quinta-feira, 17 de abril de 2025

As pequenas empresas chinesas paralisadas pelas tarifas de Trump

"Trump é louco", diz Lionel Xu, rodeado pelos kits repelentes de mosquitos da sua empresa.

Seu produto chegou a ser um dos mais vendidos nas lojas do Walmart nos Estados Unidos. Agora, eles estão embalados em caixas, em um armazém na China.

E lá irão permanecer, a menos que o presidente americano Donald Trump retire sua tarifa de importação de 145% sobre todos os produtos chineses destinados aos Estados Unidos.

"É muito difícil para nós", lamenta ele. Cerca da metade de todos os produtos fabricados pela sua companhia, a Sorbo Technology, tem como destino os Estados Unidos.

É uma empresa pequena para os padrões chineses, que emprega cerca de 400 funcionários na província de Zhejiang, no leste do país. Mas não é a única a sentir os efeitos da guerra comercial.

"Estamos preocupados", prossegue Xu. "E se Trump não mudar de ideia? Será perigoso para a nossa fábrica."

Perto dali, Amy tenta vender máquinas de produção de sorvete da Guangdong Sailing Trade Company no seu estande. Seus principais compradores também estão nos Estados Unidos, incluindo o Walmart.

"Já suspendemos a produção", ela conta. "Todos os produtos estão no armazém."

A mesma história se repete em quase todos os estandes da extensa Feira de Cantão, no centro comercial de Guangzhou.

A BBC conversou com Xu enquanto ele se preparava para levar alguns compradores australianos para almoçar. Eles vieram procurar barganhas e esperam conseguir um desconto no seu produto.

"Vamos ver", diz ele, sobre as tarifas. Xu acredita que Trump irá voltar atrás.

"Talvez melhore daqui a um ou dois meses. Talvez, talvez." Xu cruza os dedos.

Na semana passada, Donald Trump suspendeu temporariamente a ampla maioria das suas tarifas de importação, após a forte queda das bolsas de valores globais e um movimento de venda no mercado de títulos da dívida pública americana.

Mas ele manteve as alíquotas destinadas a produtos chineses exportados para os Estados Unidos. Pequim respondeu impondo sua própria alíquota de 125% sobre a importação de produtos americanos.

Todas estas medidas desorientaram os negociantes das mais de 30 mil empresas que compareceram à feira anual para exibir seus produtos em diversos pavilhões, que totalizam uma área do tamanho de 200 campos de futebol.

Na seção de produtos domésticos, as empresas exibiram de tudo, desde máquinas de lavar até secadoras de roupas, de escovas de dentes elétricas a espremedores de frutas e máquinas de fazer waffles.

Compradores vieram de todas as partes do mundo, para ver os produtos pessoalmente e fechar negócios.

Mas o custo de uma batedeira ou de um aspirador de pó provenientes da China, com as tarifas de importação, ficou alto demais para a que a maioria das empresas americanas consiga repassar aos seus clientes.

As duas maiores economias do mundo chegaram a um impasse. E os produtos chineses destinados aos lares americanos, agora, estão se acumulando nos pisos das fábricas.

Os efeitos desta guerra comercial, provavelmente, serão sentidos nas cozinhas e nas salas de estar dos Estados Unidos, que, agora, precisarão comprar estes produtos a preços mais altos.

A China mantém sua postura desafiadora e prometer levar esta guerra comercial "até o fim". E alguns dos expositores da feira adotaram o mesmo tom.

Hy Vian procura comprar fogões elétricos para sua empresa e acredita que os efeitos das tarifas não são tão importantes assim.

"Se não querem que nós exportemos, eles que esperem. Já temos um mercado doméstico na China e daremos os melhores produtos primeiro para os chineses."

A China, de fato, tem uma grande população de 1,4 bilhão de pessoas. E, teoricamente, trata-se de um forte mercado doméstico.

Os legisladores chineses também tentaram estimular o crescimento da sua lenta economia, incentivando os consumidores a gastar. Mas a estratégia não está funcionando.

Muitas das pessoas de classe média do país investiram suas economias comprando a residência da família e viram o preço dos imóveis desabar nos últimos quatro anos. Agora, eles querem economizar dinheiro e não gastar.

A China pode estar em uma posição melhor para enfrentar esta tempestade do que outros países. Mas a realidade é que a economia do país ainda é voltada para a exportação.

No ano passado, as exportações foram responsáveis por cerca da metade do crescimento econômico do país.

A China também continua sendo a maior fábrica do mundo. O banco de investimentos americano Goldman Sachs calcula que cerca de 10 a 20 milhões de pessoas na China podem estar trabalhando com exportações destinadas apenas aos Estados Unidos.

E alguns desses profissionais já estão sentindo as consequências.

Não muito longe da Feira de Cantão, existem inúmeras oficinas em Guangdong que fabricam roupas, calçados e bolsas. Elas constituem o centro de fabricação de empresas como a Shein e a Temu.

Cada edifício abriga diversas fábricas em vários andares. Seus funcionários trabalham 14 horas por dia.

Em um pavimento perto das fábricas de sapatos, alguns trabalhadores se reúnem agachados para fumar e conversar.

"As coisas não vão bem", diz um deles, que prefere não revelar seu nome.

Seu amigo alerta para que ele pare de falar. Discutir dificuldades econômicas pode ser um tema sensível na China.

"Tivemos problemas desde a pandemia de covid e, agora, vem esta guerra comercial", ele conta. "Eu costumava receber 300-400 yuans (US$ 40-54, cerca de R$ 236-318) por dia e, agora, com sorte, ganho 100 yuans (cerca de R$ 79) por dia.

O trabalhador afirma que é difícil encontrar emprego no momento. Outros que fabricam calçados nas ruas também nos disseram que ganham apenas o suficiente para as necessidades básicas.

Alguns na China se orgulham dos seus produtos, mas outros enfrentam as dificuldades causadas pelo aumento das tarifas de importação e imaginam como esta crise irá terminar.

A China enfrenta a possibilidade de perder um parceiro comercial que compra mais de US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2,36 trilhões) em produtos todos os anos.

Mas as consequências também serão sentidas no outro lado do oceano. Economistas alertam que os Estados Unidos podem estar caminhando para a recessão.

Além de todas as incertezas, está o presidente Trump, conhecido por seu comportamento temerário. Ele continua pressionando a China, mas Pequim se nega a recuar.

A China declarou que não irá aumentar ainda mais a alíquota atual de 125% sobre os produtos importados dos Estados Unidos. Eles poderão retaliar de outras formas, mas esta decisão oferece aos dois lados um espaço para respirar, depois da semana que deu início a esta guerra comercial.

Existe pouco contato público entre Washington e Pequim e nenhum dos lados parece disposto a comparecer à mesa de negociação no futuro próximo. E, enquanto isso, algumas das empresas participantes da Feira de Cantão usam o evento para encontrar novos mercados.

Amy, por exemplo, espera que suas máquinas de produção de sorvete possam seguir para um novo destino.

"Esperamos abrir o novo mercado europeu", destaca ela. "Talvez a Arábia Saudita. E, é claro, a Rússia."

Outros acreditam que ainda seja possível ganhar dinheiro na China. Um deles é Mei Kunyan.

Com 40 anos de idade, ele conta que ganha cerca de 10 mil yuans (cerca de R$ 7,9 mil) por mês na sua fábrica de calçados, que vende para o mercado chinês. Muitos fabricantes importantes de calçados se mudaram para o Vietnã, onde os custos trabalhistas são mais baixos.

Mei também percebeu o mesmo que as empresas à sua volta estão descobrindo agora.

Para ele, "os americanos são muito complicados."

¨      Mesmo com tarifas, Índia quebra recorde histórico com exportações de US$ 821 bi

A Índia registrou nesta terça-feira (15) exportações recordes de mais de US$ 821 bilhões em 2024-25, impulsionadas por embarques saudáveis ​​de mercadorias e exportações robustas de serviços, apesar dos ventos contrários globais. O otimismo do governo em relação às perspectivas deste ano depende de acordos bilaterais ambiciosos de livre comércio com pelo menos dois países: os EUA e a União Europeia. O primeiro, em especial, é crucial, pois ajudará a Índia a se esquivar da tarifa recíproca imposta pelos EUA.

O presidente Donald Trump anunciou a tarifa de 26% sobre a Índia, mas suspendeu todas as tarifas recíprocas por 90 dias. A tarifa incremental atual sobre produtos indianos exportados para os EUA é de 10%.

Ao anunciar dados comerciais provisórios para o mês de março e para o ano fiscal completo de 2024-25, o secretário de comércio Sunil Barthwal disse que os dados de serviços para o mês de março são uma estimativa “conservadora” e que as exportações reais da Índia no ano fiscal de 2025 podem exceder US$ 821 bilhões.

De acordo com os dados, as exportações totais da Índia (mercadorias e serviços combinados) em 2024-25 foram de US$ 820,93 bilhões, em comparação com US$ 778,13 bilhões em 2023-24, registrando um crescimento de 5,5%.

As importações totais no ano fiscal de 2025 apresentaram crescimento de 6,85%, para US$ 915,19 bilhões, contra US$ 856,52 bilhões no ano fiscal de 2024, levando a um déficit comercial maior. O déficit comercial aumentou de US$ 78,39 bilhões em 2023-24 para US$ 94,26 bilhões em 2024-25, um aumento de mais de 20%.

Os dados mostraram que as exportações totais da Índia foram lideradas por serviços no ano fiscal de 2025, com o crescimento das remessas de mercadorias praticamente estável em US$ 437,42 bilhões, em comparação com US$ 437,07 bilhões no ano fiscal de 2024. As importações de bens, no entanto, aumentaram 6,2%, para US$ 720,24 bilhões no ano fiscal de 2025, contra US$ 678,21 bilhões no ano fiscal de 2024.

Os serviços foram o destaque, com as exportações superando as importações. A Índia exportou serviços no valor de US$ 383,51 bilhões no ano fiscal de 2025, em comparação com US$ 341,06 no ano fiscal de 2024, um aumento de 12,45%. As importações, por outro lado, apresentaram um aumento anualizado de 9,33%, de US$ 178,31 bilhões no ano fiscal de 2024 para US$ 194,95 bilhões no ano fiscal de 2025.

Autoridades do Ministério do Comércio afirmaram que o comércio em março deste ano permaneceu praticamente inalterado. Enquanto o crescimento das exportações de mercadorias em março permaneceu praticamente estável (cresceu marginalmente 0,67% em base anualizada), atingindo US$ 41,97 bilhões, as importações aumentaram 11,36%, atingindo US$ 63,51 bilhões no mês. O déficit comercial em março foi de US$ 21,54 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Comércio divulgados na terça-feira.

Os principais impulsionadores do crescimento nas exportações de mercadorias incluíram bens de engenharia, eletrônicos, produtos farmacêuticos, confecções e commodities agrícolas, como arroz, algodão, café, especiarias, chá e tabaco. “A Índia tem se saído extremamente bem”, disse Barthwal, citando a estratégia do governo de focar especificamente em 20 países, seis setores de mercadorias e seis setores de serviços, além de “interações contínuas” com partes interessadas, conselhos de promoção de exportações (EPCs), missões indianas no exterior e ministérios setoriais.

Falando sobre as tarifas recíprocas do governo dos EUA, que entraram em vigor em abril, ele disse que elas representam “desafios e oportunidades” para a Índia, pois os líderes dos dois países (o primeiro-ministro Narendra Modi e o presidente Donald Trump) decidiram negociar um acordo comercial bilateral (BTA) “mutuamente benéfico”. A meta é finalizar a primeira parcela do BTA até setembro-outubro de 2025, disse ele. Uma autoridade que pediu anonimato acrescentou que “as negociações entre a Índia e os EUA também podem ser concluídas antes do prazo, já que ambas as partes estão intensamente engajadas”.

Certamente, com os EUA cobrando uma tarifa de 145% sobre a China, e Pequim retribuindo com uma tarifa de 125% sobre produtos norte-americanos, o mundo está diante de uma possível guerra comercial entre suas duas maiores economias, embora países como a Índia também possam se beneficiar das oportunidades de substituir a China nas cadeias de suprimentos globais.

A autoridade acrescentou que também é provável que a Índia e a UE possam firmar um acordo de colheita antecipada e que um acordo de livre comércio mais abrangente seja negociado posteriormente, como foi o caso do TLC da Índia com a Austrália em 2022. Um esquema de colheita antecipada (EHS) normalmente precede um TLC abrangente entre dois parceiros e ajuda a gerar confiança. A Índia também está em processo de finalizar um TLC completo com o Reino Unido.

Aditi Nayar, economista-chefe e chefe de Pesquisa e Divulgação do ICRA, disse: “Os dados de exportação de mercadorias desmentiram as expectativas de um carregamento antecipado de remessas antes das tarifas propostas, contribuindo para um déficit maior do que o esperado”.

“As exportações totais da Índia cresceram saudáveis ​​5,5% no ano fiscal de 2024-25, refletindo a resiliência do setor exportador em meio às crescentes tensões geopolíticas globais e às interrupções comerciais, disse o presidente da FIEO, SC Ralhan. Ele, no entanto, pediu apoio estratégico para sustentar o impulso das exportações, em meio à guerra tarifária em curso.

 

Fonte: BBC News/Hindustan

 

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