sábado, 12 de abril de 2025

Trump retrocede 200 anos ao chamar América Latina de “quintal”

O governo de Donald Trump retrocedeu mais de 200 anos ao chamar a América Latina de seu “quintal”. Em declaração à Fox News, o secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, disse que o líder norte-americano está “pegando o seu quintal de volta”, ao se referir aos países ao sul do continente.

O conceito é de 1823, dois séculos atrás, quando a Doutrina Monroe foi criada nos Estados Unidos, em uma missão de expandir os territórios, tomando os países do Caribe.

“O governo Obama tirou os olhos do alvo e permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural. O presidente Trump disse: ‘Isso não vai mais acontecer, estamos retomando o nosso quintal’.”

Em editorial que analisa a repetição do retrocesso pelo governo Trump, o jornal chinês Global Times afirmou que os EUA “desacreditam” da autonomia dos países da América Latina e tentam forçar as nações a “tomarem partido”: apoiando ou a China ou os Estados Unidos, em uma “farsa da ‘Doutrina Monroe'”.

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Segundo o diretor do Centro de Direito da Região da América Latina e Caribe da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito, Pan Deng, em entrevista ao periódico chinês, é mentira que a presença militar da China na América Latina é “grande demais”.

“São os EUA que mantêm uma presença militar substancial, operando atualmente cerca de 76 bases militares na região”, informou.

Por outro lado, o país elogia a parceria e cooperação que tem com os países latino-americanos: “a cooperação vantajosa para ambas as partes é a palavra-chave nas relações China-América Latina”.

“Nos últimos anos, a cooperação econômica e comercial entre a China e a América Latina se aprofundou e produziu resultados concretos. Do Porto de Chancay, no Peru, ao Projeto Fotovoltaico Mauriti, no Brasil, e dos produtos agrícolas latinoamericanos aos eletrodomésticos e automóveis de fabricação chinesa, o caminho para uma cooperação vantajosa para ambas as partes está se ampliando.”

Contrapondo-se ao discurso do Secretário de Defesa dos EUA, “a China acolhe com satisfação a cooperação que genuinamente promova o desenvolvimento”, expressou a publicação.

E concluiu:

“Se os EUA continuarem a abordar os assuntos latino-americanos do ponto de vista e dos princípios da Doutrina Monroe — difamando a cooperação legítima da China enquanto interferem nas escolhas independentes das nações latino-americanas e tentam controlá-las, apegando-se a sonhos coloniais ultrapassados ​​para dificultar a cooperação vantajosa para todos isso só irá corroer ainda mais sua própria influência na região.”

¨      Sul Global deve apostar em regionalismo contra as crises vindas do Norte, diz economista russo Yaroslav Lisovolik

A saída para preservar o controle sobre as riquezas do Sul Global e a região se proteger das crises sistêmicas vindas do mundo desenvolvido é o regionalismo econômico, tendo o Brics como ferramenta ideal para isso. A opinião foi emitida pelo economista russo Yaroslav Lisovolik nesta sexta-feira (10), último dia da conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social, realizada em São Paulo (SP).

Na mesa Nova Arquitetura Financeira, que discutiu alternativas ao uso exclusivo do dólar no sistema financeiro mundial, Lisovolik explicou que o sistema atual não oferece proteção para as crises globais, como a do subprime de 2008, a da pandemia e a atual, criada pela ameaça de tarifas de Donald Trump. Ele argumenta que o papel exercido hoje por instituições criadas na conferência de Brett Woods em 1944 (FMI e Banco Mundial) e controladas por interesses das grandes economias ocidentais deveria ser diluído de forma mais regional. Mas como?

“Na minha opinião, é o regionalismo. Blocos regionais no sistema financeiro e no sistema comercial que podem apoiar a arquitetura econômica global. Muitos se referiram à importância de reunir os recursos do Sul Global em nível regional e, por meio dessa agregação, criar plataformas que tenham uma maior influência e impacto na economia mundial”, disse.

Lisovolik explica que iniciativas regionais como o Mercosul e a União Africana – que aderiu ao G20 como bloco – têm muito mais poder de negociação do que nações individuais, além de capacidade e intencionalidade de levar progresso aos seus membros do que instituições cada vez mais fracas e obsoletas como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Fundos regionais têm muito mais conhecimento de questões locais específicas, informações sobre economias locais”, explica. “Este nível de governança tornaria tudo mais estável. Tenho defendido a formação de um G20 regional, que reúna blocos de integração regional com maior representação do Sul global e maior inclusão para economias menores nessa plataforma global.”

“Essas plataformas regionais estão revertendo a desorganização cumulativa — regiões mais desenvolvidas estão se tornando mais avançadas e as desfavorecidas não estão alcançando tanto sucesso — novas plataformas precisam lidar com essa questão. Entre os benefícios dessas plataformas regionais estão maior inclusão, menos politização, as instituições regionais seriam menos politizadas, menos imersas em questões políticas reais.”

<><> Brics

Yaroslav Lisovolik sugere que esses bancos e plataformas regionais poderiam ser ligadas ao Brics. “Falando de bancos regionais de desenvolvimento ou acordos regionais de financiamento, isso poderia ser unido aos países do Brics, abrindo possibilidades para economias de pequeno e médio porte participarem dessas plataformas e o BRICS+ seria um formato que poderia abrir possibilidades para mais países. O NBD [banco do Brics, presidido por Dilma Rousseff] poderia ser o nó de coordenação para bancos regionais de desenvolvimento.”

Lisovolik explica que a proposta NDB+ envolve um círculo de parceiros e instituições aliadas que incluiria, em primeiro lugar, bancos regionais de desenvolvimento do Sul Global. “Inclui uma gama mais ampla de instituições para ajudar a cofinanciar necessidades significativas de desenvolvimento de países em desenvolvimento. O NDB parece estar caminhando nessa direção: criação de centros regionais e possibilidade de ampliar projetos de investimento.”

O economista considera que o mundo caminha para uma ordem multipolar e o momento oferece oportunidade única para o Sul Global participar da governança global, “representada por instituições regionais”. “Seja Mandela sonhando com uma África unida, Bolívar com uma América Latina unida, muitas escolas de pensamento no Sul Global podem vislumbrar a criação e o progresso de uma governança do Sul Global, assumindo o controle de seus recursos, que está intimamente relacionado à esfera financeira.”

Entre as propostas defendidas pelo economista, estão a criação de plataformas para fundos soberanos, a criação de um mecanismo completo para apoio financeiro integral às economias em desenvolvimento, a integração regional do Sul Global, projetos regionais importantes e moedas regionais no Sul Global. “Promover mecanismos de pagamento alternativos – bancos centrais com moedas digitais. O círculo de aliados do NDB+ permite o cofinanciamento de projetos prioritários de larga escala do Sul Global.”

Ele aponta que uma das ideias em discussão dentro do Brics nesse sentido é a bolsa de grãos, uma “alternativa às bolsas existentes nesse setor no mundo desenvolvido”. “Um grupo de trabalho foi recentemente formado para liderar esse esforço dentro do Brics, de criação de plataformas para a produção de fertilizantes. Talvez outra modalidade dessas plataformas para a proteção desses recursos, florestas tropicais,etc.”

¨      Tarifaço de Trump pode gerar perdas de até US$ 2 trilhões à economia global em 2025

As medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos durante o segundo mandato do presidente Donald Trump podem provocar um impacto negativo de até US$ 2 trilhões na economia global apenas no ano de 2025. A projeção foi feita pela professora associada Anastasia Prikladova, do Departamento de Negócios Internacionais da Universidade de Economia Plekhanov, em entrevista à agência Sputnik Brasil.

Segundo a especialista, os efeitos da atual política comercial dos Estados Unidos, centrada na elevação de tarifas de importação, já estão sendo sentidos por meio da desaceleração econômica observada em diversos países.

Prikladova avalia que, caso o cenário se restrinja a um período inferior a um ano, os danos poderão ser contidos. “Se esse confronto chegar ao fim em um ano, talvez não haja nenhum declínio sério na economia global. Porque essa terapia de choque não pode durar muito tempo”, afirmou.

A professora alertou que a manutenção das tarifas além de 2025 poderá agravar significativamente o cenário econômico internacional.

“Se as tarifas durarem mais de um ano, seu impacto sobre a economia mundial já será mais grave”, disse. De acordo com suas estimativas, as perdas anuais poderão variar entre dois e três trilhões de dólares, afetando principalmente os países com maior integração nas cadeias globais de produção e comércio.

O governo Trump justifica a política tarifária como um instrumento para promover a reindustrialização dos Estados Unidos.

No entanto, análises de economistas indicam que, ao invés de estimular o crescimento, as medidas adotadas podem desencadear uma recessão global.

A crise, neste caso, teria origem nas disputas comerciais entre grandes potências, diferentemente do que ocorreu em 2008, quando o colapso partiu do setor financeiro.

A política de tarifas tem como alvo prioritário a China, maior parceiro comercial dos Estados Unidos. As restrições impostas às importações de produtos chineses afetam também terceiros países, fornecedores de matérias-primas, componentes e serviços inseridos nas cadeias produtivas que abastecem o mercado norte-americano.

Prikladova comparou o atual quadro com o impacto econômico provocado pela pandemia de Covid-19 e destacou a possibilidade de recuperação, desde que as barreiras sejam retiradas em tempo hábil. “Haverá uma recuperação, ou seja, uma dinâmica positiva – como ocorreu, por exemplo, após a Covid-19”, afirmou.

Os efeitos da guerra tarifária sobre o comércio internacional têm sido acompanhados por instituições multilaterais e observadores do mercado financeiro.

Relatórios recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam uma desaceleração no volume de trocas globais, influenciada por políticas protecionistas e pela incerteza nas relações entre os principais blocos econômicos.

No setor privado, empresas com atuação transnacional têm enfrentado dificuldades logísticas e operacionais decorrentes da instabilidade nas regras de comércio.

A redefinição de contratos, a adaptação a novas rotas de fornecimento e o aumento dos custos de importação e exportação estão entre os principais reflexos identificados nos últimos meses.

A análise apresentada por Prikladova reforça o debate em curso sobre os impactos da atual estratégia econômica dos Estados Unidos.

O reposicionamento do país frente às normas de livre-comércio adotadas nas últimas décadas tem provocado mudanças nos fluxos comerciais e alterado a dinâmica entre as economias desenvolvidas e emergentes.

Até o momento, a Casa Branca não apresentou sinalizações de flexibilização das medidas tarifárias. A continuidade da política adotada dependerá do ambiente político interno, da evolução das negociações com a China e da resposta das demais economias afetadas.

A avaliação sobre os efeitos da guerra tarifária está diretamente ligada à duração do conflito comercial. A possibilidade de reversão das medidas em 2025 poderia limitar as perdas ao longo do ano e abrir caminho para uma recuperação global em 2026.

No entanto, caso o cenário se estenda, o impacto poderá comprometer o desempenho de diversos países e dificultar a retomada do crescimento econômico mundial.

A posição adotada pelos Estados Unidos nas próximas cúpulas econômicas internacionais, incluindo reuniões do G20 e fóruns da OMC, será observada com atenção por analistas e autoridades. O desfecho das negociações poderá influenciar decisões de investimento, políticas industriais e estratégias de integração comercial em diversas regiões.

A professora Prikladova concluiu que a superação do atual impasse requer articulação entre as grandes potências e disposição para restaurar os canais de diálogo multilateral.

Para ela, o fortalecimento de instituições de governança global será essencial para evitar que disputas comerciais se transformem em crises prolongadas com consequências estruturais.

¨      Cooperação China-Europa em meio à tempestade tarifária dos EUA tem mais peso

À medida que os Estados europeus navegam pelo atual período caótico, tendo como pano de fundo a guerra comercial global iniciada pelos EUA, vale a pena observar a trajetória do relacionamento da UE com a China.

Recentemente, houve interações intensas entre a China e a UE, bem como seus Estados-membros. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, conversou por telefone com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na terça-feira. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, visitará a China de quinta a sexta-feira. No início desta semana, o presidente do parlamento finlandês, Jussi Halla-aho, também visitou a China e, no final de março, o vice-presidente da Comissão Europeia e comissário de Comércio e Segurança Econômica, Maroš Šefčovič, visitou a China. Durante a visita de Sánchez ao Vietnã na quarta-feira, antes de sua viagem à China, ele pediu à UE que revisasse seu relacionamento com a China.

Esses esforços da UE e de seus Estados-membros para fortalecer o engajamento com a China em meio à tempestade tarifária global enviaram um sinal positivo. Durante o telefonema entre Li e von der Leyen, esta última afirmou que é crucial que as relações UE-China mantenham a continuidade e a estabilidade nas circunstâncias atuais. A mídia europeia notou que, mesmo antes da conversa, von der Leyen havia sinalizado uma abordagem mais equilibrada em relação à China, sugerindo espaço para um engajamento construtivo e potencial expansão comercial.

He Zhigao, pesquisador do Instituto de Estudos Europeus da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse ao Global Times na quarta-feira que a atitude de von der Leyen em relação à China é, em parte, resultado da reavaliação da UE em relação às suas relações com a China após o enfraquecimento dos laços de segurança entre Europa e EUA e da aliança baseada em valores devido às políticas adotadas pelo atual governo americano. Ele também observou que a UE ainda demonstra uma mentalidade um tanto hesitante em lidar com a China.

Isso pode ser observado em um debate recente entre os estados-membros da UE – enquanto alguns defendem uma facilitação do comércio com a China, outros expressam preocupações com a perspectiva de importações chinesas como consequência indireta das tarifas americanas.

Em meio a essa situação em rápida mudança, a Europa precisa manter a calma e adotar uma abordagem construtiva em relação à China. A retórica típica dos EUA retrata a China como uma rival comum tanto para os EUA quanto para a Europa, servindo, em última análise, aos interesses dos EUA, enquanto posiciona a Europa como mero trampolim na estratégia de contenção da China de Washington. Medos injustificados em relação à China não ajudarão a Europa a lidar com os dilemas que enfrenta, especialmente quando os EUA estão pressionando o mundo inteiro.

O apoio conjunto da China e da Europa ao comércio aberto e à globalização é particularmente vital, visto que o abuso de tarifas pelos EUA está causando graves perturbações na ordem comercial global. “Não há conflito direto de interesses entre a China e a Europa nos níveis estratégico e de segurança. Ambas são defensoras do multilateralismo e da governança global. A cooperação entre a China e a Europa agora tem mais peso e será de maior valor”, disse Xin Hua, diretor do Centro de Estudos da União Europeia da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, ao Global Times na quarta-feira.

Como o premiê Li observou durante seu telefonema com o presidente da Comissão Europeia, este ano marca o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a China e a UE, e o desenvolvimento das relações bilaterais enfrenta importantes oportunidades.

A China e a UE enfrentaram desafios, enquanto interesses comuns impulsionam seu relacionamento e o tornam mais resiliente. A cooperação entre os dois países contribuirá para uma ordem mundial mais justa e equitativa.

 

Fonte: Jornal GGN/O Cafezinho

 

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