Os
progressistas se comunicam mal?
Já é
praticamente lugar-comum a ideia de que o avanço do extremismo conservador se
deve em grande medida a uma “inabilidade de comunicação das esquerdas”. Tal
tese vem ganhando ares de consenso, o que nos obriga a lembrar um dos mais
conhecidos aforismos do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980): “toda
unanimidade é burra”.
Diante
desse risco de simplificação, decidimos compartilhar com nossos leitores uma
reflexão em favor da dúvida. As esquerdas se comunicam mal com as camadas
populares? Nossa resposta mais honesta possível é esta: talvez sim, mas talvez
não…
- Quem domina o
canal pode definir o que é viral
Como
destacado no célebre livro Linguística e comunicação, do russo
Roman Jakobson (1896-1982), não se pode desconsiderar que o canal é um dos
elementos essenciais para que o ato de comunicar se efetive. Essa observação é
crucial para a discussão sobre a suposta inabilidade comunicativa do campo
progressista, pois qualquer análise que ignore esse fator corre o risco de ser
pouco profícua. Afinal, a comunicação não ocorre em um vácuo, e a dinâmica dos
algoritmos exerce um papel determinante ao definir o que viraliza ou permanece
à margem do debate público.
Tendo
isso em mente, talvez seja necessário ponderar que, na atual dinâmica de
circulação das ideias, plataformas relevantes como o Twitter (que passou a ser
oficialmente chamado de X) e as redes da Meta (Facebook, Instagram)
são controladas por empresários declaradamente alinhados ao conservadorismo, o
que, salvo melhor análise, parece gerar uma desigualdade de recursos difícil de
contornar – sobretudo se levamos em conta que tais plataformas contêm
mecanismos para impulsionar (ou ainda esconder) as publicações, desafiando a
tão festejada “liberdade de expressão”.
- Quando o desafio
não é comunicar, mas convencer
Seria
ainda possivelmente equivocado tratar dessa suposta inabilidade de comunicação
sem considerar a hipótese de que, em um contexto histórico de inédita
atomização dos sujeitos, a utopia da igualdade e da justiça social talvez não
mais seduza corações e mentes como antanho: um estudo mais aprofundado deveria
contemplar a possibilidade de que o novo sonho não seja superar as
desigualdades sociais, mas sim buscar atalhos para ascender ao panteão dos
desiguais vitoriosos – algo que se alinha com a proliferação de cursos e coaches dedicados
à promessa da ascensão individual.
Se
comprovada a hipótese de que “o sonho mudou”, seria incorreto reduzir a uma
falha de comunicação o insucesso de pautas igualitárias. Quiçá seja o
contrário: uma comunicação cristalina pode ser responsável por que parcela
expressiva da população escolha outra proposta.
Nesse
caso, se há um uma falha, seria impreciso apontar um problema de comunicação em
sentido amplo – como algo mais ligado à clareza das ideias ou ao estilo dos
textos –, pois se trataria mais precisamente de uma ineficiência na
argumentação. Em seu Tratado da argumentação – A nova retórica,
Perelman e Olbrechts-Tyteca lembram que, dada a multiplicidade de grupos que
formam as sociedades, os valores não são unívocos, estando mais próximos às
opiniões do que aos fatos. Desse modo, cabe perguntar: valores como igualdade e
justiça, tão caros aos ditos progressistas, ainda podem ser tomados como
universais positivos absolutos? Ou carece argumentar em favor deles?
- O poder das
palavras
Como as
leitoras e os leitores notaram, quisemos trazer ao tema da “comunicação
progressista” dois aspectos geralmente subestimados: o problema do controle
sobre os canais de comunicação e a possível alteração das aspirações
individuais e dos valores nelas implicados (questões certamente vinculadas a
transformações profundas no mundo do trabalho e à popularização das redes
sociais).
Diante
do exposto, parece-nos que a questão da comunicação progressista não pode ser
reduzida à mera eficácia na transmissão de mensagens. O problema envolve tanto
a estrutura de circulação das ideias – impactada pelo controle dos meios de
comunicação e pelas lógicas dos algoritmos – quanto uma possível mudança nas
aspirações individuais e nos valores sociais. Se a comunicação é um processo de
convencimento, talvez o desafio não esteja apenas em como falar, mas no próprio
conteúdo da mensagem: até que ponto os valores progressistas continuam
ressoando como um horizonte desejável?
Assim,
embora distantes de encerrar o debate, buscamos caminhos que possam levar a uma
análise mais aprofundada do tema, superando o pensamento relativamente
simplista de que bastaria “comunicar bem” para que houvesse grandes
transformações sociais – embora comunicar bem seja, de fato, um passo
importante, que talvez careça de aprimoramento.
¨ Conservadores que
nunca leram Burke, liberais que nunca leram Locke e Smith. Por Pedro Maciel
Tenho
uma implicância gratuita por shopping centers, não gosto de nenhum deles no
mundo, salvo o Galleria aqui em Campinas, porque suas curvas, plantas e “céu
aberto” respeitam a nossa humanidade.
Gosto
mesmo é de caminhar no centro da cidade, apesar do estado de degradação atual,
ele me traz lembranças fundamentais, estou pensando em levar meu escritório
para o centro; gosto de ir à Hípica, espaço de convivência válida, não
obstante uma indesejada partidarização; gosto do Facca, do Giovanetti; de
restaurantes do Cambuí, como o Theo, Único, Benedito, Filé, dentre outros;
gosto lugares que tem música ao vivo e de espaços como o “Escuta o cheiro” em
Sousas; gosto de ir à sinfônica; gosto de ir ao campo da Ponte e tomar sorvete;
de comer pastel na banca do Armando na feira do Cambuí, gosto das coisas de
Campinas, genuinamente campineiras, gosto das coisas simples. Contudo, não
gosto de todas as pessoas; sei que devo amar todos na misericórdia de Cristo,
mas às vezes não é fácil.
Um dia
desses, depois de caminharmos um pouco pelo centro, fomos ao Giovanetti da
General Osório, pedimos pizza de muçarela (a melhor do mundo), eu pedi chopp, a
Celinha caipiroska, falávamos dos filhos, das netas, da vida, da necessária
prisão dos golpistas, estávamos até de mãozinhas dadas sobre a mesa; então
chegou um conhecido de longa data, daqueles que a gente gosta de cumprimentar
de longe, pois, como tantos, não tem muito senso de pertinência.
Ele
chegou, sentou-se à mesa e começou a falar sem parar, evidentemente para me
provocar, mas eu estava em paz com o mundo naquele dia; falou da “ditadura do
judiciário”, dos “presos políticos”, da “perseguição ao capitão”, e sobre
outros temas tão caros aos intoxicados informacionais e aos vis de todo gênero.
Ele me
perguntou o que eu achava sobre as cotas para pessoas trans, aprovadas pelo
conselho universitário da UNICAMP, “aquela universidade doutrinadora”,
mas a minha opinião não importou, acho que ele nem a ouviu.Então ele me sai com
a seguinte: “sou conservador nos costumes e liberal na economia”, fui
salvo quando o garçom o chamou para uma mesa na calçada, bem longe da minha,
nos cumprimentamos e ele ainda incorporou no seu vocabulário um “Deus
abençoe!”.Acabou o clima de “mãozinhas dadas” e passamos a nos perguntar o
que significaria ser “sou conservador nos costumes e liberal na economia”.
Pensei
que a frase seria mais uma bobagem vociferada por ornitorrincos, os tais
liberais conservadores.
Depois
que o Inominável foi alçado à condição de mito, muitos deficientes cognitivos,
que nem sabem do que se trata o “conservadorismo”, que jamais leram Edmund
Burke, se declaram conservadores.
Burke,
crítico ácido da Revolução Francesa, isso mesmo, o “pai” do conservadorismo foi
um crítico de um dos maiores fatos da História, fato que é tido por muitos como
aquele que inaugurou a Idade Contemporânea.
Se os
neoconservadores de botequim não leram Burke, com certeza não leram Locke ou
Adam Smith, “pais” do liberalismo.
Se,
presumivelmente, o meu conhecido, como tantos outros conservadores liberais,
nunca leu nada, se não desenvolveu juízo crítico sobre doutrinas tão
importantes, o que faz com que ele se reconheça liberal-conservador? E que
espécie de patriota ama a bandeira dos EUA? Que espécie de cristão apoia o
Estado sionista e o massacre que impingiram aos palestinos?
Peço
ajuda ao professor João Cézar de Castro Rocha tem destacado a existência de uma
aliança internacional entre o capitalismo financeiro (ultra liberalismo) e as
igrejas neopentecostais (ultra conservadorismo).
O
professor, muito mais sabido do que eu, tem mostrado preocupação com a
influência crescente dos juristas evangélicos no cenário legislativo brasileiro
através da “Associação Nacional de Juristas Evangélicos”, cujo principal
objetivo é monitorar e assegurar que a legislação brasileira não prejudique a
fé evangélica, uma bobagem, pois, a nossa constituição já garante a ampla
liberdade de fé e culto.
Mas o
que é esse “neoconservadorismo” que tem raízes no neopentecostalismo?
A
declaração de princípios da Anajure nos dá boas dicas sobre isso. O tal
“neoconservadorismo, neopentecostal e ultraliberal” nos remete ao
fundamentalismo no início do século 20, um atraso civilizacional enorme, o que
só interessa ao capitalismo financeiro e sua sanha de acumulação.
Esse
neoconservadorismo neopentecostal e ultraliberal está presente nos movimentos
de extrema direita em muitos países; o professor destaca as intenções de
transformar o ordenamento jurídico brasileiro em uma ordem teocrática.
O
objetivo da extrema direita em todo o mundo é fazer uma engenharia social
similar à de Viktor Orban da Hungria; tanto que aqui no Brasil eles já não
querem tanto a presidência da República em 2026, eles querem maioria no
Congresso, porque se dispuserem de maioria na Câmara e maioria no Senado, eles
podem aprovar as propostas de emenda constitucional que desejarem e encaminhar
o ordenamento jurídico brasileiro para uma ordem teocrática. Isto é, fiel ao
antigo testamento.
Entre
um chopp e outro nos perguntamos: será que é nisso que o meu conhecido
impertinente acredita? Ou será ele apenas, como os arruaceiros e golpistas de
8/1, massa de manobra de interesses que nem imagina?
Rimos
da nossa insignificância em relação a tudo isso, voltamos a dar as mãos e
planejamos visitar a Clarice, nossa segunda netinha, no dia seguinte.
Essas
são as reflexões.
Fonte:
Por Henrique Santos Braga e Marcelo Módolo, em A Terra é
Redonda/Brasil 247
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