Leonardo
Attuch: Papa Francisco foi um grande amigo do Brasil e denunciou o lawfare
contra Lula
A morte do Papa Francisco nesta
segunda-feira, 21 de abril de 2025, deixa uma lacuna imensa não apenas para a
Igreja Católica, mas também para a América Latina e, em particular, para o
Brasil. Mais do que um líder espiritual, Jorge Mario Bergoglio foi um farol de
humanidade, justiça social e compromisso com os povos marginalizados do Sul
Global. Ao longo de seu pontificado, demonstrou de forma corajosa e inequívoca
ser um grande amigo do Brasil — e um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nos momentos mais sombrios da história recente do país.
Francisco jamais se calou diante da
injustiça. Quando Lula foi vítima de um processo viciado de lawfare, conduzido
por um sistema judicial politizado e manipulado por interesses estrangeiros, o
Papa tomou partido – e foi o partido da justiça. Em 2018, quando o então
ex-presidente se encontrava encarcerado de forma ilegal em Curitiba, Francisco
fez questão de enviar um sinal claro de solidariedade. O gesto de
presenteá-lo com um terço teve
grande repercussão e mostrou ao mundo que o líder da Igreja Católica não se
deixaria intimidar por pressões midiáticas ou geopolíticas. Naquela ocasião, o
Brasil 247, assim como outros veículos de comunicação independentes, noticiou
com destaque o gesto de Francisco. A reação veio rápida. Agências de
"checagem" ligadas a big techs tentaram desqualificar a informação
como se tratasse de “fake news” – mais uma tentativa de censurar vozes
dissonantes do monopólio informativo que sustentava a narrativa da Lava Jato.
Mas a verdade resistiu. Pouco tempo depois, o Papa Francisco escreveu uma
carta de próprio punho ao presidente Lula, ao
receber o livro “A verdade vencerá", das mãos do ex-chanceler Celso
Amorim.
A história logo provou que o Papa estava
certo: Lula foi libertado, teve seus direitos políticos restituídos e voltou à
Presidência da República pela vontade soberana do povo.
Em 2020, já em liberdade, Lula foi
recebido com honras no Vaticano. O
encontro, que selou uma amizade de longo alcance, teve profundo simbolismo. Era
mais do que uma visita de cortesia: era um ato de reparação moral e política,
uma reafirmação da dignidade de um homem e do projeto de justiça social que ele
representa. Francisco e Lula sempre estiveram do mesmo lado – o lado dos
pobres, dos trabalhadores, dos excluídos.Mas a afinidade entre ambos transcende
a política. Trata-se de uma comunhão de visões sobre o destino da América
Latina. Bergoglio sempre defendeu a integração dos povos latino-americanos, a
soberania diante do imperialismo e a luta contra a desigualdade. Em sua
encíclica Fratelli Tutti, condenou com veemência o "modelo de
descarte" promovido pelo capitalismo neoliberal, algo que dialoga
diretamente com a crítica feita por Lula às injustiças globais. Francisco
também apoiou com entusiasmo as iniciativas por uma economia de comunhão, de
solidariedade e de sustentabilidade.
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Papa Fancisco, peronista, torcedor do San Lorenzo,
admirador de Borges e do Brasil. Por
Márcia Carmo
A morte
do papa Francisco, o ex-cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aos 88
anos, comove o mundo e também a Argentina, país que não visitou durante seu
papado. Desde que assumiu o Vaticano no dia 13 de março de 2013, o pontífice
era esperado na terra onde nasceu e com a qual era identificado. Argentino
típico, era torcedor de futebol, adorava seu time San Lorenzo e tinha um humor
portenho. Na última entrevista, domingo, uma radialista lhe perguntou na Praça
São Pedro, como ele estava: “Sentado”, respondeu e riu. “E vivendo, como posso”.
Ele estava sentado no banco da frente do carro que o levava para casa. Seguidor
ferrenho do entramado político da Argentina, era admirador de Jorge Luis
Borges, imensamente solidário, com interesse e ouvidos para outros credos. Para
ele, a fé não se limitava à Igreja católica. Quando era bispo atendia
telefonemas de desamparados a qualquer hora do dia ou da noite. E caminhava
pelos bairros pobres, onde agora surgem as igrejas evangélicas pentecostais –
ainda longe da presença que existe no Brasil. Francisco era crítico das
desigualdades sociais, conhecia e admirava a trajetória do presidente Lula e
tinha clara a importância do Brasil, por sua história, por seu rebanho de
católicos e pelos amigos com os quais sentia sintonia espiritual, como Frei
Betto. “Perdemos o papa dos pobres”, disse o arcebispo de Buenos Aires, Jorge
García Cuerva, na manhã desta segunda-feira.
Nas
manifestações aqui em Buenos Aires é comum ver cartazes que dizem: “o Papa
Francisco é peronista”. O movimento peronista tem quase a idade que tinha o
papa Francisco, foi fundado há mais de oitenta anos. No Vaticano, ele recebeu
os ex-presidentes Cristina Kirchner, Alberto Fernández e Mauricio Macri. Com
Macri, não disfarçou que recebia alguém com quem não comungava as mesmas
ideias. A foto do papa com cara de poucos amigos gerou memes e debates na
Argentina. O presidente Javier Milei disse, quando era candidato à Casa Rosada,
que o papa era “o representante do maligno na Terra”. Mas a morte do pontífice,
nesta madrugada de segunda-feira, o levou a decretar sete dias de luto na
Argentina. Milei também planeja arrumar as malas para participar da cerimônia
de despedida no Vaticano. Uma reviravolta espiritual do presidente conhecido
por seus insultos contra os que não compartilham das suas ideias.
A
expectativa mais recente da possível visita do papa Francisco ao território
argentino, pouco antes de ele passar 38 dias internado, era que pudesse
desembarcar na capital argentina no segundo semestre deste ano. Viagem que
nunca foi confirmada por sua Santidade. Ele visitou o Brasil, onde disse aos
jovens: “façam ‘lio’ (bagunça). Esteve no Paraguai, no Chile, na Bolívia, no
Peru, no México. Nos seus quinze anos de gestão, foi a pelo menos dez países da
América Latina e do Caribe. Já são vários os livros e filmes sobre sua vida.
O livro
mais recente – “El loco de Dios en el fin del mundo” – foi escrito pelo
espanhol Javier Cercas, integrante da Real Academia Espanhola, que o acompanhou
em varias viagens. O autor, que é ateu, foi escolhido pelo próprio papa
Francisco, o líder espiritual que partiu numa segunda-feira de Páscoa.
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Francisco trouxe seriedade à religião. Por Eduardo
Guimarães
Não é
preciso falar muito para ressaltar a obra do portenho Jorge Mario Bergoglio.
Seu maior feito foi ter coragem de dizer o que nenhum outro líder religioso
diz, sua coragem em combater o deletério fanatismo religioso que empurra a
humanidade para o abismo.
Em um
mundo em que lideranças religiosas exploram o fanatismo e (literalmente)
demonizam os mais fracos, como os LGBTQIA+, as mulheres que recorrem a
interrupção das gravidezes que não podem levar adiante e as que são
transformadas em seres inferiores pelo patriarcado de extração medieval que
ainda infecta TODAS as sociedades, Francisco ousou defender os que não têm
voz.
Neste
momento, o mundo assiste, atônito, ao ódio insano de Donald Trump contra
populações homo e trans, chegando ao ponto de atacar instituições centenárias
como Harvard em sua sanha punitivista contra aqueles que não fazem mal a
ninguém ao serem quem são. Eis que Francisco levanta a voz e aponta o dedo da
razão e do amor ao próximo contra a ferocidade infernal do autocrata
estadunidense.
Francisco
atraiu o ódio do capitalismo selvagem ao dizer uma verdade que gente
supostamente mais civilizada que Trump quer esconder: o comunismo é a expressão
do que pregou Jesus Cristo nos textos históricos que contêm relatos sobre
aquele que o cristianismo reputa como Filho de Deus.
O
principal feito de Jorge Mario Bergoglio, ora imortalizado como Francisco, foi
tornar a religião o que ela deveria ser – e, raramente, o é. Amor ao próximo,
compaixão pelos mais fracos, voz dos que não têm voz, vez dos que não têm
vez.
O corpo
mortal de Francisco nos deixou, mas o seu espírito se agigantou com seu ocaso
físico, tornando-o imune ao ódio daqueles que ele combateu com amor,
serenidade, generosidade e uma força moral que torna inútil canhões,
bombas
e riqueza dos que tentam subjugar a humanidade aos seus desígnios
inconfessáveis.
Descansa
em paz, Francisco. Sua obra é imortal e você continuará vivo em cada um dos que
anseiam pelo mundo que você tentou ajudar a construir.
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O mundo chora Francisco, para quem “A misericórdia é o
cartão de identidade de Deus“. Por Washington Araújo
Segunda-feira
(21), às 7h35 da manhã, horário do Vaticano, o mundo deixou de ouvir uma das
vozes mais carismáticas e humanizadoras de nosso tempo: o papa Francisco.
Sua
morte, anunciada pelo cardeal Kevin Farrell e repercutida nas principais
emissoras e jornais do planeta, encerra um ciclo de doze anos em que a
esperança, a simplicidade e a compaixão encontraram um novo centro de gravidade
na Igreja Católica e, mais além, na consciência global.
Num
tempo ávido de generosidade, escutá-lo era respirar alívio, sorrir diante de
sua espontaneidade, renovar-se na possibilidade de um mundo guiado pela empatia
e não pela dureza dos fatos. O mundo, hoje, diminui um pouco sem seu pontífice
da ternura e da coragem serena.
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Da infância aos caminhos do Vaticano: a formação de um pastor
Francisco,
nascido Jorge Mario Bergoglio, veio ao mundo em 17 de dezembro de 1936, filho
de imigrantes italianos na populosa Buenos Aires. Antes de ingressar na vida
religiosa, trabalhou como técnico químico, vivenciando desde cedo as agruras e
a resiliência do povo argentino. Em 1958, respondeu à vocação e entrou para a
Companhia de Jesus, sendo ordenado sacerdote em 1969.
Suas
décadas seguintes foram marcadas por dedicadas funções de professor, formador,
provincial dos jesuítas na Argentina e, depois, bispo auxiliar e arcebispo de
Buenos Aires. Sua eleição como papa, em 2013 — a primeira de um jesuíta, de um
latino-americano, de um pontífice não europeu desde o século VIII — não foi
acidente: era o clamor de uma Igreja que buscava se reencontrar com sua
essência.
Ao
assumir o nome de Francisco, uma homenagem direta ao santo de Assis, já deixava
claro o desejo de viver e governar com humildade, uma Igreja despojada de
privilégios e focada em servir os últimos.
Escolheu
morar na Casa Santa Marta, recusando o luxo do Palácio Apostólico, e fez do
gesto concreto sua melhor tradução da doutrina cristã.
Visitou
favelas, lavou os pés de detentos, acolheu migrantes; propôs e encaminhou
reformas profundas na administração, finanças, comunicação e políticas internas
do Vaticano.
Não
raro, chocou a opinião pública ao inaugurar — com seu sorriso franco e bom
humor — uma postura pastoral ao lado dos marginalizados e no centro dos debates
dos nossos dias.
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Uma espiritualidade toda inclusiva
Em meio
à trajetória de Francisco, permito-me uma breve confissão pessoal. Minha origem
religiosa é o catolicismo romano; toda a minha infância e juventude foram
marcadas pelos valores aprendidos em colégios como o Nossa Senhora da Vitória e
o Nossa Senhora das Neves. Entretanto, aos 16 anos, me declarei bahá’í,
fascinado pela compreensão de que a religião é uma só porque Deus é o mesmo e
que ‘a Terra é um só país e os seres humanos seus cidadãos’. Aprendi que não é
razoável estabelecer distinções ou juízos de valor entre religiões, pois todas
compartilham um objetivo comum: a união da família humana e a promoção de um
mundo pacífico e justo. O que realmente importa é a conduta dos seguidores — se
bons ou maus — e, desde jovem, compreendi que há infinitos pontos de
convergência em todos os caminhos religiosos.
Todas
as tradições favorecem a criação de justiça social e solidariedade, ensinando
que somos como gotas do mesmo mar e folhas da mesma árvore, chamados a cultivar
o respeito e a fraternidade em toda a humanidade. Fato.
Foi
justamente por sua postura de diálogo que Francisco conquistou tanto católicos
quanto seguidores de outras fés. Desde o início de seu pontificado, buscou
construir pontes com líderes muçulmanos, judeus, bahá’ís, budistas, ortodoxos e
protestantes, tornando-se o protagonista de encontros históricos em prol da
compreensão e da paz mundial.
Francisco
foi incansável na coragem de enfrentar as crises internas da Igreja, como o
escândalo dos abusos sexuais, propondo maior transparência, justiça e
responsabilização de superiores eclesiásticos.
Em suas
encíclicas “Evangelii gaudium”, “Fratelli tutti” e, sobretudo, “Laudato si’”,
Francisco ofereceu não apenas orientações pastorais, mas também manuais de
esperança e ética para tempos de desafios ambientais, desigualdades e novas
formas de exclusão.
Sabia
usar o humor e o afeto — qualidades reconhecidas em perfis da BBC e do The New
York Times — como pontes para quem se sentia distanciado da Igreja. Temas
delicados, como a acolhida de homossexuais e divorciados, eram por ele pautados
numa linguagem desarmada:
“Quem
sou eu para julgar?”, eternizou para o mundo.
Para
Francisco, “a misericórdia é o cartão de identidade de Deus”.
Sua fé
extrema na justiça e na paz sempre foi acompanhada da profunda convicção de que
outro mundo é possível se a fraternidade for posta em prática.
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Legado, despedida e dor
A
notícia da morte de Francisco foi comunicada oficialmente após uma longa luta
contra uma pneumonia, agravada desde fevereiro de 2025. Nos últimos meses,
mesmo doente, insistiu em abençoar multidões — como fez na Praça de São Pedro
durante a Páscoa — e a transmitir tranquilidade àqueles à sua volta. Faleceu
aos 88 anos, na Casa Santa Marta; a repercussão global imediatamente evidenciou
a dimensão singular de seu pontificado.
Sua
ausência será sentida de maneira dolorosa em uma humanidade atravessada por
guerras, conflitos e incertezas. O mundo se despede de Francisco em meio a
múltiplas crises, perdendo uma de suas vozes mais confiantes na força do
diálogo, do perdão e do bem comum.
Ele
parte tendo deixado sementes de esperança, pontes entre razões, sorrisos que
confortam e um legado que desafia gerações a não se resignarem frente à
desesperança. Seu bom humor, simplicidade – visível até nos pequenos gestos
diários – e confiança absoluta de que a justiça e a paz podem vencer ecoarão
como consolo e convocação.
Hoje o
mundo encolheu um pouco. O papa Chico (carinhosamente assim referido por
milhões de sem-teto, refugiados e deserdados da Terra) parte com o dever
cumprido e com a certeza de ter devolvido à Igreja e ao planeta uma centelha de
dignidade, compaixão e unidade.
Deixa
atrás de si não apenas documentos e reformas, mas uma herança de ternura,
coragem e fé profunda no amanhã. Em meio ao choro e ao silêncio do adeus, há
uma certeza: Francisco sai de cena, mas sua vida dedicada à compreensão humana
e a paz mundial permanecerá em cartaz sendo encenada em todos os palcos do
mundo diariamente e por muito, muito tempo ainda.
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Legado de Francisco é mensurável por quem ri ou chora com
sua partida. Por Tiago Barbosa
O
legado humanitário do papa Francisco é mensurável por quem ri ou chora com a
sua partida.
Choram
os palestinos pelo silenciamento de uma voz ativa contra o genocídio.
Riem os
nazionistas por um mundo sem a contestação do extermínio em Gaza.
Choram
oprimidos pela intolerância acolhidos no papado sensível à diferença.
Riem os
intolerantes cevados no ódio e na incapacidade de amar o próximo como é.
Choram
os povos vítimas do capitalismo selvagem pela voz calada contra injustiças.
Riem as
potências sem o contraponto humanitário às espoliações e violências.
Chora a
periferia invisibilizada e excluída de um sistema combatido pela voz papal
Riem os
artífices da desigualdade e do mercado sem a divergência para maltratar.
Choram
os religiosos de verdade sem o guia por um mundo inclusivo e solidário
Riem os
empresários da fé mais livres para lucrar com a mercantilização da crença.
A
postura individual ou coletiva no adeus a Francisco dimensiona a relevância do
papa na busca por uma sociedade digna - à luz dos princípios cristãos e
humanitários.
A
reação é confissão da consciência - do lugar no mundo ao caráter da alma.
Fonte:
Brasil 247

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