Com as barbas de molho sobre o queridinho da
extrema-direita
Os donos do dinheiro e a imprensa corporativa
nacional já abençoaram o militar carioca Tarcísio Gomes de Freitas, atual
governador de São Paulo, como o pré-candidato mais querido da extrema-direita à
Presidência da República em 2026. O governador Ronaldo Caiado deve estar se
contorcendo de ciúme.
Não se sabe de possíveis obras literárias de
Tarcísio de Freitas que o coloquem no patamar de José Sarney. Diferente de
Fernando Collor de Mello, Tarcísio de Freitas não tem histórico de defensor dos
‘descamisados’, nem estampa de caçador de marajás para um marketing político
anticorrupção. Tampouco ele exibe a aura intelectual poliglota de Fernando
Henrique Cardoso quando bate o martelo da privatização de estatais que são as
joias da coroa do povo paulista.
Possivelmente, os apaixonados pela
pré-candidatura de Tarcísio de Freitas conheçam o currículo dele, disponível no
portal gov.br, como analista de finanças e controle da área de Auditoria e
fiscalização de obras públicas da Controladoria-Geral da União – cargo para o
qual foi aprovado em 23º lugar dentre os 28 candidatos do Distrito Federal
inscritos no concurso público de 2008, ou, então, como Consultor Legislativo da
Câmara dos Deputados.
Falta listar nesse currículo as obras de
engenharia relevantes que o ex-chefe da seção técnica da Companhia de
Engenharia da Força de Paz da ONU (Minustah) executou no Haiti entre 2005 e
2006.
Lembrete: a atuação da Minustah sob o comando
brasileiro em 2005 que ficou mais conhecida mundialmente foi a Operação ‘Punho
de Ferro’ na Cité Soleil, a maior favela da capital haitiana. Na Operação,
agentes armados se envolveram num massacre de civis, amplamente denunciado ao
redor do planeta.
Também falta explicar por que Tarcísio de
Freitas, que informa ter especialização em Ciências militares e integrou a
Força de paz num país caribenho acossado por pobreza extrema e gangues armadas,
não conseguiu conter a expansão do crime organizado e a violência praticada por
alguns agentes policiais contra civis inocentes em solo paulista nesses dois
anos como governador. O que faltou para estabelecer a segurança e a paz para
todos em São Paulo?
Outro esclarecimento necessário a dezenas de
milhões de usuários do transporte coletivo nas regiões metropolitanas paulistas
é: como a experiência teórica demonstrada por Tarcísio de Freitas no documento
técnico “O desafio da mobilidade urbana”, dez anos depois da publicação, ainda
não impactou para o atual Governador resolver, na prática, as situações
caóticas da mobilidade urbana, nem mesmo nas cidades cujos prefeitos são
aliados declarados do próprio governador?
O fascismo à brasileira – neocolonial,
entreguista, escravocrata, presunçoso, cafona, racista, misógino, xenófobo,
cara-de-pau, picareta, covarde e violento na mesma medida de sua ignorância e
falta de raciocínio – está com as barbas de molho desde que Jair Bolsonaro e o
primeiro grupo de apoiadores da tentativa de golpe de Estado de 08 de janeiro
de 2023 foram tornados réus. Alguns personagens envolvidos se escafederam para
o exterior.
Porém, esse fascismo sui generis continua
muito bem representado nas esquinas dos bairros pobres, em igrejas, empresas,
entidades civis, prefeituras, câmaras de vereadores, órgãos importantes de
governo e no Congresso Nacional.
Passa da hora de exercitarmos a coragem
civil, um item tornado extracurricular em mais de meio milênio de história do
Brasil.
Basta de sermos um país promissor cujos
habitantes dignos entregam suas maiores riquezas – a vida, a liberdade e a
honra – e se conformam em apequenarem a existência a apenas duas condições: a
de rabo enfiado entre as pernas ou a de rabo preso. Enquanto isso, os poderosos
usam o rabo do dinheiro e das tentativas de intimidação para balançar o
cachorro da política no Estado nacional em proveito somente deles mesmos.
Na Groenlândia, o brio do povo já se fez
ouvir. Agora é a nossa vez.
Quem é curioso já descobriu a infinidade de
modelos de cabides que as indústrias produzem. Há cabides de madeira, de
plástico, com gancho de plástico ou de metal, em medidas variando de poucos
centímetros a meio metro, dobráveis para viagem ou não, e de cores variadas.
Há um cabide para cada tipo de roupa (meias,
roupa íntima, vestidos, casacos pesados, ternos, maiôs, macacões para bebês,
etc.) ou sapato. A matéria-prima pode ser 100% reciclada se forem cabides
ecológicos. O acabamento pode ser aveludado, em tecidos de estampas delicadas,
ou mesmo em cores vibrantes para os adolescentes. Até os cabides do
público pet, desenhados para as roupas e acessórios dos animais de
estimação, estão disponíveis em várias cores e formatos.
Hotéis, lojas de vestuário para humanos e
animais domésticos, lavanderias e spas são grandes compradores de cabides.
Não é fácil obter dados do volume de vendas
de cabides e do respectivo valor monetário no mercado brasileiro.
Dependendo da peça de vestuário, estima-se
que caibam cerca 30 cabides por metro linear de um varão ou arara. A partir
dessa informação, e medindo nosso guarda-roupa doméstico, podemos imaginar
quantos cabides existem no quarteirão onde moramos.
Mas há um tipo de cabide muito peculiar. É o
cabide de emprego, também conhecido como trem da alegria. Ao contrário dos
cabides de origem industrial, os de emprego costumam ser gerados em
administrações públicas municipais e estaduais.
Apesar do grande avanço trazido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal e pela Lei de Acesso à Informação, não é muito simples
mensurar a extensão dos cabides de empregos em prefeituras e governos dos
Estados e o seu impacto no orçamento público.
É uma tradição nacional que governadores e
prefeitos recém-empossados assinem a nomeação de ocupantes de cargos
comissionados com base em promessas e conveniências das campanhas eleitorais.
Também é comum firmar acordos políticos com vereadores ou deputados estaduais
para criar dezenas de cargos públicos em comissão de uma só tacada. As edições
subsequentes dos diários oficiais vêm recheadas pela publicação das nomeações e
promoções de aliados na administração direta, nas fundações e autarquias.
É interessante que muitos políticos
envolvidos com cabides de emprego ocupem a tribuna, as redes digitais e a
imprensa hegemônica de seus Estados e municípios para apontarem o dedo acusador
para o Governo Federal. Sob o pretexto de enxugar a máquina administrativa do
Planalto Central, defendem privatizações a rodo. Será que se olham no espelho
antes de criticarem o Presidente da República e os Ministros de Estado? Só
atire o primeiro cabide quem não tiver uma tora de madeira no próprio olho.
Da mesma forma, diante das demandas de
recomposição salarial digna dos funcionários públicos concursados nas ocasiões
de dissídio coletivo, os políticos cabideiros repetem o mantra “Não temos
dinheiro”. Certamente, não sabem sequer fazer contas. Deveriam ser capazes de
prever o impacto do pagamento de vencimentos, férias, gratificações e 13o salário
dos cargos comissionados nos cofres públicos.
A realidade é que muitos setores da
administração pública sofrem com a falta de funcionários concursados. A
desmotivação pela má remuneração e as condições de trabalho precárias –
chegando à falta de papel higiênico ou de água potável – torna difícil repor os
quadros que se aposentam ou pedem exoneração. Há concursos e processos
seletivos sem nenhum candidato inscrito para os cargos de médico, enfermeiro ou
professor do ensino básico. Quem sofre as consequências é a população.
Se há um título que não devemos nos orgulhar
de ganhar é o de maior cabide de empregos públicos da América Latina.
Quem nos ajuda a impedir esse recorde
vergonhoso?
Fonte: Por Aracy P. S. Balbani, em A Terra é
Redonda
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