sábado, 5 de abril de 2025

Com as barbas de molho sobre o queridinho da extrema-direita

Os donos do dinheiro e a imprensa corporativa nacional já abençoaram o militar carioca Tarcísio Gomes de Freitas, atual governador de São Paulo, como o pré-candidato mais querido da extrema-direita à Presidência da República em 2026. O governador Ronaldo Caiado deve estar se contorcendo de ciúme.

Não se sabe de possíveis obras literárias de Tarcísio de Freitas que o coloquem no patamar de José Sarney. Diferente de Fernando Collor de Mello, Tarcísio de Freitas não tem histórico de defensor dos ‘descamisados’, nem estampa de caçador de marajás para um marketing político anticorrupção. Tampouco ele exibe a aura intelectual poliglota de Fernando Henrique Cardoso quando bate o martelo da privatização de estatais que são as joias da coroa do povo paulista.

Possivelmente, os apaixonados pela pré-candidatura de Tarcísio de Freitas conheçam o currículo dele, disponível no portal gov.br, como analista de finanças e controle da área de Auditoria e fiscalização de obras públicas da Controladoria-Geral da União – cargo para o qual foi aprovado em 23º lugar dentre os 28 candidatos do Distrito Federal inscritos no concurso público de 2008, ou, então, como Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados.

Falta listar nesse currículo as obras de engenharia relevantes que o ex-chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia da Força de Paz da ONU (Minustah) executou no Haiti entre 2005 e 2006.

Lembrete: a atuação da Minustah sob o comando brasileiro em 2005 que ficou mais conhecida mundialmente foi a Operação ‘Punho de Ferro’ na Cité Soleil, a maior favela da capital haitiana. Na Operação, agentes armados se envolveram num massacre de civis, amplamente denunciado ao redor do planeta.

Também falta explicar por que Tarcísio de Freitas, que informa ter especialização em Ciências militares e integrou a Força de paz num país caribenho acossado por pobreza extrema e gangues armadas, não conseguiu conter a expansão do crime organizado e a violência praticada por alguns agentes policiais contra civis inocentes em solo paulista nesses dois anos como governador. O que faltou para estabelecer a segurança e a paz para todos em São Paulo?

Outro esclarecimento necessário a dezenas de milhões de usuários do transporte coletivo nas regiões metropolitanas paulistas é: como a experiência teórica demonstrada por Tarcísio de Freitas no documento técnico “O desafio da mobilidade urbana”, dez anos depois da publicação, ainda não impactou para o atual Governador resolver, na prática, as situações caóticas da mobilidade urbana, nem mesmo nas cidades cujos prefeitos são aliados declarados do próprio governador?

O fascismo à brasileira – neocolonial, entreguista, escravocrata, presunçoso, cafona, racista, misógino, xenófobo, cara-de-pau, picareta, covarde e violento na mesma medida de sua ignorância e falta de raciocínio – está com as barbas de molho desde que Jair Bolsonaro e o primeiro grupo de apoiadores da tentativa de golpe de Estado de 08 de janeiro de 2023 foram tornados réus. Alguns personagens envolvidos se escafederam para o exterior.

Porém, esse fascismo sui generis continua muito bem representado nas esquinas dos bairros pobres, em igrejas, empresas, entidades civis, prefeituras, câmaras de vereadores, órgãos importantes de governo e no Congresso Nacional.

Passa da hora de exercitarmos a coragem civil, um item tornado extracurricular em mais de meio milênio de história do Brasil.

Basta de sermos um país promissor cujos habitantes dignos entregam suas maiores riquezas – a vida, a liberdade e a honra – e se conformam em apequenarem a existência a apenas duas condições: a de rabo enfiado entre as pernas ou a de rabo preso. Enquanto isso, os poderosos usam o rabo do dinheiro e das tentativas de intimidação para balançar o cachorro da política no Estado nacional em proveito somente deles mesmos.

Na Groenlândia, o brio do povo já se fez ouvir. Agora é a nossa vez.

Quem é curioso já descobriu a infinidade de modelos de cabides que as indústrias produzem. Há cabides de madeira, de plástico, com gancho de plástico ou de metal, em medidas variando de poucos centímetros a meio metro, dobráveis para viagem ou não, e de cores variadas.

Há um cabide para cada tipo de roupa (meias, roupa íntima, vestidos, casacos pesados, ternos, maiôs, macacões para bebês, etc.) ou sapato. A matéria-prima pode ser 100% reciclada se forem cabides ecológicos. O acabamento pode ser aveludado, em tecidos de estampas delicadas, ou mesmo em cores vibrantes para os adolescentes. Até os cabides do público pet, desenhados para as roupas e acessórios dos animais de estimação, estão disponíveis em várias cores e formatos.

Hotéis, lojas de vestuário para humanos e animais domésticos, lavanderias e spas são grandes compradores de cabides.

Não é fácil obter dados do volume de vendas de cabides e do respectivo valor monetário no mercado brasileiro.

Dependendo da peça de vestuário, estima-se que caibam cerca 30 cabides por metro linear de um varão ou arara. A partir dessa informação, e medindo nosso guarda-roupa doméstico, podemos imaginar quantos cabides existem no quarteirão onde moramos.

Mas há um tipo de cabide muito peculiar. É o cabide de emprego, também conhecido como trem da alegria. Ao contrário dos cabides de origem industrial, os de emprego costumam ser gerados em administrações públicas municipais e estaduais.

Apesar do grande avanço trazido pela Lei de Responsabilidade Fiscal e pela Lei de Acesso à Informação, não é muito simples mensurar a extensão dos cabides de empregos em prefeituras e governos dos Estados e o seu impacto no orçamento público.

É uma tradição nacional que governadores e prefeitos recém-empossados assinem a nomeação de ocupantes de cargos comissionados com base em promessas e conveniências das campanhas eleitorais. Também é comum firmar acordos políticos com vereadores ou deputados estaduais para criar dezenas de cargos públicos em comissão de uma só tacada. As edições subsequentes dos diários oficiais vêm recheadas pela publicação das nomeações e promoções de aliados na administração direta, nas fundações e autarquias.

É interessante que muitos políticos envolvidos com cabides de emprego ocupem a tribuna, as redes digitais e a imprensa hegemônica de seus Estados e municípios para apontarem o dedo acusador para o Governo Federal. Sob o pretexto de enxugar a máquina administrativa do Planalto Central, defendem privatizações a rodo. Será que se olham no espelho antes de criticarem o Presidente da República e os Ministros de Estado? Só atire o primeiro cabide quem não tiver uma tora de madeira no próprio olho.

Da mesma forma, diante das demandas de recomposição salarial digna dos funcionários públicos concursados nas ocasiões de dissídio coletivo, os políticos cabideiros repetem o mantra “Não temos dinheiro”. Certamente, não sabem sequer fazer contas. Deveriam ser capazes de prever o impacto do pagamento de vencimentos, férias, gratificações e 13o salário dos cargos comissionados nos cofres públicos.

A realidade é que muitos setores da administração pública sofrem com a falta de funcionários concursados. A desmotivação pela má remuneração e as condições de trabalho precárias – chegando à falta de papel higiênico ou de água potável – torna difícil repor os quadros que se aposentam ou pedem exoneração. Há concursos e processos seletivos sem nenhum candidato inscrito para os cargos de médico, enfermeiro ou professor do ensino básico. Quem sofre as consequências é a população.

Se há um título que não devemos nos orgulhar de ganhar é o de maior cabide de empregos públicos da América Latina.

Quem nos ajuda a impedir esse recorde vergonhoso?

 

Fonte: Por Aracy P. S. Balbani, em A Terra é Redonda

 

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