CONTRA
O CRIME ORGANIZADO: Governo entrega PEC da Segurança Pública ao Congresso
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou nesta quarta-feira (23) a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública ao Congresso
Nacional. A proposta de mudança busca conferir status constitucional ao Sistema
Único de Segurança Pública (SUSP), criado em 2018 por lei ordinária. O
propósito é fortalecer o Estado no combate ao crime organizado.
"O
que nós queremos é dizer ao povo brasileiro que o Governo Federal assumiu
definitivamente a responsabilidade de se colocar totalmente à disposição dos
estados para que a gente possa cuidar da segurança do povo brasileiro e não
permitir que o povo continue andando assustado em todas as ruas, de todas as
cidades, de todos os estados brasileiros", disse Lula.
“Hoje,
eu estou assinando a nossa proposta de emenda à Constituição. É uma decisão e
uma posição muito sábia do governo federal, que não quer interferir na
responsabilidade e na autonomia de cada estado no tratamento da questão da
segurança pública. O que nós queremos é dizer ao povo brasileiro que o Governo
Federal assumiu definitivamente a responsabilidade de se colocar totalmente à
disposição dos estados para que a gente possa cuidar da segurança do povo
brasileiro e não permitir que o povo continue andando assustado em todas as
ruas, de todas as cidades, de todos os estados brasileiros”, ressaltou o
presidente.
Segundo
o mandatário, o governo federal vai se colocar à disposição, com inteligência,
recursos e vontade política, para combater os problemas de segurança que
prejudicam o cotidiano da população. “Vamos penalizar todos aqueles que
cometerem qualquer delito que interfira na tranquilidade da sociedade
brasileira”, afirmou.
Lula
frisou que atuará para que a PEC da Segurança Pública possa ser votada o mais
rápido possível. “A verdade é que nós temos pressa de oferecer ao povo
brasileiro um sistema de segurança adequado ao que a sociedade brasileira exige
de nós”, assinalou. Considerando que o crime organizado é transnacional, o
presidente reforçou que o governo brasileiro busca estabelecer relações fortes
com os outros países, com o intuito de promover a atuação conjunta no combate à
criminalidade.
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Proposta
A PEC
da Segurança Pública propõe alterações na Constituição Federal de 1988 para
conferir à União a competência para estabelecer diretrizes gerais quanto à
política de segurança pública e defesa social, que compreenderá o sistema
penitenciário, ouvindo os entes federados; atualizar as competências da Polícia
Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF); e constitucionalizar os
fundos nacionais de Segurança Pública e Política Penitenciária. Também visa
padronizar protocolos, informações e dados estatísticos, fixar as atribuições
das guardas municipais e prever a criação de corregedorias e ouvidorias dotadas
de autonomia funcional.
O
ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, enfatizou a
importância da iniciativa. “Pela primeira vez na história republicana deste
país, o Governo Federal resolve assumir a sua parte de responsabilidade num
problema extremamente complexo que, até hoje, estava entregue aos estados, em
grande parte, e numa parte menor aos municípios, que é a segurança pública”,
disse.
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Debate amplo
Lewandowski
pontuou que o Governo Federal acolheu sugestões dos governadores à PEC da
Segurança Pública. “É uma proposta que foi discutida, por decisão do
presidente, com todos os governadores, com secretários de segurança, por
diversas vezes. Nós temos um texto redondo, consensual, e eu tenho certeza que
o Congresso Nacional, que representa o povo brasileiro, na sua sabedoria,
saberá aprimorar esse texto”, declarou o ministro.
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Legislativo
Na
cerimônia de apresentação da PEC, o presidente do Senado Federal e do Congresso
Nacional, Davi Alcolumbre, pontuou que a segurança pública é, atualmente, um
dos temas mais importantes debatidos na sociedade brasileira. “Esse é um tema
muito sensível e o senhor, enquanto presidente da República, tem muita coragem
de enfrentar um problema com essa magnitude, que está mudando a vida das
pessoas para pior, que é a insegurança dos brasileiros”, argumentou Alcolumbre.
Já o
presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, apontou a necessidade de uma
grande cooperação nacional para tratar da questão da segurança. “Quando parte
da União uma iniciativa como essa, nós ficamos felizes. E estamos garantindo
que na Câmara dos Deputados, e também no Senado Federal, nós daremos total
prioridade e celeridade ao tema. Com isso, nós estamos fazendo o que a
sociedade brasileira espera de nós”, afirmou Motta.
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Sociedade civil
Para
garantir a participação da sociedade civil, há a previsão de representantes na
composição do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, além de
representantes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Também propõe-se a criação de corregedorias com a incumbência de apurar a
responsabilidade funcional dos profissionais de segurança pública e defesa
social que serão dotadas de autonomia. Além disso, há o objetivo de estabelecer
ouvidorias, igualmente autônomas, para receber representações, elogios e
sugestões sobre as atividades desses profissionais.
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Competências
Outra
sugestão da PEC é a inclusão do parágrafo único no artigo 21 para deixar
explícito que as novas atribuições concedidas à União em relação à segurança
pública “não excluem as competências comum e concorrente dos demais entes
federados”, “nem restringem a subordinação das polícias militares, civis e
penais e a dos corpos de bombeiros militares aos governadores dos estados e do
Distrito Federal”.
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Forças policiais
Os
estados e o Distrito Federal atuam na área de segurança pública por meio de
duas forças policiais distintas: polícia judiciária e polícia ostensiva. A PEC
propõe que esse modelo seja replicado no âmbito federal. As polícias
judiciárias são responsáveis pela investigação criminal e pela apuração de
infrações penais. São elas: a Polícia Federal e as polícias civis estaduais e
do Distrito Federal. Atualmente, a função de polícia ostensiva cabe às polícias
militares dos Estados e do Distrito Federal.
A
partir da PEC da Segurança Pública, essa atribuição será estendida também à
PRF, que passará a fazer o policiamento ostensivo em rodovias, ferrovias e
hidrovias federais. A sugestão é que ela passe a ser chamada de Polícia Viária
Federal. Em relação à Polícia Federal, a PEC garante que ela atue em ações de
crimes ambientais e aja contra práticas cometidas por organizações criminosas e
milícias privadas que tenham repercussão interestadual ou internacional e
exijam repressão uniforme.
• Como a PEC da Segurança encara temas,
como facções, roubo de celular, 'novo cangaço' e feminicídio
Elaborada
há meses pelo Ministério da Justiça, a proposta de Emenda à Constituição (PEC)
que altera regras da segurança pública do país foi enviada pelo governo ao
Congresso em cerimônia com os presidentes das Casas, na quarta-feira (23).
O
momento político é importante: pesquisa divulgada no início do mês pela Quaest
indicou que a violência se tornou a principal preocupação dos brasileiros.
PEC da
Segurança: Lula entrega texto ao Congresso, e Motta diz que enviará à CCJ ainda
esta semana
Aposta
do governo de Luiz Inácio Lula da Silva nessa área, a PEC será mesmo capaz de
ajudar as polícias a combater problemas como as facções espalhadas pelo país,
os roubos de celulares, o "novo cangaço" e os feminicídios?
O
secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo
Pereira, afirma que sim.
Em
entrevista ao g1, Marivaldo destacou a integração e a padronização dos bancos
de dados das polícias estaduais como uma das principais melhorias para o
trabalho dos agentes de segurança.
"Se
eu tenho as bases de dados integradas, eu sei qual crime está ocorrendo em cada
estado, consigo estabelecer padrões de atuação das organizações criminosas,
consigo saber, por exemplo, que um estado que não tinha uma determinada
organização começa a ter. É um suporte operacional essencial, em um contexto em
que o crime organizado atua nacionalmente", diz Pereira.
O
governo tenta montar um banco nacional de dados de segurança pública pelo menos
desde 2012, quando foi criado o Sistema Nacional de Informações de Segurança
Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp).
Esse
sistema já recebeu investimentos de centenas de milhões de reais, mas não teve
sucesso porque os estados não abasteceram a plataforma com os dados.
O
diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de
Lima, concorda que a integração de bancos de dados é importante – mas pondera
que o efeito não será imediato, já que será preciso aprovar outras leis e
decretos regulamentando as mudanças.
"O
governo deveria enviar junto medidas mais concretas. Estão propondo mudar a
forma de trabalho, mas não podem esperar uma lei ou um decreto posterior para
começar a fazer alguma coisa. A PEC é um pedaço. Se ela não vier com outros
esforços, pode ser engolida pelo momento atual de radicalização", diz.
"A
integração é só uma dimensão do processo de governança e coordenação da
segurança. Acho que a virtude da PEC é que é a primeira vez que o governo
federal diz que ele quer ter mais protagonismo, que não seja só o residual que
existe hoje", afirma Lima.
Segundo
o pesquisador, o governo federal financia cerca de 10% de todos os gastos com
segurança pública no país, índice que inclui as duas polícias da União: a
Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Outros
85% estão a cargo dos estados, e os 5% restantes, dos municípios.
"Se
o governo quer mesmo ter mais protagonismo, ele precisa pôr mais dinheiro nessa
história. Planos [pontuais] não faltaram nos últimos anos. O que é inédito é a
proposta de mudar a Constituição para dar coordenação nacional", diz Lima.
Veja
nesta reportagem como, segundo o secretário do Ministério da Justiça, a PEC
pode ajudar no enfrentamento a:
• facções criminosas
• roubos e furtos de celulares
• "novo cangaço"
• feminicídios
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Facções criminosas
De
acordo com Marivaldo Pereira, a proposta dá ao governo federal o poder de
padronizar os registros e interligar bancos de dados como os de mandados de
prisão e de boletins de ocorrência, que reúnem crimes registrados pelas
Polícias Civis dos estados.
"Isso
teria um papel importante para enfrentar organizações que se nacionalizaram. Se
eu pego um modus operandi criminoso no Porto de Santos [para entrada de drogas,
por exemplo], eu vou começar a checar se esse mesmo modus operandi está
aparecendo lá no Porto de Suape, em Pernambuco", exemplifica.
Além
disso, a PEC prevê uma ampliação da atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
– única polícia ostensiva que é subordinada ao governo federal.
"Haverá
o fortalecimento do papel da PRF para atuar não apenas nas rodovias, mas também
nas ferrovias e hidrovias. Na região Norte, são as hidrovias que estão sendo
utilizadas pelas organizações criminosas. Em São Paulo, é muito comum o ataque
a trens de carga", diz Pereira.
Essa
ampliação vai exigir investimentos em treinamentos e em novos equipamentos para
os profissionais da PRF, como embarcações para atuar nos rios da Amazônia.
Pereira
também ressalta que, com a PEC, "ficará clara a possibilidade de a PF
investigar o crime organizado, sem prejuízo da competência da polícia local,
independentemente de ficar demonstrado o caráter transnacional do crime".
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Roubos e furtos de celulares
"Quando
você integra a informação, você consegue identificar se o celular está sendo
roubado em um estado e vendido em outro. Quando interligar as informações, será
possível pegar esse tipo de comportamento e ter mais efetividade para enfrentar
essas quadrilhas", diz Pereira.
Há
ainda a possibilidade de o governo enviar ao Congresso, junto com a PEC, um
projeto de lei que aumenta as penas de prisão para quem furta celulares para
vendê-los posteriormente e para quem adquire os aparelhos roubados e furtados
para revendê-los — os receptadores.
São
projetos como esse que, segundo Renato Sérgio de Lima, precisam acompanhar a
mudança estruturante prevista na PEC.
"Hoje,
você prende dez vezes a pessoa que rouba celular, e ela é liberada. O problema
não é do Judiciário nem da polícia. Na verdade, a legislação é que permite que,
enquanto a pessoa não é condenada, ela espere em liberdade, em função da
quantidade da pena. É o Congresso que precisa ajustar isso", diz Lima.
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'Novo cangaço'
Nessa
modalidade criminosa, grupos dominam o território de pequenas e médias cidades,
às vezes atacando as bases da polícia e fazendo reféns, enquanto roubam bancos
e caixas eletrônicos e praticam outros crimes.
Para
Marivaldo Pereira, também nesses casos a integração dos bancos de dados deve
ser útil.
"Se
eu consigo identificar o roubo ou o furto de grandes quantidades de arma, isso
vai fazer com que os estados se preparem para uma eventual atuação do novo
cangaço", diz.
Ele
cita o caso de um rastreamento de armas feito pela PF, por meio de um banco de
dados nacional, que descobriu que um mesmo fuzil esteve em dois crimes desse
tipo, em Araçatuba (SP), em 2021, e em Guarapuava (PR), dois anos mais tarde. O
caso foi revelado pelo Fantástico no final de março.
"Essa
é a típica informação, vinda da integração dos dados, que daria um suporte
muito grande para quem está investigando o crime organizado", afirma
Pereira.
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Feminicídios
Uma das
mudanças previstas na PEC é a inclusão das guardas municipais no artigo 144 da
Constituição, que lista as polícias do país.
"As
guardas municipais vão ter impacto no feminicídio, porque serão mais um ator
importante para fazer o policiamento comunitário. Teremos mais um agente
público ali que possa inibir a violência contra a mulher", defende
Pereira.
O
aumento da presença de agentes de segurança na rua vai se somar, também nesse
caso, à integração das informações, na avaliação do secretário do ministério.
"Se
eu tiver um mapa de quando acontece o feminicídio, qual o padrão do criminoso,
quais são as políticas que o Estado implementou e que levaram à redução do
feminicídio, eu consigo aferir tudo isso e aumentar a eficiência das políticas
públicas de proteção da vida da mulher", diz.
Fonte:
Fórum/g1

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