Os
bastidores da amizade entre o papa e Lula: cartas secretas, prisão e Chico
Buarque
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava
preso havia pouco mais de um ano quando, em maio de 2019, veio à tona uma carta
enviada a ele pelo papa Francisco, morto na última
segunda-feira (21/4).
A carta
era uma resposta do papa a uma mensagem enviada por Lula cerca de um mês antes,
em que então ex-presidente, preso por acusações posteriormente anuladas de corrupção e
lavagem de dinheiro, agradecia ao papa pelo seu apoio "ao povo brasileiro
pela justiça e pela defesa do direito dos pobres".
Mas,
mais que uma simples troca de mensagens entre líderes, as missivas foram o
ápice de um processo de aproximação entre Lula e o papa que se iniciou meses
antes e que envolveu reuniões no Vaticano, delicadas costuras
diplomáticas, toques de filmes de espionagem e que contou até com a
participação do compositor Chico Buarque.
Na
carta que o papa Francisco enviou a Lula, datada de 3 de maio de 2019, o
pontífice menciona "as duras provas" que o então ex-presidente vivia,
"especialmente a perda de alguns entes queridos".
Ele
então cita nominalmente a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em
2017), o irmão Genival Inácio (morto em janeiro de 2019) e Arthur, neto de Lula
que havia morrido em 1º de março daquele ano, aos 7 anos de idade.
"Quero
manifestar-lhe minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não
desanimar e continuar acreditando em Deus", escreveu o pontífice.
Embora
não tivesse conteúdo político, a carta do papa gerou críticas de bolsonaristas
à época, apesar de o então presidente Jair Bolsonaro (PL) não ter se
manifestado sobre ela.
Na
então rede social Twitter, o escritor Olavo de Carvalho (morto em 2022) chamou a missiva de
"cartinha" que tinha "autoridade zero" sobre os fiéis e que
expressava apenas a "opinião de um argentino".
·
Campanha internacional
Logo
depois da prisão de Lula pela Operação Lava Jato, em 7 de abril de
2018, apoiadores iniciaram uma campanha para denunciar o que viam como
irregularidades nos processos judiciais que pesavam contra ele.
Eles
também protestavam contra o que viam como um tentativa de impedir que Lula
fosse candidato nas eleições presidenciais de 2018, quando Bolsonaro acabaria
derrotando Fernando Haddad depois de a
candidatura de Lula ter sido impugnada com base na Lei da Ficha Limpa.
Parte
desta campanha foi feita no exterior.
Em
julho de 2018, como parte de um evento organizado pela Via Campesina, movimento
internacional de camponeses, uma comitiva formada pela jurista Carol Proner, o
sociólogo e diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, a pastora luterana Cibele Kuss e a
advogada Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, foi recebida pelo papa em uma
audiência na Casa Santa Marta, residência oficial do pontífice, no Vaticano.
"Cada
um tinha uma espécie de missão, de apresentar algumas das crises do
Brasil", diz Proner, que levou ao papa documentos sobre o que é conhecido
como lawfare, ou o uso de manobras jurídicas para fins políticos.
Os apoiadores de Lula argumentam que sua prisão teria sido fruto desta prática.
Antes
disso, o embaixador Celso Amorim, atual assessor especial da Presidência,
também havia tido uma audiência com o papa em que ele discutiu o caso de Lula
com o pontífice.
"Nós
tínhamos uma denúncia sobre setores da Justiça brasileira", diz Proner,
que entregou ao papa o livro Comentários a uma Sentença Anunciada,
que traz críticas de juristas sobre os processos contra Lula e que foi
organizado por ela.
·
Chico Buarque
Meses
depois, em novembro, uma nova comitiva foi recebida pelo papa em sua residência
oficial. Desta vez, Proner estava acompanhada do marido, o compositor Chico
Buarque.
"Eu
brinco que o Chico já estava formado em Direito Penal, ele já sabia tudo de
Lava Jato", diz Proner à BBC News Brasil. A comitiva era formada também
por uma jurista italiana e dois advogados argentinos, entre eles Juan Grabois,
que atua junto aos movimentos sociais na Argentina e era uma figura bem próxima
ao papa.
O
encontro ocorreu às 7h da manhã, e o grupo entregou ao papa 500 páginas de
documentos que indicavam o que eles viam como prática do lawfare não
só no Brasil, mas também na Argentina, Equador e outros países
latino-americanos.
"O
papa ficou muito impressionado. Ele disse 'isso é muito perigoso', daquele
jeito dele, um pouco simpático, um pouco argentino, um pouco
impressionado", afirma Proner.
De
fato, a estratégia parece ter surtido efeito. Anos depois, em abril de 2023, o
pontífice deu uma entrevista a um canal de televisão argentino em que citou o
termo lawfare para criticar a condenação de Lula.
A
reunião no Vaticano ficou registrada em uma foto tirada pelo argentino Juan
Grabois, embora ela não estivesse na agenda oficial do pontífice.
"O
Chico [Buarque] estava fascinado, mesmo tendo que acordar cedo. Ele nunca
acorda antes das 9h da manhã", lembra Proner.
·
Carta
Cerca
de cinco meses depois do encontro dos brasileiros no Vaticano, Gilberto
Carvalho foi contactado por Marco Aurélio Santana Ribeiro, atual chefe do
Gabinete Pessoal do Presidente da República e então assessor de Lula, que
continuava preso em Curitiba.
Ex-seminarista,
ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) e um dos petistas mais próximos de Lula,
Carvalho conta que Ribeiro trazia um recado do ex-presidente: ele queria enviar
uma carta ao papa.
E, para
isso, Lula queria a ajuda de Carvalho, que é próximo de nomes importantes do
clero brasileiro e no Vaticano.
Carvalho
conta que, ao receber a missão, decidiu que o ideal seria não enviar a carta
pelos trâmites normais da burocracia do Vaticano. Ele temia que, pelo fato de
Lula
Como já
tinha uma viagem marcada a Roma, ele decidiu acionar um amigo, que, por sua
vez, conhecia um amigo do papa.
A ideia
era encontrar a pessoa próxima ao pontífice e entregar a missiva em mãos para,
assim, tentar garantir que ela chegasse ao seu destino.
"Era
um amigo íntimo do papa, alguém que era sempre recebido por ele. Ele me mandou
o endereço de uma livraria em Roma e eu fui. Tomamos um cafezinho e eu
entreguei a carta a ele, com o pedido que ela chegasse diretamente o
papa", diz Carvalho à BBC News Brasil.
O
petista saiu da livraria sem ter ideia de se um dia a carta seria mesmo lida
pelo pontífice.
·
Vazamento
"Voltei
ao Brasil sem saber o que aconteceria. Semanas depois, recebi uma ligação da
Nunciatura Apostólica dizendo que eles tinham documentos para me entregar,
documentos confidenciais", diz.
A
Nunciatura Apóstólica é a principal representante diplomática do Estado do
Vaticano em um país, funcionando com uma espécie embaixada.
Carvalho,
que atualmente é secretário de Economia Popular e Solidária no Ministério do
Trabalho, foi à sede da Nunciatura, em Brasília, para buscar os tais
documentos. Recebeu, então, a resposta do papa à carta de Lula.
"Lá
eu encontrei o núncio [embaixador do Vaticano no Brasil] e ele me disse que
tinha uma carta do Santo Padre ao presidente Lula, mas que tinha uma
recomendação de manter absoluto sigilo. Eu compreendi o sigilo, porque, como o
Vaticano também é um Estado, isso poderia causar alguma dificuldade com o
governo Bolsonaro".
Com a
resposta do papa em mãos, Carvalho organizou uma maneira de enviar ela em
segurança a Lula, que estava preso em Curitiba.
"Mas
já comecei a pensar em como poderíamos vazar aquela carta", diz Carvalho,
usando o jargão político para quando informações secretas são divulgadas para o
público.
O
problema é que divulgar o conteúdo da carta sem autorização do papa poderia
deixar o pontífice contrariado. E mais, estremecer as relações diplomáticas
entre o Vaticano e o então governo Jair Bolsonaro.
Era
preciso autorização do papa para divulgar a carta.
Foi aí
que, mais uma vez, foi acionado Juan Grabois, o advogado argentino próximo ao
papa. O petista queria um sinal verde do Vaticano antes de tornar público o
conteúdo da mensagem.
"O
Grabois ligou dias depois afirmando que o papa disse que a carta poderia ser
aberta, que não tinha problema nenhum. Mas que não era para criar problemas
para a Nunciatura no Brasil."
Surgiu
então a ideia de vazar a carta pela Europa. O conteúdo dela foi então
primeiramente divulgado entre movimentos sociais e círculos acadêmicos
europeus, para depois ser liberado para a imprensa no Brasil.
Lula
deixaria a prisão em novembro daquele ano. Em fevereiro de 2020, ele faria sua
primeira viagem internacional após ser solto, ainda como ex-presidente. Seu
destino foi o Vaticano, onde se encontrou com o papa Francisco.
¨
Povo yanomami se despede de Francisco: 'um grande xamã se
foi'
"Um
grande xamã se foi." Foi assim que Dario Kopenawa, uma jovem liderança do
povo yanomami, descreveu a morte
do papa Francisco à BBC News
Brasil. Kopenawa não é católico - ele diz seguir a "cosmovisão
yanomami", conjunto de crenças não cristãs dessa etnia indígena com cerca
de 45 mil membros, espalhados pelo norte do Brasil e sul da Venezuela. Mas isso não o
impede de ver em Francisco características comuns a líderes espirituais de seu
povo - grupo que inclui o pai dele, o xamã Davi Kopenawa, que foi recebido pelo
papa em 2024 e é um dos grandes nomes do movimento indígena no Brasil.
Para
Dario Kopenawa, Francisco era como "uma árvore grande, que faz várias
sombras". "Quando o papa se foi, foi como se essa grande árvore
caísse", disse o indígena, vice-presidente da Hutukara Associação
Yanomami, uma das principais organizações da etnia.
O povo
yanomami não foi o único grupo indígena a lamentar a morte de Francisco.
Dezenas
de organizações e lideranças de outras etnias do país prestaram homenagens ao
pontífice, descrito como um aliado que ajudou a divulgar as contribuições e
demandas das populações originárias em um mundo em crise.
Francisco
se aproximou dos indígenas como nenhum outro papa, afirmam essas lideranças, e
consolidou uma mudança iniciada há algumas décadas na relação da Igreja
Católica com essas populações. Em vez da busca por converter indígenas - missão
que guiou a organização por séculos -, eles dizem que a postura de Francisco
foi a de valorizar as tradições desses povos e apoiá-los em suas bandeiras,
como o acesso à terra. Entre os gestos do papa que se alinhavam com bandeiras
indígenas, Kopenawa também destaca sua defesa por "equilibrar nosso
mundo" e combater as mudanças climáticas.
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Primeira encíclica sobre meio ambiente
Francisco
abordou a questão climática ao longo de todo seu papado. Em 2015, ele lançou
uma encíclica - uma carta oficial dirigida a bispos e fiéis de todo o mundo -
associando o consumismo e modelos econômicos predatórios à crise ecológica
global.
A
carta, batizada de Laudato Si' ("Louvado sejas", em
italiano antigo), foi a primeira encíclica papal dedicada inteiramente ao meio
ambiente e destaca os modos de vida indígenas como exemplo de harmonia com a
natureza. "Para eles [povos indígenas], a terra não é um bem econômico,
mas um dom de Deus e dos antepassados", diz o papa em um trecho da
encíclica. Em outro, afirma que, "quando [indígenas] permanecem em seus
territórios, são quem melhor cuida deles".
O líder
yanomami diz ainda ser especialmente grato a Francisco por ter cobrado "o
governo brasileiro a retirar garimpeiros, melhorar a assistência de saúde e
combater a desnutrição no nosso território", e também por seu papel
durante a pandemia de covid-19. Na época, segundo Kopenawa, Francisco "nos
deu um grande apoio como rezador e fez um grande trabalho xamânico para que não
morressem tantos indígenas".
Nos
últimos meses, quando a saúde do papa se deteriorava, ele conta que xamãs de
seu povo também realizaram trabalhos para tentar "fortalecer o espírito
dele, conectando-o com os espíritos dos yanomami". "Mas nossos
médicos da floresta não curam as doenças da cidade, que são as doenças que ele
tinha. Nós só conseguimos curar doenças da floresta, da cachoeira, do animal,
da chuva, das montanhas e as doenças do espírito", diz Kopenawa. Desde que
Francisco morreu, ele afirma que "os espíritos dos xamãs estão chorando e
celebrando, recebendo o espírito do papa nas cerimônias deles".
·
Conversões forçadas
A
popularidade de um papa entre tantos indígenas é uma novidade na longa e
conflituosa relação da Igreja Católica com comunidades nativas. Desde os
primeiros anos da colonização do Brasil, sacerdotes jesuítas - a mesma ordem
católica a que Francisco pertencia - assumiram a missão de converter indígenas
ao cristianismo, afastá-los de crenças que viam como pagãs e ensinar-lhes
práticas agrícolas e culturais europeias. Para atingir esse objetivo, os
religiosos estabeleceram em vários pontos do país comunidades onde indígenas
eram agrupados e organizados sob a supervisão dos jesuítas. Esse modelo
orientou a postura da Igreja Católica frente aos indígenas brasileiros por
séculos.
Após o
Concílio Vaticano 2º (1962-1965), porém, a entidade enterrou de vez as práticas
e passou a pregar o respeito à diversidade de culturas e crenças - valores que
já guiavam alguns missionários católicos que trabalhavam junto a indígenas.
Encampando
esses novos ideais, surgiu em 1972 o Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
braço da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dedicado à ação
entre indígenas.
Em seu
site, o Cimi se descreve como "um aliado nas lutas pela garantia dos
direitos históricos" dos povos indígenas, e diz agir contra "as
estruturas de dominação, violência e injustiça" que os afetam.
Até o
papado de Francisco, no entanto, os contatos da alta cúpula do Vaticano com o
Cimi eram limitados. O cenário mudou sob o pontificado do argentino, quando
integrantes do grupo tiveram vários encontros com o próprio papa e
influenciaram em documentos importantes da igreja - como na encíclica Laudato
Si'.
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Sínodo da Amazônia
Em
entrevista à revista Época em 2015, o bispo emérito do Xingu - e então
presidente do Cimi - Dom Erwin Kräutler contou de uma audiência que teve com
Francisco em 2014, quando falou das ameaças enfrentadas por povos indígenas no
Brasil.
Kräutler
conta que o papa então lhe revelou que escrevia uma encíclica sobre ecologia e
pediu que o bispo colaborasse com reflexões. Segundo o religioso, suas ideias
foram incorporadas no documento.
Após a
encíclica, Francisco também passou a receber indígenas periodicamente no
Vaticano, incluindo lideranças dos povos Kayapó, Yawanawá, Borari, Macuxi,
entre outras etnias sul-americanas.
E, em
2018, o papa esteve pessoalmente na Amazônia peruana e organizou um sínodo
(assembleia de bispos) para tratar da ação da igreja na região.
O atual
presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho, Dom Roque Paloschi, foi um dos
quatro religiosos brasileiros a participar com o papa das reuniões
preparatórias para aquele sínodo. "Foram dois dias com encontros de manhã
e de tarde, com momentos de lazer, de cafezinho, e ele estava sempre de bom
humor, fazendo brincadeiras com cachaça, futebol, Maradona e Pelé", diz
Paloschi à BBC News Brasil.
Em seu
documento final, o sínodo recorreu a uma linguagem poética ao descrever os
indígenas como "povos de antigos perfumes que continuam a perfumar o
continente contra todo desespero".
Anos
após o sínodo, porém, o bispo emérito do Xingu Dom Erwin Kräutler criticou
Francisco por não ter acolhido uma das principais demandas dos sacerdotes
presentes: a possibilidade de ordenação de mulheres e homens casados.
Em
entrevista ao site católico suíço cath.ch em 2023, Kräutler disse que a medida
tinha o apoio de 80% dos bispos no sínodo e ajudaria a sanar um dos grandes
problemas da Igreja Católica na região: a falta de padres. "Mas, no fim,
ele não aceitou, o que me frustrou e decepcionou muito", disse o bispo
emérito do Xingu.
Hoje
com 85 anos, Kräutler vive na Áustria, seu país natal, e não tem mais dado
entrevistas, segundo um assessor do Cimi.
Questionado
sobre as críticas do colega, o arcebispo de Porto Velho, Roque Paloschi, diz
não considerar oportuno tratar do tema no momento, mas afirma que neste campo
"o papa preferiu caminhar mais devagar, mas caminhar com toda a
igreja".
Para
Paloschi, o sínodo da Amazônia sensibilizou Francisco ainda mais para as
questões indígenas, mas ele afirma que a conversão do papa à causa ocorreu anos
antes, em 2007, quando ele ainda não era pontífice.
Naquele
ano, o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, teve um papel
central na 5ª Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe em
Aparecida (SP), um encontro convocado para discutir os rumos da Igreja Católica
na região. "Ele confessou que o impactou muito, durante a assembleia, a
insistência dos bispos da região amazônica, não só do Brasil, levantando a
problemática dos povos originários, dos povos extrativistas, dos quilombolas e
também a questão da destruição da natureza", diz Paloschi.
Para o
arcebispo, a encíclica Laudato Si' foi um desdobramento e
aprofundamento do documento final de Aparecida, que já valorizava os povos
indígenas e criticava a exploração desenfreada de recursos naturais.
Paloschi
cita outro ponto de destaque na relação de Francisco com os povos indígenas:
ele foi o primeiro papa a se desculpar "pela postura etnocêntrica da
igreja, pelo extermínio de línguas, pela demonização da cultura e das
espiritualidades dos povos indígenas".
Uma das
ocasiões em que Francisco tratou do tema foi durante uma viagem ao Canadá, em
2022, quando expressou "tristeza, indignação e vergonha" por atos
cometidos contra crianças indígenas em internatos católicos que funcionaram no
país entre 1870 e 1996.
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Legado sob ameaça?
Questionado
se o próximo papa poderia ter um perfil mais conservador e reverter os
movimentos de Francisco nas pautas indígena e ambiental, Paloschi diz não ter
"nenhum medo de retrocesso". "Pelo contrário, os ventos vão
continuar soprando e a Igreja precisa continuar vivendo esse caminho de
despojamento, de proximidade, de fidelidade e, sobretudo, de uma Igreja que
acolhe, que respeita e que não condena", afirma.
Dario
Kopenawa também diz esperar que o próximo pontífice dê continuidade ao papado
de Francisco e critica posturas da Igreja Católica no passado, quando
"quiseram nos evangelizar e acabar com a cultura dos povos
indígenas". Para ele, o papa Francisco se opunha "ao preconceito, à
discriminação e à violência", e valorizava as tradições e os conhecimentos
das populações originárias. Kopenawa vai além e diz ver paralelos entre gestos
de Francisco e o trabalho de xamãs do povo yanomami para impedir o fim do mundo.
O
"apocalipse" yanomami é descrito em "A queda do céu", livro
publicado em 2010 e baseado em entrevistas dadas pelo pai de Dario, o xamã Davi
Kopenawa, ao antropólogo francês Bruce Albert. Nele, os xamãs do povo yanomami
são descritos como intermediários entre o mundo físico e o mundo espiritual que
trabalham para manter um intrincado equilíbrio no cosmos. Mas, segundo Davi
Kopenawa, se os rituais dos xamãs deixarem de ser feitos ou a floresta for
destruída, o céu pode desabar e aniquilar todos. Para seu filho, Dario, mesmo
que o papa Francisco não conhecesse a cosmologia yanomami, ele também
"tinha a visão de proteger a humanidade, de evitar a destruição e impedir
o desmatamento da Amazônia".
"Acho
que ele também queria evitar a queda do céu", diz o líder indígena.
Fonte:
BBC News Brasil

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