quinta-feira, 10 de abril de 2025

Antes apoiadores, bilionários se posicionam contra Trump: “Estúpido, errado, arrogantemente extremo”

Na posse do presidente Donald Trump, uma foto chamou atenção: nela estavam presentes os donos das maiores plataformas digitais, todos eles bilionários e apoiadores desde a campanha pela Casa Branca. 

Além dos magnatas como Elon Musk, Jeff Bezos, da Amazon, e Mark Zuckerberg, da Meta, outros bilionários acreditaram que o atual presidente norte-americano impulsionaria a economia dos Estados Unidos, tornando o país grandioso novamente. 

Mas são justamente estes bilionários que, agora, começaram a se voltar contra Trump, tendo em vista os desdobramentos causados pelo tarifaço imposto aos produtos importados, causando uma verdadeira guerra comercial. 

Apenas nesta terça-feira (8), a China afirmou que não vai retroceder na decisão de tarifar produtos dos Estados Unidos em 34%, mesma medida imposta aos produtos chineses. Trump até ameaçou aumentar a tarifa para 50% a partir de hoje. Se a elevação se concretizar, o tigre asiático será recíproco. 

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Para o investidor Bill Ackman, um dos apoiadores da candidatura de Trump em 2024, a insistência na política tarifária deve criar uma “guerra nuclear econômica”. “Os investimentos empresariais vão parar, e os consumidores vão fechar as carteiras”, publicou o bilionário no X.

Segundo Ackman, os EUA irão prejudicar seriamente a reputação com o resto do mundo, fato que levará anos para ser recuperado. “Estamos caminhando para um inverno nuclear econômico autoinfligido, e devemos começar a nos preparar.”

A situação, na visão do investidor, é ainda mais grave, tendo em vista que CEOs e conselhos de administração não devem se sentir confortáveis em firmar compromissos expressivos e de longo prazo com os EUA. Assim, Trump está perdendo, ainda, a confiança dos líderes empresariais de todo o mundo. 

Já a preocupação de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, é a de que a elevação das tarifas resultem em uma recessão da economia global, além de enfraquecer a posição dos EUA no Mundo. 

“As tarifas recentes provavelmente aumentarão a inflação e estão fazendo muitos considerarem uma maior probabilidade de recessão”, afirmou Dimon. “Ainda é uma dúvida se o pacote de tarifas causará uma recessão, mas ele certamente desacelerará o crescimento”, acrescentou o executivo, na carta anual a acionistas.

O bilionário Stanley Druckenmiller, fundador da empresa de investimentos Duquesne Family Office, rejeitou tarifas superiores a 10% nas redes sociais. 

Discrição é a estratégia adotada por Ken Fisher, fundador e presidente executivo da Fisher Investments, que não comenta ações presidenciais em público. 

No entanto, partiu dele a crítica mais contundente sobre a política econômica de Trump e seu tarifaço, uma vez que o chefe da Casa Branca teria passado muito dos limites. 

“O que Trump anunciou na última quarta-feira é estúpido, errado, arrogantemente extremo, ignorante em termos comerciais e direcionado a um problema inexistente com ferramentas equivocadas. Mas, pelo que posso perceber, isso vai desaparecer e fracassar, e o medo é maior do que o problema — o que, daqui, é um sinal de alta”, afirmou Fisher.

Graças ao tarifaço, Simon MacAdam, economista-chefe adjunto da consultoria Capital Economics,acredita que empresas de médio ou grande porte resistirão em investir nos Estados Unidos, justamente por conta da política tarifária. 

“Se essas tarifas forem renegociadas e reduzidas em alguns meses, então seria perda de tempo investir centenas de milhões de dólares em novas fábricas nos EUA”, disse MacAdam à CNN.

Para MacAdam, Trump deveria suspender o tarifaço por 90 dias, a fim de renegociar as tarifas com parceiros comerciais. “Não foi por isso que votamos”, pontuou.

<><> Perdas trilionárias

Desde o último dia 2, as bolsas americanas perderam mais de US$ 6 trilhões, graças ao tarifaço imposto por Donald Trump.

Entre os maiores perdedores estão, contraditoriamente, os maiores aliados de Trump nas eleições: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla, também conhecidas como as “sete magníficas”, perderam US$ 1,8 trilhões em menos de uma semana, de acordo com o cálculo da Elos Ayta, empresa de consultoria.

Desde 20 de janeiro, quando Trump tomou posse, o prejuízo é ainda maior: o mercado financeiro dos Estados Unidos perdeu US$ 9,948 trilhões.

¨      Tarifas de Trump: um sinal de pânico diante da ascensão do Sul Global

política de tarifas de Donald Trump, anunciada na última sexta (04/04), trata menos de uma estratégia econômica e mais um sinal de pânico diante da ascensão irreversível do Sul Global. Ao impor tarifas de maneira indiscriminada sobre 185 países, os EUA enterram sete décadas de multilateralismo e revelam seu desespero para manter uma hegemonia em colapso.

O “tarifaço” não apenas repete os erros da Lei Smoot-Hawley (1930), que aprofundou a Grande Depressão, mas também expõe uma agenda sombria: priorizar a indústria bélica em detrimento da paz e dos objetivos de desenvolvimento sustentável.

<><> A receita do Hudson Institute: protecionismo para a guerra

O relatório Reindustrialization: A Strategy for American Sovereignty and Security (Hudson Institute, 2024) é o manual não declarado de Trump. Nele, a autora Nadia Schadlow defende o fechamento seletivo do mercado norte-americano para “proteger setores críticos” — chips, baterias e minerais de terras raras — todos essenciais para armas de alta tecnologia.

A justificativa é a “segurança nacional”, mas o objetivo é claro: reconduzir os EUA ao status militar de outrora, ignorando que cerca de 90% desses insumos são fornecidos pela China. A obsessão com a “reindustrialização bélica” ignora custos sociais e advoga pelo fim de “regras ambientais desnecessárias”.

Enquanto o Hudson Institute pede desregulamentação para acelerar minas e fábricas, a Tesla alerta que as tarifas elevam custos de produção, e o Fed prevê recessão. Não se trata de criar empregos, mas de alimentar o complexo industrial-militar, mesmo que isso imploda a economia doméstica.

No mesmo dia do anúncio das tarifas, a China restringiu a exportação de terras raras como samário, gadolínio e térbio — minerais vitais para mísseis, drones e sistemas de defesa. O comunicado do Ministério do Comércio chinês (MOFCOM) é uma resposta direta: sem esses insumos, a indústria bélica norte-americana paralisará em meses. A medida expõe a fragilidade da estratégia de Trump: ao fechar seu mercado, os EUA dependem ainda mais de rivais para sustentar sua máquina de guerra.

<><> Avanço do Sul Global

Enquanto os EUA se isolam, o Sul Global avança. O BRICS negociam acordos em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar, enquanto a União Africana pressiona por uma zona de livre-comércio continental. Essas iniciativas não são isoladas: são sintomas de um sistema internacional em transição, onde a multipolaridade se consolida à medida que os EUA se enclausuram em políticas ultrapassadas.

As tarifas de Trump aceleram essa fragmentação. Países buscam alternativas, enquanto aliados históricos – como a União Europeia – cogitam boicotes a produtos norte-americanos. O resultado é um cenário onde o comércio global se divide em blocos antagônicos, e os EUA, em vez de líderes, tornam-se espectadores de sua própria decadência. A China, por sua vez, capitaliza o vácuo apresentando um outro horizonte possível: além de controlar terras raras, expande projetos priorizando os grandes investimentos produtivos, como aqueles no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota – a Nova Rota da Seda –, atraindo parceiros abandonados pelos EUA e seu protecionismo jurássico.

A proteção de setores bélicos, como propõe o Hudson Institute, é um projeto suicida. Ao priorizar mísseis em vez de painéis solares, os EUA trocam o futuro por um passado belicoso. As tarifas não “libertam” a América — escravizam-na a uma indústria da morte, dependente de minerais controlados por rivais. Enquanto isso, o Sul Global constrói novas rotas, desafiando a ordem unipolar. Trump não está “tornando a América grande novamente”; está cavando a própria cova.

¨      ‘Tarifaço’ de Trump: como está a fortuna dos homens mais ricos do mundo desde o início das tarifas

Enquanto os mercados globais de ações tentam se recuperar do anúncio de Donald Trump de tarifas recíprocas a mais de 180 países, bilionários que deram apoio ao presidente dos EUA calculam os prejuízos.

Somente nos dois primeiros dias de negociações após o anúncio do “Dia da Libertação”, na última quarta-feira (2), as 500 pessoas mais ricas do mundo perderam um total de US$ 536 bilhões. Foi a maior perda de riqueza em dois dias já registrada pelo índice de bilionário da Bloomberg.

Dentro desse grupo, estão os magnatas que apoiaram Trump e participaram de sua posse em janeiro, mas agora veem suas riquezas encolherem.

>>>> Veja três gigantes que foram atingidos pela turbulência do mercado.

<><> Elon Musk

O homem mais rico do mundo e o CEO da Tesla foi o maior atingido até agora.

A Tesla já estava enfrentando uma potencial reação de compradores que demonstram preocupações sobre o comportamento controverso de Musk. Desde o anúncio do tarifaço, o bilionário teve uma perda de US$ 30 bilhões do patrimônio pessoal.

O número é ainda maior quando analisadas as perdas desde o início do ano. Até agora, a riqueza estimada de Musk caiu US$ 130 bilhões. A recente queda nas ações da Tesla tornou a SpaceX o ativo mais valioso do bilionário.

Mesmo assim, Musk continua sendo confortavelmente a pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de aproximadamente US$ 300 bilhões.

<><> Jeff Bezos

O fundador da Amazon e proprietário do jornal “The Washington Post” teve perdas que somam US$ 24 bilhões desde o anúncio do “tarifaço”.

O valor de mercado da Amazon, um dos principais vendedores de bens importados de todo o mundo, caiu centenas de bilhões de dólares este ano.

Os vendedores com sede na China têm mais de 50% de participação de mercado do mercado de terceiros da Amazon, enquanto os negócios de serviços na nuvem também dependem de tecnologia produzida principalmente por fabricantes em países asiáticos, como Taiwan.

Bezos, a segunda pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido estimado em US$ 190 bilhões, viu US$ 46 bilhões serem eliminados de fortuna pessoal dele desde janeiro.

<><> Mark Zuckerberg

O CEO da Meta, proprietário do Instagram e do WhatsApp, teve a próxima maior perda, com prejuízo de US$ 28 bilhões desde a semana passada.

Mark Zuckerberg é a terceira pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido estimado em US$ 180 bilhões, e foi atingido por uma queda no valor da Meta. As ações do bilionário caíram quase 14% em dois dias, já que a guerra tarifária atingiu particularmente as empresas de tecnologia.

Muitas das maiores empresas do mundo dependem de mercados na Ásia, que agora têm as tarifas mais pesadas impostas por Trump, para manufatura, compras de chips de computador e serviços de Tecnologia da Informação.

Menos de 24 horas após a confirmação da vitória de Donald Trump na corrida presidencial pelo Congresso americano, Zuckerberg anunciou mudanças nas políticas das plataformas para “restaurar a liberdade de expressão” e “acabar com a escalada de censura que vinha sendo imposta por governos na Europa, Ásia, América e até mesmo pelo governo dos EUA”.

Após realizar a mudança na Meta semanas antes de Trump assumir o cargo, o que foi visto como um aceno ao republicano, e participar da posse de Trump com outros bilionários, o magnata também viu mais de US$ 28 bilhões varridos de sua fortuna pessoal em 2025.

<><> Mark Zuckerberg compra mansão em Washington

Mark Zuckerberg, dono da Meta, comprou uma mansão em Washington, capital dos Estados Unidos. Segundo a revista Politico, a casa fica no bairro nobre de Woodland Normanstone, tem cerca de 1.400 m² e custou US$ 23 milhões.

De acordo com a publicação, a venda do imóvel é a terceira mais cara da história de Washington. O negócio foi fechado de forma sigilosa, e agentes imobiliários que participaram da transação precisaram assinar um acordo de confidencialidade.

A Meta confirmou que Zuckerberg comprou uma casa na capital norte-americana e disse que a residência “permitirá que Mark passe mais tempo lá, enquanto a Meta segue trabalhando em questões políticas relacionadas à liderança tecnológica dos EUA".

Recentemente, Zuckerberg, assim como outros líderes de big techs, reforçou laços com o governo de Donald Trump. O dono da Meta foi um dos que esteve presente na posse do republicano, em janeiro, e teve outra reunião com Trump na Casa Branca em março.

Em dezembro, a Meta doou US$ 1 milhão para o fundo de posse de Trump. Apesar das medidas, Zuckerberg não escapou dos efeitos do 'tarifaço' do presidente norte-americano e já perdeu US$ 28 bilhões desde a semana passada - ele é a terceira pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido estimado em US$ 180 bilhões.

Ainda de acordo com a revista, o atual presidente valoriza as visitas pessoais dos CEOs, o que tem estimulado bilionários da tecnologia a comprar imóveis na capital.

No último ano, Eric Schmidt, ex-CEO do Google, David Sacks, cofundador do Paypal, e Jeff Skoll, ex-executivo do eBay, também compraram propriedades de luxo na região, segundo a publicação.

 

Fonte: BBC News/g1

 

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