sábado, 19 de abril de 2025

Amorim diz que “China oferece mais oportunidades que os EUA”

Em entrevista ao jornal O Globo, concedida em sua sala no Palácio do Planalto, Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, criticou duramente o “tarifaço” imposto por Donald Trump e alertou para os riscos de ruptura do sistema multilateral de comércio. Amorim afirmou que a quebra desse sistema traria prejuízos maiores do que eventuais vantagens comerciais pontuais. O ex-chanceler também destacou a crescente importância das relações do Brasil com China e Rússia, ressaltando que Pequim oferece hoje mais oportunidades e menos riscos do que Washington.

Segundo Amorim, o governo dos Estados Unidos busca forçar negociações bilaterais fora do âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que ameaça princípios históricos do comércio internacional. Ele lembrou ainda que acordos protecionistas na década de 1930 contribuíram para a depressão econômica e, indiretamente, para a Segunda Guerra Mundial. O assessor de Lula defendeu uma postura ativa da América Latina e dos Brics para resistir a essa nova conjuntura, citando o soft power brasileiro como ferramenta estratégica.

Amorim também comentou sobre a iminente viagem de Lula à China e à Rússia, afirmando que os Brics têm peso crescente na economia mundial. Sobre a criação de uma moeda comum entre os Brics, ele negou a possibilidade, mas admitiu que o bloco poderá avançar no uso de moedas locais para facilitar o comércio. Amorim reforçou a necessidade de recalcular a posição brasileira no mundo, priorizando relações mais pragmáticas e benéficas para o país.

<><> A seguir, a entrevista na íntegra:

O tarifaço do presidente americano Donald Trump representa, na avaliação do assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, um perigoso risco para o sistema multilateral, um dos pilares da política externa brasileira.

Em sua sala no Palácio do Planalto, Amorim analisou o cenário atual, fez um paralelismo com a depressão econômica dos anos 1930 e o pós-Segunda Guerra Mundial, e alertou:

— A quebra do sistema multilateral traz um prejuízo muito maior do que a eventual vantagem comparativa que, talvez, você possa ter.

Semanas antes de embarcar para China e Rússia com Lula, Amorim defendeu as relações do Brasil com ambos os países:

— A China tem hoje uma disponibilidade de recursos para investimento no exterior que os Estados Unidos não têm. É uma questão pragmática. A China hoje oferece mais oportunidades ao Brasil e menos riscos.

>> Impacto do tarifaço de Trump

Em vários grupos e blocos nos quais o Brasil participa, entre eles os Brics, a defesa do multilateralismo é uma bandeira forte. Nesse contexto, Amorim avaliou o impacto do tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos:

— A ênfase no sistema multilateral é algo muito importante. Esse é o mundo que a gente está vivendo. Estamos num mundo difícil e desafiante. Mas acho que as percepções estão mudando. Não é tão fácil assim quanto parecia botar um tarifaço para todo mundo.

Para Amorim, o objetivo dos EUA era forçar negociações bilaterais, à margem da Organização Mundial de Comércio (OMC):

— Só pode ser. Se você vai negociar bilateralmente e obtém algo adequado dos EUA, a cláusula da nação mais favorecida obriga a estender a vantagem a todos. Essa cláusula é um princípio fundamental do sistema multilateral de comércio.

Ele lembrou que a quebra do multilateralismo já foi expressa na nota oficial da Casa Branca e alertou:

— Sabemos que os acordos protecionistas dos anos 1930 contribuíram para a depressão e a Segunda Guerra Mundial. Esse é o risco maior.

>> A ilusão da vantagem comparativa

Amorim criticou a ideia de que o tarifaço traria vantagens para o Brasil:

— Quando as pessoas dizem que o Brasil pode ter vantagem comparativa, eu acho isso uma ilusão. Sem multilateralismo, nunca teríamos vencido casos como o do algodão contra os EUA, ou o do açúcar contra a União Europeia.

Para ele, o sistema multilateral é uma questão prática, e não ideológica.

>> Risco de recessão global

Sobre a possibilidade de uma recessão global, Amorim disse:

— Criou-se uma tempestade global. Os mercados despencaram e continuam instáveis. A Europa está preocupada. Até os Estados Unidos podem cair numa recessão, e isso seria trágico. No passado, o colapso do consumo interno levou à necessidade de estimular a indústria armamentista.

>> Caminhos para o Brasil

Amorim defendeu que a América Latina tenha voz própria:

— A América Latina precisa ter uma personalidade. Nós temos soft power, não hard power. E reafirmar que somos uma zona de paz é importante.

Sobre os Brics, ele afirmou:

— Quando o grupo se move, o mundo presta atenção. E proporciona aproximações bilaterais e trilaterais.

>> Virada para China e Rússia

Sobre a viagem de Lula à China e Rússia:

— O Brasil tem hoje uma relação muito forte com a China. Com a Rússia, talvez um pouco menos por conta da guerra, mas ainda assim muito boa. E temos superávit comercial com a China, ao contrário dos Estados Unidos.

Segundo Amorim:

— A China tem disponibilidade de recursos que os EUA não têm. É pragmatismo. Hoje, a China oferece mais oportunidades e menos riscos.

>> Perspectivas para os Brics

Sobre a criação de uma moeda comum nos Brics:

— Ninguém está pensando em moeda Brics. Talvez em facilitar o comércio e o pagamento em moeda local. É uma discussão que vai continuar.

¨      Ceará e China formam rota marítima em meio a guerra comercial e sangrenta dos EUA

O Porto do Pecém, localizado no Ceará, passa a contar com uma nova rota marítima direta com a China. A operação, anunciada oficialmente nesta semana, prevê a redução significativa no tempo de transporte de mercadorias entre os dois países.

Segundo projeções divulgadas pelas autoridades portuárias, o novo trajeto permitirá que produtos importados cheguem ao estado em aproximadamente 30 dias, ante os 60 dias exigidos anteriormente. No caso das exportações, o tempo de entrega será reduzido em cerca de 14 dias, medida considerada estratégica para mercadorias perecíveis como carnes e frutas.

A nova ligação, denominada Serviço Santana, altera a rota tradicional das embarcações que conectavam o Brasil à Ásia. Até então, os navios provenientes da China com destino ao Ceará passavam pelo Porto de Santos (SP), contornando o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente africano.

Com a mudança, os navios passam a cruzar o Oceano Pacífico, atravessar o Canal do Panamá e seguir diretamente até o Porto do Pecém, otimizando o percurso e os prazos logísticos.

A operação é liderada pela companhia Mediterranean Shipping Company (MSC), em parceria com a PAM Terminals. O trajeto inclui escalas em quatro portos chineses — Yantian, Ningbo, Qingdao e Shanghai — e em Busan, na Coreia do Sul.

A rota prossegue por Cristóbal, no Panamá, antes de atingir o destino final em território cearense. Após a chegada ao Pecém, as embarcações seguem para outros terminais brasileiros, com paradas previstas em Suape (PE), Salvador (BA) e Santos (SP). Na viagem de retorno à Ásia, as embarcações fazem escala em Cingapura.

Segundo Max Quintino, presidente do Complexo do Pecém, a nova rota deve beneficiar principalmente as importações de combustíveis minerais, ferro, minério, máquinas, equipamentos elétricos e produtos plásticos.

No sentido inverso, as exportações que partem do Ceará incluem castanha de caju, cera de carnaúba, frutas, carnes, mármore, granito, calçados, têxteis e mercadorias destinadas ao comércio eletrônico.

Além do impacto direto nas operações portuárias, a nova ligação marítima também deve favorecer projetos industriais na região. Um dos destaques é o Polo Automotivo do Ceará, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza.

A previsão é que o empreendimento inicie as atividades de montagem de veículos em novembro deste ano, com foco em modelos elétricos de origem chinesa. O investimento estimado no projeto é de R$ 2,5 bilhões.

Em paralelo, o cenário internacional em que a nova rota foi anunciada é marcado por tensões comerciais entre China e Estados Unidos. Em vigor desde o governo Donald Trump, as tarifas impostas por ambos os países continuam a afetar o fluxo de mercadorias entre as duas maiores economias do mundo.

Atualmente, os Estados Unidos aplicam tarifas de até 145% sobre produtos chineses, enquanto a China mantém taxas de 125% sobre produtos norte-americanos.

O estabelecimento de rotas logísticas alternativas é, segundo analistas do setor, uma resposta indireta a esse ambiente de disputas comerciais.

A ampliação do acesso direto a mercados estratégicos permite a diversificação das relações comerciais e o fortalecimento de cadeias produtivas regionais menos dependentes de intermediários logísticos.

Para o diretor comercial do Complexo do Pecém, André Magalhães, a nova ligação representa uma oportunidade para intensificar o fluxo bilateral com o continente asiático.

“O mercado asiático é realmente vasto, com uma população de cerca de 2 bilhões de pessoas. Isso representa uma oportunidade incrível para conectarmos nossos produtos nordestinos com a Ásia e vice-versa.

Desde granito, mármore, castanha de caju, cera de carnaúba, frutas, calçados e têxteis, até milhares de produtos de e-commerce, por exemplo. Além disso, as indústrias do Ceará e toda a sua área de influência poderão importar maquinário e insumos desse mercado asiático promissor através do Pecém.”

A nova operação reforça a posição do Porto do Pecém como plataforma logística voltada à integração entre o Nordeste brasileiro e a Ásia. A expectativa é que a redução dos prazos e custos operacionais associados ao transporte marítimo tenha reflexos sobre a competitividade das exportações regionais, especialmente nos setores agrícola, mineral e industrial.

Com isso, o terminal cearense passa a exercer um papel ampliado nas estratégias logísticas nacionais, alinhando-se às rotas comerciais internacionais em um momento de transformação nos fluxos globais de mercadorias.

¨      China sinaliza parceria com Embraer em meio a sanções do país contra a Boeing

O governo da China evitou confirmar nesta quarta-feira, 16, se companhias aéreas do país suspenderam a compra de aeronaves da Boeing, como havia sido divulgado na véspera pela agência Bloomberg.

Em entrevista coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, não respondeu diretamente sobre o tema e optou por destacar a relação comercial com o Brasil, com ênfase no setor aeronáutico.

“Gostaria de salientar que o Brasil é um importante país da aviação, e a China atribui grande importância à cooperação prática com o Brasil em vários campos, incluindo a aviação”, disse Lin, em resposta a questionamentos sobre os negócios com a fabricante norte-americana.

O porta-voz afirmou ainda que “a China está satisfeita em ver que as companhias aéreas chinesas realizam uma cooperação relevante com o Brasil, de acordo com os princípios do mercado”. A declaração foi interpretada como sinal de apoio à Embraer, fabricante brasileira que busca firmar um contrato para a venda de cerca de 20 jatos a uma empresa aérea regional chinesa.

As negociações entre a Embraer e o mercado chinês ocorrem há aproximadamente dois anos, com o apoio do governo federal.

Autoridades brasileiras, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do governo, participaram de agendas diplomáticas na Ásia visando impulsionar as conversas. Apesar da mobilização, o contrato ainda não foi assinado.

A reportagem da Bloomberg publicada na terça-feira, 15, apontava que o governo chinês havia suspendido a compra de aeronaves da Boeing, empresa norte-americana que disputa com a Embraer parte do mercado de jatos regionais.

A publicação gerou reações no mercado financeiro e fez as ações da Embraer registrarem alta expressiva na Bolsa de Valores de São Paulo, diante da perspectiva de possível redirecionamento da demanda chinesa para a fabricante brasileira.

Durante a mesma entrevista coletiva, Lin Jian também comentou declarações recentes do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que, em visita à Argentina, qualificou os investimentos da China em países emergentes como “vorazes”.

“O funcionário dos EUA fez essas observações na América Latina”, afirmou o porta-voz chinês. “Permitam-me salientar que a China empreende uma cooperação prática com os países da América Latina e do Caribe com base no respeito mútuo, na igualdade e no benefício mútuo, o que impulsionou muito o desenvolvimento socioeconômico nos países e foi bem recebido e elogiado por eles”.

Ao criticar o posicionamento de Washington, Lin fez referência ao histórico da presença norte-americana na região. “A intimidação e a pilhagem de longa data dos EUA deixaram a América Latina com veias abertas, e os EUA não estão em posição de apontar o dedo para a cooperação entre a China e os países”.

A embaixada da China em Buenos Aires também respondeu às declarações do secretário norte-americano. Em nota oficial, classificou os comentários como uma “calúnia maliciosa”.

O episódio se insere em um contexto de disputas entre China e Estados Unidos por influência geopolítica e econômica na América Latina.

Em meio à intensificação das tensões bilaterais, o Brasil tem desempenhado um papel estratégico, especialmente em setores como infraestrutura, energia e aviação civil. A aproximação entre Brasília e Pequim se intensificou nos últimos anos, com acordos comerciais, investimentos diretos e missões diplomáticas mútua.

Em 2023, a China foi o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de um terço das exportações brasileiras.

O setor aeronáutico é considerado um dos eixos centrais para a expansão da cooperação bilateral, com a Embraer ocupando posição de destaque na estratégia do governo brasileiro de diversificar mercados e ampliar a presença internacional da indústria nacional.

A recusa do governo chinês em confirmar a interrupção de compras da Boeing coincide com uma fase de reavaliação de sua política industrial, diante de pressões externas e sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos.

O país asiático tem buscado alternativas comerciais e fortalecido alianças estratégicas com países do Sul Global, em especial na América Latina, África e Sudeste Asiático.

Ao priorizar declarações sobre o Brasil durante a coletiva desta quarta-feira, Pequim sinaliza que a parceria com Brasília no setor aéreo pode ganhar novo impulso. Embora o contrato com a Embraer ainda não tenha sido formalizado, a continuidade das tratativas e os gestos diplomáticos reforçam a expectativa de avanço nas negociações.

¨      Embaixada chinesa criticou comentários de senadores americanos sobre interferir na cooperação astronômica entre China e Chile

A Embaixada da China no Chile se opôs firmemente na quinta-feira às recentes ações e declarações dos EUA sobre um projeto de cooperação astronômica China-Chile, condenando-as como “comportamento totalmente novo da Doutrina Monroe”.

Durante uma recente audiência no Senado dos EUA, o embaixador indicado Brandon Judd desconsiderou a soberania do Chile e seu direito de escolher seus parceiros, alegando que ele buscaria “restringir o acesso da China aos recursos chilenos”. No mesmo evento, a senadora americana Jeanne Shaheen criticou a cooperação astronômica China-Chile.

Além disso, a ex-embaixadora dos EUA no Chile Bernadette Meehan pressionou o governo chileno a cancelar o projeto de cooperação astronômica China-Chile Transient Objects Monitoring (TOM) antes de deixar o cargo.

Em sua declaração, a Embaixada da China detalhou o projeto TOM, abreviação de Transient Objects Monitoring, que se concentra na astronomia do domínio do tempo e visa observar fenômenos como supernovas, explosões de raios gama, contrapartes de ondas gravitacionais e objetos do sistema solar usando telescópios de levantamento.

Este projeto é de grande importância, visando desvendar questões fundamentais como a origem e evolução das estrelas, a natureza dos buracos negros, o estado das estrelas de nêutrons e a origem dos elementos superpesados ​​no universo, afirmou a embaixada.

Muitos instrumentos de pesquisa como o TOM estão espalhados pelo mundo, afirmou a embaixada em um comunicado. No Chile, há o grande telescópio de pesquisa sinótica (LSST) no Observatório Vera C. Rubin, que foi instalado em janeiro deste ano com investimento do governo dos EUA, bem como o levantamento de trânsito de próxima geração no Observatório do Paranal, uma colaboração entre o Chile e países europeus.

Além disso, existem projetos importantes como o Pan-STARRS nos EUA, o Sloan Digital Sky Survey, o Catalina Sky Survey e o Mozi Wide Field Survey Telescope da China, todos os quais desempenham papéis fundamentais na exploração cósmica, afirmou.

O lado americano ignora deliberadamente que seu telescópio LSST no Observatório Vera C. Rubin é completamente consistente com a natureza científica do projeto TOM e cobre todos os objetivos da pesquisa científica, afirmou a embaixada.

Ao disseminar desinformação sobre o TOM e obstruir a cooperação científica normal entre China e EUA, o projeto está adotando um comportamento totalmente novo, semelhante à Doutrina Monroe.

O projeto TOM é uma iniciativa colaborativa entre o Observatório Astronômico Nacional da Academia Chinesa de Ciências e a Universidade Católica do Norte, baseada em interesses mútuos e conduzida sob os princípios de igualdade, benefício mútuo, abertura e transparência, informou a embaixada.

Em conformidade com as leis e regulamentações chilenas, o projeto será construído em conjunto. Após a conclusão, ambas as partes não apenas realizarão observações conjuntas, mas também solicitarão publicamente solicitações de observação de instituições astronômicas internacionais, compartilharão o tempo de observação e se envolverão em pesquisas colaborativas.

Além disso, o projeto apoiará a divulgação científica e a educação em astronomia no Chile e na América Latina, organizando seminários científicos e realizando atividades educacionais para jovens, de acordo com a embaixada.

 

Fonte: O Cafezinho/Global Times

 

Nenhum comentário: