817, o cirurgião britânico James Parkinson descreveu um estudo de caso de uma
doença que ele chamou de “paralisia trêmula” – uma aflição progressiva que
deixava os adultos mais velhos com tremores, fraqueza e incapacidade de
controlar o corpo. Mais de dois séculos depois, a condição hoje conhecida como
doença de Parkinson é o segundo distúrbio neurológico mais comum do gênero. Por
conta disso, desde 1998 a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou o Dia
Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, que acontece anualmente em
11 de abril, e chama a atenção para o problema.
No
mundo, a OMS estima que existam aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo
com Parkinson, o que representa 1% da população a partir dos 65 anos. Já no
Brasil, os dados recentes indicam que 200 mil indivíduos sofrem com o problema.
No entanto, a cura que James Parkinson imaginou acontecer permanece quase tão
elusiva quanto era no século 19.
“Não
sabemos o que causa a doença. Não sabemos por que ela progride. Certamente não
sabemos como impedi-la. E temos muita dificuldade em medi-la”, diz James Beck,
diretor científico da Parkinson's Foundation (organização que financia
pesquisas e fornece recursos educacionais para pacientes e cuidadores que lidam
com a enfermidade).
Mas o
que se conhece sobre a doença de Parkinson – e há realmente esperança de cura?
Veja por que podemos estar entrando nos anos dourados da pesquisa sobre essa
enfermidade.
• O que é a doença de Parkinson?
A
doença de Parkinson é um distúrbio neurológico progressivo mais comumente
diagnosticado em adultos com 60 anos ou mais. Mas, embora muitas vezes seja
erroneamente percebida como uma doença que afeta apenas pessoas mais velhas,
seu início pode ocorrer anos antes do diagnóstico – e a condição piora com o
tempo.
Embora
possa variar de acordo com cada paciente, a fase inicial da doença de Parkinson
é leve e geralmente não é detectada. Durante essa fase, os neurônios dos
gânglios basais – estruturas próximas ao centro do cérebro – começam a
funcionar mal ou morrem. Essas células nervosas geralmente produzem dopamina,
um neurotransmissor que afeta os movimentos e a memória.
À
medida que os neurônios começam a morrer, outros neurotransmissores que
controlam as funções corporais, como a digestão e a pressão arterial, também
podem ser afetados. No momento em que isso produz sintomas físicos, até 80% dos
transmissores de dopamina nos gânglios basais podem já estar mortos.
“O
diagnóstico é realmente complicado”, diz Beck, que observa que não existe um
exame de sangue ou cerebral definitivo para a doença. Em vez disso, os
neurologistas a diagnosticam com base nos sintomas motores, como bradicinesia
(movimentos lentos) e tremor. Como muitos pacientes têm 60 anos ou mais, Beck
diz que os médicos podem ignorar a doença em adultos mais jovens.
Com o
passar do tempo, os pacientes com doença de Parkinson podem apresentar sintomas
físicos como síndrome das pernas inquietas, constipação, baba, perda do olfato
e um rosto menos expressivo, semelhante a uma “máscara”. À medida que a doença
progride, podem surgir sintomas motores como tremor, rigidez, lentidão e
instabilidade. Os pacientes também podem desenvolver sintomas de saúde mental,
problemas digestivos, distúrbios do sono, demência e comprometimento cognitivo.
Embora
a doença de Parkinson não seja fatal, ela aumenta o risco de morte devido a
fatores associados, como quedas, e os pacientes com complicações como demência
e distúrbios do sono também correm maior risco.
• O que causa a doença de Parkinson e quem
está em risco?
Os
cientistas sabem que a perda de neurônios desempenha um papel na doença de
Parkinson e as pesquisas também associaram mutações em determinados genes à
doença.
Mas
suas causas definitivas ainda não estão claras. Até 90% dos pacientes não têm
predisposição genética conhecida para a doença de Parkinson. Estudos mostram
que os homens têm um risco ligeiramente maior do que as mulheres, mas, de
acordo com o National Institutes of Health (agência do governo dos Estados
Unidos para pesquisas biomédicas e de saúde), “praticamente qualquer pessoa
pode estar em risco de desenvolver Parkinson”. A etnia pode desempenhar um
papel importante: Pesquisas recentes mostram que os judeus Ashkenazi e os
berberes do norte da África são muito mais propensos a carregar mutações
genéticas associadas à doença, embora uma minoria realmente desenvolva a doença
de Parkinson.
“Se
você tem um membro da família que tem Parkinson, provavelmente se preocupa com
a possibilidade de desenvolver a doença”, diz Beck. “Definitivamente, você
corre um risco maior – seu risco dobra.” Mas nem todas as pessoas em risco
desenvolvem a doença, observa ele, e as pesquisas sobre os mecanismos exatos
que provocam a doença de Parkinson estão em andamento.
O mesmo
acontece com as pesquisas sobre quantas pessoas têm a doença. Como os
diagnósticos tardios e errados são comuns, é difícil estimar sua prevalência.
• Como a doença de Parkinson é tratada?
Como os
sintomas da doença de Parkinson variam de pessoa para pessoa e não há cura, as
opções de tratamento também variam. A levodopa é o medicamento mais comumente
utilizado em pacientes com Parkinson e é usada para controlar alguns dos
sintomas motores mais conhecidos da doença.
Outros
tratamentos incluem terapias físicas, ocupacionais e de fala e estimulação
cerebral profunda, uma cirurgia que estimula a parte afetada do cérebro para
tratar o tremor e alguns outros sintomas.
No
entanto, a atual escassez de neurologistas e as disparidades de diagnóstico e
tratamento em todo o mundo significam que nem todos têm o mesmo acesso ao
tratamento da doença de Parkinson. “Apesar do impacto significativo da DP”,
escreveu um painel de especialistas da Organização Mundial da Saúde em 2022,
‘há uma desigualdade global na disponibilidade de recursos neurológicos para
gerenciar a doença, especialmente em países de baixa e média renda’”.
Essas
disparidades também são comuns nos Estados Unidos. Embora as pessoas em faixas
de renda mais baixas tenham menos probabilidade de desenvolver a doença de
Parkinson do que suas contrapartes mais ricas, a pesquisa mostra que os membros
de grupos raciais e étnicos minoritários nos EUA são diagnosticados mais tarde
e podem ter dificuldade de acesso a tratamentos como a levodopa, o medicamento
mais comumente usado em pacientes com Parkinson.
• O que dizem os novos estudos sobre o
Parkinson?
Mas,
apesar dessas lacunas incômodas no conhecimento e no acesso, a luta contra a
doença de Parkinson continua. Ensaios clínicos e estudos em larga escala estão
em andamento, e cada novo ano significa novos avanços em diagnósticos, genética
e tratamentos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com Parkinson.
E essa
pesquisa está entrando em seus anos dourados, principalmente com a descoberta
em 2023 do primeiro biomarcador conhecido da doença, a proteína alfa-sinucleína
anormal. Quando a proteína sofre mutação e se “dobra de forma errada”, ela
parece danificar os neurônios e causar os sintomas de Parkinson. No entanto,
ainda há dúvidas sobre como a chamada “proteína de Parkinson” funciona no
corpo.
A
pesquisa em andamento está abordando tudo, desde se a doença pode ser detectada
pelo olfato até um estudo de julho de 2024 que investiga suas possíveis
ligações com a ansiedade em adultos mais velhos.
Outro
estudo de 2024 descobriu que os pacientes com doença de Parkinson que tomaram
lixisenatide, um medicamento injetável usado para tratar diabetes, apresentaram
menos progressão dos sintomas motores do que as pessoas com doença de Parkinson
que tomaram um placebo. O medicamento funciona estimulando a produção de
insulina em resposta ao aumento do açúcar no sangue.
A
doença recebeu uma publicidade sem precedentes nos últimos anos, com
diagnósticos de figuras como Michael J. Fox, Muhammad Ali, Linda Ronstadt e
outros. Somente em 2022, o National Institute of Neurological Disorders and
Stroke financiou 259 milhões de dólares em pesquisas sobre a doença de
Parkinson – um valor complementado por fundos arrecadados por organizações de
defesa e grupos de pacientes em todo o mundo.
A
doença de Parkinson ainda pode ser tão irritante quanto era na época de James
Parkinson, mas graças à pesquisa e à conscientização contínuas, seus dias podem
estar contados.
“Ainda
não chegamos lá”, diz Beck. “Mas o progresso está sendo feito.”
Fonte:
National Geographic Brasil

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