terça-feira, 8 de abril de 2025

Guerra declarada: facções batem de frente e desafiam o Estado

Nascidas, em sua maioria, dentro dos presídios, as facções criminosas buscam consolidar poder e ampliar sua influência. No Brasil, estão presentes em todas as regiões. Dados do Mapa das Organizações Criminosas 2024 revelam que 88 facções foram identificadas no país nos últimos três anos. Além de atuarem no tráfico de drogas, essas organizações também se articulam para enfraquecer o poder do Estado.

Rebeliões, fugas, resgates e confrontos são algumas das estratégias utilizadas na busca por domínio e controle. Na ânsia pelo poder, os grupos adotam medidas para ocupar o topo da hierarquia criminal.

Segundo levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), 71% dessas organizações possuem estatuto próprio, reproduzindo modelos estatais em uma estrutura paralela, com regras e leis próprias.

•        Ameaças e violência

Nessa sexta-feira (4/4), a coluna revelou que o Comado Vermelho (CV) planejava, em um presídio de no Tocantins (TO), uma rebelião com reféns, fuga em massa e ataques coordenados contra autoridades públicas, incluindo juízes, promotores, delegados e policiais penais. O objetivo, segundo fontes da segurança, seria atingir diretamente o Estado como forma de retaliação e intimidação institucional.

“Guerra declarada”

Em entrevista exclusiva à coluna, um policial penal, que trabalha nas unidades prisionais do Tocantins e atua na linha de frente contra os criminosos, descreveu o clima de tensão crescente dentro do sistema penitenciário.

“A animosidade entre presos e policiais aumenta a cada dia. A Segurança Pública sabe que é uma guerra declarada. A trégua entre o Primeiro Comado da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) é só uma forma de unir forças para impulsionar o crime organizado e derrubar o Estado.”

O policial revelou que, há cerca de um mês, um “salve” (ordem interna da facção) colocou 10 policiais penais na mira de retaliações – e ele está entre os nomes da lista.

•        O outro lado da força

À coluna, o Ministério da Justiça (MJ) informou que está desenvolvendo um plano de retomada territorial baseado em estudos técnicos sobre a economia do crime e seus líderes em determinadas regiões.

A estratégia prevê não apenas operações policiais para prender os responsáveis, mas também medidas para substituir a estrutura criminosa por um novo ciclo econômico legítimo. A proposta inclui a criação de centros de convivência para jovens, capacitação profissional, geração de renda e espaços de cidadania para facilitar o acesso a documentos e incentivar o empreendedorismo local.

O projeto-piloto será implementado inicialmente no Nordeste, em parceria com governos estaduais, e depois expandido para outras regiões do país. A iniciativa busca evitar que áreas retomadas pelo Estado voltem a ser controladas pelo crime organizado, como já ocorreu em experiências anteriores.

“Para isso, o governo estuda modelos bem-sucedidos em outros países, como a Colômbia, e pretende estabelecer um padrão nacional para a retomada territorial e a presença contínua do poder público nessas localidades.”

•        Risco à segurança pública, facções se consolidam no país inteiro

Tráfico de drogas, tortura e homicídios bárbaros. As facções criminosas atuam de forma violenta em todo o país, com o objetivo de acumular fortunas ilícitas e conquistar influência nos territórios onde se instalam. Atualmente, é na região Nordeste que sua presença é mais expressiva.

Segundo levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), 46 dos 88 grupos de crime organizado identificados no Brasil nos últimos três anos operam nos nove estados da região.

Com a expansão do crime organizado, as facções já alcançam todas as regiões do país. Informações do Mapa das Organizações Criminosas 2024 apontam que, além do Nordeste, 14 facções atuam na região Norte, 10 no Centro-Oeste, 18 no Sudeste e 24 no Sul.

Boa parte desses grupos criminosos opera com base na força e em uma estrutura hierárquica com viés ideológico, a fim de sustentar suas atividades. De acordo com o Mapa das Orcrims, quanto mais marcadas essas características, maior tende a ser o impacto da organização na segurança pública brasileira.

<><> Atuantes no Nordeste

Com base em informações da plataforma Wiki Favelas, a coluna traz detalhes sobre as facções criminosas que atuam na região Nordeste do Brasil.

Em Alagoas (AL) e no Ceará (CE), há evidências da operação do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV).

Na Bahia (BA), além dessas duas principais facções, atuam a Katiara, fundada em 16 de outubro de 2013; a Comando da Paz, criada em 2007 no sistema prisional baiano; a Caveira, considerada uma das mais antigas do estado, embora haja relatos de que tenha sido extinta em 2017; a Bonde do Maluco, apontada como a mais violenta da região; além da Mercado do Povo Atitude, da Ordem e Progresso e da Bonde do Ajeita, facção de pequeno porte que se aliou ao CV em 2021.

No Maranhão (MA), há atuação do PCC, do Bonde dos 40 — surgido em 2007 a partir das conexões entre presidiários maranhenses, cariocas e paulistas em presídios federais — e do PCM, criado no mesmo ano que o rival Bonde dos 40 e inspirado no modelo do PCC, com o qual mantém uma relação amistosa.

Na Paraíba (PB), operam o PCC e a Okaida, facção surgida nos anos 2000, considerada atualmente a maior do estado. Ela surgiu como oposição ao grupo mais antigo da região, o Estados Unidos, que ainda segue em atividade. O PCC e a Okaida também estão presentes em Pernambuco (PE).

No Piauí (PI), há registros apenas da presença do PCC. Já no Rio Grande do Norte (RN), atuam o PCC, o CV e o Sindicato do Crime, surgido em 2010 e tido como a maior força criminosa no estado, com embates diretos contra o PCC.

Em Sergipe (SE), há registro da atuação do PCC, do CV e também do Bonde do Maluco.

<><> Na capital

A capital do país também não está livre da atuação de grupos criminosos. Brasília, centro político do Brasil e de grande relevância econômica, abriga sua própria facção.

O Comboio do Cão (CDC) é considerado o grupo criminoso mais influente do Distrito Federal, acumulando uma longa ficha criminal que inclui execuções, roubos e disputas armadas por territórios ligados ao tráfico de drogas.

Em entrevista à coluna, Paulo Pereira, delegado-chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), classificou o grupo como “peculiar” em comparação às demais facções que operam no país.

“Ela é diferente das outras, sobretudo das de São Paulo (SP) e do Rio de Janeiro (RJ), que atuam com uma estrutura organizacional clara, com divisão de funções e tarefas. Aqui, ainda não localizamos documentos que indiquem uma estrutura formal ou regimento interno, por exemplo”, explicou.

Segundo o delegado, a organização criminosa local possui um poderio econômico que a diferencia das demais e está diretamente envolvida com o tráfico de drogas, além de contar com aliados dedicados à lavagem de dinheiro. “O vínculo que une essa facção é a proteção entre os membros, e não um estatuto. Ainda assim, essas peculiaridades não descaracterizam o grupo como facção criminosa”, afirmou.

<><> Alcance internacional

Além de atuarem de maneira local, regional e nacional, há aquelas que já expandem a operação para outros países. O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) são consideradas facções transnacionais — ultrapassaram as fronteiras do Brasil e têm negócios fora da fronteira nacional.

•        Narcoterrorismo: como o PCC se uniu à maior facção da Venezuela

No ano de 2012, o Primeiro Comando da Capital (PCC) promoveu o assassinato de ao menos 106 policiais militares no estado de São Paulo. O massacre foi uma forma de resposta, por meio da violência, às mortes de criminosos provocadas por agentes públicos. À época, a facção também crescia financeiramente a partir do modelo logístico e hierárquico imposto por Marco Willian Herbas Camacho, o Marcola, com as chamadas “sintonias”.

A animosidade do grupo foi, no entanto, arrefecendo aos poucos, já que o PCC passou a priorizar esforços na obtenção de lucros, principalmente por meio do tráfico de drogas — sem abrir mão da truculência, mas deliberando e racionando o uso dela por meio de “tribunais do crime“.

Enquanto a organização criminosa brasileira se reinventava operacionalmente, nascia, em 2012, na penitenciária venezuelana de Torocón, o Tren de Aragua. O líder máximo da facção é Hector Guerrero Flores, o Niño Guerrero, foragido desde 2018 após escapar por túneis subterrâneos.

Em poucos anos, o Tren de Aragua se tornou o maior grupo criminoso do país e, também, parceiro de negócios do PCC. A expansão dos venezuelanos foi meteórica, ao ponto de serem classificados pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, como um grupo “narcoterrorista”.

Niño Guerrero, da mesma forma que as lideranças do PCC, comandava as ações do Tren de Aragua de dentro da cadeia — onde mantinha uma vida de luxo e ostentação, havendo casos em que ele chegou a sair do sistema, inclusive, para passear, mesmo em cumprimento de pena. A ele são atribuídos crimes de homicídio, sequestro, tráfico humano, de drogas e de armas.

<><> Logística e violência

Pesquisador da Universidade de Coimbra e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa afirmou ao Metrópoles que a aliança entre o PCC e o Tren de Aragua reflete a complexa dinâmica entre as organizações criminosas — nesse caso na fronteira entre Roraima e a Venezuela.

O especialista destacou que o Tren de Aragua prosperou em meio ao contexto de caos político e econômico, que resultou na imigração de centenas de milhares de venezuelanos para o Brasil e outros países sul-americanos.

“A organização criminosa prospetou com o colapso da Venezuela, das instituições estatais, e com o crescimento dos mercados ilícitos, tanto do tráfico de drogas, armas e prostituição [que decorre no tráfico humano].”

O Tren de Aragua, assim como o PCC, expandiu seus braços para fora das grades, controlando o entorno das prisões e, pouco depois, também migrando para outros países como Brasil, Colômbia e Peru — os dois últimos grandes produtores de cocaína.

Especializado em controlar rotas para o tráfico por meio de ações de extrema violência, o Tren de Aragua viu vantagens em se alinhar com o PCC, que conta com experiência na logística de compra, transporte e comercialização de cocaína — principalmente para a Europa e África, que rendem bilhões de dólares para a facção e aliados.

Roberto Uchôa acrescentou que “há indícios” de o Tren de Aragua viabilizar o uso de portos na Venezuela, por meio dos quais o PCC dilui o despacho de cargas milionárias de cocaína — droga também embarcada em cargueiros nas regiões sudeste e nordeste do Brasil.

<><> Tráfico de armas

O maior grupo criminoso da Venezuela também se tornou um problema para as autoridades dos Estados Unidos. O país da América do Norte é procurado por muitas criminosos por ser um dos maiores fornecedores de armas de fogo do mundo.

O Tren de Aragua, como mostram investigações da Polícia Federal (PF), é o principal fornecedor de armas para a célula do PCC atuante em Roraima. Em dois anos, foram apreendidos com a facção brasileira fuzis AK-47, AR-15 e submetralhadores Uzi, vendidas pelos criminosos venezuelanos.

A cooperação entre o PCC e o Tren de Aragua nos tráficos de armas e drogas “não é necessariamente estável ou permanente”, como destacou o pesquisador da universidade de Coimbra.

“Ela é feita em uma lógica pragmática de interesse mútuo: enquanto for favorável financeiramente para ambas as facções, a aliança pode continuar.”

Isso, porém, não impede que o dois grupos entrem em confronto caso seja necessário impor o poder de um para o outro. Como mostram dados oficiais, quando o Tren de Aragua aportou em Boa Vista (RO), em 2021, os homicídios saltaram de 90, no ano anterior, para 127 na cidade. Nos anos seguintes, conforme a relação com o PCC foi se estreitando, as mortes caíram gradativamente, até chegarem a 55 no ano passado.

•        Como agiam brasileiros ligados ao PCC presos por tráfico nos EUA

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou detalhes da atuação de 18 brasileiros acusados de tráfico de armas e drogas em território americano. Parte dos investigados integra uma célula do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas da América Latina.

Segundo a investigação, o grupo atuava em diversos municípios de Massachusetts e se organizava como um verdadeiro braço do crime transnacional, responsável por abastecer gangues locais com armas ilegais e fentanil, droga considerada uma crise de saúde pública nos EUA.

Os criminosos traficavam pistolas, rifles e espingardas, principalmente vindos da Flórida e da Carolina do Sul. As armas eram transportadas até Massachusetts, onde eram vendidas a outras facções, como a “Tropa de Sete” e o “Trem Bala”.

A operação, batizada de “Take Back America”, ocorreu após um ano de investigações e resultou na apreensão de 110 armas de fogo, munições e doses de fentanil. Segundo as autoridades, os brasileiros agiam com estrutura e funções definidas: alguns eram responsáveis pela compra e transporte das armas, outros pela revenda e distribuição.

Dos 18 acusados, 12 estavam em situação irregular nos Estados Unidos. As penas podem chegar a 15 anos de prisão, além de deportação após o cumprimento da sentença.

Segundo a procuradora Leah Foley, os réus faziam parte de um “sindicato do crime ilegal”, e o grupo teve papel direto na introdução de armamento pesado e entorpecentes em comunidades americanas.

•        PCC pagava R$ 800 mil para piloto levar cocaína para a Bélgica

O transporte aéreo da cocaína traficada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) — feito por meio de aviões particulares de pequeno porte — é um negócio rentável para todos os envolvidos, principalmente se a carga chegar intacta ao destino, geralmente a Europa.

Conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) entre Willian Barile Agati, o Senna, e dois comparsas, identificados como Don Corleone e Pato Donald, ilustram as quantias milionárias movimentadas pela facção para transportar a droga, que em solo europeu pode render lucros 10 vezes acima do valor praticado em território brasileiro.

Senna está preso desde janeiro e, em março, foi transferido para a mesma penitenciária de segurança máxima, em Brasília, onde Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC, cumpre pena, desde 2023.

Somente os dois pilotos do jatinho particular, pertencente a Senna — chamado pela polícia de “concierge do PCC” –, receberam, cada um, R$ 800 mil para levar cerca de 1 tonelada de cocaína à Bélgica, de onde a carga seguiria, por via terrestre, até a Inglaterra, em novembro de 2020.

O poder econômico do PCC possibilita, como consta em relatório policial, inclusive o pagamento de propina no aeroporto da capital belga. A corrupção dos funcionários — “para não haver problemas no descarregamento das drogas” — era viabilizada pelo criminoso identificado nas trocas de mensagem como Pato Donald.

<><> Partindo do Brasil

Em um grupo de troca de mensagens, investigadores da PF identificaram Werner Pereira da Rocha, administrador do aeroporto de Boa Vista, em Roraima, como o responsável por ajudar a célula de Senna e encaminhar cargas de cocaína, por via aérea, para a Europa. O cliente dos criminosos, como consta em relatório policial, seria londrino.

Na aeronave de Senna, foram introduzidas malas recheadas com cocaína – em algumas viagens, eram instalados fundos falsos para ocultar a droga. O administrador do aeroporto de Roraima, ainda segundo a PF, recebia R$ 250 mil por viagem viabilizada.

Ele também fazia a ponte para que um suposto agente da Receita Federal contribuísse com uma “vista grossa” na fiscalização das bagagens levadas na aeronave. Para deixar o voo acima de qualquer suspeita, comparsas do grupo criminoso se passavam por passageiros, simulando integrar um grupo de turistas que teria fretado a aeronave para viajar até o continente europeu.

No relatório da PF, é indicado o pagamento de mais de meio milhão de reais, por cada liberação de voo, saído de Roraima, feita pelo suposto agente corrupto da Receita Federal.

O órgão federal foi procurado pelo Metrópoles e afirmou, por meio de resposta automática, que responderia à demanda “assim que possível”. A defesa do administrador do aeroporto de Boa Vista mencionado pela PF não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

<><> Simulando o tráfico

Alguns meses antes de partir para a Bélgica, os criminosos simularam viagens, usando o espaço aéreo entre Sorocaba e Bragança Paulista, ambas no interior de São Paulo.

No lugar de tijolos de cocaína, usaram toras de madeira, no formato das cargas da droga a serem levadas. Os itens foram colocados em “mocós”, como os criminosos chamam fundos falsos, feitos exclusivamente para as viagens com os carregamentos ilegais.

Além disso, a facção optou, em algumas ocasiões, por transportar as drogas em dezenas de bagagens de mão, que não são fiscalizadas, graças às propinas pagas nos aeroportos de saída e de chegada — como mostram as trocas de mensagens interceptadas pela PF.

Em nota ao Metrópoles, a defesa de Agati afirma que ele é “presumido inocente conforme a Constituição Federal”. Além disso, acrescenta que “nunca praticou nenhum crime (seja ele qual for), e que tudo ficará provado na instrução processual”. Diz, ainda, que Agati “é um empresário idôneo em diversos ramos nacionais e internacionais sem nunca ter respondido nenhum processo na Justiça, e nunca teve e não tem nenhuma conexão com o PCC ou com a máfia italiana”.

<><> Entrega aérea

Investigações da PF mostram que, além de contar com frota aérea própria, o PCC transporta cocaína usando laranjas no ramo da aviação. As rotas mais utilizadas nos deslocamentos aéreos, com aviões cheios de pasta-base de cocaína, são entre a Bolívia e o Paraguai, para, em seguida, chegar ao Brasil.

Os aviões costumam pousar em pistas clandestinas, feitas em áreas rurais. Há casos em que a droga é arremessada em pleno voo, para ser recolhida em pontos predeterminados.

As investigações ainda mostram que, na mão do PCC, já em solo brasileiro, a cocaína é refinada e revendida para o tráfico local. Após ser misturada com outros produtos, um quilo de pasta-base pode render mais de cinco quilos de cocaína em pó.

Parte dos tijolos com a cocaína pura é encaminhada para fora do Brasil, principalmente por via marítima. Além dos voos em jatos particulares, a facção oculta microcarregamentos em bagagens despachadas por aeroportos, como já mostrou o Metrópoles.

 

Fonte: Metrópoles

 

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