sábado, 26 de abril de 2025

O que a Ritalina faz no cérebro? Entenda os efeitos do remédio mais conhecido para TDAH

A Ritalina, nome comercial do metilfenidato, é um medicamento amplamente utilizado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e da narcolepsia.

Seu uso é comum para melhorar a concentração, reduzir a impulsividade e controlar sintomas de hiperatividade, permitindo que pacientes tenham um melhor desempenho em suas atividades diárias.

Mas como exatamente essa substância age no organismo? Quais mudanças ela provoca no cérebro humano?

>>> Entenda a seguir.

<><> O que é e para que serve a Ritalina?

A Ritalina é um medicamento de tarja preta, o que significa que seu uso requer não apenas receita médica, mas também a retenção dessa receita pela farmácia. Além disso, a tarja preta indica que o remédio deve ser utilizado segundo orientações médicas para evitar dependência psíquica.

Ele é indicado exclusivamente para pessoas diagnosticadas com TDAH ou narcolepsia, e o tratamento deve ser acompanhado de perto por um profissional de saúde, geralmente por psiquiatras. A automedicação, especialmente com psicotrópicos, pode causar danos severos ao organismo.

A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, em entrevista ao portal Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), alerta para a crescente prescrição da Ritalina em crianças e adolescentes sem uma avaliação criteriosa.

De acordo com ela, muitos diagnósticos de TDAH são feitos sem a devida investigação, e a medicação acaba sendo usada como solução rápida para dificuldades escolares e comportamentais.

No Brasil, o consumo do medicamento tem aumentado exponencialmente, colocando o país como o segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

•        Sobre o uso indiscriminado da Ritalina

O uso indiscriminado da Ritalina, ou seja, sem supervisão e acompanhamento médico, coloca o paciente em uma situação de risco. Isso porque, como qualquer fármaco, a Ritalina possui tanto efeitos colaterais como certas consequências devido ao uso prolongado.

Quando um médico prescreve um remédio, estima-se que uma investigação (e uma bateria de exames) foi realizada para entender se a substância era a correta para o seu caso.

Isso porque, embora você detenha sintomas que possam ser tratados por determinado fármaco, nem sempre essa mesma substância deve ser prescrita a você, seja porque você é alérgico a algum dos componentes da fórmula ou porque tem alguma condição pré-existente de saúde que impossibilita o uso da medicação.

Desta forma, o uso indiscriminado de qualquer substância (nesse caso, da Ritalina) o coloca em uma zona de perigo porque você não sabe o que pode acontecer com seu corpo durante o uso, porque não passou por uma avaliação médica ou porque não seguiu as orientações médicas adequadamente.

Além disso, há outros casos, como aqueles apontados por Maria Aparecida Affonso Moysés, médica pediatra, que critica como a Ritalina, muitas vezes, é prescrita de forma errônea para crianças que não precisam. Ou seja, em vez de o médico realizar um diagnóstico correto na criança, acaba prescrevendo o remédio para silenciar um comportamento típico, por exemplo, de uma mente mais criativa.

Nisso, todos acabam recebendo o medicamento: quem precisa e quem não precisa. E essa medicalização excessiva de comportamentos infantis é um dos fatores que coloca o Brasil como um dos países que mais utilizam a Ritalina no mundo.

Dentre alguns dos riscos que envolvem o uso da Ritalina, estão a dependência psíquica, insônia, e problemas no coração. Vamos detalhar mais a seguir.

•        Quais mudanças a Ritalina faz no cérebro e no corpo humano?

A Ritalina atua aumentando a disponibilidade de dopamina e noradrenalina no cérebro, neurotransmissores essenciais para a atenção e a regulação do comportamento.

Seu mecanismo de ação inclui:

•        Ativação do córtex pré-frontal

O medicamento eleva a atividade dopaminérgica e noradrenérgica nessa região, essencial para funções executivas como atenção, planejamento e controle de impulsos. Isso melhora a concentração e a memória de trabalho, especialmente em pacientes com TDAH.

•        Modulação do sistema límbico

No hipocampo e na amígdala, áreas associadas à memória e às emoções, o aumento da dopamina pode melhorar a regulação emocional. No entanto, o uso prolongado pode elevar o risco de ansiedade e alterar o sistema de recompensa.

<><> Alterações na neurotransmissão

•        Dopamina: a Ritalina bloqueia os transportadores de recaptação, prolongando sua ação sináptica. Isso influencia na motivação, prazer e cognição;

•        Noradrenalina: aumenta o estado de alerta e a vigília, podendo causar efeitos secundários como insônia.

<><> Riscos neuroadaptativos

O uso crônico pode induzir tolerância (necessidade de doses maiores), afetar o ritmo circadiano e prejudicar o sono e a saúde mental. Por isso, o monitoramento contínuo do tratamento é essencial.

•        Efeitos colaterais do uso da Ritalina

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica a Ritalina como substância de controle especial, exigindo acompanhamento médico rigoroso. O uso do medicamento pode causar efeitos colaterais, variando em intensidade.

Os mais comuns incluem diminuição do apetite, insônia, dor de cabeça, boca seca, náusea, nervosismo e aumento da pressão arterial. Em casos raros, pode desencadear reações graves, como batimentos cardíacos acelerados, dor no peito, alucinações, convulsões, movimentos involuntários, ideação suicida e angioedema.

Para um uso seguro, é essencial acompanhamento médico, especialmente para quem tem histórico de doenças cardíacas ou transtornos psiquiátricos.

Fontes consultadas incluem artigos científicos (Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences e Unifal- MG), bulas farmacêuticas, diretrizes de instituições como a Novartis e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

•        Quem pode tomar Ritalina?

Apenas pacientes diagnosticados com TDAH ou narcolepsia, sob prescrição e acompanhamento médico.

•        Precisa de receita para tomar Ritalina?

Sim, a Ritalina é um medicamento tarja preta e só pode ser adquirida com receita médica controlada e retenção da via original pela farmácia.

•        Pessoas com TDAH vivem menos; entenda motivo

Pessoas diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) podem estar vivendo menos tempo do que deveriam, de acordo com estudo inédito realizado pela University College London (UCL) (Reino Unido).

A pesquisa avaliou dados de 30.029 adultos que vivem em território britânico com diagnóstico da condição. As informações foram comparadas com um grupo de 300.390 participantes sem TDAH, com base em idade, sexo e prática de cuidados primários.

Os cientistas identificaram que homens com TDAH diagnosticado têm redução na expectativa de vida entre 4,5 e nove anos; entre as mulheres, varia entre 6,5 e 11 anos. A pesquisa foi publicada no periódico científico The British Journal of Psychiatry.

“Pessoas com TDAH têm muitos pontos fortes e podem prosperar com o suporte e tratamento corretos. No entanto, elas frequentemente não têm suporte e são mais propensas a vivenciar eventos estressantes da vida e exclusão social, impactando negativamente sua saúde e autoestima”, disse o autor sênior, Josh Stott à Fox News.

<><> Limitações do estudo sobre o TDAH

Os pesquisadores ponderaram que, como o TDAH geralmente não é diagnosticado, reduzindo a base de comparação especialmente entre adultos, a análise pode superestimar a redução na expectativa de vida.

“Mais pessoas diagnosticadas podem ter problemas de saúde adicionais em comparação à pessoa média com TDAH. Portanto, nossa pesquisa pode superestimar a lacuna de expectativa de vida para pessoas com TDAH em geral, embora mais pesquisas sejam necessárias para testar se esse é o caso”, explicou a autora principal, Dra. Liz O’Nions.

•        Além disso, os cientistas pontuaram que há falta de serviços especializados a adultos com a condição no Reino Unido;

•        Uma outa pesquisa citada no estudo do UCL identificou que 8% das pessoas diagnosticadas solicitaram tratamento específico de saúde mental, mas não o receberam nos últimos 12 meses;

•        O TDAH pode ser diagnosticado na infância e persistir na vida adulta. As características mais comuns incluem impulsividade, inquietação e dificuldade para gerenciar tempo, o que, de acordo com os pesquisadores, pode dificultar o sucesso na escola e no trabalho.

 

Fonte: Olhar Digital

 

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