sexta-feira, 11 de abril de 2025

China suspende mais da metade dos fornecedores de carne bovina dos EUA e Brasil vê oportunidade

A China suspendeu a compra de carne bovina de mais da metade dos fornecedores americanos em meio à crescente guerra tarifária que os Estados Unidos impõem ao gigante asiático. O Brasil, por sua vez, observa uma possível janela de oportunidade para ampliar suas exportações ao país. Em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajará à China para um encontro com o presidente Xi Jinping.

Segundo a Folha de S.Paulo, atualmente, 654 empresas americanas estão registradas para vender carne bovina para a China. Porém, 392 desses estabelecimentos tiveram suas transações suspensas pela Administração Geral das Alfândegas da China, o que representa 60% dos fornecedores do setor. 

Nos últimos dias, o número de suspensões tem aumentado, com fornecedores de carne de aves e suínos também sendo afetados. Nas últimas duas semanas, nove empresas tiveram suas habilitações não renovadas, incluindo a American Proteins, a Mountaire Farms of Delaware e a Coastal Processing, ligadas à exportação de carne de aves e farinha de ossos.

Em comunicado, o Departamento de Segurança Alimentar de Importação e Exportação da Administração Geral das Alfândegas da China explicou que as suspensões são uma medida preventiva para evitar riscos à segurança alimentar. A China alegou que tais ações estão em conformidade com as leis e regulamentos locais, bem como com os padrões internacionais, e visam garantir a segurança alimentar de forma científica e razoável.

Ainda de acordo com a reportagem, até o dia 18 de junho, 68 fornecedores terão habilitações que vencerão e precisarão solicitar novas autorizações. Entre eles, estão dez de carne bovina, 11 de carne suína e 47 de carne de aves. No momento, o veto chinês se concentra principalmente na carne bovina, com 590 fornecedores dessa categoria, dos quais apenas dez estão suspensos. Por outro lado, entre os 594 fornecedores de carne de aves, apenas três estão enfrentando restrições.

No cenário mais amplo de comércio internacional, as bolsas da Ásia e da Europa registraram forte alta nesta quinta-feira (10), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas impostas a diversos países, excluindo a China desse recuo. Em resposta, a China aumentou suas tarifas sobre os produtos importados dos EUA, passando de 104% para 125%, em retaliação às medidas da administração Trump, que, por sua vez, havia imposto uma tarifa de 84% sobre produtos americanos.

A Embaixada do Brasil em Pequim tem enfatizado que, embora as medidas de suspensão de fornecedores estejam vinculadas a controles sanitários e de segurança alimentar, elas não podem ser dissociadas do contexto da guerra tarifária entre os dois países e da crise nas relações comerciais sino-americanas.

Roberto Perosa, representante do agronegócio brasileiro, que foi secretário de Comércio do Ministério da Agricultura até dezembro, participou de reuniões com autoridades chinesas na semana passada, enquanto as novas tarifas dos EUA e as respostas de Pequim eram anunciadas. 

“As conversas foram muito positivas”, afirmou Perosa, destacando os encontros no Ministério do Comércio da China, na aduana e com empresas do setor alimentício. Ele ainda ressaltou: “Eles reiteraram que o Brasil é um parceiro estratégico, que as relações estão no melhor momento e que o presidente Lula vai estar em Pequim”, disse. 

A China segue sendo o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina. Em 2024, as exportações para o país alcançaram mais de 1 milhão de toneladas, um aumento de 12,7% em relação ao mesmo período de 2023, gerando US$ 6 bilhões em negócios. As exportações de carne bovina só ficam atrás de soja, minério de ferro e petróleo no Brasil. De janeiro a março deste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o Brasil vendeu US$ 1,36 bilhão em carne bovina para a China, um crescimento de 11,3% em comparação com o primeiro trimestre de 2023.

¨      Lula recomenda "muita prudência" com tarifaço de Trump, diz Haddad

O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou nesta quinta-feira (10) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem recomendado cautela diante das tarifas comerciais recíprocas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos. Segundo Haddad, ainda não há uma diretriz clara sobre o novo cenário, já que as taxas vêm sendo alteradas com frequência.

"Como as coisas mudam a cada 24 horas, não há uma diretriz clara. As pessoas estão com muita insegurança sobre o que está acontecendo com o governo dos Estados Unidos. Não é possível, com estes poucos dias transcorridos, fazer uma avaliação criteriosa", disse Haddad.

Na quarta-feira passada (2), o presidente norte-americano Donald Trump anunciou tarifas de importação sobre 180 países. Uma semana depois, em um novo revés, o republicano informou, ontem (9), que realizará uma pausa de 90 dias nas taxas recíprocas e reduzirá para 10% as alíquotas de importação impostas aos países, exceto à China.

"Qualquer coisa que eu falasse aqui, poderia ser desmentida amanhã, a depender dos desdobramentos, do que acontecer. Então o que o presidente [Lula] está recomendando é muita prudência", acrescentou o ministro.

O chefe da pasta da Fazenda ainda ressaltou que os canais de diálogo entre Brasil e Estados Unidos permanecem abertos, com conversas em andamento, principalmente com autoridades responsáveis pelo comércio exterior norte-americano.

“Nós temos que aguardar um posicionamento final para saber como proceder. Mas o mais importante é que temos relações históricas de negociação com os Estados Unidos, e estamos na mesa há algumas semanas dialogando. Penso que, em relação ao Brasil, o que aconteceu já faz parte da atuação da boa diplomacia brasileira", concluiu.

¨      Planalto prevê novos recuos de Trump em guerra comercial

O governo brasileiro avalia que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — reeleito para um segundo mandato em 2025 — poderá ser obrigado a fazer concessões ainda maiores no chamado “tarifaço”, em razão da crescente resistência dentro do próprio território dos EUA.

Segundo interlocutores do governo Lula (PT) ouvidos pela coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Trump já deu um primeiro sinal de recuo ao anunciar uma suspensão de 90 dias para negociações, reduzindo provisoriamente as tarifas de importação para o piso de 10% em quase todos os casos. Para ministros e autoridades envolvidas nas discussões, essa medida sinaliza que novas flexibilizações podem ocorrer, inclusive no caso da China, principal alvo das sanções, com sobretaxa de até 125%.

“As contradições e interesses internos dos EUA vão dificultar, ou até mesmo impedir, a implantação das medidas anunciadas por Trump”, afirmou um interlocutor com acesso direto às discussões com o presidente Lula., de acordo com a reportagem. A mesma fonte acrescentou que a tentativa de impor barreiras comerciais tão amplas — com impacto sobre mais de 180 países — esbarra na complexidade do sistema econômico global. “É difícil implantar uma medida que, além disso, mexe com o mundo todo”, observou.

Diante desse cenário, o Palácio do Planalto decidiu manter a cautela. O governo brasileiro ainda não anunciou qualquer retaliação às tarifas impostas por Washington. A estratégia é aguardar os próximos desdobramentos, com a expectativa de que Trump não consiga sustentar as restrições em sua integralidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou na terça-feira (8) que ainda não é o momento de agir: “Não é o momento agora de anunciar medida. É tentar ver se a poeira abaixa, se estabiliza, para que nós possamos começar a nos movimentar”, afirmou.

Além da pressão política, Trump também tem enfrentado forte oposição do setor financeiro. Diversos bilionários que apoiaram sua campanha manifestaram-se publicamente contra o tarifaço. Um dos mais veementes foi Bill Ackman, diretor da Pershing Square, que comparou a iniciativa a uma “guerra nuclear atômica”. Foi dele a sugestão para a trégua de 90 dias, acatada dois dias depois pelo presidente. Ackman agradeceu a decisão publicamente, “em nome de todos os americanos”.

O megainvestidor Stanley Druckenmiller também se posicionou contra a medida. Já Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), atacou Peter Navarro — assessor de Trump e defensor das tarifas — chamando-o de “imbecil” e “mais burro do que um saco de tijolos”, após ter sido desqualificado como simples montador de carros. Musk é conselheiro de Trump e também diretor do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), responsável por cortar gastos do governo estadunidense.

A opinião pública também tem reagido negativamente. Segundo levantamento monitorado pelo estatístico Nate Silver, três institutos de pesquisa identificaram queda na aprovação de Trump logo após o anúncio do tarifaço. Em média, 50,1% dos norte-americanos agora desaprovam sua gestão, contra 46,3% de aprovação.

¨      Isolacionismo de Trump deve ter como resposta a retomada da integração latino-americana. Por Leonardo Attuch

O tom adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira 9, durante a abertura da 9ª reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Tegucigalpa, foi preciso e necessário diante do novo cenário de incertezas globais. Com clareza e firmeza, Lula alertou que “guerras comerciais não têm vencedores” e convocou os países da região a resistirem à ingerência externa. Sua fala foi uma resposta direta ao novo ciclo de instabilidade internacional deflagrado pelo retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Desde que reassumiu o cargo, em janeiro, Trump deu início a uma nova guerra comercial em escala global. Com um tarifaço agressivo, mirou inicialmente a China, mas também atingiu parceiros importantes como o Brasil. O protecionismo exacerbado, a retórica nacionalista e a ruptura com acordos multilaterais voltam a marcar a política externa dos Estados Unidos. Trata-se de uma guinada isolacionista que ameaça as economias do Sul global e impõe à América Latina a urgente necessidade de reagir com coesão.

Lula, ao defender o fortalecimento da Celac, sinalizou o caminho: a retomada da integração regional como antídoto contra a fragmentação. “É preciso fazer da Celac um espaço cada vez mais efetivo de concertação política, de promoção da integração e de cooperação”, afirmou. A mensagem é clara: diante de um mundo em disputa, é hora de os países latino-americanos falarem com uma só voz, reforçando seus laços econômicos, políticos e sociais.

Nesse sentido, a aproximação entre Brasil e México, oficializada no encontro entre Lula e a presidente Claudia Sheinbaum, ganha ainda mais relevância. A decisão de estreitar os laços comerciais entre as duas maiores economias da América Latina aponta para um reposicionamento estratégico da região no tabuleiro internacional. Ao fortalecer a cooperação Sul-Sul, os países latino-americanos constroem um caminho próprio, soberano e mais resiliente às turbulências externas.

Outro movimento decisivo no horizonte será a cúpula China-Celac, marcada para maio, em território chinês. Trata-se de uma oportunidade histórica para que a região reaja de forma coordenada ao tarifaço de Trump, fortalecendo parcerias comerciais com a potência asiática e redesenhando rotas de desenvolvimento compartilhado. Mais do que isso, é também uma chance para que o Brasil se posicione como peça central na reorganização das cadeias produtivas globais, atraindo investimentos industriais, consolidando sua base tecnológica e promovendo a reindustrialização com sustentabilidade.

Como líder incontestável da Celac, Lula será também protagonista dessa cúpula, levando à China a voz unificada da América Latina e reforçando o papel estratégico do Brasil no atual rearranjo geoeconômico internacional. A nova guerra comercial iniciada por Trump não pode ser enfrentada de forma individualizada por cada país da região. A resposta precisa ser coletiva, articulada e voltada para o fortalecimento de mecanismos de integração como a Celac.

O momento exige mais do que discursos — exige ação. E a liderança exercida por Lula aponta na direção certa: a da união latino-americana como resposta ao isolacionismo.

¨      Em meio à guerra comercial de Trump, UE e Emirados Árabes Unidos concordam em iniciar negociações de livre comércio

A União Europeia e os Emirados Árabes Unidos disseram nesta quinta-feira que concordaram em iniciar negociações de livre comércio, em meio à agitação e às incertezas criadas pelas decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, relacionadas a tarifas de importação. 

"Hoje, a presidente von der Leyen (da Comissão Europeia) realizou uma cordial ligação telefônica com Sua Alteza Sheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos. Durante a conversa, eles concordaram em iniciar negociações para um acordo de livre comércio", disse a UE em um comunicado.

As negociações vão se concentrar no comércio de bens, serviços, investimentos e aprofundamento da cooperação em setores estratégicos, incluindo energia renovável, hidrogênio verde e matérias-primas essenciais, disse a UE.

O presidente dos Emirados Árabes Unidos também afirmou que o acordo para iniciar as negociações para um Acordo de Parceria Econômica Abrangente (CEPA) com a UE tem como objetivo aprofundar as relações bilaterais e promover o crescimento econômico.

Ao reduzir tarifas e barreiras comerciais desnecessárias e melhorar o acesso ao mercado de bens e serviços, espera-se que o pacto promova oportunidades em setores-chave, incluindo manufatura avançada, saúde, logística e inteligência artificial, informou a agência de notícias estatal dos Emirados Árabes Unidos(WAM).

A UE é o segundo maior parceiro comercial dos Emirados Árabes Unidos, respondendo por 8,3% do total do comércio não petrolífero dos Emirados. O rico Estado do Golfo também é o maior destino de exportação e parceiro de investimentos da UE no Oriente Médio e no norte da África, acrescentou a WAM nesta quinta-feira.

Os Emirados Árabes Unidos, um Estado influente e rico em petróleo do Oriente Médio, há muito têm defendido um envolvimento mais profundo da UE na região do Golfo. É a segunda maior economia do mundo árabe depois da Arábia Saudita, um importante parceiro comercial do Oriente Médio para muitas outras nações, e seus fundos soberanos estão entre os mais ativos do mundo.

A Reuters informou com exclusividade em março de 2024 que Abu Dhabi estava discretamente pedindo à UE que iniciasse conversas sobre um pacto comercial separado do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), um bloco árabe que inclui os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita.

 

Fonte: Brasil 247

 

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