Rainha
do cangaço: confira 5 curiosidades sobre Maria Bonita
Maria
Bonita, um dos nomes mais icônicos da história do cangaço, se destacava por sua
personalidade forte, temperamento bem-humorado e atitudes ousadas para a época.
Contudo, sua trajetória revela uma figura complexa e multifacetada.
Essa
complexidade é abordada pela jornalista Adriana Negreiros no livro "Maria
Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço", que apresenta o cotidiano
do cangaço sob a perspectiva das mulheres, destacando suas vivências e
histórias ao lado de Lampião e seus companheiros. A seguir, confira cinco
curiosidades sobre essa histórica personalidade:
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1. Era casada
Nascida
Maria Gomes de Oliveira (1910–1938), a jovem também conhecida como Maria de Déa
era casada quando conheceu Lampião em 1929 e, no ano seguinte, decidiu
juntar-se ao bando.
Em
entrevista à BBC, em 2018, a pesquisadora apontou que a decisão foi motivada
pela atração que sentia por Lampião, que era visto como um “astro” e figura de
poder, além da perspectiva de uma vida menos monótona do que a que levava em
seu casamento.
Negreiros
destaca ainda que Maria Bonita foi a primeira mulher a integrar o grupo — e por
vontade própria.
"Era
uma mulher casada, de quem se esperava obediência ao marido. O Código Civil da
época previa isso - a mulher precisava de autorização do marido para trabalhar.
No entanto, ela era muito infeliz no casamento. O marido era um fanfarrão, não
era presente, nem muito viril. Ela se sentia sexualmente insatisfeita com ele.
Há indícios de que ela tinha um amante", destacou a autora do livro ao
veículo em 2018.
"Quando
ficava de saco cheio do marido, não ia chorar pelos cantos, ia para o forró,
dançar. Tinha uma personalidade mais espevitada mesmo. Ela era transgressora do
ponto de vista do comportamento, era corajosa nesse aspecto", pontuou.
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2. Morte e decapitação
Em
1938, Maria Bonita foi morta com Lampião e outros cangaceiros durante um ataque
das forças de segurança ao acampamento onde estavam. Ela foi decapitada e sua
cabeça foi exposta na Prefeitura de Piranhas (AL) como símbolo de triunfo
contra o cangaço.
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3. O mito da guerreira
Embora
muitas vezes considerada uma mulher que empunhava armas e lutava ao lado dos
cangaceiros, a realidade era diferente. A pesquisadora destaca que, na verdade,
as cangaceiras desempenhavam principalmente funções domésticas dentro do grupo,
enquanto os homens eram os protagonistas dos combates. Na realidade, nem todas
sabiam manejar armas.
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4. Comportamento transgressor
Maria
Bonita destoava das mulheres de sua época. No sertão dos anos 1920, ela
desafiava expectativas ao abandonar o marido e se envolver com Lampião. De
personalidade extrovertida e desinibida, gostava de festas e danças, falava
alto e não se importava com as críticas, mostrando um espírito livre que
impressionava e chocava ao mesmo tempo.
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5. Ícone feminista?
Mas,
apesar de suas atitudes ousadas, para Adriana Negreiros, Maria Bonita não pode
ser considerada um ícone feminista. Segundo a escritora, a cangaceira não tinha
consciência política ou de gênero e não se incomodava com a opressão sofrida
por outras mulheres. Em algumas situações, inclusive, apoiava punições
violentas contra aquelas que infringiam as regras do bando.
Assim,
embora tenha se tornado uma figura marcante na cultura popular brasileira,
Maria Bonita continua a ser uma personagem complexa e contraditória, dividida
entre seu espírito de liberdade e a submissão às regras rígidas do cangaço.
• Cangaço, joias e fim brutal: A
trajetória de Maria Bonita, segundo biógrafa
'Maria
e o Cangaço' estreou no catálogo da Disney+. A minissérie brasileira resgata a
história de Maria Bonita que ao lado de seu marido, Lampião, se tornou uma
lenda do sertão nordestino.
A
produção é uma adaptação do livro 'Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no
Cangaço', onde a jornalista e autora Adriana Negreiros foca na figura de Maria
Bonita como mãe e mulher — uma visão além do cangaço.
'Maria
e o Cangaço' mostra os dilemas da personagem entre seguir com a vida de uma
fora da lei e a vontade de construir uma família após descobrir sua gravidez.
Mas como era a vida de Maria Bonita no cangaço?
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Maria e o Cangaço
No
sertão, a vida feminina era rigidamente definida pelo casamento e pelas tarefas
domésticas, sem oportunidades de crescimento pessoal. Desde cedo, as meninas
eram preparadas para a vida conjugal, passando diretamente do domínio paterno
para o do marido.
Segundo
o livro "Bonita Maria do Capitão", de Germana Gonçalves de Araújo e
Vera Ferreira, para muitas, o cangaço surgiu como uma possibilidade de fuga
dessa monotonia, alimentando fantasias de aventura e riqueza. No entanto, a
realidade dentro dos bandos era marcada por regras severas e violência extrema.
As
mulheres só podiam ingressar se fossem companheiras de cangaceiros e, caso
ficassem viúvas, precisavam rapidamente encontrar outro parceiro para garantir
proteção. Do contrário, eram eliminadas. Além disso, enfrentavam abusos tanto
por parte dos próprios cangaceiros quanto da polícia, sem qualquer
possibilidade de denúncia ou amparo.
Foi
nesse cenário que Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, se
tornou pioneira ao integrar o cangaço. Nascida em 8 de março de 1911, em
Malhada da Caiçara, Bahia, era filha de José Gomes de Oliveira e Maria Joaquina
Conceição Oliveira.
Conforme
conta o livro 'Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço', da
jornalista Adriana Negreiros, ela era "morena clara, tinha cabelo e olhos
castanhos, nariz afilado, lábios finos, 1,56 metro de altura, um par de coxas
grossas (...) um certo achatamento da região glútea e os pés grandes e
esparramados".
Casou-se
aos 15 anos com o sapateiro Zé de Nenê, mas o casamento conturbado levou a
frequentes separações. "Maria podia passar incontáveis noites longe de
casa (quando o marido a traía) — muitas vezes depois de enfrentar a fúria dele,
que, aborrecido com os protestos da esposa, tentava lhe calar com tapas e
socos", escreve Negreiros.
Durante
essas crises, ela frequentemente retornava à casa dos pais em busca de refúgio
e apoio. Foi em uma dessas ocasiões que conheceu Virgulino Ferreira da Silva, o
Lampião. A paixão foi imediata e, desafiando as normas sociais da época,
decidiu abandonar o marido e seguir no cangaço.
No
ambiente cangaceiro, era chamada de Maria do Capitão ou Dona Maria. Há diversas
versões sobre a origem do apelido "Bonita", incluindo a possibilidade
de ter surgido da tradução de um termo francês em um folheto de cordel.
Sua
presença no bando de Lampiãoabriu caminho para outras mulheres, mas a vida ao
lado do líder exigia coragem e resistência. Apesar das dificuldades, Maria
Bonita se adaptou à dura realidade do cangaço, tornando-se uma figura
carismática e respeitada.
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Relacionamento
Segundo
Negreiros, o sexo no cangaço era raro e cercado por superstições. Nunca
acontecia às sextas-feiras ou em vésperas de mudança de esconderijo, por
exemplo. E, quando ocorriam relações, "em respeito ao Pai Eterno, os
cangaceiros tiravam do pescoço os colares com saquinhos de orações".
Apesar
da escassez de água, uma pequena quantidade era reservada para os banhos
íntimos das mulheres, enquanto os homens muitas vezes não se higienizavam e
transmitiam doenças venéreas adquiridas em cabarés.
Ao que
consta, Maria Bonitanunca sofreu violência de Lampião. No entanto, o cangaceiro
violentou muitas meninas. Negreiros conta que ele "tinha intenso prazer
(....) de estuprar uma mulher, enquanto ela chorava". Ele e seu bando
costumam fazer estupros coletivos e, na avaliação deles, "porque as
mulheres queriam".
Maria
Bonita e Lampião chegaram a ter uma filha, Expedita, nascida em setembro de
1931. Dias após o parto, a menina foi entregue a um casal de vaqueiros em
Sergipe. Há relatos de que Lampião, incomodado com o choro da criança, chegou a
cogitar matá-la. Todas as cangaceiras eram obrigadas a entregar seus bebês
ainda recém-nascidos, geralmente a fazendeiros, juízes ou padres.
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Ouro e joias
Maria
exibia algumas das joias mais caras que já circularam pelo sertão: "Em
volta do pescoço, exibia sete correntes de ouro (que pertenceram a uma baronesa
alagoana, cuja casa fora assaltada por Lampião)".
"As
mãos traziam anéis em quase todos os dedos. Reluzentes brincos de ouro faziam
conjunto com um broche do mesmo material, fixado ao tecido da vestimenta ou à
jabiraca, o lenço de seda usado junto aos colares", conta Negreiros.
O
cabelo ficava protegido por chapéus de feltro enfeitados com moedas, botões e
medalhas de ouro. Carregava um punhal de 32 centímetros, feito de prata, marfim
e ônix, um binóculo alemão e se perfumava com Fleurs d'Amour, da marca francesa
Roger & Gallet. Empunhava um revólver Colt calibre 38 e, no bornal, levava
maquiagem, sabonete e perfume.
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Morte
O fim
de Maria Bonita foi brutal. Ela foi executada sem possibilidade de defesa
durante uma emboscada policial. Além de ser alvejada, teve a cabeça decepada
ainda em vida. Seu corpo teria sido "abandonado com as pernas abertas e um
pedaço de madeira enfiado na vagina", conta o livro.
Sua
morte, porém, não apagou sua história. Pelo contrário, consolidou sua imagem
como um ícone da cultura popular brasileira, eternizando seu nome para além do
anonimato reservado a tantas outras mulheres do sertão.
Fonte:
Aventura na História
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