sexta-feira, 11 de abril de 2025

A resposta dura da China aos EUA

O governo chinês divulgou nesta quarta-feira (09) um documento oficial detalhando sua posição sobre as relações econômicas e comerciais com os Estados Unidos, destacando os benefícios mútuos da cooperação bilateral e criticando as recentes medidas unilaterais e protecionistas adotadas pelo governo americano. O texto, intitulado “A Posição da China sobre Algumas Questões Relativas às Relações Econômicas e Comerciais China-EUA”, foi publicado pelo Escritório de Informação do Conselho de Estado da China e serve como uma resposta detalhada às recentes medidas protecionistas adotadas pelos EUA, incluindo tarifas adicionais, restrições tecnológicas e acusações infundadas.

O documento começa destacando a importância das relações econômicas entre China e EUA, que se expandiram significativamente desde o estabelecimento de relações diplomáticas em 1979. O volume comercial bilateral, que era de US$ 2,5 bilhões naquela época, atingiu US$ 688,3 bilhões em 2024. A China enfatiza que essa relação é mutualmente benéfica: empresas americanas como Tesla, Apple e Boeing encontraram no mercado chinês oportunidades de crescimento, enquanto consumidores dos EUA se beneficiaram de produtos acessíveis e diversificados. Além disso, a China é um dos principais destinos das exportações agrícolas americanas, como soja e algodão, e um mercado crucial para setores como semicondutores e produtos farmacêuticos.

No entanto, o governo chinês critica o que chama de “ascensão do unilateralismo e do protecionismo” nos EUA, especialmente após 2018, quando Washington iniciou uma série de tarifas sobre produtos chineses no valor de mais de US$ 500 bilhões. Essas medidas, segundo a China, violam os princípios da OMC e prejudicam não apenas a economia chinesa, mas também a global, ao desestabilizar cadeias de suprimentos e aumentar custos para consumidores e empresas.

·        O acordo comercial de fase um e as falhas dos EUA

Um dos pontos centrais do documento é a análise do Phase One Economic and Trade Agreement, assinado em janeiro de 2020. A China afirma ter cumprido suas obrigações, como fortalecer a proteção de propriedade intelectual, ampliar o acesso a produtos agrícolas americanos e abrir seu mercado financeiro. Por exemplo, mais de 600 empresas dos EUA foram autorizadas a exportar carne bovina para a China, e instituições financeiras como JPMorgan e Goldman Sachs obtiveram licenças para operar no país.

Em contraste, a China acusa os EUA de não cumprirem suas promessas, como reconhecer regiões chinesas livres de doenças aviárias e facilitar a entrada de produtos agrícolas chineses no mercado americano. Além disso, Washington teria intensificado restrições a empresas chinesas, como o TikTok, sob alegações de “segurança nacional”, e ampliado controles de exportação de semicondutores e inteligência artificial, prejudicando a cooperação tecnológica.

·        Críticas ao protecionismo e às tarifas dos EUA

O documento classifica as tarifas impostas pelos EUA sob a Seção 301 como “um exemplo clássico de unilateralismo”, citando uma decisão da OMC em 2020 que considerou essas medidas violações das regras comerciais. A China argumenta que as tarifas não reduziram o déficit comercial americano — que subiu de US$ 950 bilhões em 2018 para US$ 1,21 trilhão em 2024 — mas sim aumentaram custos para consumidores e empresas dos EUA.

Outro alvo de crítica é o uso abusivo de controles de exportação e sanções, como a Uyghur Forced Labor Prevention Act, que a China considera infundada e prejudicial a suas empresas. O texto também rebate as acusações sobre o fentanil, destacando que a China controla rigorosamente a exportação de substâncias relacionadas e que não há evidências de que elas cheguem aos EUA.

·        Defesa do multilateralismo e proposta de diálogo

A China posiciona-se como defensora do sistema multilateral de comércio, lembrando que, desde sua adesão à OMC em 2001, reduziu tarifas médias de 15,3% para 7,3% e eliminou subsídios à exportação de produtos agrícolas. O documento propõe que as diferenças sejam resolvidas através de “diálogo em pé de igualdade”, destacando que conflitos comerciais só geram perdas para ambos os lados.

A conclusão é um apelo à cooperação: “Guerras comerciais não têm vencedores, e o protecionismo é um beco sem saída”. A China enfatiza que seu desenvolvimento econômico é uma oportunidade, não uma ameaça, e que a estabilidade das relações sino-americanas é vital para a recuperação global.

·        Repercussão

O documento reflete a postura firme da China diante das pressões comerciais dos EUA, mas também deixa espaço para negociações. Enquanto Washington insiste em medidas como “tarifas recíprocas” e restrições tecnológicas, Pequim sinaliza que está disposta a dialogar, desde que haja respeito mútuo. A bola agora está no campo dos EUA: aceitarão o chamado chinês para um comércio mais equilibrado, ou insistirão em políticas que, segundo a China, só aprofundarão as crises econômica e geopolítica?

Neste embate entre as duas maiores economias do mundo, uma coisa é certa: as decisões tomadas nos próximos meses moldarão não apenas o futuro da relação bilateral, mas também os rumos da economia global.

¨      Provável ‘avalanche’ de produtos chineses no mercado global devido à sobretaxa americana preocupa indústria brasileira

A indústria brasileira está preocupada com uma possível consequência da sobretaxa americana nos produtos chineses.

China traçou o caminho do sucesso econômico quando escolheu ser o parque industrial do mundo. Com a força do trabalho da população, se tornou um exportador gigante.

E se um dia produto chinês já foi sinônimo de má qualidade, hoje o mundo tem uma opinião bem diferente e reconhece a tecnologia de ponta do que é produzido lá.

A chegada ao Brasil foi pelos camelôs - produtos de má qualidade, cópias baratas de marcas oficiais. Mas o "Made in China" avançou e foi parar nas etiquetas das roupas, nas peças de eletrodomésticos, nos eletroeletrônicos. Já tem marca em mandarim de celulares, carros elétricos, máquinas agrícolas, adubos e fertilizantes.

Na avaliação de economistas, a invasão chinesa de mercados pelo mundo pode ser o próximo capítulo da guerra tarifária.

O principal cliente, hoje, é o maior opositor. Mas com as sobretaxas americanas, a fatia que cabe aos Estados Unidos deve ir para outros mercados. O Brasil, por exemplo, 15º na lista de compradores.

É o que calcula a Casa Branca. Nesta quarta-feira (9), o secretário do Tesouro dos Estados Unidos explicou a estratégia:

"A economia chinesa é baseada em inundar o planeta com produtos baratos. O resto do mundo agora vai entender. Nossas exportações vão para os países do G7 e do Sul Global."

É um cenário provável, na opinião do especialista em relações internacionais Thiago de Aragão.

"Eles vão precisar manter a máquina industrial rodando. Então, você vai precisar desovar isso em algum lugar. O Brasil pode ser um destino de produtos que são necessários para o dia a dia, seja para indústria, sejam componentes, que pode acabar barateando o acesso desses produtos por parte da população. Mas, por outro lado, o Brasil também vai ser um destino cada vez maior de dumping chinês, que é jogar produto em determinado país, e isso já acontece com o Brasil e a tendência é que isso aconteça ainda mais. Fica muito difícil concorrer com a China por mil razões, pelo custo de produção na China que é muito mais baixo, pelos subsídios do Estado que são muito altos. O que para o consumidor é excelente, mas para disputa interna e com a indústria brasileira é problemático”, afirma Thiago de Aragão, CEO da Arko International.

Já está na conta da indústria.

"Para o conjunto da indústria, é um cenário de muita, muita atenção, de muita cautela e de muito esforço coletivo, público e privado, para que não venha a haver ainda mais prejuízos à indústria nacional”, afirmou Antônio Carlos Costa, superintendente da Fiesp.

Se trouxer na mala oportunidade de trabalho para os brasileiros, o desembarque chinês pode ser bom, explica o professor de relações internacionais Vinícius Vieira:

O Brasil pode negociar no futuro próximo com a China não a importação de produtos industriais, mas investimentos de fábricas chinesas, como já existem alguns inclusive no setor de carros elétricos, para que esses produtos sejam feitos aqui no Brasil”.

¨      Só eles podem! Secretário do Tesouro dos EUA critica tarifas chinesas e pressiona por negociação

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, classificou como “lamentável” a decisão da China de impor tarifas retaliatórias de 84% sobre produtos norte-americanos.

A declaração foi feita nesta quarta-feira, 9, em entrevista concedida à Fox Business Network, no contexto da escalada das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

Bessent afirmou que a medida representa uma derrota estratégica para Pequim e criticou a ausência de diálogo direto entre os dois governos. “Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque são os piores infratores no sistema de comércio internacional”, disse o secretário.

A nova rodada de tarifas foi anunciada pelo governo chinês no início da semana, em resposta ao aumento das taxas de importação imposto pelos Estados Unidos sobre produtos chineses. As tarifas de 84% atingem diversas categorias de bens exportados para a China, ampliando o atrito bilateral no comércio exterior.

Durante a entrevista, Bessent declarou que países aliados dos Estados Unidos manifestaram interesse em discutir com autoridades norte-americanas formas de reequilibrar a política comercial chinesa. “Essa é a grande vitória aqui. Os EUA estão tentando se reequilibrar em direção a mais manufatura. A China precisa se reequilibrar em direção a mais consumo”, afirmou.

O secretário também emitiu um alerta sobre uma possível desvalorização cambial promovida por Pequim como mecanismo de reação às tarifas. Segundo Bessent, uma medida dessa natureza poderia ter repercussões negativas para o comércio global.

“Se a China começar a desvalorizar, isso será um imposto sobre o resto do mundo e todos terão que continuar aumentando suas tarifas para compensar a desvalorização. Portanto, eu faço um apelo para que não façam isso e se sentem à mesa”, declarou.

Questionado sobre medidas adicionais que os Estados Unidos poderiam adotar em relação a empresas chinesas, Bessent não descartou a possibilidade de ações mais restritivas, incluindo a retirada de companhias chinesas das bolsas de valores dos Estados Unidos. “Todas as opções estão em pauta”, disse.

As declarações ocorrem em um momento de crescente tensão nas relações econômicas entre Washington e Pequim. Após a imposição de novas tarifas por parte dos Estados Unidos no mês passado, a China respondeu com a elevação das taxas de importação sobre bens norte-americanos. A decisão foi formalizada pelo Comitê de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado chinês e entrou em vigor na quinta-feira (10).

O embate comercial tem causado incerteza entre investidores e impactado os mercados globais. Analistas observam que a ausência de uma negociação formal entre os dois países dificulta a previsibilidade no fluxo internacional de mercadorias e investimentos.

A política de elevação tarifária adotada pelos Estados Unidos faz parte de uma estratégia mais ampla do segundo governo de Donald Trump, que tem buscado reduzir o déficit comercial com a China e incentivar o retorno da produção industrial ao território norte-americano. Ao mesmo tempo, o governo chinês tem adotado medidas para proteger seus setores estratégicos e garantir a estabilidade de suas exportações.

Autoridades norte-americanas têm reiterado que o objetivo das medidas não é interromper o comércio com a China, mas forçar mudanças estruturais na política econômica do país asiático.

A Casa Branca ainda não se pronunciou oficialmente sobre as últimas declarações de Bessent, mas fontes do Departamento de Comércio indicam que novas medidas poderão ser anunciadas nas próximas semanas, dependendo da evolução do conflito tarifário.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) acompanha os desdobramentos e já recebeu consultas formais de países terceiros sobre os impactos potenciais das tarifas cruzadas. Até o momento, não há previsão de reuniões multilaterais entre representantes dos dois países dentro do escopo da OMC.

Empresas multinacionais com operações nos Estados Unidos e na China seguem avaliando cenários e ajustando estratégias. Há relatos de redirecionamento de cadeias produtivas e suspensão de novos investimentos diante do risco regulatório.

O governo norte-americano não confirmou a existência de negociações em andamento com autoridades chinesas. A expectativa entre analistas de mercado é de que eventuais diálogos ocorram por meio de canais diplomáticos reservados, enquanto medidas unilaterais continuam sendo adotadas publicamente.

Em resposta ao agravamento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, empresas exportadoras chinesas começaram a cancelar embarques com destino ao mercado norte-americano, abandonando remessas em trânsito e entregando contêineres às transportadoras para evitar prejuízos decorrentes das tarifas adicionais impostas por Washington.

Segundo relatos de fontes ao SCMP, o movimento tem sido descrito internamente como uma “preparação para a Longa Marcha”, em referência a um período prolongado de dificuldades no comércio transpacífico.

As medidas se intensificaram após a decisão do segundo governo Donald Trump de elevar as tarifas sobre importações chinesas, que agora somam um total de 115%, considerando os novos 104% acrescidos neste ano.

Um funcionário de uma empresa exportadora listada na China, sob condição de anonimato, relatou que o volume diário de contêineres enviados para os Estados Unidos caiu drasticamente, passando de 40 a 50 unidades por dia para apenas três a seis.

“Suspendemos todos os planos de embarque das Filipinas, Vietnã, Indonésia e Malásia”, disse. “Todos os pedidos de fábrica estão suspensos. Tudo o que não foi carregado será descartado, e a carga que já está no mar está sendo recalculada.”

A elevação das tarifas pelos Estados Unidos provocou reação imediata do governo chinês, que anunciou medidas retaliatórias, além de afetar a atividade logística e comercial em diversos países da Ásia.

Exportadores chineses relataram que alguns clientes norte-americanos optaram por abandonar mercadorias já embarcadas. “Ninguém as compraria depois que as tarifas fossem impostas”, teria afirmado um comprador, segundo o funcionário.

Diante da instabilidade, a liderança da empresa retornou à China para lidar com cancelamentos em série e ordenou a suspensão de todos os negócios envolvendo contêineres destinados aos Estados Unidos.

“O prejuízo com cada contêiner que enviamos agora é maior do que o lucro que tínhamos com o envio de dois”, disse o funcionário. “Quem vai continuar fazendo isso? Estamos nos preparando mentalmente para o pior. Não haverá recuperação no curto prazo – provavelmente só em meados do ano que vem.”

Com a retração do mercado norte-americano, empresas exportadoras começaram a redirecionar sua atuação para regiões como Europa e Japão. A estratégia busca mitigar as perdas geradas pela guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo.

Dados oficiais indicam que a China foi a segunda maior fonte de importações dos Estados Unidos em 2024, com um total de US$ 439 bilhões em mercadorias exportadas. Em contrapartida, os EUA venderam US$ 144 bilhões em produtos para o mercado chinês no mesmo período.

Fabricantes chineses relataram uma onda de cancelamentos de pedidos por parte de compradores norte-americanos. Em alguns casos, o volume diário de cancelamentos tem alcançado até 300 contêineres. O cenário levou a uma redução nas operações em diversas fábricas, incluindo cortes de turnos e diminuição da jornada de trabalho.

O impacto também tem sido sentido nos Estados Unidos. A filial norte-americana da empresa mencionada relatou demissões de trabalhadores da linha de produção como resultado direto da queda na demanda.

Especialistas do setor afirmam que os exportadores enfrentam um impasse. A continuidade dos embarques implica em absorver custos tarifários elevados. Por outro lado, o adiamento das remessas pode resultar em tarifas ainda mais altas caso as tensões comerciais se intensifiquem.

Com os fluxos comerciais comprometidos, empresas de transporte também avaliam o impacto financeiro da suspensão dos embarques. A incerteza sobre a duração da política tarifária norte-americana dificulta o planejamento logístico e expõe operadores a riscos operacionais crescentes.

As medidas unilaterais adotadas por Washington integram um pacote mais amplo da atual administração, que alega desequilíbrio nas relações comerciais com a China.

Em resposta, Pequim tem buscado diversificar seus parceiros comerciais e fortalecer rotas alternativas de exportação, ao mesmo tempo em que considera medidas internas para mitigar os impactos sobre o setor industrial.

Analistas observam que a continuidade da disputa poderá afetar cadeias produtivas globais, influenciar os preços de produtos finais e pressionar índices de inflação em diversas economias. Enquanto isso, autoridades comerciais de ambos os países ainda não confirmaram a retomada de negociações formais.

Com exportadores reduzindo suas operações e compradores recuando diante da elevação dos custos, o comércio entre os dois países passa por um período de retração. Empresas e governos acompanham a evolução do conflito tarifário à espera de sinais de estabilização ou de uma eventual reabertura do diálogo bilateral.

 

Fonte: O Cafezinho/g1/SCMP

 

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