quinta-feira, 24 de abril de 2025

Após lucro da Tesla despencar, Elon Musk diz que vai reduzir seu papel no governo Trump

Elon Musk, CEO da Tesla, anunciou que vai reduzir sua participação no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, depois que os resultados financeiros da empresa, divulgados na terça-feira (22/4), mostraram uma queda acentuada no lucro e na receita nos primeiros meses deste ano.

As vendas da montadora despencaram, e a marca vem enfrentando críticas diante do envolvimento político cada vez maior de Musk na nova gestão da Casa Branca.

De acordo com os resultados divulgados, o lucro da Tesla despencou 71% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024, uma queda atribuída, entre outros fatores, às atividades políticas de seu CEO.

A empresa americana de veículos elétricos registrou US$ 409 milhões de lucro entre janeiro e março, em comparação com US$ 1,4 bilhão no mesmo período do ano anterior.

Esta queda coincide com uma crescente controvérsia em torno de Musk, cuja participação no governo Trump e apoio a políticos de direita radical na Europa provocaram protestos, boicotes e danos à imagem da marca.

A empresa, de fato, citou a "mudança no sentimento político" como uma das razões para a queda no lucro, assim como a "incerteza nos mercados automotivo e de energia".

•        Queda nas vendas

A receita das vendas da Tesla também registrou uma queda de 9% em comparação com o mesmo período do ano anterior, entre janeiro e março, totalizando US$ 19,3 bilhões, abaixo das expectativas de Wall Street de US$ 21,1 bilhões.

As entregas de veículos caíram 13%, para 336.681 unidades, representando o pior trimestre de vendas desde 2022.

A empresa alegou na apresentação dos resultados que a "incerteza nos mercados automotivo e de energia", assim como a "rápida evolução das políticas comerciais", afeta negativamente a cadeia de suprimentos global e a estrutura de custos da Tesla e de seus concorrentes.

"Esta dinâmica, junto à mudança no sentimento político, pode ter um impacto significativo na demanda por nossos produtos no curto prazo", acrescentou.

As ações da Tesla perderam mais de 40% do valor no acumulado do ano, uma queda mais acentuada do que a de outras empresas que também sofreram os primeiros efeitos da guerra tarifária de Trump.

Embora as ações da companhia tenham subido na Bolsa de Valores de Nova York após a divulgação dos resultados, o consenso entre os analistas é de que a reputação da empresa foi prejudicada.

•        Lucro líquido da Tesla, principal empresa de Elon Musk, cai 71% em 2025

O lucro líquido da Tesla caiu 71% no primeiro trimestre, em meio a dificuldades para enfrentar a concorrência internacional e os impactos na reputação da marca devido ao papel polêmico do CEO Elon Musk na administração Trump.

Musk afirmou que, a partir de maio, dedicará bem menos tempo ao trabalho de corte de custos no Departamento de Eficiência Governamental, mas manteve um tom desafiador diante das críticas. “Acredito que o certo é combater o desperdício e a fraude, e tentar colocar o país de volta nos trilhos”, disse Musk em uma ligação com analistas após a divulgação do balanço trimestral na terça-feira.

A fabricante de veículos elétricos também reportou lucro ajustado por ação de 27 centavos, abaixo da expectativa dos analistas, que era de 41 centavos.

A Tesla afirmou que mudanças nas políticas comerciais, agravadas pelas tarifas da administração Trump, estão pressionando as cadeias de suprimentos e aumentando os custos da empresa. A companhia importa parte de suas células de bateria da China, mas está buscando alternativas nos Estados Unidos.

A disputa comercial e o “sentimento político em mudança” podem reduzir a demanda por seus veículos, segundo a Tesla, que pode rever sua projeção de vendas para o ano. A empresa havia previsto crescimento nas vendas de carros em 2025, após uma queda incomum em 2024.

Durante a ligação de terça-feira, Musk suspirou profundamente antes de abordar a guerra comercial do governo Trump. Ele disse que defende tarifas mais baixas e continuará advogando por isso. “Quero enfatizar que a decisão sobre tarifas cabe inteiramente ao presidente dos Estados Unidos. Se ele vai ouvir meu conselho, cabe a ele”, afirmou.

As ações da Tesla subiram mais de 3% no pregão após o fechamento na terça, após avançarem 4,6% antes da divulgação do relatório. Analistas atribuíram o otimismo à reafirmação da Tesla sobre os planos de lançar modelos mais acessíveis ainda este ano.

A receita global da Tesla caiu no trimestre, com destaque para uma queda acentuada nas vendas automotivas, incluindo retrações de dois dígitos em mercados importantes como Estados Unidos, China e Alemanha.

A retração nas vendas e os preços mais baixos, impulsionados por promoções generosas, prejudicaram a receita e o lucro. A empresa também mencionou semanas de paralisação em suas quatro fábricas para preparar o lançamento do novo Model Y, seu carro-chefe.

Investimentos maiores em inteligência artificial também impactaram negativamente o lucro. Musk já declarou que os carros autônomos e outras inovações em IA são centrais para o crescimento da Tesla.

Mesmo antes da entrada de Musk na política partidária afetar a imagem da marca, a Tesla já enfrentava uma demanda mais lenta por seus veículos. A empresa sempre apostou em negócios não automotivos como forma de expandir além dos carros.

As quedas acentuadas nas vendas e nos lucros ocultaram um ponto positivo nos negócios de armazenamento de energia e assinaturas de software da Tesla, que registraram crescimento de dois dígitos no trimestre.

O próximo passo da Tesla é o lançamento de sua frota de robotáxis, que Musk comparou a uma fusão de Uber com Airbnb. A empresa disse estar no caminho certo para lançar o primeiro serviço de táxi autônomo em Austin, Texas, em junho.

Mesmo assim, a Tesla reportou receita de US$ 19,3 bilhões no trimestre, uma queda de 9% em relação ao ano anterior. A receita do setor automotivo caiu 20%. Já o setor de energia cresceu 67%.

A empresa também arrecadou US$ 595 milhões com créditos de carbono vendidos a outras montadoras, um aumento significativo em relação ao ano anterior.

A margem operacional no trimestre foi de 2,1%, ante 5,5% no mesmo período do ano passado.

As entregas globais de veículos caíram 13% no trimestre, em parte devido à reação negativa dos consumidores ao papel de Musk como responsável pelos cortes de gastos no governo Trump. A Tesla enfrentou protestos nos EUA e na Europa, e algumas lojas e estações de recarga foram vandalizadas ou incendiadas.

Alguns analistas afirmam que consumidores adiaram compras aguardando o lançamento da nova versão do Model Y.

A Tesla também enfrenta tarifas de 25% sobre importações de automóveis. Embora fabrique os veículos vendidos nos EUA em fábricas no Texas e na Califórnia, a empresa depende de países vizinhos para componentes, como o México, que fornece mais de 20% das peças, segundo dados federais.

Estudos de consultorias mostram quedas significativas nas vendas em mercados importantes, como Califórnia e China. A Tesla não divulga dados de entrega por modelo ou região.

Na Califórnia, maior mercado de veículos elétricos dos EUA, a participação da Tesla caiu para 44% das novas matrículas de veículos zero emissão no primeiro trimestre, ante 56% um ano antes, segundo a associação de concessionárias locais.

Na China, os embarques caíram cerca de 22%, enquanto as entregas na Alemanha despencaram 62%, de acordo com associações do setor.

Para estimular vendas, a Tesla lançou em abril uma versão mais barata da Cybertruck, a US$ 69.990, com recursos econômicos como bancos de tecido. A empresa também está desenvolvendo uma versão mais acessível do Model Y.

•        O papel de Musk

A queda nos lucros da Tesla foi atribuída não apenas a fatores comerciais e logísticos, mas também à figura cada vez mais controversa de Elon Musk.

Seu papel como assessor de Trump no Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), órgão federal que cortou milhares de empregos e orçamentos públicos, gerou críticas entre determinados setores nos EUA.

A Tesla viu suas vendas caírem drasticamente em seu principal mercado doméstico, a Califórnia, um Estado caracterizado por suas fortes tendências progressistas, onde Trump perdeu na votação para Kamala Harris na eleição de novembro passado.

Além disso, clientes habituais optaram por abandonar a marca, e houve protestos e atos de vandalismo em concessionárias.

Em paralelo, a imagem negativa do governo Trump na Europa e em outros mercados pode ter dissuadido muitos clientes em potencial de comprar um Tesla.

Diante deste contexto, cada vez mais analistas acreditam que Musk deveria renunciar ao cargo político para se concentrar mais na gestão da empresa.

Esta mudança parece estar prestes a se concretizar.

Pouco depois da divulgação dos resultados financeiros da Tesla na terça-feira, Musk anunciou em uma teleconferência com analistas de Wall Street que, a partir de maio, vai reduzir "significativamente" sua dedicação ao Doge.

Ele disse que provavelmente vai continuar a dedicar um ou dois dias por semana para trabalhar em questões governamentais, "enquanto o presidente quiser que eu faça isso, e enquanto for útil".

Musk afirmou que as "reações negativas" vêm de pessoas que "vão tentar atacar a mim e à equipe do Doge". Mas descreveu seu trabalho à frente do departamento como "crucial", e declarou que "colocar ordem na sede do governo é algo que está praticamente concluído".

Como principal fator externo da queda dos lucros da Tesla, os especialistas citaram o enfraquecimento da demanda a nível mundial e a concorrência cada vez mais acirrada de outras empresas de veículos elétricos, especialmente da China.

Entre elas, estão a gigante chinesa BYD, que se expandiu rapidamente fornecendo carros elétricos com bom desempenho a preços baixos, assim como as mais sofisticadas Xpeng e Nio, que se concentram no mercado de luxo e tecnologia avançada.

A BYD apresentou recentemente um sistema inovador de carregamento ultrarrápido, enquanto outras marcas, como Volkswagen e Hyundai, lançaram modelos elétricos com tecnologia avançada.

•        Aposta em veículos autônomos e modelo econômico

As tensões tarifárias entre os EUA e a China agravaram ainda mais a situação nos últimos meses.

A Tesla teve que suspender as importações de certos componentes fabricados na China depois que as tarifas dos EUA subiram para 145%.

Em retaliação, Pequim impôs suas próprias tarifas, forçando a Tesla a suspender temporariamente os pedidos dos Modelos S e X no país asiático.

Embora produza a maioria de seus veículos americanos em fábricas na Califórnia e no Texas — o que a protege parcialmente das tarifas —, a companhia depende de peças importadas que agora estão mais caras.

Isso, de acordo com os especialistas, poderia forçar a montadora a aumentar os preços ou a aceitar margens de lucro menores.

A Tesla também admitiu que sua divisão de energia, que fabrica baterias e sistemas de armazenamento, vai ser ainda mais afetada pelo novo cenário comercial.

Em contrapartida, a empresa reafirmou no balanço financeiro de terça-feira seu compromisso com a tecnologia de direção autônoma, como uma importante fonte de receita futura.

Musk prometeu lançar um serviço de táxis-robôs em Austin, no Texas, em junho, e, ainda este ano, na Califórnia.

E a Tesla também prometeu produzir um modelo novo e mais barato neste ano, embora ainda não tenha mostrado um protótipo.

Na apresentação dos resultados, a empresa não ofereceu uma previsão de vendas ou lucro para este ano devido à incerteza em torno da economia e das cadeias de suprimentos globais.

 

Fonte: BBC News Mundo/O Cafezinho

 

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