Diagnóstico
tardio: como o autismo na vida adulta ainda é pouco reconhecido
O
diagnóstico de autismo na vida adulta é um desafio que afeta milhares de
pessoas que, por anos, viveram sem compreender suas próprias dificuldades e diferenças.
Identificar o autismo nessa fase da vida é um processo complexo, que envolve
autoconhecimento, avaliação profissional e aceitação. Infelizmente, o
diagnóstico tardio ainda é comum, gerando impactos emocionais, sociais e
funcionais na vida dos indivíduos.
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Razões para diagnósticos tardios de autismo na vida adulta
O
diagnóstico tardio de autismo na vida adulta ocorre por diversos fatores, sendo
o principal a falta de conhecimento da sociedade e de profissionais da saúde
sobre o espectro autista. Durante muito
tempo, acreditou-se que o autismo só se manifestava na infância e que suas
características eram visíveis apenas em comportamentos extremos, como a
ausência completa da fala ou comportamentos repetitivos evidentes.
Além
disso, a compreensão limitada sobre o autismo em adultos gerou um estigma que
associava o transtorno a déficits severos e incapacitantes, desconsiderando as
nuances e variações do espectro. Esse desconhecimento resultou na negligência
de sinais sutis que, muitas vezes, são ignorados ou mal interpretados como
questões emocionais ou traços de personalidade.
O
preconceito e a falta de treinamento adequado por parte dos profissionais de
saúde também dificultam o diagnóstico correto. Muitos adultos
autistas passam por consultas médicas e terapias durante anos sem receber o
diagnóstico adequado, enfrentando frustração e falta de direcionamento para um
tratamento efetivo.
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Impactos emocionais e sociais do diagnóstico tardio
Descobrir
o autismo na vida adulta é, para muitos, um processo libertador, mas também
pode ser emocionalmente desafiador. Pessoas que recebem o diagnóstico nessa
fase frequentemente relatam sentimentos de alívio por finalmente compreenderem
suas dificuldades e comportamentos que antes eram considerados desafiadores ou
socialmente indesejáveis.
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Por
outro lado, o diagnóstico tardio também pode gerar sofrimento emocional, especialmente
quando a pessoa se dá conta de que passou anos enfrentando desafios sem o
suporte necessário. Questões como depressão, ansiedade e baixa autoestima são
comuns em adultos autistas que não foram diagnosticados na infância.
Além disso, a falta de um diagnóstico precoce compromete a inclusão social e a
adaptação em ambientes educacionais e profissionais. Muitos adultos autistas
relatam dificuldades em manter empregos, construir relacionamentos e participar
de atividades sociais devido à falta de compreensão e apoio especializado.
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Como reconhecer sinais do TEA na fase adulta
Identificar
o autismo na vida adulta requer atenção a uma série de sinais que podem não ser
óbvios, mas que interferem na qualidade de vida. Alguns dos principais
indicadores incluem:
- Dificuldade em
interpretar expressões faciais, tom de voz e linguagem corporal;
- Preferência por
rotinas rígidas e dificuldade em lidar com mudanças inesperadas;
- Hiperfoco em
interesses específicos, que muitas vezes são aprofundados com grande
dedicação;
- Sensibilidade
aumentada ou diminuída a estímulos sensoriais (luzes, sons, texturas);
- Dificuldade em
iniciar e manter relacionamentos sociais e amorosos;
- Ansiedade social
intensa e necessidade de períodos de isolamento para recarregar energias.
Reconhecer
esses sinais é essencial para que o diagnóstico seja realizado de forma
adequada. O acompanhamento profissional especializado é imprescindível para uma
avaliação completa e o direcionamento correto do tratamento e do suporte
necessários.
¨ Autismo: quais sinais
observar e possíveis causas
Existem
no Brasil, atualmente, 36 mil alunos com autismo, também chamado
de Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo dados oficiais
do Censo Escolar 2023, publicado em 2024. O número de matrículas de
pessoas com autismo no país quase dobrou de 2022 para 2023. Apesar do
aumento, o diagnóstico do transtorno ainda é um problema entre pais com
crianças autistas, segundo especialistas — fazendo com que essas pessoas quando
adultas, por vezes, percebam o distúrbio tardiamente.
O
médico Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de
Psiquiatria, alerta para a dificuldade no diagnóstico de adultos com autismo. Muitos desenvolvem
estratégias de camuflagem ao longo da vida, o que pode mascarar os sinais do
transtorno.
“Quanto
mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será o prognóstico, melhorando então
as chances de desenvolvimento saudável e melhor qualidade de vida para a
criança”, disse ele à CNN.
De
acordo com neuropsicóloga e espeiclaista em análise do comportamento e TEA
Tatiana Serra, atualmente, o diagnóstico na infância tem se tornado
mais acessível, o que é fundamental, pois a identificação precoce permite
iniciar a intervenção desde cedo. Isso pode contribuir para um melhor
desenvolvimento e um prognóstico mais favorável.
No
entanto, os médicos alertam que a conscientização deve ser foco do Estado, pois
alguns pais e responsáveis podem não saber identificar os sinais.
Quando
a pessoa é adulta, pode ser mais difícil identificar o transtorno. “Muitas
pessoas já apresentam comorbidades associadas, o que pode mascarar os sinais do
transtorno. Além disso, a falta de autoconhecimento pode dificultar a auto
percepção e a descrição precisa das próprias características. Soma-se a isso a
resistência em buscar ajuda ou obter um diagnóstico, tornando o processo ainda
mais complexo”, ressalta Tatiana.
“Quanto
mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será o prognóstico, melhorando então
as chances de desenvolvimento saudável e melhor qualidade de vida para a
criança”, exalta Antônio.
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Quais sinais observar para o diagnóstico do autismo
Alguns
sinais de autismo são mais evidentes na infância, como a ausência ou o pouco
contato visual, explicam os profissionais.
“Os
pais devem estar atentos a sinais como atrasos na fala, falta de contato
visual, dificuldade em interagir com outras crianças, falta de resposta ao
próprio nome, interesses restritos e às vezes, comportamentos repetitivos”, diz
o psiquiatra.
Como
explica Tatiana, crianças também podem brincar de maneira estereotipada, como
girar em torno de si mesmas ou girar as rodas de brinquedos repetidamente por
longos períodos. “Outra característica comum é a dificuldade com determinadas
texturas, inclusive de alimentos. Além disso, a criança pode ser extremamente
tímida ou apresentar dificuldades em se integrar com outras crianças da mesma
idade.”
“Os
responsáveis precisam observar muito a criança no sentido de ajudá-la com
brevidade e acabar com esse preconceito de achar que não é uma doença
psiquiátrica. O que precisa mesmo é ir a um psiquiatra da infância e
adolescência para, desde cedo, junto com uma equipe multiprofissional, fazer um
trabalho direcionado”, complementa Antônio Geraldo.
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Possíveis causa do autismo
“As
causas do autismo não são completamente compreendidas, mas acredita-se que uma
combinação de fatores genéticos com fatores ambientais vai contribuir para o
desenvolvimento desse transtorno e as adaptações”, diz o profissional.
Tatiana
Serra ressalta que a principal seria a predisposição genética, que, combinada a
influências ambientais como deficiência de ácido fólico durante a gestação,
exposição a substâncias tóxicas e condições maternas como depressão, pode
contribuir para o desenvolvimento do transtorno.
À
medida que a ciência avança na compreensão do autismo, espera-se que o
diagnóstico e o tratamento melhorem. No entanto, é fundamental que a sociedade
continue se conscientizando sobre o tema, evitando
julgamentos e preconceitos, e oferecendo o suporte necessário às pessoas com
TEA e suas famílias.
Fonte:
CNN Brasil
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