quinta-feira, 17 de abril de 2025

Operação da PF visa políticos e mira esquema que contratou atores para espalhar fake news , no RJ

A Polícia Federal (PF) iniciou nesta quarta-feira (16) a Operação Teatro Invisível 2, sobre uma rede de desinformação que atuava no RJ em períodos eleitorais. Segundo as investigações, os atores contratados para encenar diálogos em locais de grande circulação a fim de influenciar o eleitorado foram pagos com o dinheiro público de contratos de serviços inexistentes.

A investigação busca recuperar cerca de R$ 3,5 bilhões de prejuízo causado aos cofres públicos.

Agentes saíram para cumprir 10 mandados de busca e apreensão — não há ordens de prisão. O prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), é um dos alvos. A Justiça ainda determinou o bloqueio nas contas dos investigados de valores que somam os R$ 3,5 bilhões e a suspensão das atividades econômicas de 8 empresas.

Também têm mandados de busca 2 candidatos a prefeito derrotados em 2024: o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que concorreu em São João de Meriti, e Aarão (PP), postulante em Mangaratiba. Rubão (Podemos), que disputou sub judice em Itaguaí, ficou em 1º, mas foi impedido de tomar posse, é outro alvo.

Há ainda mandados contra Davi Perini Vermelho, o Didê (PSDB), presidente do Instituto Rio Metrópole. Em junho de 2020, ao longo da pandemia do coronavírus, Didê chegou a ser preso durante uma operação contra fraude na compra de respiradores pelo governo de Santa Catarina. Ele foi apontado como o dono da empresa responsável pela venda dos aparelhos.

Na casa dele, no Recreio dos Bandeirantes, foi apreendido um relógio avaliado em R$ 39 mil.

O subsecretário de Eventos e Relações Institucionais do RJ, Rodrigo de Castro, é mais um alvo. Em 2020, ele foi investigado no inquérito do QG da Propina.

A PF foi para endereços na capital, Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e Juiz de Fora.

Veja o que disse a defesa dos investigados no fim da reportagem.

Alvos identificados:

•        Aarão de Moura Brito Neto, o Aarão, candidato derrotado à Prefeitura de Mangaratiba

•        Bernard Rodrigues Soares

•        Cristiano Almeida Leite

•        Davi Perini Vermelho, o Didê, presidente do Instituto Rio Metrópole

•        Renan Tadeu Fernandes Pontes

•        Roberto Pinto dos Santos

•        Rodrigo Santos de Castro, subsecretário de Eventos e Relações Institucionais do RJ

•        Rubem Vieira de Souza, o Dr. Rubão, candidato sub judice à Prefeitura de Itaguaí

•        Sérgio Luiz Costa Azevedo Filho, o Dr. Serginho, prefeito de Cabo Frio

•        Valdecy Dias da Silva, o Valdecy da Saúde, deputado estadual e candidato derrotado à Prefeitura de São João de Meriti

<><> Como o teatro foi pago?

A 2ª fase da Operação Teatro Invisível mira o financiamento das encenações. A PF descobriu que os atores eram pagos com o dinheiro de contratos genéricos firmados entre prefeituras com aquelas 8 empresas.

O grupo é suspeito de obstrução de justiça, caixa 2, fraude em procedimentos licitatórios e lavagem de dinheiro.

A PF apurou também que o grupo criminoso destruiu provas que poderiam incriminar seus integrantes, as quais estavam armazenadas, principalmente, em meios digitais.

As apurações também trouxeram evidências de que o grupo utilizou recursos não declarados à Justiça Eleitoral, a fim de favorecer candidatos políticos nas eleições de 2024.

“Além disso, observou-se que alguns dos investigados são proprietários de empresas que fraudaram o caráter competitivo de procedimentos licitatórios em quatro municípios RJ (Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e São João de Meriti)”, afirmou a PF.

“Há novas provas contundentes de atos de lavagem de dinheiro praticados de maneira sistemática pela organização criminosa. O esquema incluía transações ilegais por meio de contas de passagem, uso de dinheiro em espécie, empresas com vasta atividade econômica e a aquisição de bens de alto valor”, descreveu.

Se condenados pelos crimes cometidos, os investigados se sujeitarão a penas máximas que, somadas, podem ultrapassar 27 anos de reclusão.

<><> Relembre a 1ª fase

Em 12 de setembro do ano passado, a PF prendeu 4 pessoas. Com registros de atuação em pelo menos 13 cidades do estado, a quadrilha contratava atores para fazer um teatro de rua, com a intenção de influenciar o voto, sempre desmoralizando determinados candidatos.

Segundo a PF, os envolvidos criavam peças improvisadas de teatro político, com roteiros cuidadosamente pensados para parecerem espontâneos. Esses atores simulavam diálogos entre eleitores, brigas em comícios, denúncias falsas de corrupção e cenas de suposta violência ou vandalismo atribuídas a apoiadores de determinados políticos.

Tudo era gravado com celulares ou câmeras disfarçadas e depois disseminado de forma coordenada nas redes sociais — muitas vezes com legendas e montagens que reforçavam a falsidade.

O Fantástico trouxe detalhes do esquema, com depoimentos de atores que participaram das encenações. Um deles relatou ter recebido R$ 250 por dia para “atuar como eleitor indignado” em feiras livres e terminais de transporte. Outros admitiram que os roteiros muitas vezes envolviam temas sensíveis, como segurança pública, corrupção e questões raciais, o que aumentava o potencial de viralização nas redes.

Para especialistas em direito eleitoral e combate à desinformação, o caso da Operação Teatro Invisível representou uma nova fronteira no uso de fake news no Brasil, fundindo o mundo digital e o físico com o objetivo de manipular a percepção do eleitorado de forma teatralizada e difícil de rastrear.

•        O que dizem as autoridades

Por telefone, a assessoria de imprensa da Casa Civil afirmou que a comunicação do Palácio Guanabara responderia por Rodrigo de Castro.

>>> Prefeitura de Cabo Frio

“A Prefeitura de Cabo Frio informa que, até o momento, não dispõe de informações concretas sobre a operação mencionada. As apurações estão em andamento e, assim que houver dados confirmados e que digam respeito à atuação do prefeito do município, todos os esclarecimentos serão prestados com a máxima transparência e responsabilidade.

A administração municipal reitera seu compromisso com a verdade dos fatos e com o respeito à população cabo-friense.”

>>> Prefeitura de Mangaratiba

“Em relação ao questionamento feito pela Rede Globo sobre a operação da Polícia Federal realizada nesta data, no âmbito da Operação Teatro Invisível 2, a Prefeitura de Mangaratiba informa que não tem qualquer manifestação a fazer.

O objeto da operação envolve um ex-prefeito que não exerce mandato há cinco gestões. A atual administração não foi instada judicialmente, tampouco teve acesso aos autos para avaliar eventual impacto nos cofres públicos do município. Ressaltamos que a Prefeitura de Mangaratiba não foi citada no processo e não figura entre os alvos da investigação.

Diante disso, reafirmamos que a Prefeitura não tem nada a declarar sobre o assunto.”

>>> Prefeitura de Itaguaí

“A Prefeitura não tem um posicionamento sobre o assunto, pois não faz parte da gestão atual.”

>>> Instituto Rio Metrópole

“O Instituto Rio Metrópole informa que está ciente da operação policial realizada na manhã desta quarta-feira, 16, e, através de seu presidente, esclarece que:

1 – A operação realizada nesta manhã não envolve o Instituto Rio Metrópole e, conforme noticiado, tem como alvo a investigação sobre uma rede de desinformação que atuava em períodos eleitorais no estado do Rio de Janeiro;

2 - O presidente do Instituto Rio Metrópole, Davi Perini Vermelho, reafirma a inexistência de qualquer relação com o fato noticiado e que segue acreditando na justiça onde poderá se defender respeitando o devido processo legal;

3 – O Instituto Rio Metrópole reafirma seu compromisso com as políticas públicas desenvolvidas pelo órgão em prol da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, consequentemente, da melhoria de vida de sua população.”

>>> Rodrigo Castro

“A defesa afirma que recebeu com surpresa o envolvimento de seu nome ao inquérito e que ainda não teve acesso ao processo. Ele está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.”

>>> Dr. Rubão

“A assessoria de imprensa do prefeito eleito de Itaguaí Dr. Rubão diz que nenhuma empresa foi contratada com proposta de disseminação de fake news.”

•        PF indicia Bruno Henrique, do Flamengo, e outros nove por suposta manipulação em jogo

A Polícia Federal indiciou o jogador de futebol Bruno Henrique, do Flamengo, e outros nove suspeitos de envolvimento em um esquema para manipular apostas esportivas.

Segundo as investigações, o atleta forçou uma falta para cartão em um jogo contra o Santos, válido pelo Brasileirão de 2023, para supostamente favorecer parentes no mercado de apostas. O rubro-negro acabou expulso no fim da partida.

Em novembro de 2024, a PF cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça do Distrito Federal, nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG). Também são alvos o irmão de Bruno Henrique, a cunhada e 2 amigos.

Na época das buscas, Bruno Henrique preferiu não comentar o caso. O Flamengo disse em nota que confiava no jogador.

➡️ O indiciamento significa que a PF encontrou elementos suficientes para considerar que os citados cometeram crimes. O caso passa agora à análise do Ministério Público – que, se concordar com essa avaliação, pode denunciar os investigados à Justiça.

<><> STJD arquivou investigação

Em paralelo à investigação da Polícia Federal, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também investigou a conduta de Bruno Henrique. O caso foi arquivado em setembro de 2024.

O relatório do STJD é baseado em três pontos principais: 'Lance normal', 'lucro ínfimo' e 'prática corriqueira'.

No entendimento do tribunal, a jogada que provocou o cartão amarelo para o jogador "foi um lance comum" e poderia ser "interpretado como lance normal, sem falta".

Além disso, o procurador destacou que chamaria atenção a frieza do jogador para aguardar os acréscimos do segundo tempo do jogo para tomar o cartão.

Na visão do procurador, "o lucro das apostas seria ínfimo". O RJ2 teve acesso ao relatório do STJD sobre o caso. No documento, os valores mais significativos das apostas suspeitas variaram entre R$ 1,5 mil e R$ 3,05 mil, com um lucro máximo de R$ 6,1 mil.

<><> Veja quanto foi apostado nos cartões:

•        R$ 3,05 mil para ganhar R$ 9,150 mil (lucro de R$ 6,1 mil)

•        R$ 2,3 mil para ganhar R$ 7 mil (lucro de R$ 4,7 mil)

•        R$ 1,5 mil para ganhar R$ 4,55 mil (lucro de R$ 3,05 mil)

Em seu último argumento a favor do arquivamento, o procurador do STJD considerou que a prática de "forçar" cartões é corriqueira no Campeonato Brasileiro.

O argumento leva em consideração que o jogo seguinte ao cartão, ou seja, o jogo que Bruno ficou suspenso, foi contra o Fortaleza. Em seguida, o Flamengo entrou em campo contra o Palmeiras, um rival direto pela disputa do Campeonato Brasileiro naquele ano. Nesse jogo, o jogador investigado já estava livre para atuar, após cumprir a suspensão automática.

A defesa do atleta também utilizou esse mesmo argumento para negar qualquer manipulação envolvendo o jogador.

Os advogados de Bruno Henrique justificaram o grande volume de apostas no cartão amarelo afirmando ser comum jogadores que estejam "pendurados" - ou seja, com o número limite de cartões - cometerem faltas de propósito para cumprirem suspensão em jogos menos importantes.

A defesa do atacante disse que a informação de que ele estava "pendurado" era de conhecimento público. E que é natural imaginar um aumento significativo do volume de apostas feitas nesse sentido.

O STJD ainda pode reabrir o caso se a Polícia Federal e o Ministério Público Federal provarem o envolvimento do jogador em alguma irregularidade.

>>> O que diz o Flamengo

Veja a nota divulgada pelo Flamengo em novembro de 2024, quando Bruno Henrique e parentes foram alvo de buscas:

O Clube de Regatas do Flamengo tomou conhecimento, nesta data, da existência de uma investigação, ainda em curso, versando sobre eventual prática de manipulação de resultados e apostas esportivas.

O Clube ainda não teve acesso aos autos do inquérito, uma vez que o caso corre em segredo de justiça, mas é importante registrar que, ao mesmo tempo em que apoiará as autoridades, dará total suporte ao atleta Bruno Henrique, que desfruta da nossa confiança e, como qualquer pessoa, goza de presunção de inocência.

O Flamengo esclarece, por fim, que houve uma investigação no âmbito desportivo, perante o STJD, a qual já foi arquivada, mas não tem como afirmar que se trata do mesmo caso e aguardará o desenrolar da investigação.

O atleta segue exercendo suas atividades profissionais normalmente. Treina e viaja com a delegação nesta terça-feira, para Belo Horizonte.

•        Operação apreende dois adolescentes por incentivar crimes em lives na internet

Dois adolescentes, um de 15 e outro de 16 anos, foram apreendidos nesta quarta-feira (16) em uma operação que apura crimes como incentivo à automutilação e crueldade contra animais cometidos durante transmissões ao vivo pela internet.

As apreensões ocorreram nas cidades de Belo Horizonte e Ponte Nova, em Minas Gerais. Além disso, foi cumprido mandado de busca e apreensão em Açu, no Rio Grande do Norte.

As ações fazem parte da operação “Garmr”, realizada pelas polícias civis de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte, com o apoio do Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

De acordo com a investigação, os suspeitos administravam servidores onde aconteciam transmissões ao vivo, as chamadas lives, em que eram realizados crimes como automutilação e tortura de animais. Foi identificada ainda propagação de discursos de ódio.

Em uma das transmissões, segundo a investigação, uma adolescente de 15 anos torturou o afilhado, de cinco anos, atendendo a comandos dados pelos dois adolescentes.

Em outro caso, uma adolescente foi induzida a atear fogo no próprio braço. Já em um terceiro, uma adolescente se mutilou usando uma lâmina.

<><> Crimes cibernéticos

Nesta terça (15), uma outra operação, a Polícia Civil do Rio de Janeiro mirou grupo que praticava crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes em sete estados.

A lista de crimes desse grupo inclui crimes de ódio, pornografia infantil e tentativa de homicídio.

Dois mandados de prisão temporária foram cumpridos: um em Bauru, interior de São Paulo, e outro em Balneário Piçarras, em Santa Catarina. Além de sete mandados de internação provisória.

 

Fonte: g1

 

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