quinta-feira, 17 de abril de 2025

UE aprova novo tratamento contra o Alzheimer

A Comissão Europeia aprovou nesta terça-feira (15/04) um medicamento para o tratamento do Alzheimer: o Lecanemab, um anticorpo monoclonal que promete retardar a evolução da doença em seu estágio inicial.

Trata-se do primeiro medicamento na Europa que trata a doença degenerativa, em vez dos sintomas dela.

A droga atua se ligando aos amiloides, reduzindo a formação de placas da proteína anormal no cérebro de pacientes – mas sem curar ou reverter danos causados pela doença.

Seu uso, porém, estará sujeito ao cumprimento de rigorosos critérios, e por isso estará disponível apenas para um grupo restrito de pacientes.

Além de ser autorizado apenas para tratamento de pequenas limitações cognitivas no estágio inicial da doença, o medicamento só poderá ser usado por quem tiver apenas uma ou nenhuma cópia do gene ApoE4. Isso porque esses pacientes apresentam uma probabilidade menor de sofrer efeitos colaterais graves, como inchaços e hemorragias no cérebro.

A droga – de uso quinzenal e intravenoso – ainda deve demorar alguns meses até chegar ao mercado, já que o fabricante foi obrigado a elaborar instruções detalhadas e treinar médicos. A farmacêutica também terá que criar um cadastro de observações.

•        Riscos de uso da droga foram reavaliados

A decisão da Comissão Europeia veio quatro meses depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reavaliar o medicamento após barrá-lo inicialmente alegando alto risco de efeitos colaterais graves. A EMA concluiu que os benefícios advindos do tratamento com o Lecanemab superam os riscos para um grupo específico de pacientes, desde que sejam adotadas medidas para minimizar eventuais riscos.

Nos Estados Unidos, a droga – fabricada pela americana Biogen e a japonesa Eisai e comercializada sob o nome Leqembi – foi aprovada em 2023 pelo órgão regulador responsável, a FDA. Ela também já é comercializada no Japão e no Reino Unido.

Segundo reportagem publicada pelo jornal americano New York Times em outubro de 2024, o medicamento tem benefício limitado: desacelera o declínio cognitivo em pacientes por cerca de cinco meses.

Especialistas ouvidos pelo NYT também disseram temer que os riscos associados ao uso desse tipo de droga anti-amiloide ainda não sejam totalmente compreendidos.

•        Por que o tratamento contra o Alzheimer ainda patina?

Cerca de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem alguma forma de demência, categoria que inclui o Alzheimer. Destas, dois terços vivem em países em desenvolvimento. Com o envelhecimento da população, espera-se que esse número chegue a 139 milhões até 2050, com crescimento particularmente significativo na China, Índia, América do Sul e na África Subsaariana.

O desenvolvimento de medicamentos eficazes é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados ao Alzheimer ainda não são totalmente compreendidos, incluindo a razão pela qual as células cerebrais morrem em pessoas com a doença.

•        Estudo aponta novos caminhos

Pessoas com Alzheimer têm um acúmulo de proteínas anormais no cérebro – conhecidas como amiloide e tau. Mas até recentemente não se sabia qual era a relação direta entre essas proteínas.

Pesquisadores belgas e britânicos acreditam ter desvendado esse mistério. Um estudo publicado em outubro de 2024 na revista científica Science aponta um elo direto entre proteínas anormais que se acumulam no cérebro e a necroptose, um tipo de morte celular.

A necroptose normalmente atua em processos de defesa imunológica ou inflamatórios, eliminando células indesejadas para permitir a formação de novas células.

Quando o fornecimento de nutrientes é interrompido, as células incham e suas membranas plasmáticas se rompem, o que leva à inflamação e morte dessas células.

Segundo o estudo, pacientes com Alzheimer têm células cerebrais inflamadas por causa do acúmulo de amiloides anormais entre os neurônios, que alteram sua química interna.

Esses amiloides formam "placas", enquanto a proteína tau se acumula em feixes fibrosos, ou "emaranhados". Isso leva as células cerebrais a produzir uma molécula chamada MEG3 – que, ao ser bloqueada pelos pesquisadores, salvou os neurônios da morte.

O experimento utilizou células cerebrais humanas transplantadas para o cérebro de camundongos, que haviam sido geneticamente modificados para produzir grandes quantidades de amiloide anormal.

"É a primeira vez que temos uma pista sobre como e por que os neurônios morrem na doença de Alzheimer. Faz 30, 40 anos que se especula muito, mas ninguém conseguiu identificar os mecanismos exatos", afirmou Bart De Strooper, um dos autores do estudo e professor do Dementia Research Institute do University College London.

•        Esperança para novos medicamentos

Os pesquisadores da KU Leuven, na Bélgica, e do Dementia Research Institute britânico esperam que essas descobertas possam abrir novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer.

Essa esperança é reforçada pelos avanços recentes, como o medicamento Lecanemab, que atua especificamente contra a proteína amiloide. Se medicamentos futuros conseguirem bloquear a molécula MEG3, poderá ser possível interromper o processo de morte celular no cérebro.

•        Morar perto de áreas verdes reduz declínio cognitivo na velhice

Viver próximo da natureza na vida adulta pode reduzir a velocidade da perda cognitiva mais tarde, revela um estudo publicado em julho no periódico Environmental Health Perspectives. O resultado foi ainda mais expressivo em locais de baixo índice socioeconômico, reforçando a importância das áreas verdes como um fator ambiental capaz de ajudar a prevenir o declínio mental.

Segundo os autores, já se sabe que o contato com a natureza está associado a menores taxas de depressão, que é um fator de risco para demência. Além disso, áreas verdes promovem mais oportunidades de atividade física e conexões sociais e ajudam a reduzir o estresse. No entanto, há poucos estudos prospectivos sobre o tema.

Para avaliar essa relação, os autores do estudo — vinculados a diferentes centros de pesquisa nos Estados Unidos — selecionaram quase 17 mil idosas participantes do Nurses’ Health Study. Esse é um levantamento que acompanha mais de 120 mil enfermeiras desde 1976, moradoras de 11 estados dos EUA. Elas foram submetidas a testes cognitivos repetidos pelo menos quatro vezes entre 1995 e 2001. Depois, foram monitoradas até 2008.

Imagens de satélite revelaram a dimensão das áreas verdes nos locais em que elas viviam cerca de nove anos antes do início dos testes cognitivos. Todos os resultados foram cruzados levando em conta fatores como idade, nível socioeconômico e diagnóstico de depressão.

Os cientistas constataram que aquelas que já tinham um contato maior com a natureza no começo do estudo demonstraram níveis mais altos de função cognitiva nos primeiros testes e, ao longo da investigação, uma taxa mais lenta de declínio mental.

O estudo também correlacionou os achados com a presença do gene APOE-ɛ4, um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de Alzheimer, revelando que as portadoras desse gene que moravam em áreas verdes também tiveram uma desaceleração no declínio cognitivo.

“Quem está perto da natureza se exercita mais, que é um fator protetor, e há também maior exposição à luz solar, que beneficia o ciclo circadiano, a qualidade do sono e a produção de vitamina D”, diz a geriatra Thais Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein. Ela lembra que dormir bem é muito importante para preservação da memória. “Sem contar que o contato dos pés diretamente com o solo, técnica chamada pelos americanos de grounding, em português ‘aterramento’, também vem sendo estudada como benéfica para a nossa saúde.”

Além disso, cada vez mais estudos mostram o impacto da poluição do ar na deterioração mental, não só a das grandes cidades, mas aquela provocada pela combustão de madeira e outros materiais fósseis que libera o carbono negro, um material nocivo. “Hoje sabemos que 45% dos fatores de risco para demência podem ser prevenidos”, diz a geriatra do Einstein.

Ela explica que a prevenção começa com uma boa educação ao longo da vida — e que outros fatores conhecidos para prevenção de doenças cardiovasculares também servem para a preservação da memória, como prática de atividade física, não fumar, ter uma dieta saudável e rica em antioxidantes, controle adequado do colesterol e diabetes.

“Esses fatores servem para toda a população, desde os mais jovens. Nos indivíduos de meia-idade e idosos, a prevenção da perda auditiva e perda visual são muito importantes. Nos mais idosos, evitar o isolamento social é imprescindível”, resume a médica.

 

Fonte: DW Brasil/CNN Brasil

 

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