O
salto tecnológico da China que os americanos insistem em ignorar
Em
meio ao debate sobre o futuro da economia global, Thomas Friedman alerta:
enquanto os Estados Unidos se distraem com disputas internas, a China avança
rapidamente em setores estratégicos, consolidando uma vantagem que poucos em
Washington parecem querer enxergar.
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“Quando
voltei à China depois da pandemia, percebi que as empresas que antes faziam
celulares agora fabricam carros. Elas simplesmente colocaram smartphones sobre
rodas”, descreveu Thomas Friedman.
Há
alguns dias (15/abr), no podcast The Ezra Klein Show do New
York Times, Friedman compartilhou suas impressões mais recentes após
visitar o país asiático. Em especial, o jornalista destacou a aceleração da
inovação tecnológica chinesa nos últimos anos, especialmente em setores como
veículos elétricos (EVs), baterias e inteligência artificial (IA). O que ele
viu, conta, foi uma China em plena transformação — enquanto a percepção
americana ainda se baseia em estereótipos ultrapassados.
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Smartphones sobre rodas
Friedman
explicou que, para entender o salto chinês, basta observar o setor automotivo.
Empresas como Xiaomi e Huawei, originalmente fabricantes de celulares, migraram
rapidamente para a produção de carros elétricos inteligentes. “Quando eu estava
lá pela última vez, a Xiaomi era uma companhia de celulares. Agora eles são uma
montadora. A Huawei também”, relatou. Segundo ele, essas empresas não apenas
adaptaram suas tecnologias: elas criaram veículos profundamente integrados ao
ecossistema digital chinês.
O
jornalista contou, por exemplo, ter feito uma viagem num carro da Huawei onde o
passageiro podia conectar seu laptop a uma tela que descia do teto, acessar a
nuvem da empresa e até assistir a um show do Paul Simon em poucos segundos. “A
qualidade do som dentro do carro era melhor do que qualquer coisa que eu já
tenha ouvido em veículos americanos”, impressionou-se.
“Eles
colocaram o smartphone no carro, integraram tudo com inteligência artificial, e
criaram uma experiência totalmente nova de mobilidade digital.”
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A academia do futuro
Friedman
introduziu um conceito para explicar a dinâmica de inovação chinesa: o “China
Fitness Club”. Funciona assim: quando uma nova indústria promissora é
identificada — como painéis solares ou robótica — dezenas ou até centenas de
startups locais surgem, muitas vezes apoiadas por subsídios governamentais.
Essas empresas competem ferozmente entre si até que apenas algumas sobrevivem.
“É como
uma academia brutal de treinamento. Quem sobrevive dentro da China fica tão
preparado, tão eficiente, que depois conquista o mercado global”, resumiu.
O caso
da indústria de painéis solares ilustra esse processo: hoje a China domina o
mercado mundial após anos de competição interna feroz e massiva construção de
cadeias produtivas.
O que
torna o modelo ainda mais formidável, segundo Friedman, é o ecossistema de
suporte que se desenvolve em torno dessas indústrias. “Se você tiver a ideia
mais maluca para um produto — digamos, uma camisa com um botão que canta o hino
chinês ao contrário —, haverá alguém que fabricará esse botão para você
amanhã”, brincou.
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Inovação própria — e não só cópia
Uma
parte importante do relato de Friedman foi desmentir a ideia, ainda popular nos
círculos políticos americanos, de que a China só sabe copiar. Ele reconheceu
que houve espionagem industrial no passado, mas insistiu que a realidade atual
é diferente. “Se você conversa com empresas americanas e europeias que operam
na China, todas dizem a mesma coisa: hoje estamos aqui não só pelo mercado, mas
porque aqui está a inovação.”
Na
avaliação dele, a China já supera os EUA em vários campos: baterias, veículos
elétricos e infraestrutura para veículos autônomos. E na corrida pela
inteligência artificial, os dois países estão separados “por poucos meses, se
tanto”.
“Se
queremos ser competitivos no futuro, precisamos entender que eles não estão
brincando. Eles são muito sérios”, alertou.
Friedman
também fez uma provocação direta a políticos americanos, como o senador Josh
Hawley, que declarou que a China “não é capaz de inovar, apenas de roubar”:
“Então por que as principais montadoras europeias estão transferindo centros de
pesquisa para a China? Por que a Volkswagen diz que precisa estar lá para
acompanhar o que há de mais avançado?”
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O que os EUA estão perdendo
Em vez
de investir em reindustrialização e inovação, Friedman lamenta que a política
americana esteja consumida em guerras culturais internas e projetos pouco
estratégicos. “Se estivermos ocupados brigando sobre questões ideológicas
enquanto eles constroem o futuro, vamos ser atropelados”, advertiu.
Para
ele, a decisão de muitos políticos americanos de demonizar o desenvolvimento
tecnológico chinês, em vez de aprender com ele ou buscar uma resposta
estratégica, é suicida. Friedman citou o exemplo da Ford, que construiu uma
fábrica de baterias no Michigan com tecnologia chinesa da CATL. Em vez de ser
aplaudida, a empresa passou a ser atacada politicamente, enquanto concorrentes
chineses avançam.
“Não se
trata de querer ser a China. Trata-se de não querer ser irrelevante.”
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A corrida invisível
Outro
ponto importante abordado no podcast foi o grau de digitalização da sociedade
chinesa. Segundo Friedman, a China hoje é uma sociedade quase totalmente
cashless, em que até pedintes nas ruas aceitam doações via QR code. Essa
digitalização em massa cria uma base perfeita para a implementação rápida de
inteligência artificial em todos os setores.
“Eles
já têm a infraestrutura. Basta injetar IA na veia da economia. E essa
capacidade de integração vai acelerar tudo: carros, fábricas, bancos,
transporte.”
Enquanto
nos EUA ainda se discute como integrar pagamentos digitais, carros autônomos e
plataformas de IA, a China já está operando uma versão inicial desse futuro em
escala nacional.
<><> que está em jogo
No
encerramento do bloco, Friedman foi enfático: ignorar a transformação chinesa é
um erro que os Estados Unidos não podem mais cometer. A competição não é apenas
econômica, mas estratégica. E não haverá fórmulas mágicas: ou os EUA investem
pesado em educação, pesquisa, manufatura avançada e infraestrutura — ou
assistirão à perda gradual de sua liderança global.
“A
questão não é se gostamos ou não da China. É se vamos nos preparar para o mundo
que ela está ajudando a moldar.”
Está
sendo interessante acompanhar a desorientação, fúria, perplexidade dos
principais comentaristas liberais da grande mídia ocidental.
¨ China desenvolve
memória de computador 10 mil vezes mais veloz que os modelos mais avançados dos
EUA
Uma
equipe de pesquisa da Universidade Fudan construiu o dispositivo de
armazenamento semicondutor mais rápido já registrado, uma memória flash não
volátil chamada “PoX”, que programa um único bit em 400 picossegundos
(0,0000000004 s) — aproximadamente 25 bilhões de operações por segundo. O
resultado, publicado hoje na Nature, eleva a memória não volátil a um domínio
de velocidade anteriormente reservado às memórias voláteis mais rápidas e
estabelece um padrão para hardware de IA com grande demanda por dados.
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Quebrando o teto de velocidade
As RAMs
estáticas e dinâmicas convencionais (SRAM, DRAM) gravam dados em 1 a 10
nanossegundos, mas perdem tudo quando a energia é cortada. Os chips flash, por
outro lado, armazenam dados sem energia, mas normalmente precisam de
microssegundos a milissegundos por gravação — muito lento para os
aceleradores de IA modernos que desviam terabytes de parâmetros em
tempo real.
O grupo
Fudan, liderado pelo Prof. Zhou Peng no Laboratório Estadual de Chips e
Sistemas Integrados, reprojetou a física do flash substituindo canais de
silício por grafeno Dirac bidimensional e explorando seu transporte de carga
balística.
Ao
ajustar o “comprimento gaussiano” do canal, a equipe alcançou uma superinjeção
bidimensional, que é um surto de carga efetivamente ilimitado na camada de
armazenamento que ignora o gargalo de injeção clássico.
“Usando
a otimização de processos orientada por IA, levamos a memória não volátil ao
seu limite teórico”, disse Zhou à Xinhua, acrescentando que o feito “abre
caminho para futuras memórias flash de alta velocidade”.
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Um bilhão de ciclos em um piscar de olhos
O
coautor Liu Chunsen compara o avanço à transição de um disco USB que grava
1.000 vezes por segundo para um chip que dispara 1 bilhão de vezes em um piscar
de olhos. O recorde mundial anterior para velocidade de programação flash não
volátil era de cerca de dois milhões de operações por segundo.
Como o
PoX é não volátil, ele retém dados sem energia em modo de espera, uma
propriedade essencial para a IA de ponta da próxima geração e sistemas com
restrições de bateria . A combinação de energia ultrabaixa com velocidades de
gravação de picossegundos poderia eliminar o antigo gargalo de memória em
hardware de inferência e treinamento de IA, onde o transporte de dados, e não a
aritmética, agora domina os orçamentos de energia.
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Implicações industriais e estratégicas
A
memória flash continua sendo um pilar fundamental da estratégia global de
semicondutores devido ao seu custo e escalabilidade. O avanço da Fudan, segundo
os críticos, oferece um “mecanismo completamente original” que pode mudar esse
cenário.
Se
produzida em massa, a memória estilo PoX poderia eliminar caches SRAM de alta
velocidade separados em chips de IA, reduzindo área e energia. Ela pode
habilitar laptops e celulares de baixo consumo de energia e inicialização
instantânea, além de suportar mecanismos de banco de dados que armazenam
conjuntos de trabalho inteiros em RAM persistente.
O
dispositivo também pode fortalecer o esforço doméstico da China para garantir a
liderança em tecnologias de chips fundamentais . A equipe não divulgou números
de resistência ou rendimento de fabricação, mas o canal de grafeno sugere
compatibilidade com os processos de materiais 2D existentes que as fábricas
globais já estão explorando. “Nosso avanço pode remodelar a tecnologia de
armazenamento, impulsionar atualizações industriais e abrir novos cenários de
aplicação”, disse Zhou.
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O que acontece depois
Os
engenheiros da Fudan estão agora ampliando a arquitetura da célula e realizando
demonstrações em nível de matriz. Os parceiros comerciais não foram nomeados,
mas as fundições chinesas estão correndo para integrar materiais 2D com as
principais linhas CMOS.
Se for
bem-sucedido, o PoX poderá surgir como uma nova classe de memórias
ultrarrápidas e ultraverdes que atenderão ao crescente apetite dos aceleradores
de grandes modelos de linguagem, finalmente dando ao hardware de IA um meio de
armazenamento que acompanha sua lógica.
¨ China lança satélite
leve de alta resolução com foco em mercados da Iniciativa Cinturão e Rota
A
fabricante chinesa de satélites Chang Guang Satellite Technology Co anunciou a
ampliação de suas operações internacionais com a nova série de satélites de
sensoriamento remoto Kuanfu 02B, voltada especialmente para países
participantes da Iniciativa Cinturão e Rota, programa de infraestrutura
promovido pelo governo da China.
A
empresa afirma que o Kuanfu 02B tem capacidade para monitorar cidades grandes e
médias em uma única passagem orbital, como Pequim e Taipei, sem a necessidade
de múltiplas órbitas para composição de imagens. O modelo é equipado com
resolução submétrica de 0,5 metro e permite a fusão multiespectral, cobrindo
uma faixa de observação de até 150 quilômetros.
Segundo
informações da empresa, essa capacidade torna o Kuanfu 02B até dez vezes mais
eficiente do que satélites similares atualmente em operação, cuja cobertura
típica varia entre 5 e 20 quilômetros. A cobertura diária do novo modelo pode
superar 2 milhões de quilômetros quadrados.
Além da
capacidade técnica, o satélite apresenta redução significativa de peso em
comparação a seu antecessor. O Kuanfu 02B pesa 230 kg, frente aos 1.200 kg do
modelo Kuanfu 01. A redução, de acordo com a empresa, também resulta em
diminuição dos custos de produção e lançamento.
O
engenheiro-chefe Zhang Lei declarou que a empresa buscou, desde sua fundação há
11 anos, desenvolver satélites com alta performance técnica, mantendo custos,
consumo energético e peso em níveis baixos. A companhia investiu 1,4 bilhão de
yuans — cerca de US$ 192 milhões — em pesquisa e desenvolvimento para atender a
esses objetivos.
Entre
os avanços tecnológicos mencionados está a criação de uma câmera óptica com
quatro espelhos fora do eixo, que mantém a qualidade da imagem e da transmissão
de dados, com menor peso. A empresa também aplicou inovações semelhantes no
satélite de alta resolução Gaofen-06, reduzindo seu peso de 420 kg para 22 kg,
o que representou um corte de 95% nos custos.
Com 219
satélites lançados até o momento e atendendo clientes em mais de 170 países e
regiões, a Chang Guang tem buscado consolidar sua posição no setor de
sensoriamento remoto.
A
constelação Jilin-1, operada pela companhia, conta atualmente com 117 satélites
ativos em órbita, sendo a maior do mundo entre as redes comerciais submétricas
do setor. A meta é alcançar 300 satélites até 2027.
A
comercialização em larga escala, segundo a empresa, depende do avanço na
produção em massa. Para isso, a Chang Guang informa que possui capacidade
instalada para fabricar, anualmente, 200 satélites de sensoriamento remoto e
200 de comunicação.
A
companhia destaca que essa estrutura permite atender tanto à demanda dos
clientes quanto à expansão das atividades de empresas de lançamento.
De
acordo com informações disponibilizadas em seu site institucional, os satélites
da Chang Guang permitem aos clientes reduzir a dependência de fontes externas
de dados e obter controle sobre imagens de regiões estratégicas. A empresa
também oferece órbitas criptografadas e trajetórias personalizadas para
priorização de áreas específicas.
A venda
do novo satélite é direcionada, entre outros mercados, para países como Egito e
Paquistão, integrantes da Iniciativa Cinturão e Rota. No entanto, a companhia
reconhece que políticas de restrição dos Estados Unidos podem limitar as
negociações com determinados clientes.
Em
2023, o governo norte-americano incluiu a Chang Guang em uma lista de sanções,
sob a alegação de que a empresa teria fornecido imagens de sensoriamento remoto
à Rússia. A companhia não comentou diretamente a acusação, mas segue operando
com foco na expansão internacional.
A série
Kuanfu 02B foi projetada para aplicações de alta precisão, como monitoramento
territorial, controle de recursos naturais, gestão ambiental, agricultura,
administração hídrica e resposta a emergências. A empresa afirma que seis
satélites da série foram lançados em setembro e que os testes técnicos já foram
concluídos.
Segundo
a Chang Guang, os clientes poderão adquirir serviços de dados fornecidos pelos
satélites existentes ou encomendar unidades novas. Os preços variam conforme o
tipo de contrato e escopo da operação. A empresa também afirmou que oferece
suporte para o lançamento de satélites adquiridos integralmente por compradores
internacionais.
Fonte:
O Cafezinho

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