Após lucro da Tesla despencar, Elon Musk diz
que vai reduzir seu papel no governo Trump
Elon Musk, CEO da Tesla, anunciou que vai
reduzir sua participação no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, depois que os resultados financeiros da empresa, divulgados na
terça-feira (22/4), mostraram uma queda acentuada no lucro e na receita nos
primeiros meses deste ano.
As vendas da montadora despencaram, e a marca
vem enfrentando críticas diante do envolvimento político cada vez maior de Musk
na nova gestão da Casa Branca.
De acordo com os resultados divulgados, o
lucro da Tesla despencou 71% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com
o mesmo período de 2024, uma queda atribuída, entre outros fatores, às
atividades políticas de seu CEO.
A empresa americana de veículos elétricos
registrou US$ 409 milhões de lucro entre janeiro e março, em comparação com US$
1,4 bilhão no mesmo período do ano anterior.
Esta queda coincide com uma crescente
controvérsia em torno de Musk, cuja participação no governo Trump e apoio a
políticos de direita radical na Europa provocaram protestos, boicotes e danos à
imagem da marca.
A empresa, de fato, citou a "mudança no
sentimento político" como uma das razões para a queda no lucro, assim como
a "incerteza nos mercados automotivo e de energia".
• Queda
nas vendas
A receita das vendas da Tesla também
registrou uma queda de 9% em comparação com o mesmo período do ano anterior,
entre janeiro e março, totalizando US$ 19,3 bilhões, abaixo das expectativas de
Wall Street de US$ 21,1 bilhões.
As entregas de veículos caíram 13%, para
336.681 unidades, representando o pior trimestre de vendas desde 2022.
A empresa alegou na apresentação dos
resultados que a "incerteza nos mercados automotivo e de energia",
assim como a "rápida evolução das políticas comerciais", afeta
negativamente a cadeia de suprimentos global e a estrutura de custos da Tesla e
de seus concorrentes.
"Esta dinâmica, junto à mudança no
sentimento político, pode ter um impacto significativo na demanda por nossos
produtos no curto prazo", acrescentou.
As ações da Tesla perderam mais de 40% do
valor no acumulado do ano, uma queda mais acentuada do que a de outras empresas
que também sofreram os primeiros efeitos da guerra tarifária de Trump.
Embora as ações da companhia tenham subido na
Bolsa de Valores de Nova York após a divulgação dos resultados, o consenso
entre os analistas é de que a reputação da empresa foi prejudicada.
• Lucro
líquido da Tesla, principal empresa de Elon Musk, cai 71% em 2025
O lucro líquido da Tesla caiu 71% no primeiro
trimestre, em meio a dificuldades para enfrentar a concorrência internacional e
os impactos na reputação da marca devido ao papel polêmico do CEO Elon Musk na
administração Trump.
Musk afirmou que, a partir de maio, dedicará
bem menos tempo ao trabalho de corte de custos no Departamento de Eficiência
Governamental, mas manteve um tom desafiador diante das críticas. “Acredito que
o certo é combater o desperdício e a fraude, e tentar colocar o país de volta
nos trilhos”, disse Musk em uma ligação com analistas após a divulgação do
balanço trimestral na terça-feira.
A fabricante de veículos elétricos também
reportou lucro ajustado por ação de 27 centavos, abaixo da expectativa dos
analistas, que era de 41 centavos.
A Tesla afirmou que mudanças nas políticas
comerciais, agravadas pelas tarifas da administração Trump, estão pressionando
as cadeias de suprimentos e aumentando os custos da empresa. A companhia
importa parte de suas células de bateria da China, mas está buscando
alternativas nos Estados Unidos.
A disputa comercial e o “sentimento político
em mudança” podem reduzir a demanda por seus veículos, segundo a Tesla, que
pode rever sua projeção de vendas para o ano. A empresa havia previsto
crescimento nas vendas de carros em 2025, após uma queda incomum em 2024.
Durante a ligação de terça-feira, Musk
suspirou profundamente antes de abordar a guerra comercial do governo Trump.
Ele disse que defende tarifas mais baixas e continuará advogando por isso.
“Quero enfatizar que a decisão sobre tarifas cabe inteiramente ao presidente
dos Estados Unidos. Se ele vai ouvir meu conselho, cabe a ele”, afirmou.
As ações da Tesla subiram mais de 3% no
pregão após o fechamento na terça, após avançarem 4,6% antes da divulgação do
relatório. Analistas atribuíram o otimismo à reafirmação da Tesla sobre os
planos de lançar modelos mais acessíveis ainda este ano.
A receita global da Tesla caiu no trimestre,
com destaque para uma queda acentuada nas vendas automotivas, incluindo
retrações de dois dígitos em mercados importantes como Estados Unidos, China e
Alemanha.
A retração nas vendas e os preços mais
baixos, impulsionados por promoções generosas, prejudicaram a receita e o
lucro. A empresa também mencionou semanas de paralisação em suas quatro
fábricas para preparar o lançamento do novo Model Y, seu carro-chefe.
Investimentos maiores em inteligência
artificial também impactaram negativamente o lucro. Musk já declarou que os
carros autônomos e outras inovações em IA são centrais para o crescimento da
Tesla.
Mesmo antes da entrada de Musk na política
partidária afetar a imagem da marca, a Tesla já enfrentava uma demanda mais
lenta por seus veículos. A empresa sempre apostou em negócios não automotivos
como forma de expandir além dos carros.
As quedas acentuadas nas vendas e nos lucros
ocultaram um ponto positivo nos negócios de armazenamento de energia e
assinaturas de software da Tesla, que registraram crescimento de dois dígitos
no trimestre.
O próximo passo da Tesla é o lançamento de
sua frota de robotáxis, que Musk comparou a uma fusão de Uber com Airbnb. A
empresa disse estar no caminho certo para lançar o primeiro serviço de táxi
autônomo em Austin, Texas, em junho.
Mesmo assim, a Tesla reportou receita de US$
19,3 bilhões no trimestre, uma queda de 9% em relação ao ano anterior. A
receita do setor automotivo caiu 20%. Já o setor de energia cresceu 67%.
A empresa também arrecadou US$ 595 milhões
com créditos de carbono vendidos a outras montadoras, um aumento significativo
em relação ao ano anterior.
A margem operacional no trimestre foi de
2,1%, ante 5,5% no mesmo período do ano passado.
As entregas globais de veículos caíram 13% no
trimestre, em parte devido à reação negativa dos consumidores ao papel de Musk
como responsável pelos cortes de gastos no governo Trump. A Tesla enfrentou
protestos nos EUA e na Europa, e algumas lojas e estações de recarga foram
vandalizadas ou incendiadas.
Alguns analistas afirmam que consumidores
adiaram compras aguardando o lançamento da nova versão do Model Y.
A Tesla também enfrenta tarifas de 25% sobre
importações de automóveis. Embora fabrique os veículos vendidos nos EUA em
fábricas no Texas e na Califórnia, a empresa depende de países vizinhos para
componentes, como o México, que fornece mais de 20% das peças, segundo dados
federais.
Estudos de consultorias mostram quedas
significativas nas vendas em mercados importantes, como Califórnia e China. A
Tesla não divulga dados de entrega por modelo ou região.
Na Califórnia, maior mercado de veículos
elétricos dos EUA, a participação da Tesla caiu para 44% das novas matrículas
de veículos zero emissão no primeiro trimestre, ante 56% um ano antes, segundo
a associação de concessionárias locais.
Na China, os embarques caíram cerca de 22%,
enquanto as entregas na Alemanha despencaram 62%, de acordo com associações do
setor.
Para estimular vendas, a Tesla lançou em
abril uma versão mais barata da Cybertruck, a US$ 69.990, com recursos
econômicos como bancos de tecido. A empresa também está desenvolvendo uma
versão mais acessível do Model Y.
• O
papel de Musk
A queda nos lucros da Tesla foi atribuída não
apenas a fatores comerciais e logísticos, mas também à figura cada vez mais
controversa de Elon Musk.
Seu papel como assessor de Trump no
Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), órgão
federal que cortou milhares de empregos e orçamentos públicos, gerou críticas
entre determinados setores nos EUA.
A Tesla viu suas vendas caírem drasticamente
em seu principal mercado doméstico, a Califórnia, um Estado caracterizado por
suas fortes tendências progressistas, onde Trump perdeu na votação para Kamala
Harris na eleição de novembro passado.
Além disso, clientes habituais optaram por
abandonar a marca, e houve protestos e atos de vandalismo em concessionárias.
Em paralelo, a imagem negativa do governo
Trump na Europa e em outros mercados pode ter dissuadido muitos clientes em
potencial de comprar um Tesla.
Diante deste contexto, cada vez mais
analistas acreditam que Musk deveria renunciar ao cargo político para se
concentrar mais na gestão da empresa.
Esta mudança parece estar prestes a se
concretizar.
Pouco depois da divulgação dos resultados
financeiros da Tesla na terça-feira, Musk anunciou em uma teleconferência com
analistas de Wall Street que, a partir de maio, vai reduzir
"significativamente" sua dedicação ao Doge.
Ele disse que provavelmente vai continuar a
dedicar um ou dois dias por semana para trabalhar em questões governamentais,
"enquanto o presidente quiser que eu faça isso, e enquanto for útil".
Musk afirmou que as "reações
negativas" vêm de pessoas que "vão tentar atacar a mim e à equipe do
Doge". Mas descreveu seu trabalho à frente do departamento como
"crucial", e declarou que "colocar ordem na sede do governo é
algo que está praticamente concluído".
Como principal fator externo da queda dos
lucros da Tesla, os especialistas citaram o enfraquecimento da demanda a nível
mundial e a concorrência cada vez mais acirrada de outras empresas de veículos
elétricos, especialmente da China.
Entre elas, estão a gigante chinesa BYD, que
se expandiu rapidamente fornecendo carros elétricos com bom desempenho a preços
baixos, assim como as mais sofisticadas Xpeng e Nio, que se concentram no
mercado de luxo e tecnologia avançada.
A BYD apresentou recentemente um sistema
inovador de carregamento ultrarrápido, enquanto outras marcas, como Volkswagen
e Hyundai, lançaram modelos elétricos com tecnologia avançada.
• Aposta
em veículos autônomos e modelo econômico
As tensões tarifárias entre os EUA e a China
agravaram ainda mais a situação nos últimos meses.
A Tesla teve que suspender as importações de
certos componentes fabricados na China depois que as tarifas dos EUA subiram
para 145%.
Em retaliação, Pequim impôs suas próprias
tarifas, forçando a Tesla a suspender temporariamente os pedidos dos Modelos S
e X no país asiático.
Embora produza a maioria de seus veículos
americanos em fábricas na Califórnia e no Texas — o que a protege parcialmente
das tarifas —, a companhia depende de peças importadas que agora estão mais
caras.
Isso, de acordo com os especialistas, poderia
forçar a montadora a aumentar os preços ou a aceitar margens de lucro menores.
A Tesla também admitiu que sua divisão de
energia, que fabrica baterias e sistemas de armazenamento, vai ser ainda mais
afetada pelo novo cenário comercial.
Em contrapartida, a empresa reafirmou no
balanço financeiro de terça-feira seu compromisso com a tecnologia de direção
autônoma, como uma importante fonte de receita futura.
Musk prometeu lançar um serviço de
táxis-robôs em Austin, no Texas, em junho, e, ainda este ano, na Califórnia.
E a Tesla também prometeu produzir um modelo
novo e mais barato neste ano, embora ainda não tenha mostrado um protótipo.
Na apresentação dos resultados, a empresa não
ofereceu uma previsão de vendas ou lucro para este ano devido à incerteza em
torno da economia e das cadeias de suprimentos globais.
Fonte: BBC News Mundo/O Cafezinho

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