Para jamais esquecer: 61 anos do golpe
militar
Há 61 anos, em 1º de abril de 1964, João
Goulart, o presidente democraticamente eleito do Brasil, era deposto por um
golpe de Estado.
A quartelada foi perpetrada pelo alto comando
das Forças Armadas e articulada em conluio com empresários, políticos, líderes
religiosos e governo dos Estados Unidos, incomodados com as reformas
estruturais propostas pelo presidente e com o avanço das pautas populares.
O golpe de 1964 instaurou uma ditadura
empresarial-militar que se prolongou por mais de duas décadas e legitimou
inúmeros retrocessos civilizacionais — de ataques aos direitos trabalhistas à
repressão, tortura e assassinato em larga escala de opositores.
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As raízes do golpe
O golpe militar de 1964 resultou da reação
dos setores conservadores à ascensão política das classes populares. Após o fim
da Segunda Guerra Mundial, o processo de industrialização e modernização legado
pela Era Vargas serviu de lastro à consolidação de um projeto
nacional-desenvolvimentista, que contava com amplo respaldo popular e notável
capacidade de mobilização.
Esse projeto, calcado na priorização da
produção industrial e na participação ativa do Estado na economia, se chocava
frontalmente com o modelo econômico liberal-conservador, defendido pelas
oligarquias tradicionais e baseado na primazia do setor agroexportador e na
subordinação ao capital internacional.
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas,
a União Democrática Nacional (UDN), o alto comando das Forças Armadas e a
imprensa liberal constituíam os principais focos de oposição ao modelo
desenvolvimentista. Desprovidos de apoio nas urnas, os setores conservadores
partiram para o golpismo explícito.
O suicídio de Vargas desarticulou a primeira
conspiração golpista em 1954. Uma nova tentativa de golpe eclodiria já no ano
seguinte, visando impedir a posse de Juscelino Kubitschek, mas a reação de
militares legalistas debelou o motim. Ao mesmo tempo, a classe trabalhadora
seguia se organizando, tanto no campo quanto na cidade, ampliando a pressão por
reformas estruturais.
O intento golpista foi reavivado pela
terceira vez em 1961. A renúncia do conservador Jânio Quadros entregou a
presidência a João Goulart, herdeiro da tradição desenvolvimentista. A cúpula
militar tentou impedir a posse de Goulart, mas foi confrontada pela forte
reação popular e pela Campanha da Legalidade promovida por Leonel Brizola.
Juscelino Kubitschek organizou um meio termo
— Goulart assumiria a presidência, mas teria seus poderes limitados por um
regime parlamentarista. A medida não bastou para acalmar os setores
reacionários.
Incomodados com o discurso de Goulart sobre a
necessidade de combater privilégios e modernizar as estruturas sociais
arcaicas, setores conservadores se uniram em uma campanha antigovernista,
justificando o intento golpista por meio do fantasma da ameaça comunista, do
discurso moralizante de combate à corrupção e de uma alegada “defesa da família
e da liberdade”.
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O papel dos Estados
Unidos
A conspiração golpista contou com estreita
colaboração dos Estados Unidos, podendo ser classificada como uma das muitas
operações de mudança de regime patrocinadas por Washington durante a Guerra
Fria.
Incomodada pelo caráter pragmático da
política externa brasileira e receosa pelo precedente da Revolução Cubana, a
Casa Branca atuava no país desde o início da década de 1960, buscando
neutralizar a ação dos sindicatos, movimentos sociais e organizações de
esquerda.
Por intermédio da CIA, o governo
norte-americano controlava as ações de dois think tanks no país — o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisas Econômicas e
Sociais (IPES).
O incômodo da Casa Branca com o governo
brasileiro se agravou em 1962, após Goulart sancionar a Lei de Remessa de
Lucros, limitando o envio de dividendos das multinacionais para o exterior.
Governadores aliados a Goulart também nacionalizaram empresas estrangeiras.
Ainda em 1962, o Brasil se negou a apoiar a
expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA). Para a Casa
Branca, foi a gota d’água.
O governo dos Estados Unidos encarregou a CIA
e seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, do planejamento de uma operação de
mudança de regime. A Casa Branca interferiu nas eleições parlamentares de 1962,
canalizando fortunas para financiar as campanhas de candidatos de direita.
Por sua vez, IBAD e IPES estabeleceram um
amplo aparato de propaganda reacionária, visando manipular a opinião pública e
desestabilizar o governo.
Os think tanks ligados a Washington
mobilizaram a classe média através de pautas morais e buscaram cooptar as
organizações da sociedade civil. Incerto quanto à possibilidade de cooperação
dos militares, John Kennedy chegou a aventar a hipótese de uma intervenção
militar direta no Brasil.
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As reformas de base e o
comício da Central
Um plebiscito organizado em 1963 determinou a
abolição do parlamentarismo, devolvendo a Goulart seus poderes executivos.
Superada a tutela imposta pelos militares, Goulart tentou avançar a agenda das
reformas estruturais, ou “de base”.
O projeto incluía seis reformas principais:
agrária, educacional, fiscal, eleitoral, urbana e bancária. Goulart também
propôs a nacionalização de setores estratégicos da economia, incluindo parte da
indústria de base, produção de energia elétrica, refino de petróleo, companhias
químicas e farmacêuticas.
Sem respaldo do Congresso para avançar as
reformas, Goulart buscou o apoio dos sindicatos e da esquerda nacionalista. A
fim de pressionar os parlamentares, o governo traçou uma estratégia de
mobilização popular, organizando comícios em defesa das reformas de base.
O maior desses comícios foi realizado no Rio
de Janeiro em 13 de março de 1964, em frente à estação ferroviária Central do
Brasil. O comício reuniu aproximadamente 300 mil pessoas.
Durante o ato, Goulart anunciou a assinatura
de dois decretos, o primeiro autorizando a desapropriação das terras
improdutivas lindeiras às ferrovias e rodovias federais e o segundo
nacionalizando as refinarias de petróleo. No dia seguinte, Goulart assinaria um
terceiro decreto, autorizando a desapropriação de imóveis desocupados para fins
sociais.
A reação foi imediata. O histriônico Carlos
Lacerda, governador da Guanabara, classificou o comício como “um ataque à
Constituição e à honra do povo” e o discurso do presidente como “subversivo e
provocativo”.
Em São Paulo, a oposição organizou a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade, clamando pela deposição de Goulart.
Reverberando a posição dos principais dirigentes empresariais, a grande
imprensa apoiou em peso a conspiração golpista, publicando editoriais raivosos,
exigindo a derrubada imediata do governo.
Os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul se posicionaram a favor do golpe. Por
fim, a anistia dada por Goulart aos militares que se rebelaram durante a
Revolta da Marinha serviu de pretexto para a sublevação das Forças Armadas, que
acusaram o chefe do executivo de promover a quebra da hierarquia militar.
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A Operação Brother Sam e
a quartelada
Ciente do que o oficialato se preparava para
derrubar Goulart, o governo dos Estados Unidos, então sob comando do democrata
Lyndon Johnson, ofereceu apoio através da Operação Brother Sam. A operação
consistia em deixar a Frota do Caribe de prontidão para invadir o Brasil caso
houvesse resistência ao golpe.
Simulando um exercício militar, a Casa Branca
despachou mais de 100 toneladas de armas e munições para o litoral brasileiro.
Washington também enviou navios petroleiros, uma esquadrilha de aviões de caça,
um navio de transporte com 50 helicópteros, um porta-aviões, seis
contratorpedeiros, um encouraçado e 25 aviões C-135 para transporte de carga
bélica. As tropas estavam estacionadas numa distância de 12 a 50 milhas
náuticas ao sul do Espírito Santo.
Na véspera do golpe, Washington comunicou ao
seu embaixador no Brasil que a força-tarefa já havia partido para dar apoio
militar. Era a senha para o início da Operação Popeye — o movimento das tropas
do general Olímpio Mourão Filho, estacionadas em Minas Gerais, em direção ao
Rio de Janeiro, integrado a outra movimentação simultânea das tropas do 12º
Regimento de Infantaria, comandado pelo general Dióscoro Vale, em direção a
Brasília.
O general Artur da Costa e Silva se
autonomeou “Ministro da Guerra” e conclamou os chefes militares a apoiarem o
golpe. Leal a Goulart, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, foi deposto e
preso.
Os militares invadiram e depredaram as
redações dos jornais legalistas e incendiaram a sede da União Nacional dos
Estudantes (UNE) no Rio de Janeiro. Protestos eclodiram por todo o país, mas
foram brutalmente reprimidos. Milhares de pessoas foram presas.
Na noite de 1º de abril, sob a falsa alegação
de que Goulart havia fugido do país, o presidente do Senado, Auro Moura
Andrade, declarou a vacância da Presidência da República. No dia seguinte,
Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu interinamente a
chefia do poder executivo.
O Supremo Tribunal Federal se omitiu,
permitindo a quebra da ordem democrática. Em 9 de abril, os chefes das três
armas se autoproclamaram “Comando Supremo da Revolução” e editaram o Ato
Institucional Nº. 1 (AI-1), suspendendo as garantias constitucionais,
suprimindo a independência do legislativo e do judiciário e reivindicando
poderes absolutos para modificar a Constituição.
Centenas de parlamentares, líderes políticos
e militares legalistas tiveram seus direitos políticos cassados por dez anos.
No dia 15 de abril, o marechal Castelo Branco assumiu a presidência.
·
Após o golpe
Esboçou-se alguma resistência ao golpe no
meio sindical, mas de maneira tímida e descoordenada. No Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola também tentou organizar um núcleo de resistência, sem sucesso.
A reação foi desestimulada pelo próprio
Goulart, que desistiu de tentar debelar o golpe ao ser informado do apoio
norte-americano aos militares.
A atitude de Goulart se explica em parte pelo
fato de que o presidente julgava que a intervenção seria passageira, como
ocorrera em 1954, e que logo seriam convocadas novas eleições.
Goulart estava enganado. O golpe foi seguido
pela instauração de uma ditadura que se prolongou por 21 anos e instituiu um
aparato brutal de repressão, responsável por prender, torturar e matar milhares
de pessoas.
A ditadura militar suprimiu o direito de
expressão e organização, atacou os direitos trabalhistas, promoveu a
precarização dos trabalhadores e a concentração de renda e sucateou os serviços
públicos.
O Brasil abriu mão de sua soberania,
assumindo a condição Estado vassalo, subordinando suas políticas domésticas e
externas aos interesses de Washington.
Os Estados Unidos apoiaram de forma
irrestrita a ditadura, chegando a enviar armas e agentes para treinar os
militares em técnicas de tortura. Também prestaram assessoria técnica na
criação de sistemas de vigilância, órgãos repressivos e treinamento das forças
policiais para fins de controle social.
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A Escola Superior de
Guerra e a submissão dos militares brasileiros aos EUA
Nenhuma organização militar desempenhou um
papel tão crucial na articulação do golpe de 1964 e na subsequente consolidação
da ditadura militar brasileira quanto a Escola Superior de Guerra (ESG). Os
principais líderes do golpe eram egressos da ESG e se guiaram pelas doutrinas
da instituição ao formularem as diretrizes do novo regime.
As consequências para o Brasil foram
desastrosas. Criada para servir como um “centro estratégico em prol da defesa
nacional”, a ESG se estruturou, na prática, como um braço ideológico dos
interesses geopolíticos dos Estados Unidos, ajudando a consolidar a
subserviência dos militares brasileiros aos ditames de Washington.
Obedecendo às ordens norte-americanas, as
Forças Armadas abandonaram a defesa da soberania e dos interesses nacionais,
assumindo o papel de prepostos da Casa Branca na luta contra o “comunismo” — e
tomando o próprio povo brasileiro como o inimigo a ser derrotado.
<><> O Governo Dutra e a Guerra
Fria
Sediada no Rio de Janeiro, a Escola Superior
de Guerra (ESG) foi fundada em agosto de 1949, durante o governo de Eurico
Gaspar Dutra. A criação da ESG ocorreu em meio ao processo de reconfiguração do
cenário geopolítico internacional, marcado pela emergência da Guerra Fria.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o
governo norte-americano buscou reforçar seu domínio político e ideológico sobre
a América Latina — e o Brasil, por seu tamanho, população, recursos naturais e
potencial econômico, era visto como peça-chave para assegurar o sucesso dessa
empreitada.
O governo de Eurico Gaspar Dutra facilitaria
bastante a vida dos norte-americanos. Desde o fim do Estado Novo, Dutra havia
estabelecido uma inflexão na política externa brasileira, substituindo os
princípios autonomistas por uma postura de submissão irrestrita e alinhamento
automático ao governo dos Estados Unidos.
Obedecendo às ordens da Casa Branca, o
governo Dutra rompeu relações diplomáticas com a União Soviética e criminalizou
o Partido Comunista (PCB). Para atender às exigências dos empresários
norte-americanos, Dutra operou a “liberalização cambial”, facilitando as
importações de bens de consumo dos Estados Unidos — ao custo do esgotamento das
reservas cambiais e do enfraquecimento da indústria brasileira.
O governo Dutra também referendou a adesão do
Brasil à política de defesa hemisférica dos Estados Unidos através da adesão ao
Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). E na iminência da
Guerra da Coreia, o presidente brasileiro se ofereceu para enviar soldados
brasileiros para ajudar os norte-americanos no conflito — sendo barrado pela
vigorosa reação popular.
<><> A fundação da ESG
Foi o presidente norte-americano Harry Truman
que orientou Dutra a criar a Escola Superior de Guerra, seguindo o modelo dos
“War Colleges” dos Estados Unidos. A criação da escola foi justificada com o
argumento de que o Brasil precisava de um centro voltado ao planejamento
estratégico em prol da defesa nacional e à formação de uma elite militar
intelectual, apta a contribuir com o desenvolvimento do país.
Na realidade, a nova instituição serviria
como um instrumento para subordinar as ações das Forças Armadas brasileiras aos
interesses do governo norte-americano — centrando suas diretrizes na defesa do
conservadorismo e do pensamento anticomunista e na adesão irrestrita às ações
de neutralização da esquerda revolucionária empreendidas no âmbito da Guerra
Fria.
Por mais de uma década, a ESG esteve
oficialmente associada à National War College dos Estados Unidos. Boa parte da
estrutura e do conteúdo dos cursos ofertados pela ESG eram elaborados por
militares norte-americanos.
Assim, ao contrário das instituições
congêneres, a ESG não tinha como enfoque o estudo de táticas e estratégias
militares ou assuntos de defesa nacional. Servia antes para consolidar a
difusão do pensamento americanófilo e anticomunista junto ao oficialato
brasileiro.
O governo dos Estados Unidos manteve uma
forte presença de seus oficiais no corpo regular da ESG até a década de 1970. A
escola funcionaria por três décadas quase como uma extensão oficiosa do
Pentágono no Brasil.
<><> A Doutrina de Segurança
Nacional
A Doutrina de Segurança Nacional (DSN),
elaborada pela ESG nos anos 1950, é o exemplo mais claro dessa subserviência.
Diferente das doutrinas tradicionais de defesa, que eram voltadas às ameaças
externas, a DSN tinha como prioridade o conceito de “segurança hemisférica” — a
crença de que a mais importante missão institucional das Forças Armadas
brasileiras era colaborar com os Estados Unidos para combater o comunismo “onde
quer que ele fosse percebido”.
Com base na Doutrina de Segurança Nacional,
os militares brasileiros passaram a priorizar o combate ao “inimigo interno”.
Ecoando a paranoia anticomunista dos Estados Unidos, os oficiais brasileiros
passaram a rotular os sindicatos, os movimentos camponeses, os intelectuais de
esquerda, os políticos progressistas como “perigos à ordem”.
Essa percepção de que os “verdadeiros
inimigos” eram uma parte do povo brasileiro também serviria como justificativa
para reforçar a intervenção dos militares sobre a política nacional. As Forças
Armadas atribuíram a si mesmas o direito de tutelar o povo brasileiro e impor
as decisões que julgassem mais corretas — ao mesmo tempo em que passavam a
considerar a soberania popular e os princípios democráticos como obstáculos aos
seus interesses.
Em outras palavras, ao mesmo tempo em que
orientava seus oficiais a se submeterem de forma acrítica à agenda de
Washington, a ESG incentivava a desvalorização das instituições nacionais e a
desconfiança em relação à população civil. Não eram as potências imperialistas
que eram vistas como inimigos potenciais dos militares brasileiros, mas sim as
instituições nacionais e o seu próprio povo.
<><> A ESG e a articulação
golpista
Malgrado a debilidade de suas pautas em
relação à política de desenvolvimento nacional, a ESG assumiu o posto
indisputado de centro de formação do pensamento do oficialato militar e de boa
parte da elite empresarial brasileira.
A ESG teve grande participação no movimento
que levou à deposição de João Goulart em 1964 e à instauração subsequente da
ditadura militar brasileira. Ecoando a visão das elites brasileiras e do
governo norte-americano, que enxergavam Goulart e as reformas de base como
ameaças, a instituição se converteu em um dos principais centros de articulação
da conspiração golpista.
Os três principais atores militares
envolvidos no golpe eram todos oriundos da ESG — Humberto Castelo Branco,
Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel.
Castelo Branco seria o primeiro general
presidente da ditadura, responsável por implementar uma seria de medidas
diretamente influenciadas pela ESG. Ernesto Geisel seria o quarto general
presidente, responsável por operar o processo de distensão. Já Golbery se
destacaria como um dos principais ideólogos do regime e idealizaria a criação
do Serviço Nacional de Informações, peça central do aparato repressivo do
governo.
<><> A ESG e a ditadura
Após a concretização do golpe, apoiado
militarmente pelo Pentágono através da “Operação Brother Sam”, o regime ligado
à ESG imediatamente instituiu um projeto de incorporação das pautas ditadas por
Washington.
Da reforma educacional às políticas de saúde,
passando pela agenda econômica e política ambiental, os militares da ESG
trataram de garantir que o Brasil cumprisse todas as ordens advindas da Casa
Branca — pensamento sintetizado na conhecida frase do embaixador brasileiro
Juraci Magalhães: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Durante toda a ditadura, a ESG funcionaria
como um dos principais núcleos ideológicos do regime. A Doutrina de Segurança
Nacional evoluiu para uma concepção de “guerra total” contra o inimigo interno,
justificando a criação de aparatos repressivos como os Destacamentos de
Operações de Informações – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) —
responsáveis por torturar e assassinar centenas de opositores.
A ESG também intermediou uma série de acordos
de cooperação que facilitaram o financiamento Washington ao aparato repressivo,
através do envio de equipamentos e armas, criação de sistemas de vigilância,
treinamento de militares em técnicas de repressão e controle social.
A redemocratização permitiu neutralizar em
parte a influência da ESG sobre os rumos da política nacional, mas as doutrinas
formuladas pela instituição continuam influenciando a visão de mundo dos
oficiais — e a formação de militares que seguem até hoje como atores políticos
relevantes.
O processo de militarização da política e das
instituições do Estado, acelerado durante o governo de Jair Bolsonaro, — e
massificado ao ponto de naturalizar o processo de militarização das escolas
públicas — é uma evidência clara de que as ideias da ESG continuam vivas.
A disposição do ex-presidente em prestar
continência à bandeira norte-americana e a empolgação de muitos militares com
Donald Trump também sugerem que a americanofilia da caserna permanece intacta.
Fonte: Por Estevam Silva, em Opera Mundi
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