Antes apoiadores, bilionários se posicionam
contra Trump: “Estúpido, errado, arrogantemente extremo”
Na
posse do presidente Donald Trump, uma foto chamou atenção: nela estavam
presentes os donos das maiores plataformas digitais, todos eles bilionários e
apoiadores desde a campanha pela Casa Branca.
Além
dos magnatas como Elon Musk, Jeff Bezos, da Amazon, e Mark Zuckerberg, da Meta,
outros bilionários acreditaram que o atual presidente norte-americano
impulsionaria a economia dos Estados Unidos, tornando o país grandioso
novamente.
Mas são
justamente estes bilionários que, agora, começaram a se voltar contra Trump,
tendo em vista os desdobramentos causados pelo tarifaço imposto aos produtos importados,
causando uma verdadeira guerra comercial.
Apenas
nesta terça-feira (8), a China afirmou que não vai retroceder na decisão de
tarifar produtos dos Estados Unidos em 34%, mesma medida imposta aos produtos
chineses. Trump até ameaçou aumentar a tarifa para 50% a partir de hoje. Se a
elevação se concretizar, o tigre asiático será recíproco.
Para o
investidor Bill Ackman, um dos apoiadores da candidatura de Trump em 2024, a
insistência na política tarifária deve criar uma “guerra nuclear econômica”. “Os
investimentos empresariais vão parar, e os consumidores vão fechar as
carteiras”, publicou o bilionário no X.
Segundo
Ackman, os EUA irão prejudicar seriamente a reputação com o resto do mundo,
fato que levará anos para ser recuperado. “Estamos caminhando para um
inverno nuclear econômico autoinfligido, e devemos começar a nos preparar.”
A
situação, na visão do investidor, é ainda mais grave, tendo em vista que CEOs e
conselhos de administração não devem se sentir confortáveis em firmar
compromissos expressivos e de longo prazo com os EUA. Assim, Trump está
perdendo, ainda, a confiança dos líderes empresariais de todo o mundo.
Já a
preocupação de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, é a de que a elevação das
tarifas resultem em uma recessão da economia global, além de enfraquecer a
posição dos EUA no Mundo.
“As
tarifas recentes provavelmente aumentarão a inflação e estão fazendo muitos
considerarem uma maior probabilidade de recessão”, afirmou Dimon. “Ainda
é uma dúvida se o pacote de tarifas causará uma recessão, mas ele certamente
desacelerará o crescimento”, acrescentou o executivo, na carta anual a
acionistas.
O
bilionário Stanley Druckenmiller, fundador da empresa de investimentos Duquesne
Family Office, rejeitou tarifas superiores a 10% nas redes sociais.
Discrição
é a estratégia adotada por Ken Fisher, fundador e presidente executivo da
Fisher Investments, que não comenta ações presidenciais em público.
No
entanto, partiu dele a crítica mais contundente sobre a política econômica de
Trump e seu tarifaço, uma vez que o chefe da Casa Branca teria passado muito
dos limites.
“O
que Trump anunciou na última quarta-feira é estúpido, errado, arrogantemente
extremo, ignorante em termos comerciais e direcionado a um problema inexistente
com ferramentas equivocadas. Mas, pelo que posso perceber, isso vai desaparecer
e fracassar, e o medo é maior do que o problema — o que, daqui, é um sinal de
alta”,
afirmou Fisher.
Graças
ao tarifaço, Simon MacAdam, economista-chefe adjunto da consultoria Capital
Economics,acredita que empresas de médio ou grande porte resistirão em investir
nos Estados Unidos, justamente por conta da política tarifária.
“Se
essas tarifas forem renegociadas e reduzidas em alguns meses, então seria perda
de tempo investir centenas de milhões de dólares em novas fábricas nos EUA”, disse MacAdam à
CNN.
Para
MacAdam, Trump deveria suspender o tarifaço por 90 dias, a fim de renegociar as
tarifas com parceiros comerciais. “Não foi por isso que votamos”, pontuou.
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Perdas trilionárias
Desde o
último dia 2, as bolsas americanas perderam mais de US$ 6 trilhões, graças ao
tarifaço imposto por Donald Trump.
Entre
os maiores perdedores estão, contraditoriamente, os maiores aliados de Trump
nas eleições: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla, também
conhecidas como as “sete magníficas”, perderam US$ 1,8 trilhões em menos de uma
semana, de acordo com o cálculo da Elos Ayta, empresa de consultoria.
Desde
20 de janeiro, quando Trump tomou posse, o prejuízo é ainda maior: o mercado
financeiro dos Estados Unidos perdeu US$ 9,948 trilhões.
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Tarifas de Trump: um sinal de pânico diante da ascensão
do Sul Global
A política de tarifas
de Donald Trump, anunciada na última sexta (04/04), trata menos de uma
estratégia econômica e mais um sinal de pânico diante da ascensão irreversível
do Sul Global. Ao impor tarifas de
maneira indiscriminada sobre 185 países, os EUA enterram sete décadas de
multilateralismo e
revelam seu desespero para manter uma hegemonia em colapso.
O “tarifaço” não apenas repete
os erros da Lei Smoot-Hawley (1930), que aprofundou a Grande Depressão, mas
também expõe uma agenda sombria: priorizar a indústria bélica em detrimento da
paz e dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
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A receita do Hudson Institute: protecionismo para a guerra
O
relatório Reindustrialization: A Strategy for American Sovereignty and Security
(Hudson Institute,
2024)
é o manual não declarado de Trump. Nele, a autora Nadia Schadlow defende o
fechamento seletivo do mercado
norte-americano para
“proteger setores críticos” — chips, baterias e minerais de terras raras —
todos essenciais para armas de alta tecnologia.
A
justificativa é a “segurança nacional”, mas o objetivo é claro: reconduzir os
EUA ao status militar de outrora, ignorando que cerca de 90% desses insumos são
fornecidos pela China. A obsessão com a “reindustrialização bélica”
ignora custos sociais e advoga pelo
fim de “regras ambientais desnecessárias”.
Enquanto
o Hudson Institute pede desregulamentação para acelerar minas e fábricas, a
Tesla alerta que as tarifas elevam custos de produção, e o Fed prevê recessão.
Não se trata de criar empregos, mas de alimentar o complexo industrial-militar,
mesmo que isso imploda a economia doméstica.
No
mesmo dia do anúncio das tarifas, a China restringiu a exportação de
terras raras como samário, gadolínio e térbio — minerais vitais para mísseis,
drones e sistemas de defesa. O comunicado do Ministério do Comércio chinês
(MOFCOM) é uma resposta direta: sem esses insumos, a indústria bélica norte-americana
paralisará em meses. A medida expõe a fragilidade da estratégia de Trump: ao
fechar seu mercado, os EUA dependem ainda mais de rivais para sustentar sua
máquina de guerra.
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Avanço do Sul Global
Enquanto
os EUA se isolam, o Sul Global avança. O BRICS negociam
acordos em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar, enquanto a União
Africana pressiona por uma zona de
livre-comércio continental.
Essas iniciativas não são isoladas: são sintomas de um sistema internacional em
transição, onde a multipolaridade se consolida à medida que os EUA se
enclausuram em políticas ultrapassadas.
As
tarifas de Trump aceleram essa fragmentação. Países buscam alternativas,
enquanto aliados históricos – como a União Europeia – cogitam
boicotes a produtos norte-americanos. O resultado é um cenário onde o comércio
global se divide em blocos antagônicos, e os EUA, em vez de líderes, tornam-se
espectadores de sua própria decadência. A China, por sua vez, capitaliza o
vácuo apresentando um outro horizonte possível: além de controlar terras raras,
expande projetos priorizando os grandes investimentos produtivos, como aqueles
no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota – a Nova Rota da Seda –, atraindo
parceiros abandonados pelos EUA e seu protecionismo jurássico.
A
proteção de setores bélicos, como propõe o Hudson Institute, é um projeto
suicida. Ao priorizar mísseis em vez de painéis solares, os EUA trocam o futuro
por um passado belicoso. As tarifas não “libertam” a América — escravizam-na a
uma indústria da morte, dependente de minerais controlados por rivais. Enquanto
isso, o Sul Global constrói novas rotas, desafiando a ordem unipolar. Trump não
está “tornando a América grande novamente”; está cavando a própria cova.
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‘Tarifaço’ de Trump: como está a fortuna dos homens mais
ricos do mundo desde o início das tarifas
Enquanto os mercados globais de ações tentam
se recuperar do anúncio de
Donald Trump de tarifas recíprocas a mais de 180 países, bilionários que deram apoio ao presidente dos EUA
calculam os prejuízos.
Somente nos dois primeiros dias de
negociações após o anúncio do
“Dia da Libertação”, na última quarta-feira (2), as 500 pessoas mais ricas do mundo perderam um total de
US$ 536 bilhões. Foi a maior perda de riqueza em dois dias já registrada
pelo índice de bilionário da Bloomberg.
Dentro desse grupo, estão os magnatas que
apoiaram Trump e participaram de sua posse em janeiro, mas agora veem suas
riquezas encolherem.
>>>> Veja três gigantes que foram
atingidos pela turbulência do mercado.
<><> Elon Musk
O homem mais rico do mundo e o CEO da Tesla
foi o maior atingido até agora.
A Tesla já estava enfrentando uma potencial
reação de compradores que demonstram preocupações sobre o comportamento
controverso de Musk. Desde o anúncio do tarifaço, o bilionário teve uma perda
de US$ 30 bilhões do patrimônio pessoal.
O número é ainda maior quando analisadas as
perdas desde o início do ano. Até agora, a riqueza estimada de Musk caiu
US$ 130 bilhões. A recente queda nas ações da Tesla tornou a SpaceX o
ativo mais valioso do bilionário.
Mesmo assim, Musk continua sendo
confortavelmente a pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de
aproximadamente US$ 300 bilhões.
<><> Jeff Bezos
O fundador da Amazon e proprietário do jornal
“The Washington Post” teve perdas que somam US$ 24 bilhões desde o anúncio do
“tarifaço”.
O valor de mercado da Amazon, um dos
principais vendedores de bens importados de todo o mundo, caiu centenas de
bilhões de dólares este ano.
Os vendedores com sede na China têm mais de
50% de participação de mercado do mercado de terceiros da Amazon, enquanto os
negócios de serviços na nuvem também dependem de tecnologia produzida
principalmente por fabricantes em países asiáticos, como Taiwan.
Bezos, a segunda pessoa mais rica do mundo,
com um patrimônio líquido estimado em US$ 190 bilhões, viu US$ 46 bilhões serem
eliminados de fortuna pessoal dele desde janeiro.
<><> Mark Zuckerberg
O CEO da Meta, proprietário do Instagram e do
WhatsApp, teve a próxima maior perda, com prejuízo de US$ 28 bilhões desde a
semana passada.
Mark Zuckerberg é a terceira pessoa mais rica
do mundo, com um patrimônio líquido estimado em US$ 180 bilhões, e foi atingido
por uma queda no valor da Meta. As ações do bilionário caíram quase 14% em
dois dias, já que a guerra tarifária atingiu particularmente as empresas de
tecnologia.
Muitas das maiores empresas do mundo dependem
de mercados na Ásia, que agora têm as tarifas mais pesadas impostas por Trump,
para manufatura, compras de chips de computador e serviços de Tecnologia da
Informação.
Menos de 24 horas após a confirmação da
vitória de Donald Trump na corrida presidencial pelo Congresso americano,
Zuckerberg anunciou mudanças nas políticas das plataformas para “restaurar a
liberdade de expressão” e “acabar com a escalada de censura que vinha sendo
imposta por governos na Europa, Ásia, América e até mesmo pelo governo dos
EUA”.
Após realizar a mudança na Meta semanas antes
de Trump assumir o cargo, o que foi visto como um aceno ao republicano, e
participar da posse de Trump com outros bilionários, o magnata também viu mais
de US$ 28 bilhões varridos de sua fortuna pessoal em 2025.
<><> Mark Zuckerberg compra
mansão em Washington
Mark Zuckerberg, dono da Meta, comprou
uma mansão em Washington, capital dos Estados Unidos. Segundo a revista
Politico, a casa fica no bairro nobre de Woodland Normanstone, tem cerca
de 1.400 m² e custou US$ 23 milhões.
De acordo com a publicação, a venda do imóvel
é a terceira mais cara da história de Washington. O negócio foi fechado de
forma sigilosa, e agentes imobiliários que participaram da transação
precisaram assinar um acordo de confidencialidade.
A Meta confirmou que Zuckerberg comprou uma
casa na capital norte-americana e disse que a residência “permitirá que Mark
passe mais tempo lá, enquanto a Meta segue trabalhando em questões políticas
relacionadas à liderança tecnológica dos EUA".
Recentemente, Zuckerberg, assim como outros
líderes de big techs, reforçou
laços com o governo de Donald Trump. O dono da
Meta foi um dos que
esteve presente na posse do republicano, em
janeiro, e teve outra reunião com Trump na Casa Branca em março.
Em dezembro, a Meta doou US$ 1 milhão para o
fundo de posse de Trump. Apesar das medidas, Zuckerberg não escapou dos efeitos
do 'tarifaço' do presidente norte-americano e já perdeu US$ 28
bilhões desde a semana passada - ele
é a terceira pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido estimado em
US$ 180 bilhões.
Ainda de acordo com a revista, o atual
presidente valoriza as visitas pessoais dos CEOs, o que tem estimulado
bilionários da tecnologia a comprar imóveis na capital.
No último ano, Eric Schmidt, ex-CEO do
Google, David Sacks, cofundador do Paypal, e Jeff Skoll, ex-executivo do eBay,
também compraram propriedades de luxo na região, segundo a publicação.
Fonte:
BBC News/g1
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