O peso da "zona de segurança" de
Israel para o povo de Gaza
Israel
fortaleceu ainda mais seus controles sobre a Faixa de Gaza, cujos
2,3 milhões de habitantes têm que viver num espaço cada vez mais reduzido,
enquanto a ofensiva militar prossegue na estreita zona litorânea.
As
Forças de Defesa Israelenses (IDF) informaram nesta quarta-feira (16/04) que
consideram cerca de 30% da Faixa de Gaza como "zonas de segurança",
nas quais os palestinos não podem residir.
Em 11
de abril, o ministro da Defesa Israel Katz já havia anunciado que as
IDF haviam ocupado grandes áreas do sul de Gaza, incluindo o corredor
de Morag, que atravessa Gaza entre Rafah e Khan Yunis. "Assim, todo o
território entre o corredor Filadélfia e o de Morag torna-se parte da zona de
segurança israelense", disse.
Os
militares denominam "corredor Filadélfia" uma zona de segurança de 14
quilômetros de extensão entre Gaza e a fronteira egípcia. O novo corredor de
Morag se estende por cerca de 12 quilômetros, de leste a oeste, isolando a
cidade de Rafah da vizinha Khan Yunis; e o resto da Faixa, da passagem de
fronteira para o Egito.
Na
plataforma X, Katz acrescentou que "a Faixa de Gaza se torna menor e mais
isolada, e cada vez mais habitantes serão obrigados a se retirar das zonas de
combate". Além disso, exortou os palestinos a "tirar o poder do Hamas" e "dar fim à guerra".
Detendo
o controle da Faixa de Gaza desde 2007, a organização islamista é apoiada pelo
Irã e classificada como terrorista por diversos Estados. Tel Aviv tem sempre
enfatizado que sua ofensiva militar seria um meio de pressionar o Hamas. A
finalidade da política de "força máxima" seria garantir que os
últimos 59 reféns israelenses do ataque de 7 de outubro de 2023 sejam
libertados, e que o grupo extremista islâmico aceite um novo acordo.
·
Civis
pagam o preço
Antes
da guerra, Rafah e cercanias, no extremo sul de Gaza, contavam cerca de
200 mil moradores. Um deles é Abdul Rahman Abu Taha, que retornou em
janeiro, após o início do cessar-fogo. Ele conta que apenas uma pequena porção
da casa não fora destruída, porém a família permaneceu nas ruínas.
No
começo de abril, dias antes da nova ofensiva israelense, contudo, o Exército
voltou a dar ordens de evacuação, e o palestino de 51
anos e os seus tiveram que fugir novamente. Atualmente estão alojados numa
barraca em Khan Yunis.
"Rafah
está quase completamente destruída. Só muito poucas casas não sofreram algum
tipo de dano. As ruas são só escombros, e precisam ser reconstruídas. Agora,
eles vão provavelmente levar sua missão até o fim e destruir o que ainda
restou."
Após o
fim da primeira fase do cessar-fogo, no início de março, o governo israelense
suspendeu todo o fornecimento de artigos comerciais e humanitários para a Faixa
de Gaza. Em 14 de abril, a Organização das Nações Unidas advertiu que
"a situação humanitária atual é provavelmente a pior desde a eclosão das
hostilidades, 18 meses atrás".
"Justo
quando a gente pensava que a guerra tinha acabado, ela voltou com toda
violência. A carnificina continua, 24 horas por dia", relata Abu Taha.
"O caos é maior ainda, a situação de segurança começa a piorar. É uma
sensação assustadora." Ele está preocupado que sua cidade natal tenha
aparentemente se transformado numa "zona de segurança".
Parece-lhe
inimaginável que nunca mais vá poder retornar à casa, e sua esperança é que
Israel "esteja fazendo isso agora para intimidar e exercer pressão
política". No entanto permanece inquietante o fato de que "todo o
futuro da Faixa de Gaza não é mais claro".
·
ONU
teme consequências de bloqueios humanitários
Através
de seus pontos de fronteira, Israel controla os movimentos entre os corredores
de segurança ou isola as áreas. O novo corredor é denominado segundo o antigo
assentamento israelense Morag, dissolvido em 2005 juntamente com o corredor de
Netzarim, no centro de Gaza.
Segundo
a imprensa, foram destruídas centenas de casas para o estabelecimento do
corredor de Morag e a criação de uma zona-tampão de vários quilômetros de
largura, contendo diversos pontos de apoio militares e um aparato de vigilância
abrangente.
Até
agora, o governo ultradireitista do premiê Benjamin Netanyahu não divulgou
planos concretos para o pós-guerra em Gaza, insistindo sobretudo numa
estratégia de "pressão máxima" sobre o Hamas.
Segundo
grupos de direitos humanos, contudo, Tel Aviv estaria lançando os fundamentos
para um controle militar permanente, ao dividir a Faixa em diversas zonas,
através de corredores, e ampliar maciçamente a zona-tampão existente ao longo
da fronteira.
Nesta
quarta-feira, o ministro Katz admitiu que o Exército não se retirará
necessariamente de certas áreas, acrescentando: "Até agora, centenas de
milhares de moradores foram evacuados, parcelas consideráveis do território
foram anexadas às zonas de segurança."
Durante
o cessar-fogo, centenas de milhares de palestinos expulsos do sul puderam
retornar ao norte. Agora, no entanto, as IDF ordenam que prossigam para o
oeste. O Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários
(Ocha) estima em 400 mil o número dos desalojados pela ofensiva mais
recente.
O
secretário-geral da ONU, António Guterres, comentou no X:
"Quase 70% da Faixa de Gaza está submetida agora às ordens de evacuação
israelenses, ou definida como no-go area. Estou muito apreensivo de
que a assistência continue a ser bloqueada, com consequências
devastadoras."
·
"Limpeza
étnica em larga escala"
Por sua
vez, as forças ocupadoras têm repetido que as evacuações visavam manter a
população civil fora das zonas de perigo. Algumas das operações também afetaram
locais de onde foram lançados mísseis palestinos contra Israel.
No
último fim de semana, Katz frisou que seu país possibilitaria a "todos que
assim desejem" a "emigração voluntária" para países terceiros.
Desse modo, ele se referiu ao "plano de reassentamento" aventado pelo
presidente americano, Donald Trump, o qual, para a ONU, equivale a uma
realocação compulsória.
A
organização Breaking the Silence, que recolhe depoimentos de antigos soldados
das IDF nos territórios palestinos, declarou nesta quarta-feira no X:
"Eles a denominam uma 'zona-tampão' para a segurança. Porém ela já
concentra 36% de toda a Faixa de Gaza. Transformá-la numa instituição
permanente não passa de uma limpeza étnica em larga escala. A questão nunca foi
segurança, mas sim controle. Expulsão e destruição não criam segurança."
Em
abril, a ONG israelense publicou um relatório descrevendo a destruição
sistemática de casas, infraestrutura e áreas agrícolas na zona-tampão, que
teria sido basicamente transformada num tabu para os palestinos.
"Nós
destruímos tudo lá: campos aráveis, cemitérios, zonas industriais, casas, é
claro. As IDF partem do princípio de que assim ganhamos mais segurança. E por
quê? Porque aí podemos ver quando o Hamas ou o Jihad Islâmico se
aproximam", comentou Nadav Weiman, diretor da Breaking the Silence.
Grande
parte do território declarado zona-tampão era antes utilizado na agricultura.
Isso suscita questões sobre os efeitos de longo prazo, por exemplo se Gaza
jamais será capaz de voltar a produzir parte de seus alimentos.
A
família de Lamia Bahtiti, de 43 anos, abandonou na segunda semana de abril seu
bairro, Shejaiya, no leste da cidade de Gaza, indo morar com parentes na zona
oeste: "Todas as áreas próximas às fronteiras, no norte, sul e leste,
foram ocupadas e agora se encontram sob ataque da artilharia. Todas as áreas
próximas da Faixa de Gaza são bombardeadas a partir do ar. Não há como
escapar."
A luta
diária para manter sua família está cada vez mais dura: "Não há produtos
de limpeza no mercado, nem água potável, alimentos suficientes, gás de cozinha,
e o abastecimento de saúde é catastrófico. Gaza não é mais o que foi",
lamenta Bahtiti. "A gente tenta sobreviver, por causa dos nossos filhos e
da esperança de um futuro melhor."
¨
Israel ataca hospital em Gaza enquanto Hamas analisa nova
proposta de cessar-fogo
Ao
menos 17 palestinos foram mortos e 69 ficaram feridos em ataques israelenses na Faixa de
Gaza nas
últimas 24 horas desta terça-feira (15/04), de acordo com as informações
fornecidas pelo Ministério da Saúde do enclave. Uma das ofensivas atingiu
um hospital localizado em
um campo de refugiados na região de Al-Mawasi, na província de Khan Younis, no
sul, área onde centenas de milhares de palestinos buscam abrigos em
tendas.
O
bombardeio direcionado ao Hospital do Kuwait matou um médico e feriu nove
pessoas, incluindo diversos profissionais de saúde, de acordo com o porta-voz
do centro hospitalar, Saber Mohammed.
“O
direcionamento confirma a intenção deliberada da ocupação de infligir maiores
danos ao sistema de saúde e ameaçar o tratamento dos feridos e doentes, mesmo
em leitos hospitalares”, disse a pasta em um comunicado publicado no Telegram.
“Os
crimes da ocupação contra instalações médicas não cessarão enquanto não houver
uma posição firme das instituições internacionais e humanitárias. O Ministério
da Saúde reitera seu apelo a todas as partes internacionais e interessadas em
fornecer proteção aos hospitais e ao pessoal médico”, acrescentou.
Durante
os 18 meses de massacre em Gaza, o Exército de Israel tem atacado
inúmeros hospitais sob alegação de neles estarem membros do Hamas escondidos.
Em meio
aos ataques, no dia anterior, o grupo palestino confirmou que recebeu uma
proposta do governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para
libertar um grupo de 10 reféns, incluindo um soldado americano-israelense, de
acordo com um alto funcionário do movimento em entrevista à TV libanesa Al-
Mayadeen.
Segundo
o relato, a iniciativa também inclui um cessar-fogo nos combates
por 45 dias, período no qual as travessias de fronteira seriam permitidas para
a entrega de ajuda humanitária.
O plano
israelense também prevê a redistribuição das Forças de Defesa de Israel (IDF,
na sigla em inglês) em Gaza para áreas ocupadas antes de 2 de março e um
compromisso de negociar uma segunda fase. Essas negociações incluiriam
discussões sobre um cessar-fogo permanente, a retirada militar do regime
sionista, o desarmamento do Hamas e a futura governança do enclave palestino.
O Hamas
afirmou, por meio de comunicado, que estava revisando a proposta israelense e
responderia “o mais rápido possível”. Entretanto, um alto funcionário do grupo,
Sami Abu Zuhri, afirmou à Al Jazeera que o movimento palestino
não aceitaria qualquer exigência de desarmamento “enquanto houver uma
ocupação”.
“O
pedido para desarmar o Hamas nem é aceitável de se ouvir. Esta não é apenas uma
linha vermelha, é um milhão de linhas vermelhas”, disse Abu Zuhri ao veículo.
·
Palestina
pede fim do genocídio em Gaza
No
âmbito do diálogo político de alto nível entre União Europeia e Palestina no
Luxemburgo, o Ministério dos Relações Exteriores palestino instou a comunidade
internacional a pôr fim aos crimes de Israel nos territórios ocupados.
No
encontro, Mohammad Mustafa ressaltou a urgência de uma intervenção e pressão de
nações estrangeiras para acabar integralmente a limpeza étnica promovida por
Israel, que matou grande parte da população na Cisjordânia, incluindo
Jerusalém, especialmente nos campos de refugiados no norte.
A
autoridade também exigiu que o regime sionista desbloqueie a passagem de
fronteira para Gaza, permitindo o acesso a recursos básicos, como alimentos,
água e suprimentos médicos.
A
delegação palestina foi composta pelo ministro do Planejamento e Cooperação
Internacional, Wael Zakout; o ministro de Estado das Relações Exteriores,
Varsen Shaheen; o embaixador palestino na UE, Bélgica e Luxemburgo, Amal Jadou
Shakaa; e o vice-ministro das Relações Exteriores, embaixador Omar Awadallah.
Por
fim, o grupo de representantes reforçou os mecanismos de apoio ao Plano de
Reconstrução de Gaza, adotado na Cúpula da Liga Árabe no Cairo e apoiado pela
Organização de Cooperação Islâmica, enfatizando a necessidade de um plano para
deter a agressão israelense e promover a ajuda humanitária.
Fonte:
DW Brasil/Telesur

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