sábado, 5 de abril de 2025

China retalia os EUA com novas tarifas de 34%

Em mais um movimento de escalada nas tensões comerciais com os Estados Unidos, o governo da China anunciou nesta quinta-feira (4) que aplicará uma tarifa adicional de 34% sobre todos os produtos norte-americanos a partir de 10 de abril. 

De acordo com a nota oficial, a nova alíquota será acrescida às tarifas atualmente em vigor, ampliando significativamente o custo de entrada de mercadorias dos EUA no território chinês. A medida vem acompanhada de uma série de outras sanções comerciais, incluindo o endurecimento de controles sobre exportações de itens considerados estratégicos.

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<><> Exportações de terras raras na mira

O Ministério do Comércio da China também informou que, a partir de 4 de abril, passará a restringir a exportação de elementos de terras raras do tipo médio e pesado para os Estados Unidos. Entre os elementos listados estão o samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio — todos fundamentais para setores de alta tecnologia, como a indústria de semicondutores, armamentos e carros elétricos.

A decisão, segundo o ministério, está ancorada na legislação nacional de segurança e visa proteger os interesses estratégicos do país, além de “cumprir obrigações internacionais, como as relacionadas à não proliferação”, conforme destaca o comunicado: “o objetivo da implementação dos controles de exportação pelo governo chinês sobre os itens relevantes, de acordo com a lei, é melhor salvaguardar a segurança nacional e os interesses do país, bem como cumprir obrigações internacionais como a não proliferação”.

<><> Empresas norte-americanas sob sanção

Além disso, a China incluiu 16 entidades dos Estados Unidos em sua lista de controle de exportações e adicionou outras 11 à chamada “lista de entidades não confiáveis”. A inclusão nesta última permite que Pequim tome ações punitivas diretas contra empresas estrangeiras, incluindo a proibição de atividades comerciais no país, congelamento de ativos e outras sanções administrativas.

<><> Bolsas européias

As bolsas europeias despencaram ainda mais nesta sexta-feira (4/4), depois que a China reagiu aos impostos de importação dos Estados Unidos com tarifas retaliatórias.

No Reino Unido, o índice FTSE 100 caiu 3,7%, enquanto o índice Dax da Alemanha apresentou queda de mais de 5%, com algumas empresas registrando uma desvalorização de dois dígitos nos preços de suas ações.

As perdas se somam às quedas acentuadas observadas na quinta-feira (3/4), à medida que os mercados de ações continuam a reagir à incerteza desencadeada pelas novas tarifas de importação impostas pelos EUA.

No Brasil, o Ibovespa recuava mais de 3% pouco antes do meio-dia desta sexta-feira, após fechar a quinta-feira próximo da estabilidade, com queda de 0,04%.

Os investidores temem que as tarifas aumentem os preços e prejudiquem o crescimento nos Estados Unidos e no exterior.

Na quarta-feira, o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma tarifa básica universal de 10% sobre todas as importações para os EUA — e "tarifas recíprocas" mais altas para alguns países, como de 54% para China, por terem superávits comerciais. Para o Brasil, a tarifa recíproca anunciada foi de 10%.

As novas tarifas desencadearam a queda observada nos mercados de ações globais na quinta-feira — quando os mercados dos EUA tiveram seu pior dia desde o impacto da pandemia de covid-19 em 2020.

Trump disse a jornalistas, na quinta-feira, que achava que as coisas estavam indo "muito bem", acrescentando que "os mercados vão crescer".

Mas, nesta sexta-feira, os mercados continuaram a patinar e, em seguida, despencaram depois que a China anunciou que vai impor tarifas retaliatórias de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA a partir de 10 de abril.

Em Londres, as ações dos bancos Barclays e NatWest despencaram 10%, assim como as da empresa de mineração Glencore, e as da fabricante de motores Rolls-Royce caíram 8%.

Russ Mould, diretor de investimentos da AJ Bell, disse que a "venda implacável" havia continuado, apesar de os investidores "esperarem que o sofrimento fosse acabar".

"Há tantos elementos em movimento que não é fácil entender a situação [como investidor]", ele afirmou.

"Com inúmeros setores que devem ser atingidos pelas tarifas, é difícil saber por onde começar a compreender a situação."

Jane Sydenham, diretora de investimentos da Rathbones, observou que as ações de bancos, empresas com cadeias de suprimentos expostas às tarifas e do setor de tecnologia estavam caindo.

De acordo com ela, os investidores estavam comprando ativos que funcionam como um porto seguro, incluindo ouro e títulos do governo.

A China estava "sob forte pressão" para responder às tarifas de 54% sobre a maioria das mercadorias, segundo ela — e sua economia era grande o suficiente para ser capaz de tomar tal medida.

Mas os países com economias menores estavam tendo que ser mais cautelosos, ela acrescentou.

¨      Bolsas globais voltam a desabar após China retaliar tarifaço de Trump

As principais Bolsas de valores do mundo registraram forte queda nesta sexta-feira (4), dois dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado a aplicação de "tarifas recíprocas" sobre exportações de todos os países, o que elevou significativamente a tensão comercial internacional. As informações são da Exame.

No final desta sexta-feira, logo após o fechamento dos mercados asiáticos pelo horário local, o governo chinês divulgou sua retaliação: uma tarifa de 34% sobre os produtos norte-americanos, em uma estratégia de enfrentamento direto. Com isso, os investidores entraram em modo de aversão a risco, promovendo liquidações generalizadas de ações e derrubando os índices em diversos continentes. 

Na Ásia, os pregões encerraram o segundo dia seguido em baixa. A Bolsa de Tóquio recuou 2,75%, puxada por quedas expressivas no setor automotivo — a Toyota perdeu mais de 4%, enquanto Nissan e Honda caíram mais de 5%. Em Seul, o índice recuou 0,86%, e em Sydney, a queda foi de 2,44%. Os mercados chineses não abriram devido a um feriado nacional.

As bolsas europeias também intensificaram as perdas após o anúncio de Pequim. Em Frankfurt, na Alemanha, o índice caiu 4,76%, enquanto a Bolsa de Milão, na Itália, despencou 6,85%. Paris perdeu 4,11%, Londres recuou 3,65% e Madri fechou com baixa de 5,80%.

Ainda de acordo com a reportagem, a instabilidade também afetou o mercado de petróleo, cujas cotações caíram bruscamente: o barril do tipo Brent recuava 5,24%, e o WTI (petróleo leve dos EUA) registrava queda ainda mais acentuada, de 6,62%. Em sentido oposto, o ouro voltou a subir, reforçando seu papel como ativo de proteção em momentos de crise. Nesta manhã, a onça-troy (31,1 gramas) era negociada a US$ 3.101, pouco abaixo do recorde histórico atingido na véspera.

A origem do colapso nos mercados foi o anúncio das novas tarifas americanas, que variam de país para país: vão de 10% a 54%, sendo este último percentual reservado à China — já submetida anteriormente a uma tarifa de 20%, à qual se somou agora os 34% da tarifa "recíproca".

Entre os demais países atingidos estão aliados históricos dos EUA: Japão (24%), Coreia do Sul (25%) e Taiwan (32%). Já os produtos originados da União Europeia passaram a ser taxados em 20%. O Vietnã foi atingido com um total de 46%. O Brasil foi sobretaxado em 10%.

O especialista em investimentos John Plassard, do banco Mirabaud, classificou a quinta-feira (2) como um momento de ruptura global. "O dia 2 de abril continuará sendo um ponto de inflexão na História do comércio mundial. Os anúncios de Donald Trump desencadearam uma onda expansiva", afirmou.

Nos Estados Unidos, o cenário também é negativo. As negociações pré-mercado da sexta-feira indicavam queda de cerca de 3% no índice S&P 500, sinalizando a continuidade da turbulência iniciada na véspera, quando Wall Street registrou o pior desempenho desde os primeiros meses da pandemia de Covid-19, em 2020.

¨      Trump diz que China "entrou em pânico" ao retaliar tarifaço dos EUA com novo imposto

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a China cometeu um erro estratégico ao retaliar as tarifas impostas por seu governo. “A China jogou errado. Eles entraram em pânico”, escreveu o republicano em sua conta na rede Truth Social. A resposta de Pequim, anunciada poucas horas antes, foi a imposição de tarifas de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA. A medida foi uma reação direta ao aumento tarifário divulgado por Trump na última quarta-feira (2), como parte de sua estratégia econômica voltada para a proteção da indústria estadunidense.

Para o presidente dos EUA, a retaliação chinesa foi um passo precipitado. “Entrar em pânico e retaliar os EUA era a única coisa que eles não podem se dar ao luxo de fazer”, escreveu Trump na plataforma Truth Social, reforçando a ideia de que os rivais asiáticos agiram com fragilidade diante da política comercial de Washington, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo.

A declaração veio no mesmo dia em que foi divulgado um relatório do Departamento do Trabalho dos EUA com números positivos sobre o mercado de trabalho. De acordo com os dados oficiais, foram criados 228 mil empregos em março — número que superou as previsões dos analistas e mostrou aceleração em relação aos 117 mil postos registrados em fevereiro, após revisão. Ainda assim, a taxa de desemprego passou de 4,1% para 4,2%.

O resultado serviu como munição política para Trump, que tem sustentado sua agenda econômica com base na valorização da indústria nacional, no protecionismo comercial e no fortalecimento do mercado interno. Apesar de alguns indicadores sugerirem fragilidades estruturais no mercado de trabalho, a geração de empregos acima do esperado foi celebrada como um sinal da eficácia das medidas econômicas adotadas até agora.

¨      Guerra de tarifas: EUA 'já perderam prazo de validade' para tentar frear a China

A escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China ganhou novo capítulo nesta quarta-feira (2), quando o presidente norte-americano Donald Trump anunciou uma tarifa de 54% sobre todos os produtos importados da China. A medida, segundo a reportagem da Sputnik Brasil, visa impulsionar a indústria interna e conter o avanço do gigante asiático. No entanto, especialistas ouvidos pela emissora consideram a ofensiva inócua diante do atual contexto global.

Para o professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marcos Cordeiro Pires, os Estados Unidos "já perderam o prazo de validade" para frear o crescimento chinês. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, ele foi enfático: "Essa fase em que você poderia estrangular [a economia chinesa] já passou. Do ponto de vista tecnológico e comercial, a tentativa de frear a China já perdeu o prazo de validade".

Segundo o professor, desde a crise de 2008, provocada pela bolha imobiliária nos EUA, o país perdeu considerável poder de barganha, espaço que passou a ser ocupado por Pequim. “Seria muito difícil voltar à roda da história e ter a hegemonia que eles já tiveram no seu auge antes dessa crise. É impossível você argumentar até com um aliado dos Estados Unidos na Ásia, como as Filipinas, que iria abrir mão do comércio com a China porque isso desagrada os norte-americanos”, afirmou.

O Brasil também foi citado como exemplo dessa dependência comercial. "Podemos colocar na mesma conta o Brasil, que tem na China o maior mercado para as commodities, principalmente de seu setor econômico mais poderoso, que é o agronegócio. É praticamente impossível perder esse comércio […]", completou.

<><> Efeitos colaterais nos EUA

A nova tarifa de 54% se soma aos 20% já vigentes desde o início do ano e atinge em cheio produtos populares como os iPhones — que podem passar a custar até US$ 2.300 (R$ 12,9 mil) — e veículos, cujo preço médio deve subir US$ 5 mil (R$ 28,1 mil). A forte dependência dos EUA em relação à importação de peças e produtos da China já acendeu alertas sobre o risco inflacionário, mas o governo Trump aposta na reindustrialização como antídoto à crise.

Contudo, Marcos Cordeiro Pires questiona a viabilidade dessa estratégia em plena era da Indústria 4.0, marcada por automação e sistemas inteligentes. "Por mais que você traga, por exemplo, toda a cadeia produtiva da indústria automobilística para dentro dos EUA, jamais vai recriar uma cidade como Detroit [...]. A maior parte dessa produção será feita por robô", apontou.

Além disso, ele alerta para outro retrocesso: a aposta de Trump nos combustíveis fósseis. Enquanto a China lidera a produção mundial de veículos elétricos, os Estados Unidos insistem na retomada dos motores a combustão. "Já estamos no meio da transição energética, e não é porque os norte-americanos vão optar por um motor a combustão interna que a indústria de veículos elétricos no mundo vai ser paralisada", disse o professor.

<><> China e sua estratégia global

Mesmo com o impacto das novas tarifas, a China mantém sua meta de crescimento de 5% para 2025, com foco no fortalecimento de seu gigantesco mercado interno. A ampliação das relações comerciais e diplomáticas com países da América Latina, África, Oriente Médio e Ásia é parte essencial dessa estratégia.

Rodrigo Abreu, doutorando em relações internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também ouvido pela Sputnik Brasil, destaca que as parcerias multilaterais da China são uma resposta eficiente às sanções norte-americanas. “Antes, muitas empresas chinesas tinham dificuldade de adentrar mercados específicos, como na África e até na América Latina, que era muito controlada por corporações norte-americanas. Esses acordos comerciais se tornaram parte central da estratégia da China", explicou.

Abreu ainda ressaltou a aproximação com a Rússia, especialmente no setor energético. "Antes, a China importava muito do seu petróleo do Oriente Médio e até dos Estados Unidos. Então, com essa parceria estratégia mais forte, favoreceu bastante as duas potências a conseguirem driblar os efeitos dessas sanções", concluiu.

<><> Um impasse que revela mudança de eixo

As iniciativas de Donald Trump, reempossado neste ano para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, têm como pano de fundo a tentativa de restaurar a influência global norte-americana. No entanto, os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil apontam que o cenário internacional é outro: mais multipolar, tecnológico e interdependente.

A China, com seu vasto parque industrial, liderança em energia limpa e infraestrutura diplomática em franca expansão, parece já ter conquistado um espaço que dificilmente será desocupado. O cerco tarifário pode até gerar instabilidade, mas dificilmente mudará o rumo da nova ordem econômica mundial.

 

Fonte: BBC News/Brasil 247

 

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