quinta-feira, 24 de abril de 2025

Apesar de evitáveis, mortes maternas por hipertensão persistem no país

As mortes maternas por hipertensão persistem no Brasil, apesar de serem totalmente preveníveis. É o que mostra estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que analisou dados de 2012 a 2023 e reforçou que o problema tem grande relação com a desigualdade.

No período investigado, a taxa média de óbitos entre mulheres indígenas superou em mais de duas vezes a de mulheres brancas. Já a das mulheres pretas foi quase três vezes maior que a das brancas.

“Não há predisposição biológica para uma maior mortalidade por distúrbios hipertensivos da gestação nesses grupos. Essas mulheres têm maior probabilidade de viver em situação de pobreza, ter menos acesso à educação e enfrentar barreiras no acesso a cuidados de saúde de qualidade”.

O estudo acrescenta que “o viés racial sistêmico no sistema de saúde pode levar a um tratamento preconceituoso e a cuidados desiguais. Além disso, mulheres negras, pardas e indígenas podem vivenciar interações negativas com profissionais de saúde, o que contribui para a desconfiança nos serviços de saúde e resulta em piores desfechos maternos e perinatais” .

Durante o período de 11 anos, quase 21 mil mulheres morreram durante a gravidez, parto ou puerpério. Em cerca de 18% dos casos ─ 3.721 mortes ─ as causas foram complicações da hipertensão.

Isso significa que a taxa de mortes maternas geral do Brasil foi de 61,8 a cada 100 mil nascimentos, abaixo do limite de 70 preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas bastante acima dos índices de países desenvolvidos, que costumam variar de 2 a 5 mortes para cada 100 mil nascimentos.

<><> Efeito pandemia

Considerando apenas as mortes comprovadamente decorrentes de hipertensão, a taxa média foi 11,01 a cada 100 mil nascimentos, e manteve um padrão de estabilidade ao longo dos anos, à exceção de 2023, quando baixou para 8.73. Apesar da redução, por enquanto, o dado é tratado com cautela e considerado um ponto estatisticamente fora da curva.

Além disso, em 2022, foi registrado o maior número de casos proporcionais: 11,94 mortes a cada 100 mil nascimentos. Os pesquisadores acreditam que esse pico tenha sido uma consequência indireta da pandemia, que desorganizou os serviços de saúde em 2020 e 2021, impactando a assistência obstétrica neste período e nos meses seguintes.

De acordo com o professor do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas, José Paulo Guida, um dos autores do estudo, isso já demonstra a importância do pré-natal de qualidade:

“Uma mulher não morre de uma hora para outra. Houve diversos momentos em que ela poderia ter sido tratada para não morrer. Então, logo que a mulher descobre que está gestante, ela deve iniciar o pré-natal. Talvez isso não seja a realidade para mulheres que moram em regiões mais distantes dos centros urbanos, o que já é uma barreira de acesso. Aqui no Brasil, a média de início do pré-natal é na 16ª semana, ou seja, por volta do quarto mês”, ele complementa.

<><> Prevenção

Esse é um marco crucial no manejo da hipertensão já que dois medicamentos bastante acessíveis e baratos podem reduzir em 40% a possibilidade de complicações, desde que comecem a ser administrados antes que a gestação complete 16 semanas: o carbonato de cálcio e o ácido acetilsalicílico (AAS). Em fevereiro, o Ministério da Saúde determinou a prescrição do cálcio para todas as gestantes e o AAS deve ser utilizado como medida complementar por aquelas que tem maior risco.

Mas José Paulo Guida reforça que os medicamentos não podem faltar nas unidades de saúde, e os profissionais de todo o Brasil devem ser capacitados para identificar corretamente os fatores de risco e prescrever adequadamente as medicações.

“É fundamental que na primeira consulta, o profissional obtenha as informações sobre os antecedentes dela: como foi a gravidez anterior? Ela é muito nova? Já tem uma idade avançada? Tem obesidade ou alguma doença? Tudo isso são fatores de risco para ela desenvolver a hipertensão durante a gravidez”.

As gestantes também devem ser orientadas a buscar um serviço de emergência imediatamente caso apresentam sintomas como:

•        Dor de cabeça constante;

•        Inchaço significativo, principalmente no rosto e nos braços;

•        Dor de estômago e náuseas, com a gestação mais avançada;

•        Surgimento de pontinhos brilhantes na vista.

“Aí, entra uma outra intervenção, que é a principal para evitar a morte: o sulfato de magnésio. Ele reduz muito a chance de uma convulsão por causa pressão alta. E quando a mulher tem a convulsão, ela tem quase 50% risco de morrer”, alerta o professor da Unicamp.

O estudo também identificou que a proporção de mortes aumenta significativamente após os 40 anos, e a taxa média se aproximou de 31 mortes a cada cem mil nascimentos. De acordo com Guida, mulheres nessa faixa etária têm mais chance de engravidarem já com problemas de saúde, como a própria hipertensão, ou o diabetes, o que aumenta o risco de apresentar alguma gravidade.

Além disso, há a possibilidade de que as mortes por hipertensão sejam ainda mais numerosas, já que 2,4 mil mulheres morreram no período analisado por hemorragia e, conforme o professor da Unicamp explica, a hipertensão provoca a destruição das plaquetas, dificultando a coagulação sanguínea, o que também pode levar a esse desfecho.

•        Alterações cerebrais estão associadas a maior risco de depressão pós-parto

A transição para a maternidade envolve uma transformação hormonal profunda em todo o corpo da mulher, incluindo o cérebro. Mudanças sutis em algumas regiões cerebrais durante a gravidez podem ajudar a explicar por que algumas mulheres desenvolvem depressão pós-parto.

Um novo estudo, publicado na revista Science Advances, constatou que aquelas que apresentaram esse quadro mental tiveram aumento de volume em duas áreas envolvidas com emoções e estresse: as amígdalas e o hipocampo.

Essas estruturas são essenciais para a regulação emocional e a formação da memória, mas ainda não se sabia se as experiências no parto, um dos momentos mais intensos emocionalmente na vida de uma mulher, e o desenvolvimento da depressão pós-parto estariam associados a mudanças nessas regiões cerebrais. E foi isso que pesquisadores vinculados a diferentes instituições da Espanha investigaram no estudo recente.

Os cientistas usaram exames de ressonância magnética para avaliar regiões do cérebro de 88 mulheres que estavam grávidas pela primeira vez e não tinham histórico de depressão ou outros transtornos de saúde mental. Eles buscaram especialmente mudanças de volume no hipocampo e nas amígdalas. Elas também responderam a um questionário sobre sua experiência no parto. No grupo controle, 30 mulheres que nunca tiveram filhos foram monitoradas.

Os pesquisadores ressaltam que o estado psicológico da mãe molda o parto em uma experiência profundamente subjetiva. Enquanto algumas mulheres percebem seu parto como uma experiência positiva, sentindo intensa alegria, orgulho e realização, outras o descrevem como traumático. Por isso, um parto angustiante e complicado pode levar a sintomas de estresse pós-traumático ou depressão pós-parto.

Mulheres que tiveram experiências ruins durante o parto apresentaram aumento bilateral no hipocampo. E aquelas que manifestaram sintomas de depressão durante o periparto (que inclui o período final da gravidez e os meses seguintes após dar à luz) estavam com a amígdala cerebral direita aumentada.

Segundo o estudo, quanto maior é o crescimento do volume da amígdala direita, maior o aumento nos sintomas de depressão perinatal; e quanto pior a experiência do parto, maior o aumento bilateral do volume no hipocampo.

“Esse achado é muito importante”, afirma o ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador médico materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein. “Os autores frisam a correlação da amígdala direita com a depressão pós-parto porque a depressão é uma condição que requer tratamento. A questão da experiência do parto é muito individual e merece uma atenção psicológica. Mas a depressão pode ser algo mais grave e permanente.”

<><> Um problema comum

De acordo com a pesquisa espanhola, entre 7% e 44% das mães descrevem seu parto como traumático, 10% desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático relacionado ao nascimento do filho e 17% sofrem de depressão pós-parto. No Brasil, segundo estimativas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o quadro afeta cerca de 25% das mães.

Logo após darem à luz, cerca de 80% das mulheres vão vivenciar o baby blues — conjunto de sentimentos que costuma ser confundido com depressão pós-parto: choro constante, tristeza, angústia, excesso de sensibilidade, irritabilidade e ansiedade são alguns dos sintomas. Mas eles são transitórios, duram de duas a três semanas e costumam regredir espontaneamente. A depressão pós-parto, ao contrário, não desaparece e pode trazer outras complicações e consequências, inclusive no aspecto afetivo, atrapalhando o vínculo entre mãe e bebê.

Apesar de os resultados da pesquisa espanhola ainda não trazerem uma mudança efetiva na prática clínica – afinal, não dá para fazer ressonância magnética em todas as mulheres grávidas –, as descobertas reforçam a importância de monitorar as experiências perinatais e a saúde mental da gestante durante o pré-natal.

“Se há um alto risco [de depressão pós-parto], posso fazer o exame logo após o parto e detectar essas alterações cerebrais antes de a depressão aparecer, por exemplo”, propõe Negrini. “A partir disso, posso tomar atitudes preventivas, como fazer psicoterapia, organizar o estilo de vida e manter uma rede de apoio para que essa mulher não desenvolva depressão.”

•        Tratar pressão alta pode reduzir risco de demência, diz estudo

Tratar adequadamente a pressão alta pode reduzir o risco de demência e de comprometimento cognitivo, de acordo com um estudo publicado na Nature Medicine, renomada revista científica. As descobertas foram divulgadas na segunda-feira (21) e destacam a importância do controle intensivo da hipertensão.

Pesquisas anteriores mostraram que o número de pessoas com demência no mundo aumentará de 57,4 milhões, em 2019, para 152,8 milhões até 2050, com maior impacto em países de baixa e média renda. Existem evidências que mostram que mudanças no estilo de vida, com a adoção de uma dieta saudável e a prática regular de exercícios, são maneiras de evitar o declínio cognitivo, mas poucos estudos testaram os efeitos de medicamentos que reduzem a pressão arterial sobre o risco de demência.

Diante disso, pesquisadores testaram a eficácia do controle da pressão arterial em 33.995 pacientes de 40 anos ou mais com hipertensão não tratada, em aldeias na China rural.

No grupo de intervenção (ou seja, aqueles que receberam tratamento), 17.407 pacientes tomaram medicação anti-hipertensiva e receberam orientação de saúde sobre monitoramento domiciliar da pressão arterial, mudanças no estilo de vida (perda de peso, redução de sódio na dieta e redução de álcool) e adesão à medicação.

Já no grupo controle (aquele que não recebeu tratamento), os participantes foram treinados apenas para o gerenciamento da pressão arterial e tiveram a pressão medida em um ambiente de saúde.

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O estudo durou 48 meses, período em que os autores descobriram que o grupo que tomou medicação anti-hipertensiva obteve um melhor controle da pressão arterial do que o grupo controle. Segundo os pesquisadores, o gerenciamento intensivo da pressão arterial reduziu o risco de demência por todas as causas em 15% e o de comprometimento cognitivo em 16%.

As descobertas sugerem que intervenções comprovadas destinadas a reduzir a pressão arterial podem ajudar a reduzir a incidência e o impacto global da demência, e que essa intervenção deve ser amplamente adotada e ampliada para reduzir o número de pessoas com a condição no mundo.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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