sábado, 12 de abril de 2025

Os progressistas se comunicam mal?

Já é praticamente lugar-comum a ideia de que o avanço do extremismo conservador se deve em grande medida a uma “inabilidade de comunicação das esquerdas”. Tal tese vem ganhando ares de consenso, o que nos obriga a lembrar um dos mais conhecidos aforismos do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980): “toda unanimidade é burra”.

Diante desse risco de simplificação, decidimos compartilhar com nossos leitores uma reflexão em favor da dúvida. As esquerdas se comunicam mal com as camadas populares? Nossa resposta mais honesta possível é esta: talvez sim, mas talvez não…

  • Quem domina o canal pode definir o que é viral

Como destacado no célebre livro Linguística e comunicação, do russo Roman Jakobson (1896-1982), não se pode desconsiderar que o canal é um dos elementos essenciais para que o ato de comunicar se efetive. Essa observação é crucial para a discussão sobre a suposta inabilidade comunicativa do campo progressista, pois qualquer análise que ignore esse fator corre o risco de ser pouco profícua. Afinal, a comunicação não ocorre em um vácuo, e a dinâmica dos algoritmos exerce um papel determinante ao definir o que viraliza ou permanece à margem do debate público.

Tendo isso em mente, talvez seja necessário ponderar que, na atual dinâmica de circulação das ideias, plataformas relevantes como o Twitter (que passou a ser oficialmente chamado de X) e as redes da Meta (Facebook, Instagram) são controladas por empresários declaradamente alinhados ao conservadorismo, o que, salvo melhor análise, parece gerar uma desigualdade de recursos difícil de contornar – sobretudo se levamos em conta que tais plataformas contêm mecanismos para impulsionar (ou ainda esconder) as publicações, desafiando a tão festejada “liberdade de expressão”.

  • Quando o desafio não é comunicar, mas convencer

Seria ainda possivelmente equivocado tratar dessa suposta inabilidade de comunicação sem considerar a hipótese de que, em um contexto histórico de inédita atomização dos sujeitos, a utopia da igualdade e da justiça social talvez não mais seduza corações e mentes como antanho: um estudo mais aprofundado deveria contemplar a possibilidade de que o novo sonho não seja superar as desigualdades sociais, mas sim buscar atalhos para ascender ao panteão dos desiguais vitoriosos – algo que se alinha com a proliferação de cursos e coaches dedicados à promessa da ascensão individual.

Se comprovada a hipótese de que “o sonho mudou”, seria incorreto reduzir a uma falha de comunicação o insucesso de pautas igualitárias. Quiçá seja o contrário: uma comunicação cristalina pode ser responsável por que parcela expressiva da população escolha outra proposta.

Nesse caso, se há um uma falha, seria impreciso apontar um problema de comunicação em sentido amplo – como algo mais ligado à clareza das ideias ou ao estilo dos textos –, pois se trataria mais precisamente de uma ineficiência na argumentação. Em seu Tratado da argumentação – A nova retórica, Perelman e Olbrechts-Tyteca lembram que, dada a multiplicidade de grupos que formam as sociedades, os valores não são unívocos, estando mais próximos às opiniões do que aos fatos. Desse modo, cabe perguntar: valores como igualdade e justiça, tão caros aos ditos progressistas, ainda podem ser tomados como universais positivos absolutos? Ou carece argumentar em favor deles?

  • O poder das palavras

Como as leitoras e os leitores notaram, quisemos trazer ao tema da “comunicação progressista” dois aspectos geralmente subestimados: o problema do controle sobre os canais de comunicação e a possível alteração das aspirações individuais e dos valores nelas implicados (questões certamente vinculadas a transformações profundas no mundo do trabalho e à popularização das redes sociais).

Diante do exposto, parece-nos que a questão da comunicação progressista não pode ser reduzida à mera eficácia na transmissão de mensagens. O problema envolve tanto a estrutura de circulação das ideias – impactada pelo controle dos meios de comunicação e pelas lógicas dos algoritmos – quanto uma possível mudança nas aspirações individuais e nos valores sociais. Se a comunicação é um processo de convencimento, talvez o desafio não esteja apenas em como falar, mas no próprio conteúdo da mensagem: até que ponto os valores progressistas continuam ressoando como um horizonte desejável?

Assim, embora distantes de encerrar o debate, buscamos caminhos que possam levar a uma análise mais aprofundada do tema, superando o pensamento relativamente simplista de que bastaria “comunicar bem” para que houvesse grandes transformações sociais – embora comunicar bem seja, de fato, um passo importante, que talvez careça de aprimoramento.

¨      Conservadores que nunca leram Burke, liberais que nunca leram Locke e Smith. Por Pedro Maciel

Tenho uma implicância gratuita por shopping centers, não gosto de nenhum deles no mundo, salvo o Galleria aqui em Campinas, porque suas curvas, plantas e “céu aberto” respeitam a nossa humanidade.

Gosto mesmo é de caminhar no centro da cidade, apesar do estado de degradação atual, ele me traz lembranças fundamentais, estou pensando em levar meu escritório para o centro;  gosto de ir à Hípica, espaço de convivência válida, não obstante uma indesejada partidarização; gosto do Facca, do Giovanetti; de restaurantes do Cambuí, como o Theo, Único, Benedito, Filé, dentre outros; gosto lugares que tem música ao vivo e de espaços como o “Escuta o cheiro” em Sousas; gosto de ir à sinfônica; gosto de ir ao campo da Ponte e tomar sorvete; de comer pastel na banca do Armando na feira do Cambuí, gosto das coisas de Campinas, genuinamente campineiras, gosto das coisas simples. Contudo, não gosto de todas as pessoas; sei que devo amar todos na misericórdia de Cristo, mas às vezes não é fácil.

Um dia desses, depois de caminharmos um pouco pelo centro, fomos ao Giovanetti da General Osório, pedimos pizza de muçarela (a melhor do mundo), eu pedi chopp, a Celinha caipiroska, falávamos dos filhos, das netas, da vida, da necessária prisão dos golpistas, estávamos até de mãozinhas dadas sobre a mesa; então chegou um conhecido de longa data, daqueles que a gente gosta de cumprimentar de longe, pois, como tantos, não tem muito senso de pertinência.

Ele chegou, sentou-se à mesa e começou a falar sem parar, evidentemente para me provocar, mas eu estava em paz com o mundo naquele dia; falou da “ditadura do judiciário”, dos “presos políticos”, da “perseguição ao capitão”, e sobre outros temas tão caros aos intoxicados informacionais e aos vis de todo gênero.

Ele me perguntou o que eu achava sobre as cotas para pessoas trans, aprovadas pelo conselho universitário da UNICAMP, “aquela universidade doutrinadora”, mas a minha opinião não importou, acho que ele nem a ouviu.Então ele me sai com a seguinte: “sou conservador nos costumes e liberal na economia”, fui salvo quando o garçom o chamou para uma mesa na calçada, bem longe da minha, nos cumprimentamos e ele ainda incorporou no seu vocabulário um “Deus abençoe!”.Acabou o clima de “mãozinhas dadas” e passamos a nos perguntar o que significaria ser “sou conservador nos costumes e liberal na economia”.

Pensei que a frase seria mais uma bobagem vociferada por ornitorrincos, os tais liberais conservadores.

Depois que o Inominável foi alçado à condição de mito, muitos deficientes cognitivos, que nem sabem do que se trata o “conservadorismo”, que jamais leram Edmund Burke, se declaram conservadores.

Burke, crítico ácido da Revolução Francesa, isso mesmo, o “pai” do conservadorismo foi um crítico de um dos maiores fatos da História, fato que é tido por muitos como aquele que inaugurou a Idade Contemporânea. 

Se os neoconservadores de botequim não leram Burke, com certeza não leram Locke ou Adam Smith, “pais” do liberalismo. 

Se, presumivelmente, o meu conhecido, como tantos outros conservadores liberais, nunca leu nada, se não desenvolveu juízo crítico sobre doutrinas tão importantes, o que faz com que ele se reconheça liberal-conservador? E que espécie de patriota ama a bandeira dos EUA? Que espécie de cristão apoia o Estado sionista e o massacre que impingiram aos palestinos? 

Peço ajuda ao professor João Cézar de Castro Rocha tem destacado a existência de uma aliança internacional entre o capitalismo financeiro (ultra liberalismo) e as igrejas neopentecostais (ultra conservadorismo).

O professor, muito mais sabido do que eu, tem mostrado preocupação com a influência crescente dos juristas evangélicos no cenário legislativo brasileiro através da “Associação Nacional de Juristas Evangélicos”, cujo principal objetivo é monitorar e assegurar que a legislação brasileira não prejudique a fé evangélica, uma bobagem, pois, a nossa constituição já garante a ampla liberdade de fé e culto.

Mas o que é esse “neoconservadorismo” que tem raízes no neopentecostalismo?

A declaração de princípios da Anajure nos dá boas dicas sobre isso. O tal “neoconservadorismo, neopentecostal e ultraliberal” nos remete ao fundamentalismo no início do século 20, um atraso civilizacional enorme, o que só interessa ao capitalismo financeiro e sua sanha de acumulação.

Esse neoconservadorismo neopentecostal e ultraliberal está presente nos movimentos de extrema direita em muitos países; o professor destaca as intenções de transformar o ordenamento jurídico brasileiro em uma ordem teocrática. 

O objetivo da extrema direita em todo o mundo é fazer uma engenharia social similar à de Viktor Orban da Hungria; tanto que aqui no Brasil eles já não querem tanto a presidência da República em 2026, eles querem maioria no Congresso, porque se dispuserem de maioria na Câmara e maioria no Senado, eles podem aprovar as propostas de emenda constitucional que desejarem e encaminhar o ordenamento jurídico brasileiro para uma ordem teocrática. Isto é, fiel ao antigo testamento.

Entre um chopp e outro nos perguntamos: será que é nisso que o meu conhecido impertinente acredita? Ou será ele apenas, como os arruaceiros e golpistas de 8/1, massa de manobra de interesses que nem imagina?

Rimos da nossa insignificância em relação a tudo isso, voltamos a dar as mãos e planejamos visitar a Clarice, nossa segunda netinha, no dia seguinte.

Essas são as reflexões.

 

Fonte: Por Henrique Santos Braga e Marcelo Módolo, em A Terra é Redonda/Brasil 247

 

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