Os
riscos e os benefícios de beijar na boca, segundo especialistas
vale
lembrar que, embora beijar seja algo maravilhoso, o ato também pode oferecer
riscos à saúde bucal de quem troca saliva. Então, antes de comemorar a data da
melhor maneira possível, o primeiro passo é higienizar bem a boca.
Segundo
a dentista Ianara Pinho, beijar é uma demonstração de afeto, mas pode acarretar
alguns problemas caso a saúde bucal não esteja em dia. Além de cuidar de si
próprio, é importante observar se o parceiro demonstra algum sintoma aparente
de coriza, febre ou aspecto de gripe, ou se tem alguma lesão no lábio.
Doenças
como herpes simples, gripes e resfriados, mononucleose infecciosa, covid-19 e
sarampo, entre outras, podem ser contraídas na hora do beijo. A dentista também
indica evitar múltiplos parceiros para cuidar de si mesmo e do próximo.
Em
relação à halitose, o mau hálito, Ianara explica que 90% das causas têm origem
bucal. “É importante averiguar como está a higienização não somente dos dentes,
mas também da língua”, acrescenta.
Ao
estimular a secreção de saliva – um dos fatores protetores para cárie e outros
problemas bucais – , Inara pontua que o beijo pode ser sim um fator protetor
para a saúde bucal. Apesar disso, a troca de saliva leva a um compartilhamento
considerável de microrganismos, não necessariamente prejudiciais. “Na maioria
dos casos, não representam risco significativo para a saúde, considerando que
as pessoas tenham boa saúde geral e bucal”, argumenta.
E as
vantagens?
Em
aspectos positivos, a dentista Anna Karolina Ximenes destaca que o beijo
estimula e libera hormônios importantes para o bem estar, como oxitocina,
dopamina, endorfina e adrenalina. Isso, segundo a psicóloga Alessandra Araújo,
resulta em uma sensação de dever cumprido e prazer.
Para
pessoas que usam aparelho ortodôntico, o cuidado deve ser redobrado. No caso de
aparelhos fixos, o acúmulo de biofilme (placa bacteriana) é maior. A dentista
recomenda sempre escovar os dentes, usar fio dental e enxaguante bucal antes e
depois do beijo.
Vale
lembrar que o HPV pode ser transmitido pelo beijo. Anna Karolina aconselha a
evitar beijar pessoas com lesões visíveis na boca ou próximas ao lábio. “Em
caso de dúvidas, consulte um dentista ou médico.”
• Da boca para dentro: como a saúde oral
afeta o organismo como um todo
A falta
de dentes revela muito mais do que uma higiene bucal deficiente. Peças-chave do
sistema mastigatório, incisivos, caninos, molares e pré-molares estão
associados a funções que ultrapassam os limites da boca. Perdê-los, segundo
pesquisas, é um fator de risco não apenas para patologias orais, mas está
relacionado à mortalidade por todas as causas.
A
conexão entre periodontite e doenças cardiovasculares já é bem conhecida.
Porém, mesmo na ausência da infecção, os estudos mostram que a perda de dentes
influencia o risco não só de infarto e acidentes vasculares, mas de uma
variedade de condições, como desnutrição, obesidade, síndrome da fragilidade,
depressão e até demência.
Um dos
maiores estudos a relacionar o edentulismo — perda dental — à mortalidade em
geral foi realizado por pesquisadores chineses na Coreia do Sul, com 220.189
pessoas acima de 40 anos. Os participantes foram separados por grupos, segundo
o número de dentes perdidos.
Após
ajustar fatores que poderiam influenciar o desenvolvimento de doenças, como
tabagismo, sedentarismo e histórico familiar, os pesquisadores da Universidade
de Sichuan, na China, descobriram que, entre aqueles com mais de três dentes
perdidos, o risco de mortalidade por todas as causas foi 1,19 vez maior,
comparado a quem tinha uma dentição mais preservada. Doenças metabólicas,
digestivas e traumas foram as principais razões de óbito nesse grupo.
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Hipóteses
A
relação não é de causa e efeito, esclarece Fabíola Bof de Andrade, pesquisadora
de saúde pública na Fundação Oswaldo Cruz, em Minas Gerais (Fiocruz Minas).
Doutora em odontologia, ela é autora de estudos que investigam os impactos da
perda de dentes na saúde em geral. "Há muitas pesquisas do tipo
desenvolvidas ao redor do mundo e entendemos que as evidências apontam para a
existência de uma associação. Porém, os mecanismos causais ainda não são
completamente elucidados, embora existam hipóteses."
A
pesquisadora é autora correspondente de um artigo publicado na revista
Brazilian Oral Research, que constatou uma relação estatística significativa
entre o edentulismo total e a mortalidade de idosos por qualquer causa. O
estudo incluiu 1.687 participantes a partir de 60 anos, acompanhados por 11
anos. Desses, 47,2% não tinha nenhum dente natural na boca.
Feitos
os ajustes de fatores de risco, a expectativa de vida dos participantes foi
menor naqueles com edentulismo total. Ou seja, considerando pessoas com as
mesmas doenças, hábitos e condições socioeconômicas, a mortalidade era maior
entre as que não tinham dentes.
Publicada
na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, outra pesquisa recente, da
qual Fabíola Bof de Andrade é coautora, encontrou associação entre a ausência
da dentição natural e o risco aumentado de fragilidade — maior vulnerabilidade
a quedas, hospitalização, incapacidade e morte — moderada e severa. O resultado
é consistente com estudos de outros países que investigaram essa relação.
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Nutrição
Segundo
a pesquisadora da Fiocruz Minas, embora não existam, ainda, comprovações sobre
os mecanismos biológicos que expliquem a associação do edentulismo com o risco
aumentado de mortalidade em geral, alguns fatores podem estar por trás dessa
relação. Entre aspectos os mais citados por pesquisadores, está o nutricional.
A falta
de dentes ou o uso de próteses mal ajustadas podem alterar significativamente a
dieta: além de restringir a alimentação, impedem a absorção de micronutrientes
essenciais à saúde. Um estudo experimental com pacientes da Faculdade de
Medicina Dental da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, encontrou um
risco 21% maior de desnutrição em pessoas com 10 a 19 dentes, comparado às com
a dentição mais preservada.
"A
boca é a porta de entrada para a ingestão de alimentos e líquidos",
comentou a autora principal do estudo, Rena Zelig, diretora do Programa de
Mestrado em Nutrição Clínica da Universidade de Rutgers. "Se sua
integridade for prejudicada, a capacidade funcional de um indivíduo de consumir
uma dieta adequada pode ser impactada negativamente."
A
pesquisadora também publicou, há três meses, um artigo baseado na análise
médica de 1.765 idosos e encontrou um aumento de 2% no risco de obesidade entre
aqueles com menos de 21 dentes. Cada par oposto de molares ausentes foi
correlacionado a uma chance 7% mais elevada do distúrbio metabólico. "Há
uma tendência de separar a saúde oral da saúde geral, mas a boca é, na verdade,
um espelho do organismo", comentou, em nota, Steven Singer, coautor do
estudo e presidente do Departamento de Ciências Diagnósticas em Rutgers.
>>>
Entrevista com João Palmieri, cirurgião-dentista
• Como explicar a relação da perda de
dentes com o risco de mortalidade?
Não é
uma questão de causa e efeito. A perda de dente não causa a morte precoce, mas
é fator de risco. Assim como é fator de risco para debilidade mental, doenças
metabólicas, disfunções nutricionais, para subnutrição. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) considera o edentulismo uma enfermidade, é uma doença. A
dentadura pode até dar conta social, mas, do ponto de vista funcional e
nutricional, ela não é capaz de devolver a força nem a coordenação necessárias
para a mastigação. O primeiro aspecto é esse. Hoje, nós também sabemos que o
nervo responsável pela mastigação, o trigêmeo, desempenha um papel-chave no
cérebro. É como se esse nervo exercesse um protagonismo no cérebro que, durante
muito tempo, ficou subestimado. Nós sabemos hoje que a mastigação de determinados
alimentos aumentam tremendamente o fluxo sanguíneo, um aumento de 20% na
irrigação no cérebro. E isso, principalmente, em uma área nobre chamada
hipocampo, que é responsável pelo armazenamento da memória, e também na região
da amígdala, responsável pelas emoções. É como se a mastigação fosse um
coadjuvante importante da função cerebral.
• De forma geral, as pessoas têm noção de
que a saúde oral vai além da boca?
A
importância de uma mastigação eficiente, a importância de um equilíbrio
mandibular, que eu chamo conforto oclusal, para o bem-estar do indivíduo não
deveria mais ser novidade. No Japão, existe uma campanha de promoção de saúde
oral desde 1989, a 8020, com a premissa de que, para chegar aos 80 anos, é
preciso ter, no mínimo, 20 dentes na boca. Sabemos que o Japão vem batendo
sucessivos recordes de centenários, e o que se vê lá é o envelhecimento
saudável, com qualidade de vida, autonomia, mobilidade, com a mente preservada.
Acho muito importante a classe odontológica estar atenta sobre seu papel como
profissional de saúde: a odontologia não é uma disciplina que cuida de um órgão
à parte, que não tem relação nenhuma com o indivíduo. O cuidado bucal é o cuidado
do indivíduo.
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Palavra de especialista // Gustavo Delmondes, cirurgião-dentista
"Muitos
reconhecem que a falta de higiene bucal pode causar cáries e perda de dentes,
mas poucos sabem que os impactos vão muito além disso. Problemas como gengivite
e periodontite podem liberar bactérias na corrente sanguínea, aumentando o
risco de doenças cardíacas, descontrole do diabetes e até complicações na
gravidez. Além disso, infecções bucais afetam o sistema respiratório, digestivo
e podem contribuir para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. A falta
de cuidado com os dentes pode até levar ao surgimento de infartos e tumores. A
necrose do nervo cria um ambiente propício para a proliferação de bactérias,
que, ao entrarem na corrente sanguínea, podem causar febre reumática e
inflamações em diversos órgãos, como o coração, olhos, nervos e articulações.
Na infância, cerca de 40% dos casos de febre reumática estão relacionados a
infecções bucais. O reumatismo pode desencadear uma endocardite, uma infecção
da membrana que reveste o coração. Muitos adultos que sofrem infartos sem
histórico prévio de problemas cardíacos, ao serem investigados, revelam ter
tido febre reumática na infância."
Fonte:
Correio Braziliense
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