sábado, 19 de abril de 2025

Unidade da PM-SP posta vídeo de policiais com braço em riste e uma cruz em chamas

O perfil oficial do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep), unidade especializada da Polícia Militar paulista (PM-SP) com atuação em São José do Rio Preto (SP), publicou um vídeo no Instagram em que policiais aparecem posicionados em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço em riste — no que sugere uma saudação nazista.

A cena publicada, que exibe também um corredor de velas e viaturas ao fundo e uma trilha sonora dramática, não especifica o local em que foi gravado o vídeo. Além disso, a baixa luminosidade não permite identificar quem são as pessoas presentes. Ficam visíveis, no entanto, duas bandeiras com o brasão do 9º Baep.

Um perfil do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e o perfil do tenente-coronel José Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcado na publicação.

A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre quem eram as pessoas do vídeo, se o registro havia sido feito durante o horário de expediente delas e quais foram as circunstâncias da gravação. Perguntou também se entendia que o braço em riste e a cruz em chamas podem sem compreendidos, respectivamente, como alusivos à saudação romana usada por neonazistas e à cerimônia de queima de cruzes criada pela Ku Klux Klan e repetida por supremacistas brancos. Após o pedido de informações feito pela reportagem, a publicação foi tirada do ar.

Em resposta, a SSP-SP afirmou que o caso é investigado. “A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”, escreveu, em nota.

O Baep é uma unidade especializada criada ainda pela gestão João Doria (PSDB), em 2019, para atuar como uma espécie de “Rota do interior”, com foco em ações ostensivas — atualmente, a unidade também já está presente na capital. A Rota é conhecida por ser a unidade policial que mais mata no estado.

No caso do 9º Baep, a Ponte já mostrou que ele esteve envolvido na morte de dois jovens injustamente acusados de roubo em São José do Rio Preto. No último dia 27 de março, quatro agentes da unidade acabaram absolvidos em um Tribunal do Júri ao serem julgados pelo episódio.

•        Cruz em chamas: chefe de unidade da PM nega ‘ritual’ ou ‘conotação ideológica’

O tenente-coronel José Thomaz Costa Júnior, comandante da unidade do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep), unidade filmada em uma cerimônia com uma cruz em chamas e policiais com o braço em riste, afirmou que aquilo se tratava de uma celebração dos policiais recém-chegados ao Baep.

José Thomaz negou que os agentes tenham colocado fogo na cruz em alusão a algum ritual. Segundo ele, a ação era para iluminar o objeto, simbolizando “o renascimento do guerreiro”. O argumento foi dado em entrevista ao jornal DHoje Interior, publicada nesta quarta-feira (16/4) [veja abaixo], após a repercussão negativa do vídeo publicado no perfil oficial do 9º Baep no Instagram — que sugeria uma menção à prática do grupo supremacista branco norte-americano Ku Klux Klan.

Nas imagens, policiais aparecem posicionados em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço em riste — de forma semelhante a uma saudação nazista [veja acima]. E a conta do tenente-coronel na rede social aparecia marcada no vídeo.

Segundo José Thomaz, a cerimônia marcou a entrega de braçais, item que integra o fardamento e identifica o policial e sua qualificação. “A cerimônia tem alguns aspectos de simbolismo, representa a dificuldade que o policial percorre nesse período e a gente dá bastante ênfase na vitória, na conquista”, afirmou. O comandante do 9º Baep disse que esse tipo de cerimônia é comum entre as tropas.

Sobre a suposta saudação nazista, José Thomaz se defendeu dizendo que os agentes faziam um gesto com o braço estendido na posição de 45 graus “como qualquer juramento que todas as profissões realizam”.

“Obviamente, nós não tínhamos nenhuma intenção de que isso tivesse qualquer interpretação ou conotação ideológica no nosso pessoal. São 100% cristãos, aqui nós temos no BAEP policiais de todas as etnias, de todos os credos, mas todos cristãos”, disse José Thomaz. O material foi produzido durante o horário de trabalho dos agentes e, segundo o tenente, foi gravado à noite — o que não é comum — porque a equipe “vitoriosa” pertence ao pelotão noturno.

Um vídeo e uma nota sobre o caso foram publicados no perfil do 9º Baep. O texto busca reforçar a versão de que as imagens mostram apenas uma cerimônia de entrega do braçal. “A Polícia Militar esclarece que não houve qualquer intenção de fazer alusão a ideologias e cultos ou manifestações de cunho político, religioso ou racial”, afirma o texto.

No vídeo o comandante repete as explicações dadas na entrevista. José Thomaz também diz que as imagens foram deletadas por causa da repercussão, “que não desejávamos”.

Nesta quinta (16/4), a Ponte divulgou um novo vídeo do ocorrido, no qual um agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º Baep faz um juramento com o braço em riste. Ele fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida, caso isso seja necessário.

<><> Ouvidoria pede afastamento dos PMs

A Ouvidoria das Polícias pediu à Corregedoria informações sobre o afastamento dos policiais envolvidos e, caso não tenha sido feito, requereu essa ação. “Quando a polícia adota práticas bárbaras e criminosas, é urgente que se revisem seus procedimentos e atos de comando. A sociedade clama por uma segurança cidadã, que respeite seus direitos fundamentais, e não tolera mais este retrocesso civilizatório que agride o patrimônio, a história, a vida”, escreveu o órgão, em nota.

Já o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) instaurou nesta quarta-feira (16) uma investigação para apurar a veiculação do vídeo. A apuração será feita pela promotoria de Justiça de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.

•        Batalhão da PM que fez cerimônia com cruz em chamas já havia feito treino com ‘favela’ como inimigo

O batalhão da Polícia Militar paulista (PM-SP) filmado em uma cerimônia com uma cruz em chamas e policiais com o braço em riste, cujas imagens foram divulgadas pela Ponte na terça-feira (15/4), já havia sido alvo de críticas em 2019 ao protagonizar um treinamento no qual combatia um inimigo em meio a tapumes com a inscrição “favela”.

As imagens do treinamento haviam sido divulgadas também pelas redes sociais do próprio 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep), unidade especializada da PM-SP com atuação em São José do Rio Preto (SP). À época, elas ganharam maior projeção após terem sido repercutidas pela Ponte. Especialistas ouvidos naquela ocasião avaliaram que o treino parecia propor a criminalização da pobreza, reforçando um imaginário entre os policiais de que o crime estaria apenas em comunidades, onde poderiam atuar ostensivamente.

“Eles entram dentro da favela assim mesmo, como se fosse um inimigo. É assim que tratam as periferias. Não é o mesmo tratamento dado aos bairros ricos”, disse Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio, para a Ponte à época.

Já para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a imagem evidenciava uma visão preconceituosa da polícia paulista. “Reforça a estética que vem sendo muito empregada no Rio, da polícia chegar atirando nessas comunidades pobres. A PM de SP está se perdendo e começou a mimetizar a PMERJ no que ela tem de pior”, afirmou ela.

Ainda à época, em contato com a Ponte, a PM-SP não explicou por qual razão a inscrição “favela” constava nos tapumes, limitando-se a descrever o treinamento que havia sido empregado aos policiais do 9º Baep. “A Polícia Militar esclarece que o treinamento de Tiro Defensivo na Preservação da Vida — ‘Método Giraldi’, aplicado pela Polícia Militar, ensina ao policial militar quando se deve atirar e quando não. A simulação objetiva justamente mostrar ao aluno que não se atira em quaisquer circunstâncias, mas somente quando há injusta agressão”, respondeu, em nota, a corporação.

<><> Vídeo com iconografia supremacista

O 9º Baep voltou à receber atenção nesta quarta-feira (15/4) ao publicar, sem contextualização alguma e com uma trilha sonora ao fundo, um vídeo em sua conta no Instagram no qual policiais apareciam posicionados em frente a uma cruz em chamas. A cruz em chamas era uma das marcas da organização supremacista branca norte-americana Ku Klux Klan. Dois dos policiais, ainda, faziam um gesto com o braço em riste — que remete à saudação nazista.

A cena exibia também um corredor de velas e viaturas ao fundo, sem especificação do local em que o vídeo havia sido gravado. Além disso, a baixa luminosidade não permitia identificar quem eram as pessoas presentes. Ficavam visíveis, no entanto, duas bandeiras com o brasão do 9º Baep. Um perfil do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e a conta do tenente-coronel José Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcada na publicação.

O vídeo foi tirado do ar assim que a Ponte questionou as autoridades sobre seu significado.

A Ponte solicitou informações à Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre quem eram as pessoas do vídeo, se o registro havia sido feito durante o horário de expediente delas e quais as circunstâncias da gravação. Perguntou também se a SSP-SP entendia que o braço em riste e a cruz em chamas poderiam sem compreendidos, respectivamente, como alusivos à saudação romana usada por neonazistas e à cerimônia de queima de cruzes criada pela Ku Klux Klan.

Em resposta, a SSP-SP afirmou que o caso é investigado. “A Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e qualquer manifestação de intolerância. Assim que tomou conhecimento das imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados”, escreveu, em nota.

•        PM jura ‘sacrifício da própria vida’ em cerimônia

Já nesta quinta (16/4), a Ponte divulgou um novo vídeo do ocorrido, no qual um agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º Baep faz um juramento também o braço em riste. Ele fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida, caso isso seja necessário.

O evento aparenta se tratar de uma solenidade de entrega de braçal — quando militares encerram um estágio operacional e são efetivamente incorporados à unidade. Esse tipo de solenidade em geral é feita nos batalhões e à luz do dia, com juramentos perante as bandeiras do estado e do Brasil. A PM-SP não esclareceu as circunstâncias da cerimônia até aqui.

<><> Batalhão é ‘Rota do interior’

O Baep é uma unidade especializada criada pela gestão João Doria (PSDB), em 2019, para atuar como uma espécie de “Rota do interior”, com foco em ações ostensivas — atualmente, a unidade também já está presente na capital. A Rota é conhecida por ser a unidade policial que mais mata no estado.

No caso do 9º Baep, a Ponte já mostrou que ele esteve envolvido na morte a tiros de dois jovens negros injustamente acusados de roubo em São José do Rio Preto. Havia imagens de câmeras de segurança que mostravam as duas vítimas já rendidas antes de serem baleadas. Em 27 de março, contudo, quatro agentes da unidade acabaram absolvidos em um Tribunal do Júri ao serem julgados pelo episódio.

Novo vídeo obtido pela Ponte mostra policial aparentemente recém-integrado ao 9º Baep com braço em riste durante juramento. Ele fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida caso necessário

A cerimônia da Polícia Militar paulista (PM-SP) que teve policiais filmados com o braço em riste e em frente a uma cruz em chamas teve também um juramento. Em um novo vídeo obtido pela Ponte, um agente que aparenta ser recém-integrado ao 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (9º Baep), unidade especializada com atuação em São José do Rio Preto (SP), fala em honrar a corporação e a sociedade paulista até mesmo com a própria vida caso isso seja necessário.

“Incorporando-me ao 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia, prometo honrar esse brasão como símbolo da dignidade, moralidade, legalidade e lealdade, pela defesa da sociedade paulista, pelas tradições do Baep e da Polícia Militar do Estado de São Paulo, se preciso, com o sacrifício da própria vida”, diz o policial militar, também com o braço em riste enquanto faz o juramento.

O evento aparenta se tratar de uma solenidade de entrega de braçal, quando militares encerram um estágio operacional e são efetivamente incorporados à unidade. É comum que esse tipo de solenidade seja feita em batalhões e à luz do dia, com juramentos perante as bandeiras do estado e do Brasil. A PM-SP não esclareceu as circunstâncias da cerimônia até aqui.

<><> Perfil oficial de batalhão publicou primeiro vídeo

A cerimônia da PM-SP veio a público após um perfil oficial do 9º Baep publicar, sem qualquer contextualização e uma trilha de fundo, um primeiro vídeo no Instagram em que policiais aparecem posicionados em frente a uma cruz em chamas. Dois dos agentes aparecem, ainda, com o braço em riste.

Um perfil do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5) republicou a postagem e a conta do tenente-coronel José Thomaz Costa Junior, comandante do 9º Baep, estava marcada na publicação.

 

Fonte: Ponte Jornalismo

 

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