Diabetes
tipo 5: entenda a nova classificação da doença
A
diabetes relacionada à desnutrição — que afeta principalmente adolescentes e
adultos jovens magros em países de baixa e média renda — agora passa a ser
oficialmente reconhecido como uma forma distinta da doença: a diabetes tipo 5.
A nova
classificação foi anunciada pela Federação Internacional de Diabetes (IDF)
nessa quarta-feira (9/4). Ela é resultado de anos de pesquisa liderados pela
professora de Medicina Meredith Hawkins, fundadora do Instituto Global de
Diabetes da Faculdade de Medicina Albert Einstein, nos Estados Unidos.
“A
diabetes relacionada à desnutrição tem sido historicamente subdiagnosticada e
mal compreendida. O reconhecimento da diabetes tipo 5 pela IDF é um passo
importante para aumentar a conscientização sobre um problema de saúde tão
devastador para tantas pessoas”, afirmou Hawkins em comunicado.
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O que é a diabetes?
• A diabetes uma doença causada pela
produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose
no sangue e garante energia para o organismo.
• A insulina tem a função de transformar a
glicose (açúcar) em energia para o funcionamento das células.
• Segundo o Ministério da Saúde, a
diabetes tipo 1 é uma doença crônica, hereditária e não transmissível.
Representa entre 5% e 10% dos casos no Brasil. Costuma se manifestar ainda na
infância ou adolescência, mas também pode surgir em adultos.
• Já a diabetes tipo 2 ocorre quando o
corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida. A causa está
diretamente relacionado ao sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados,
hipertensão, e hábitos alimentares inadequados.
• Menos conhecido, o termo “diabetes tipo
3” é usado para descrever uma teoria segundo a qual a resistência à insulina no
cérebro pode estar ligada ao desenvolvimento da doença de Alzheimer.
• A diabetes tipo 4, por sua vez, é uma
forma mais rara, associada à idade avançada. Ela pode surgir mesmo em pessoas
com peso moderado.
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A falta de comida como origem
Diferentemente
do tipo 2 — que está associado ao sobrepeso e representa a maioria dos casos
nos países em desenvolvimento — a diabetes tipo 5 tem origem na desnutrição.
Estima-se que entre 20 e 25 milhões de pessoas vivam com a condição,
especialmente na Ásia e na África.
De
acordo com Hawkins, muitos jovens vêm sendo diagnosticados com esse tipo de
diabetes, que pouco se parece com as formas mais conhecidas da doença. “Os
médicos ainda não têm certeza de como tratar esses pacientes, que muitas vezes
não vivem mais de um ano após o diagnóstico”, alerta a pesquisadora.
A
condição foi descrita pela primeira vez há cerca de 70 anos e chegou a ser
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma categoria distinta
em 1985. No entanto, a designação foi retirada em 1999, por falta de estudos
que sustentassem a diferenciação. Foi a partir de 2005, em eventos
internacionais de saúde, que Hawkins começou a ouvir de médicos de diversos
países relatos semelhantes: pacientes magros, jovens e com sintomas de diabetes
que não respondiam bem à insulina.
“A
insulina não ajudou os pacientes e, em alguns casos, causou níveis de açúcar no
sangue perigosamente baixos”, explicou Hawkins.
Em
2010, a pesquisadora fundou o Instituto Global de Diabetes para investigar os
mecanismos por trás da doença relacionada à desnutrição.
Um
estudo conduzido em 2022 na Índia demonstrou que essa forma de diabetes não é
causada por resistência à insulina, como se imaginava, mas sim por um defeito
profundo na capacidade do organismo de secretar o hormônio. “A descoberta
revolucionou a forma como pensamos sobre essa condição e como devemos
tratá-la”, afirmou Hawkins.
O
avanço culminou, em janeiro de 2025, em uma reunião internacional na Índia com
pesquisadores de diversos países e representantes da IDF e da Associação
Americana de Diabetes. O grupo votou unanimemente pelo reconhecimento oficial
da diabetes relacionada à desnutrição como uma forma distinta da doença —
decisão validada durante o Congresso Mundial de Diabetes da IDF, realizado em
Bangkok, na Tailândia.
Com a
nova designação, a IDF também anunciou a criação de um grupo de trabalho sobre
a diabetes tipo 5, copresidido por Hawkins, que ficará responsável por elaborar
diretrizes formais de diagnóstico e tratamento nos próximos dois anos.
“A
diabetes relacionado à desnutrição é mais comum que a tuberculose e quase tão
comum quanto o HIV/aids, mas a falta de um nome oficial tem dificultado os
esforços para diagnosticar pacientes ou encontrar terapias eficazes. Tenho
esperança de que esse reconhecimento formal como diabetes tipo 5 leve ao
progresso contra essa doença há muito tempo negligenciada, que debilita
gravemente as pessoas e muitas vezes é fatal”, afirmou Hawkins.
• Entenda por que projeto quer tratar
diabetes tipo 1 como deficiência
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu vetar integralmente o projeto
de lei nº 2.687, de 2022, que previa a classificação da diabetes tipo 1 como
deficiência. Apesar da decisão do chefe do Executivo, publicada no Diário
Oficial da União nesta segunda-feira (13/1), o debate ainda deve continuar, já
que congressistas se preparam para se opor ao veto.
O
projeto permitiria que pessoas com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) passassem a
ter todos os direitos de uma pessoa considerada deficiente, como o direito à
aposentadoria especial, regimes de trabalho diferenciados e isenção de alguns
impostos para adquirir equipamentos médicos, por exemplo.
O veto
veio, segundo o governo, pois o projeto não previa o impacto orçamentário da
mudança de classificação, além de considerar que ele violava a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que determina que
as deficiências são consideradas a partir das barreiras de socialização
impostas por condições inatas.
Entretanto,
pessoas com diabetes tipo 1 ressaltam que a doença pode sim ser muito limitante
e até ameaçar a vida se não for corretamente monitorada e tratada. As pessoas
com DM1 devem verificar a glicose em média seis vezes ao dia e fazer a
aplicação da insulina no momento adequado para evitar picos de açúcar no sangue
muito prolongados. A alimentação deve ser acompanhada de perto.
Sem o
tratamento adequado e no tempo certo, a doença aumenta os riscos de infarto,
necrose, insuficiência renal e morte. A incompreensão social, porém, muitas
vezes dificulta que as pessoas com DM1 ingressem com as seringas de insulina em
alguns locais ou que consigam separar o tempo necessário para fazer o
monitoramento e as aplicações do remédio — inclusive no meio de provas ou no
trabalho.
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A diabetes tipo 1 como deficiência pelo mundo
Estados
Unidos, Reino Unido, Finlândia, França, Canadá, Chile, Colômbia e Espanha,
entre outros, já classificam a diabetes tipo 1 como deficiência. Em entrevista
anterior ao Metrópoles, a médica Solange Travassos, da Sociedade Brasileira de
Diabetes (SBD), destacou que a condição traz limitações significativas.
“É uma
doença sem cura e sem prevenção possível que pode gerar grandes desvantagens e
limitações. As pessoas com diabetes tipo 1 precisam aplicar a insulina
constantemente, várias vezes ao dia, então é preciso garantir que existam
insumos para atender essas necessidades específicas a qualquer momento. A
proteção das pessoas é uma questão de vida”, ressaltou.
A
Sociedade Brasileira de Diabetes se disse surpresa com o veto, especialmente
com a alegação de que uma deficiência deve considerar “impedimentos da pessoa
em interação com o meio”, sugerindo que a diabetes não possuía tal status.
“Pessoas
com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) possuem os requisitos necessários para serem
classificadas como deficientes, de acordo com o estatuto da pessoa com
deficiência (PCD)”, ressalta a nota.
O que é
da diabetes tipo 1?
A
diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que compromete a produção de insulina
pelo pâncreas, impedindo que o corpo processe corretamente a glicose, o açúcar
presente na maioria dos alimentos.
Em
geral, a DM1 é diagnosticada na infância. O tratamento inclui a administração
de duas categorias de insulina: a basal, para manter níveis mais constantes, e
a rápida, aplicada após as refeições para controlar os picos. Sem os remédios,
a vida da pessoa com diabetes fica comprometida.
Fonte:
Metrópoles

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