UE
aprova novo tratamento contra o Alzheimer
A
Comissão Europeia aprovou nesta terça-feira (15/04) um medicamento para o
tratamento do Alzheimer: o Lecanemab, um anticorpo monoclonal que promete
retardar a evolução da doença em seu estágio inicial.
Trata-se
do primeiro medicamento na Europa que trata a doença degenerativa, em vez dos
sintomas dela.
A droga
atua se ligando aos amiloides, reduzindo a formação de placas da proteína
anormal no cérebro de pacientes – mas sem curar ou reverter danos causados pela
doença.
Seu
uso, porém, estará sujeito ao cumprimento de rigorosos critérios, e por isso
estará disponível apenas para um grupo restrito de pacientes.
Além de
ser autorizado apenas para tratamento de pequenas limitações cognitivas no
estágio inicial da doença, o medicamento só poderá ser usado por quem tiver
apenas uma ou nenhuma cópia do gene ApoE4. Isso porque esses pacientes
apresentam uma probabilidade menor de sofrer efeitos colaterais graves, como
inchaços e hemorragias no cérebro.
A droga
– de uso quinzenal e intravenoso – ainda deve demorar alguns meses até chegar
ao mercado, já que o fabricante foi obrigado a elaborar instruções detalhadas e
treinar médicos. A farmacêutica também terá que criar um cadastro de
observações.
• Riscos de uso da droga foram reavaliados
A
decisão da Comissão Europeia veio quatro meses depois de a Agência Europeia de
Medicamentos (EMA) reavaliar o medicamento após barrá-lo inicialmente alegando
alto risco de efeitos colaterais graves. A EMA concluiu que os benefícios
advindos do tratamento com o Lecanemab superam os riscos para um grupo
específico de pacientes, desde que sejam adotadas medidas para minimizar
eventuais riscos.
Nos
Estados Unidos, a droga – fabricada pela americana Biogen e a japonesa Eisai e
comercializada sob o nome Leqembi – foi aprovada em 2023 pelo órgão regulador
responsável, a FDA. Ela também já é comercializada no Japão e no Reino Unido.
Segundo
reportagem publicada pelo jornal americano New York Times em outubro de 2024, o
medicamento tem benefício limitado: desacelera o declínio cognitivo em
pacientes por cerca de cinco meses.
Especialistas
ouvidos pelo NYT também disseram temer que os riscos associados ao uso desse
tipo de droga anti-amiloide ainda não sejam totalmente compreendidos.
• Por que o tratamento contra o Alzheimer
ainda patina?
Cerca
de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem alguma forma de demência, categoria
que inclui o Alzheimer. Destas, dois terços vivem em países em desenvolvimento.
Com o envelhecimento da população, espera-se que esse número chegue a 139
milhões até 2050, com crescimento particularmente significativo na China,
Índia, América do Sul e na África Subsaariana.
O
desenvolvimento de medicamentos eficazes é desafiador porque muitos processos
cerebrais relacionados ao Alzheimer ainda não são totalmente compreendidos,
incluindo a razão pela qual as células cerebrais morrem em pessoas com a
doença.
• Estudo aponta novos caminhos
Pessoas
com Alzheimer têm um acúmulo de proteínas anormais no cérebro – conhecidas como
amiloide e tau. Mas até recentemente não se sabia qual era a relação direta
entre essas proteínas.
Pesquisadores
belgas e britânicos acreditam ter desvendado esse mistério. Um estudo publicado
em outubro de 2024 na revista científica Science aponta um elo direto entre
proteínas anormais que se acumulam no cérebro e a necroptose, um tipo de morte
celular.
A
necroptose normalmente atua em processos de defesa imunológica ou
inflamatórios, eliminando células indesejadas para permitir a formação de novas
células.
Quando
o fornecimento de nutrientes é interrompido, as células incham e suas membranas
plasmáticas se rompem, o que leva à inflamação e morte dessas células.
Segundo
o estudo, pacientes com Alzheimer têm células cerebrais inflamadas por causa do
acúmulo de amiloides anormais entre os neurônios, que alteram sua química
interna.
Esses
amiloides formam "placas", enquanto a proteína tau se acumula em
feixes fibrosos, ou "emaranhados". Isso leva as células cerebrais a
produzir uma molécula chamada MEG3 – que, ao ser bloqueada pelos pesquisadores,
salvou os neurônios da morte.
O
experimento utilizou células cerebrais humanas transplantadas para o cérebro de
camundongos, que haviam sido geneticamente modificados para produzir grandes
quantidades de amiloide anormal.
"É
a primeira vez que temos uma pista sobre como e por que os neurônios morrem na
doença de Alzheimer. Faz 30, 40 anos que se especula muito, mas ninguém
conseguiu identificar os mecanismos exatos", afirmou Bart De Strooper, um
dos autores do estudo e professor do Dementia Research Institute do University
College London.
• Esperança para novos medicamentos
Os
pesquisadores da KU Leuven, na Bélgica, e do Dementia Research Institute
britânico esperam que essas descobertas possam abrir novos caminhos para o
desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer.
Essa
esperança é reforçada pelos avanços recentes, como o medicamento Lecanemab, que
atua especificamente contra a proteína amiloide. Se medicamentos futuros
conseguirem bloquear a molécula MEG3, poderá ser possível interromper o
processo de morte celular no cérebro.
• Morar perto de áreas verdes reduz
declínio cognitivo na velhice
Viver
próximo da natureza na vida adulta pode reduzir a velocidade da perda cognitiva
mais tarde, revela um estudo publicado em julho no periódico Environmental
Health Perspectives. O resultado foi ainda mais expressivo em locais de baixo
índice socioeconômico, reforçando a importância das áreas verdes como um fator
ambiental capaz de ajudar a prevenir o declínio mental.
Segundo
os autores, já se sabe que o contato com a natureza está associado a menores
taxas de depressão, que é um fator de risco para demência. Além disso, áreas
verdes promovem mais oportunidades de atividade física e conexões sociais e
ajudam a reduzir o estresse. No entanto, há poucos estudos prospectivos sobre o
tema.
Para
avaliar essa relação, os autores do estudo — vinculados a diferentes centros de
pesquisa nos Estados Unidos — selecionaram quase 17 mil idosas participantes do
Nurses’ Health Study. Esse é um levantamento que acompanha mais de 120 mil
enfermeiras desde 1976, moradoras de 11 estados dos EUA. Elas foram submetidas
a testes cognitivos repetidos pelo menos quatro vezes entre 1995 e 2001.
Depois, foram monitoradas até 2008.
Imagens
de satélite revelaram a dimensão das áreas verdes nos locais em que elas viviam
cerca de nove anos antes do início dos testes cognitivos. Todos os resultados
foram cruzados levando em conta fatores como idade, nível socioeconômico e
diagnóstico de depressão.
Os
cientistas constataram que aquelas que já tinham um contato maior com a
natureza no começo do estudo demonstraram níveis mais altos de função cognitiva
nos primeiros testes e, ao longo da investigação, uma taxa mais lenta de
declínio mental.
O
estudo também correlacionou os achados com a presença do gene APOE-ɛ4, um fator de risco
conhecido para o desenvolvimento de Alzheimer, revelando que as portadoras
desse gene que moravam em áreas verdes também tiveram uma desaceleração no
declínio cognitivo.
“Quem
está perto da natureza se exercita mais, que é um fator protetor, e há também
maior exposição à luz solar, que beneficia o ciclo circadiano, a qualidade do
sono e a produção de vitamina D”, diz a geriatra Thais Ioshimoto, do Hospital
Israelita Albert Einstein. Ela lembra que dormir bem é muito importante para
preservação da memória. “Sem contar que o contato dos pés diretamente com o
solo, técnica chamada pelos americanos de grounding, em português
‘aterramento’, também vem sendo estudada como benéfica para a nossa saúde.”
Além
disso, cada vez mais estudos mostram o impacto da poluição do ar na
deterioração mental, não só a das grandes cidades, mas aquela provocada pela
combustão de madeira e outros materiais fósseis que libera o carbono negro, um
material nocivo. “Hoje sabemos que 45% dos fatores de risco para demência podem
ser prevenidos”, diz a geriatra do Einstein.
Ela
explica que a prevenção começa com uma boa educação ao longo da vida — e que
outros fatores conhecidos para prevenção de doenças cardiovasculares também
servem para a preservação da memória, como prática de atividade física, não
fumar, ter uma dieta saudável e rica em antioxidantes, controle adequado do
colesterol e diabetes.
“Esses
fatores servem para toda a população, desde os mais jovens. Nos indivíduos de
meia-idade e idosos, a prevenção da perda auditiva e perda visual são muito
importantes. Nos mais idosos, evitar o isolamento social é imprescindível”,
resume a médica.
Fonte:
DW Brasil/CNN Brasil

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