segunda-feira, 28 de abril de 2025

Davis Sena Filho: Anistia não é para bolsonarista bucha de canhão, mas para Bolsonaro ficar impune e livre da cadeia

Os autodenominados “patriotas” são chamados por grande parte da população brasileira de “patriotários” ou "manés" ou "gado". Os eleitores do campo progressista discordam totalmente e politicamente dos cognominados “bolsominions” e como resposta a um governo militarizado e ultraneoliberal, como foi o de Jair Bolsonaro, elegeram, em 2022, o Lula-3 presidente da República, sendo que o incompetente Bolsonaro se tornou o primeiro presidente a não se reeleger após a redemocratização do Brasil.

A verdade é que esses golpistas sem importância e influência política, mas que se dispuseram a cometer crimes em série em Brasília para darem um golpe de estado são de maioria pobre, de classe média e média baixa, realidade que amplifica o quão no Brasil vicejam grupos sociais cuja ignorância e miséria moral pode impor ao Brasil um regime político persecutório, opressor e repressor, porque a tentativa de golpe perpetrada por eles deixou essa questão muito bem clara e real.

Tentaram implantar um regime com disposição, inclusive, para prender, exilar, torturar e matar, a relembrar a violenta ditadura militar de 1964, porque a verdade é que se pode realmente imaginar o que fariam o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores militares, policiais e civis de vários segmentos e setores da sociedade, que se diz conservadora, conseguissem concretizar o golpe de estado e, consequentemente, perpetuarem-se no poder, conforme desejavam os generais cúmplices e protagonistas dos planos anti republicanos de Bolsonaro.

Contudo, essas pessoas, na verdade, são buchas de canhão. São os patriotários que foram ao front da baderna insana, porque não aceitaram a derrota de Bolsonaro para o Lula-3, assim como sequestraram a camisa da Seleção Brasileira e passaram a usar os símbolos cívicos e bandeiras do Brasil como se fossem propriedades deles, somente deles, o que se torna um total despropósito e uma falta de discernimento que alcança as raias da idiotia.

Esse comportamento típico de gente sem noção do ridículo apenas denota soberba e autoritarismo característicos de pessoas sectárias e intolerantes com os desiguais e diferentes, mas que resolveram descambar para a violência tão própria à extrema direita. São indivíduos que foram gravados, filmados e fotografados por eles mesmos, a se auto incriminarem de maneira surreal, a facilitarem o trabalho dos órgãos de estado de segurança e investigação e assim ficaram fragilizados em suas defesas perante à Justiça, sendo punidos com cadeia.

Os patriotários cantam o Hino Nacional para demonstrar um patriotismo vazio de projetos e de desenvolvimento, de bem-estar social e de conhecimento sobre o Brasil de inúmeras regiões e sua sociedade diversificada, multifacetada, multicolorida e multicultural. Enfim, desconhecem onde nasceram e moram, porque o farol que ilumina seus caminhos é o farol da obscuridade, da ignorância e do golpismo perverso, que se edifica por meio de preconceitos e, com efeito, se valeram de grande violência com a intenção de implantar no Brasil mais uma ditadura em sua sofrida história.

Depois de mais de duas mil pessoas serem presas após o quebra-quebra que destruiu literalmente as sedes dos Três Poderes em Brasília, cerca de mil pessoas foram julgadas e condenadas, desde penas “leves” que devolvem os delinquentes aos seus lares mediante o uso de tornozeleira eletrônica, além de diferentes limitações para que o condenado pela Justiça tenha de cumprir determinações quanto à sua rotina de vida até que seja cumprido o tempo da pena, sendo que foram também determinadas pelo STF as condenações mais pesadas, cujos delinquentes e golpistas cumprirão suas penas encarcerados, em um tempo de 13 a 17 anos.

Porém, o que chama a atenção é que esses meliantes rancorosos e ressentidos por toda uma vida são profundamente analfabetos políticos, sendo que muitos em seus depoimentos demonstraram viver em um mundo paralelo, eivado de crenças frívolas, fanatismo religioso e político ao ponto que inúmeros presos se recusaram a citar o nome do político fascista e chefe do golpe, Jair Bolsonaro, como se fosse uma “honra” "protegê-lo" na esperança de amenizar as acusações por parte da PGR e que ora estão a cargo dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Trata-se de algo sem precedentes e psicologicamente complexo, porque essa gente, apesar da imensa ignorância e perversidade moral, considera que está a serviço de uma bem maior, que é “lutar pela Pátria” e assim preservar seus princípios e valores nem que seja necessário mofar na cadeia, o que denota também que muitos presos foram arrebatados pelo fanatismo religioso de ordem evangélica, porque grande parte dos que participaram da intentona bolsonarista é frequentadora de igrejas evangélicas.

Trata-se de um segmento conservador de onde é oriundo o maior defensor das diatribes de Bolsonaro, o pastor midiático de extrema direita Silas Malafaia, chefe da neopentecostal Assembleia de Deus Vitória em Cristo, dentre inúmeros pastores e bispos de outras denominações evangélicas que apoiam até hoje o inelegível e réu Jair Bolsonaro, que, absolutamente, infernizou o Brasil por longos quatro anos, a desmontar o Estado nacional e a estrangular toda uma rede de proteção social e de direitos adquiridos conquistados pelo povo brasileiro por intermédio de décadas, principalmente nos governos progressistas e trabalhistas de centro-esquerda e de esquerda.

Por sua vez, o que chama mais a atenção é o cinismo, a hipocrisia, os meios oportunistas dignos dos canalhas evidenciados pela direita e a extrema direita na Câmara dos Deputados, a liderar a concessão da tal “anistia” aos delinquentes da intentona bolsonarista o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (PL/RJ), um pastor radical e que luta no Legislativo nacional para anistiar os marginais que invadiram os palácios dos poderes da República e destruíram tudo o que viram pela frente, como verdadeiros vândalos e, ignorantes que são, efetivaram uma selvageria que está marcada eternamente na história do Brasil. Um momento trágico, bárbaro e inglório para a sociedade brasileira, porque um atentado contra a civilização, ao que é civilizado.

Contudo, faço uma pausa e pergunto: “Ué, somente agora, após dois anos, os deputados federais golpistas se importam com o lumpesinato bolsonarista bucha de canhão?”

Sim. Enquanto Bolsonaro não corria o real perigo de ser preso, como acontece agora depois de ser considerado réu pelo Supremo, o PL, liderado pelo pastor evangélico da Assembleia de Deus, deputado Sóstenes Cavalcante, como o é também dá Assembleia seu parceiro ideológico Silas Malafaia, mobiliza-se de maneira francamente autoritária e, mediante chantagens, ameaça paralisar as votações da Câmara, ação legislativa que chamam de obstrução. Querem a fórceps votar a “anistia” em regime de urgência para beneficiar bandidos que tentaram dar um golpe por meio da destruição das sedes republicanas e, com efeito, facilitar para que os militares interviessem e por meio dessa “intervenção” darem um golpe de estado.

Acontece que o golpe foi derrotado e por isso que o lúmpen bolsonarista carne de canhão está preso nos presídios da Papuda e da Colmeia HÁ DOIS ANOS, mas somente agora os reais mandantes e apoiadores do golpe contra o presidente Lula-3 se mobilizam para, na verdade, livrarem Bolsonaro da cadeia e, quiçá, como se concedessem um salvo-conduto, lançá-lo candidato a presidente em 2026. É mole ou quer mais, meu camarada? Impunidade aplicada diretamente nas veias.

Entretanto, os mandantes, os articuladores e os financiadores do golpe do 8 de janeiro de 2023 estão sendo investigados, denunciados, julgados e muitos deles já estão presos, sendo que outros golpistas, como o fascista Bolsonaro, ainda verão o sol nascer quadrado, de forma a respeitar a democracia e o Estado Democrático de Direito, que estão sob a luz da Constituição.

A verdade é que o PL, um partido de extrema direita, que no poder tratou de destruir o Brasil, saiu derrotado em seus interesses nada republicanos e sua vontade de votar a anistia para bandidos como se urgência fosse. Evidentemente que o PL não foi atendido, porque o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos/PB) adiou a pauta da extrema direita que tem por único e principal propósito beneficiar o ex-presidente que é chamado também de “capitão” e de “Bozo”.

Enquanto isso, outro parlamentar radical de direita e tenente-coronel do Exército, deputado Luciano Zucco (PL/RS), ameaça a rotina de votações do Parlamento brasileiro, e assevera: “A decisão do presidente da Casa, Hugo Motta, demonstra desrespeito aos parlamentares. Vamos sair da obstrução somente quando tivermos a data marcada para a anistia”.

O deputado Zucco é o líder da oposição e está a fazer um trabalho de sabotagem contra o Brasil, que tem pautas mais urgentes para serem aprovadas, a exemplo de mudanças nas leis eleitorais, da PEC da Segurança Pública e da elevação da isenção do imposto de renda, que beneficiará milhões de brasileiros e ajudará a impulsionar ainda mais a economia do País.

Zucco afirmou que conseguiu 264 assinaturas a favor da urgência para livrar criminosos da cadeia e assim deixá-los impunes, mas a mentira ou as distorções tem pernas curtas e logo o deputado de extrema direita afirmou: “Temos que mostrar o quão danoso é esse processo em torno de pessoas inocentes, incluindo o nosso presidente Bolsonaro”.

Nesta hora deu vontade de gargalhar por causa da cara de pau do Zucco, porque incluir o Bolsonaro, um homem comprovadamente perverso, traidor e covarde, no grupo das pessoas “inocentes” só pode ser deboche, gozação e escárnio”. Na verdade, um total desrespeito à inteligência alheia e a sordidez em âmbito estratosférico.

Para concluir, a extrema direita, o gado bucha de canhão, os partidos direitistas, os deputados do PL, o Malafaia, o Sóstenes e todos aqueles que querem anistiar os crimes gravíssimos do Bolsonaro (e seus asseclas) e assim mais uma vez em sua vida nefasta e inglória ficar impune de seus malfeitos, ficarão de forma uníssona decepcionados, porque essa pauta calhorda e cretina da anistia para delinquentes de alta periculosidade não passará, não será votada, muito menos em regime de urgência.

Além do mais, quero informar os que se sentem empolgados com a anistia para o Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi ontem, o que é um grande sinal para o que se espera em relação ao “capitão” golpista. Por sua vez, ministros do STF já disseram que a anistia não perdoa crimes contra o Estado brasileiro, contra o Estado Democrático de Direito, contra a Democracia e contra a Constituição. Isto é ponto pacífico. O que não é pacífico é o comportamento reacionário da extrema direita que pensa, equivocadamente e erroneamente, que o Brasil é uma republiqueta de bananas. Não é e não será. Os golpistas serão punidos conforme os preceitos da Lei.

Vamos deixar as coisas bem claras e transparentes e veja o que prevê a legislação sobre as condutas e as penas:

1. Abolição violenta do Estado Democrático de Direito: acontece quando alguém tenta "com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais". A pena varia de 4 a 8 anos de prisão.

2. Golpe de Estado: fica configurado quando uma pessoa tenta "depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído". A punição é prisão, no período de 4 a 12 anos.

3. Organização criminosa: quando quatro ou mais pessoas se reúnem, de forma ordenada e com divisão de tarefas, para cometer crimes. Pena de 3 a 8 anos.

4. Dano qualificado: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, com violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima. Pena de seis meses a três anos.

5. Deterioração de patrimônio tombado: destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena de um a três anos.

BYE, BYE, QUERIDO! É isso aí.

¨      Implosão do PL da anistia aponta declínio do bolsonarismo. É hora de solidificar a democracia. Por Luís Mauro Filho

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, tomou uma decisão emblemática nesta semana, adiando a discussão do projeto de lei conhecido como “PL da Anistia”. A medida previa, originalmente, anistiar tanto os participantes diretos quanto organizadores e financiadores dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram sedes dos três poderes da República.

A base bolsonarista no Congresso, que defendia a urgência na aprovação do projeto, viu seus planos desmoronarem com a articulação promovida por Motta, que garantiu amplo apoio para retirar o tema da pauta imediata. Com líderes partidários garantindo mais de 400 deputados contrários ao regime de urgência, a bancada radical bolsonarista foi isolada politicamente, demonstrando uma clara perda de força do discurso extremista.

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Além do adiamento, houve uma significativa alteração no texto da proposta: o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, anunciou que a anistia seria restrita somente às pessoas fisicamente presentes nos atos de 8 de janeiro, excluindo completamente os financiadores e idealizadores do ataque às instituições democráticas. 

A exclusão desses atores-chave tornou evidente que a defesa do golpismo não encontra mais espaço para prosperar legislativamente, deixando aberto o caminho para que os organizadores enfrentem julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

O enfraquecimento da iniciativa legislativa de proteção aos golpistas também impacta diretamente a figura de Jair Bolsonaro. Já duplamente inelegível e réu no STF, Bolsonaro vê agora mais distante a possibilidade de viabilizar uma candidatura presidencial em 2026. Sem força política suficiente para garantir proteção institucional aos aliados mais próximos, o ex-presidente perde capital político dentro do seu próprio campo ideológico.

Nesse contexto, surge espaço para novas lideranças assumirem a disputa pelos espólios políticos do bolsonarismo. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já desponta como uma alternativa viável, ocupando um papel cada vez mais central no cenário da direita radical, enquanto Bolsonaro se vê obrigado a atuar nos bastidores, buscando influenciar futuras alianças e obter garantias de proteção judicial em troca de apoio político.

Do ponto de vista simbólico, a rejeição ao PL da Anistia reflete um avanço histórico na consolidação institucional brasileira. O Congresso, ao decidir não compactuar com a anistia aos responsáveis pela tentativa de ruptura democrática, reforçou o compromisso do país com o Estado de Direito e deu um recado contundente à sociedade: o golpismo não será tolerado, independentemente de sua origem política. Esse posicionamento parlamentar fortalece a confiança nas instituições e consolida uma estabilidade política essencial para a governabilidade futura.

Outro fato relevante que reforça essa mudança simbólica foi a prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, condenado pelo STF por corrupção e lavagem de dinheiro. Sua detenção, ocorrida neste 25 de abril, consolida um precedente inédito de responsabilização penal para ex-chefes de Estado brasileiros, indicando que a impunidade histórica não prevalecerá. Esse episódio aumenta a pressão sobre Bolsonaro, sinalizando que, se condenado pelos crimes que lhe são atribuídos, também poderá enfrentar destino semelhante.

¨      Cenário internacional pode ser desfavorável à extrema-direita

O movimento brasileiro contra a impunidade ocorre simultaneamente a um cenário internacional potencialmente desfavorável à extrema-direita. A gestão caótica e contraditória de Donald Trump à frente do seu segundo mandato nos Estados Unidos vem gerando crescente desconfiança global em relação à viabilidade política dos projetos ultranacionalistas e populistas.

Exemplos concretos são as recentes críticas públicas feitas por China e União Europeia sobre as negociações comerciais lideradas pelos Estados Unidos. Autoridades chinesas negaram categoricamente qualquer avanço significativo nas conversas bilaterais, exigindo inclusive que os EUA retirem tarifas antes de iniciar novas tratativas comerciais. 

Da mesma forma o fez Valdis Dombrovskis, da Comissão Europeia, manifestando descrença sobre a eficácia e clareza das propostas norte-americanas para superar disputas tarifárias recentes.

Essas críticas internacionais indicam que a estratégia protecionista e conflituosa adotada por Trump tende a minar a influência econômica e política tradicionalmente exercida pelos EUA no cenário global. A China, atenta a esses movimentos, vem fortalecendo seu papel na organização do comércio mundial, ocupando espaços abertos pela retração americana. 

Cabe pontuar que essa ascensão chinesa não representa necessariamente um avanço em direção a uma ordem mundial mais justa ou equilibrada. Pequim também persegue objetivos próprios, muitas vezes distantes dos ideais igualitários, sobretudo internamente, que reforçam contradições claras na sociedade chinesa.

Para o Brasil, que está lidando agora com os traumas internos de sua própria história recente, incluindo os desafios gerados pelo bolsonarismo, é fundamental manter atenção sobre essas mudanças no tabuleiro internacional. Ao passo que o país reforça internamente seus mecanismos institucionais de proteção democrática e combate ao autoritarismo, deve também avaliar cuidadosamente como se posicionará diante das reconfigurações internacionais emergentes.

¨      O mártir apodrece, o algoritmo alimenta: a guerra afetiva do grotesco de Bolsonaro. Por Reinaldo José Aragon Gonçalves

Bolsonaro morreu mesmo. E se exibiu. Mas o espetáculo não termina com sua internação. Ele só se intensifica, se transmuta, se espalha em vídeo, em post, em reels, em meme. Como nos ensinou Sara Goes em sua autópsia estética do bolsonarismo, o corpo apodrecido do ex-presidente não é a antítese de seu projeto. É o próprio projeto. Um corpo que arrota, que inflama, que delira e que se nega à cura. Um corpo que fede porque é disso que se alimenta o algoritmo. Mas há algo mais nesse grotesco que pulsa e mobiliza. Há um afeto que não se contenta em repugnar. Ele fideliza sim. Ele convoca. E mais do que isso, ele forma subjetividades.

Porque o grotesco não tem o mesmo peso afetivo para todos. Para os democratas, o grotesco é alerta. É sinal de que algo está errado. É o ruído dissonante que convoca o nojo, a angústia, o impulso ético de recusa. Para a esquerda, a imagem da abjeção é uma violência a ser desvelada, denunciada, exposta como sintoma do colapso. Mas para a base fascista, esse mesmo grotesco reverbera de outra forma. Ele não convoca a recusa. Ele clama por purificação. Ele não é o desvio. É o sinal. É um afeto em estado bruto, pulsando no centro de uma cosmovisão paranoica e moralista. Para essa base, o grotesco não é aberração. É evidência de que há um inimigo e de que é preciso eliminá-lo.

É nesse ponto que o grotesco se torna não apenas linguagem, mas dispositivo de guerra. Uma guerra afetiva, travada não por argumentos, mas por sensações. Não por projetos de país, mas por gestos de aversão e desejos de extermínio. O grotesco é o afeto que organiza o gozo fascista. E não qualquer gozo. Um gozo invertido, um prazer na destruição simbólica do outro. A cada imagem que escancara corpos abjetos, seja o da travesti espancada, do indígena invisibilizado, do pobre ridicularizado, a base se nutre. Ri, compartilha, venera. A gargalhada aqui é arma. Ela transforma a dor do outro em motivo de pertencimento. Como na cena em que Bolsonaro imita uma pessoa morrendo com falta de ar durante a pandemia, zombando do desespero de milhares que agonizavam sem oxigênio nos hospitais. Ou quando ri abertamente da morte de Rubens Paiva, desaparecido na ditadura. Ou ainda quando despreza e desumaniza a memória de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados na Amazônia, insinuando que “isso acontece com quem vai por ali”. Em cada um desses episódios, a dor do outro é convertida em espetáculo. A agonia vira punchline. O luto se torna palanque. E é nesse teatro do escárnio que a base se reconhece, se reafirma, se alinha. Porque o grotesco aqui não é acidente. É doutrina.

E o algoritmo, atento, recompensa. Ele não julga. Ele entrega. Ele distribui o grotesco como vício, como quem oferece pequenas doses de desprezo para manter o sujeito engajado. O grotesco é dopamina fascista. Não é por acaso que os vídeos mais vistos são os mais escatológicos. O corpo bolsonarista, putrefato, sempre retorna. Internado ou não, ele aparece em alta resolução, em câmera lenta, em looping. Porque quanto mais escárnio, mais cliques. E quanto mais cliques, mais política.

A guerra cultural não é travada no campo da razão. Ela é disputada nos subterrâneos do afeto. O grotesco é a granada estética dessa guerra. Ele invade a sensibilidade anestesiada e a violenta. Não pelo choque, mas pela adesão. A repulsa deixa de ser uma linha de recuo e vira o início da radicalização. E é aí que a política do grotesco se torna mortal. Porque ela transforma o espectador em cúmplice. Depois, em soldado. O mártir fascista apodrece, sim. Mas sua decomposição é evangelho. Cada secreção é sinal. Cada gaze, cada fístula, cada gemido se converte em argumento. Um argumento pré-racional, afetivo, irracionalista. Porque o fascismo não opera pela persuasão. Ele opera pela sensação. E o grotesco é sua estética de guerra.

O cadáver de Bolsonaro, ainda que vivo, não pede compaixão. Ele exige culto. Um culto ao sofrimento performado, à vitimização como tática, à doença como messianismo. É o corpo agonizante do líder como metáfora de um país que também sangra. Mas não para curar. Sangra para unir os que desejam vingança. E o algoritmo, silencioso, registra tudo.

Para Sara Goes, cujo olhar afiado e escrita luminosa não apenas desvelam as camadas do presente, mas também fazem da análise um gesto de coragem e beleza. Este texto se inscreve como um eco, uma dobra, talvez um sussurro intelectual na mesma frequência em que sua voz ressoa, precisa, inquieta e irremediavelmente necessária.

 

Fonte: Brasil 247

 

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