Trump
retrocede 200 anos ao chamar América Latina de “quintal”
O
governo de Donald Trump retrocedeu mais de 200 anos ao chamar a América Latina
de seu “quintal”. Em declaração à Fox News, o secretário de Defesa de Trump,
Pete Hegseth, disse que o líder norte-americano está “pegando o seu quintal de
volta”, ao se referir aos países ao sul do continente.
O
conceito é de 1823, dois séculos atrás, quando a Doutrina Monroe foi criada nos
Estados Unidos, em uma missão de expandir os territórios, tomando os países do
Caribe.
“O
governo Obama tirou os olhos do alvo e permitiu que a China se infiltrasse em
toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural. O
presidente Trump disse: ‘Isso não vai mais acontecer, estamos retomando o nosso
quintal’.”
Em
editorial que analisa a repetição do retrocesso pelo governo Trump, o jornal
chinês Global Times afirmou que os EUA “desacreditam” da autonomia dos países
da América Latina e tentam forçar as nações a “tomarem partido”: apoiando ou a
China ou os Estados Unidos, em uma “farsa da ‘Doutrina Monroe'”.
Segundo
o diretor do Centro de Direito da Região da América Latina e Caribe da
Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito, Pan Deng, em entrevista ao
periódico chinês, é mentira que a presença militar da China na América Latina é
“grande demais”.
“São os
EUA que mantêm uma presença militar substancial, operando atualmente cerca de
76 bases militares na região”, informou.
Por
outro lado, o país elogia a parceria e cooperação que tem com os países
latino-americanos: “a cooperação vantajosa para ambas as partes é a
palavra-chave nas relações China-América Latina”.
“Nos
últimos anos, a cooperação econômica e comercial entre a China e a América
Latina se aprofundou e produziu resultados concretos. Do Porto de Chancay, no
Peru, ao Projeto Fotovoltaico Mauriti, no Brasil, e dos produtos agrícolas
latinoamericanos aos eletrodomésticos e automóveis de fabricação chinesa, o
caminho para uma cooperação vantajosa para ambas as partes está se ampliando.”
Contrapondo-se
ao discurso do Secretário de Defesa dos EUA, “a China acolhe com satisfação a
cooperação que genuinamente promova o desenvolvimento”, expressou a publicação.
E
concluiu:
“Se os
EUA continuarem a abordar os assuntos latino-americanos do ponto de vista e dos
princípios da Doutrina Monroe — difamando a cooperação legítima da China
enquanto interferem nas escolhas independentes das nações latino-americanas e
tentam controlá-las, apegando-se a sonhos coloniais ultrapassados para dificultar a
cooperação vantajosa para todos —
isso só irá corroer ainda mais sua própria influência
na região.”
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Sul Global deve apostar em regionalismo contra as crises
vindas do Norte, diz economista russo Yaroslav Lisovolik
A saída
para preservar o controle sobre as riquezas do Sul Global e a região se
proteger das crises sistêmicas vindas do mundo desenvolvido é o regionalismo
econômico, tendo o Brics como ferramenta ideal para isso. A opinião foi emitida
pelo economista russo Yaroslav Lisovolik nesta sexta-feira (10), último dia da
conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social,
realizada em São Paulo (SP).
Na mesa
Nova Arquitetura Financeira, que discutiu alternativas ao uso exclusivo do
dólar no sistema financeiro mundial, Lisovolik explicou que o sistema atual não
oferece proteção para as crises globais, como a do subprime de 2008, a da
pandemia e a atual, criada pela ameaça de tarifas de Donald Trump. Ele
argumenta que o papel exercido hoje por instituições criadas na conferência de
Brett Woods em 1944 (FMI e Banco Mundial) e controladas por interesses das
grandes economias ocidentais deveria ser diluído de forma mais regional. Mas
como?
“Na
minha opinião, é o regionalismo. Blocos regionais no sistema financeiro e no
sistema comercial que podem apoiar a arquitetura econômica global. Muitos se
referiram à importância de reunir os recursos do Sul Global em nível regional
e, por meio dessa agregação, criar plataformas que tenham uma maior influência
e impacto na economia mundial”, disse.
Lisovolik
explica que iniciativas regionais como o Mercosul e a União Africana – que
aderiu ao G20 como bloco – têm muito mais poder de negociação do que nações
individuais, além de capacidade e intencionalidade de levar progresso aos seus
membros do que instituições cada vez mais fracas e obsoletas como a Organização
Mundial do Comércio (OMC).
“Fundos
regionais têm muito mais conhecimento de questões locais específicas,
informações sobre economias locais”, explica. “Este nível de governança
tornaria tudo mais estável. Tenho defendido a formação de um G20 regional, que
reúna blocos de integração regional com maior representação do Sul global e
maior inclusão para economias menores nessa plataforma global.”
“Essas
plataformas regionais estão revertendo a desorganização cumulativa — regiões
mais desenvolvidas estão se tornando mais avançadas e as desfavorecidas não
estão alcançando tanto sucesso — novas plataformas precisam lidar com essa
questão. Entre os benefícios dessas plataformas regionais estão maior inclusão,
menos politização, as instituições regionais seriam menos politizadas, menos
imersas em questões políticas reais.”
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Brics
Yaroslav
Lisovolik sugere que esses bancos e plataformas regionais poderiam ser ligadas
ao Brics. “Falando de bancos regionais de desenvolvimento ou acordos regionais
de financiamento, isso poderia ser unido aos países do Brics, abrindo
possibilidades para economias de pequeno e médio porte participarem dessas
plataformas e o BRICS+ seria um formato que poderia abrir possibilidades para
mais países. O NBD [banco do Brics, presidido por Dilma Rousseff] poderia ser o
nó de coordenação para bancos regionais de desenvolvimento.”
Lisovolik
explica que a proposta NDB+ envolve um círculo de parceiros e instituições
aliadas que incluiria, em primeiro lugar, bancos regionais de desenvolvimento
do Sul Global. “Inclui uma gama mais ampla de instituições para ajudar a
cofinanciar necessidades significativas de desenvolvimento de países em
desenvolvimento. O NDB parece estar caminhando nessa direção: criação de
centros regionais e possibilidade de ampliar projetos de investimento.”
O
economista considera que o mundo caminha para uma ordem multipolar e o momento
oferece oportunidade única para o Sul Global participar da governança global,
“representada por instituições regionais”. “Seja Mandela sonhando com uma
África unida, Bolívar com uma América Latina unida, muitas escolas de
pensamento no Sul Global podem vislumbrar a criação e o progresso de uma
governança do Sul Global, assumindo o controle de seus recursos, que está
intimamente relacionado à esfera financeira.”
Entre
as propostas defendidas pelo economista, estão a criação de plataformas para
fundos soberanos, a criação de um mecanismo completo para apoio financeiro
integral às economias em desenvolvimento, a integração regional do Sul Global,
projetos regionais importantes e moedas regionais no Sul Global. “Promover
mecanismos de pagamento alternativos – bancos centrais com moedas digitais. O
círculo de aliados do NDB+ permite o cofinanciamento de projetos prioritários
de larga escala do Sul Global.”
Ele
aponta que uma das ideias em discussão dentro do Brics nesse sentido é a bolsa
de grãos, uma “alternativa às bolsas existentes nesse setor no mundo
desenvolvido”. “Um grupo de trabalho foi recentemente formado para liderar esse
esforço dentro do Brics, de criação de plataformas para a produção de
fertilizantes. Talvez outra modalidade dessas plataformas para a proteção
desses recursos, florestas tropicais,etc.”
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Tarifaço de Trump pode gerar perdas de até US$ 2 trilhões
à economia global em 2025
As
medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos durante o segundo mandato do
presidente Donald Trump podem provocar um impacto negativo de até US$ 2
trilhões na economia global apenas no ano de 2025. A projeção foi feita pela
professora associada Anastasia Prikladova, do Departamento de Negócios
Internacionais da Universidade de Economia Plekhanov, em entrevista à agência
Sputnik Brasil.
Segundo
a especialista, os efeitos da atual política comercial dos Estados Unidos,
centrada na elevação de tarifas de importação, já estão sendo sentidos por meio
da desaceleração econômica observada em diversos países.
Prikladova
avalia que, caso o cenário se restrinja a um período inferior a um ano, os
danos poderão ser contidos. “Se esse confronto chegar ao fim em um ano, talvez
não haja nenhum declínio sério na economia global. Porque essa terapia de
choque não pode durar muito tempo”, afirmou.
A
professora alertou que a manutenção das tarifas além de 2025 poderá agravar
significativamente o cenário econômico internacional.
“Se as
tarifas durarem mais de um ano, seu impacto sobre a economia mundial já será
mais grave”, disse. De acordo com suas estimativas, as perdas anuais poderão
variar entre dois e três trilhões de dólares, afetando principalmente os países
com maior integração nas cadeias globais de produção e comércio.
O
governo Trump justifica a política tarifária como um instrumento para promover
a reindustrialização dos Estados Unidos.
No
entanto, análises de economistas indicam que, ao invés de estimular o
crescimento, as medidas adotadas podem desencadear uma recessão global.
A
crise, neste caso, teria origem nas disputas comerciais entre grandes
potências, diferentemente do que ocorreu em 2008, quando o colapso partiu do
setor financeiro.
A
política de tarifas tem como alvo prioritário a China, maior parceiro comercial
dos Estados Unidos. As restrições impostas às importações de produtos chineses
afetam também terceiros países, fornecedores de matérias-primas, componentes e
serviços inseridos nas cadeias produtivas que abastecem o mercado
norte-americano.
Prikladova
comparou o atual quadro com o impacto econômico provocado pela pandemia de
Covid-19 e destacou a possibilidade de recuperação, desde que as barreiras
sejam retiradas em tempo hábil. “Haverá uma recuperação, ou seja, uma dinâmica
positiva – como ocorreu, por exemplo, após a Covid-19”, afirmou.
Os
efeitos da guerra tarifária sobre o comércio internacional têm sido
acompanhados por instituições multilaterais e observadores do mercado
financeiro.
Relatórios
recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fundo Monetário
Internacional (FMI) indicam uma desaceleração no volume de trocas globais,
influenciada por políticas protecionistas e pela incerteza nas relações entre
os principais blocos econômicos.
No
setor privado, empresas com atuação transnacional têm enfrentado dificuldades
logísticas e operacionais decorrentes da instabilidade nas regras de comércio.
A
redefinição de contratos, a adaptação a novas rotas de fornecimento e o aumento
dos custos de importação e exportação estão entre os principais reflexos
identificados nos últimos meses.
A
análise apresentada por Prikladova reforça o debate em curso sobre os impactos
da atual estratégia econômica dos Estados Unidos.
O
reposicionamento do país frente às normas de livre-comércio adotadas nas
últimas décadas tem provocado mudanças nos fluxos comerciais e alterado a
dinâmica entre as economias desenvolvidas e emergentes.
Até o
momento, a Casa Branca não apresentou sinalizações de flexibilização das
medidas tarifárias. A continuidade da política adotada dependerá do ambiente
político interno, da evolução das negociações com a China e da resposta das
demais economias afetadas.
A
avaliação sobre os efeitos da guerra tarifária está diretamente ligada à
duração do conflito comercial. A possibilidade de reversão das medidas em 2025
poderia limitar as perdas ao longo do ano e abrir caminho para uma recuperação
global em 2026.
No
entanto, caso o cenário se estenda, o impacto poderá comprometer o desempenho
de diversos países e dificultar a retomada do crescimento econômico mundial.
A
posição adotada pelos Estados Unidos nas próximas cúpulas econômicas
internacionais, incluindo reuniões do G20 e fóruns da OMC, será observada com
atenção por analistas e autoridades. O desfecho das negociações poderá
influenciar decisões de investimento, políticas industriais e estratégias de
integração comercial em diversas regiões.
A
professora Prikladova concluiu que a superação do atual impasse requer
articulação entre as grandes potências e disposição para restaurar os canais de
diálogo multilateral.
Para
ela, o fortalecimento de instituições de governança global será essencial para
evitar que disputas comerciais se transformem em crises prolongadas com
consequências estruturais.
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Cooperação China-Europa em meio à tempestade tarifária
dos EUA tem mais peso
À
medida que os Estados europeus navegam pelo atual período caótico, tendo como
pano de fundo a guerra comercial global iniciada pelos EUA, vale a pena
observar a trajetória do relacionamento da UE com a China.
Recentemente,
houve interações intensas entre a China e a UE, bem como seus Estados-membros.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, conversou por telefone com a presidente
da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na terça-feira. O primeiro-ministro
espanhol, Pedro Sánchez, visitará a China de quinta a sexta-feira. No início
desta semana, o presidente do parlamento finlandês, Jussi Halla-aho, também
visitou a China e, no final de março, o vice-presidente da Comissão Europeia e
comissário de Comércio e Segurança Econômica, Maroš Šefčovič, visitou a China.
Durante a visita de Sánchez ao Vietnã na quarta-feira, antes de sua viagem à
China, ele pediu à UE que revisasse seu relacionamento com a China.
Esses
esforços da UE e de seus Estados-membros para fortalecer o engajamento com a
China em meio à tempestade tarifária global enviaram um sinal positivo. Durante
o telefonema entre Li e von der Leyen, esta última afirmou que é crucial que as
relações UE-China mantenham a continuidade e a estabilidade nas circunstâncias
atuais. A mídia europeia notou que, mesmo antes da conversa, von der Leyen
havia sinalizado uma abordagem mais equilibrada em relação à China, sugerindo
espaço para um engajamento construtivo e potencial expansão comercial.
He
Zhigao, pesquisador do Instituto de Estudos Europeus da Academia Chinesa de
Ciências Sociais, disse ao Global Times na quarta-feira que a atitude de von
der Leyen em relação à China é, em parte, resultado da reavaliação da UE em
relação às suas relações com a China após o enfraquecimento dos laços de
segurança entre Europa e EUA e da aliança baseada em valores devido às
políticas adotadas pelo atual governo americano. Ele também observou que a UE
ainda demonstra uma mentalidade um tanto hesitante em lidar com a China.
Isso
pode ser observado em um debate recente entre os estados-membros da UE –
enquanto alguns defendem uma facilitação do comércio com a China, outros
expressam preocupações com a perspectiva de importações chinesas como
consequência indireta das tarifas americanas.
Em meio
a essa situação em rápida mudança, a Europa precisa manter a calma e adotar uma
abordagem construtiva em relação à China. A retórica típica dos EUA retrata a
China como uma rival comum tanto para os EUA quanto para a Europa, servindo, em
última análise, aos interesses dos EUA, enquanto posiciona a Europa como mero
trampolim na estratégia de contenção da China de Washington. Medos
injustificados em relação à China não ajudarão a Europa a lidar com os dilemas
que enfrenta, especialmente quando os EUA estão pressionando o mundo inteiro.
O apoio
conjunto da China e da Europa ao comércio aberto e à globalização é
particularmente vital, visto que o abuso de tarifas pelos EUA está causando
graves perturbações na ordem comercial global. “Não há conflito direto de
interesses entre a China e a Europa nos níveis estratégico e de segurança.
Ambas são defensoras do multilateralismo e da governança global. A cooperação
entre a China e a Europa agora tem mais peso e será de maior valor”, disse Xin
Hua, diretor do Centro de Estudos da União Europeia da Universidade de Estudos
Internacionais de Xangai, ao Global Times na quarta-feira.
Como o
premiê Li observou durante seu telefonema com o presidente da Comissão
Europeia, este ano marca o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a
China e a UE, e o desenvolvimento das relações bilaterais enfrenta importantes
oportunidades.
A China
e a UE enfrentaram desafios, enquanto interesses comuns impulsionam seu
relacionamento e o tornam mais resiliente. A cooperação entre os dois países
contribuirá para uma ordem mundial mais justa e equitativa.
Fonte:
Jornal GGN/O Cafezinho
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