Transtornos
alimentares afetam saúde bucal: como dentista ajuda na detecção
Os
transtornos alimentares, como bulimia e anorexia, impactam a saúde física e
mental de milhões de brasileiros. O estigma social e a falta de conscientização
dificultam o diagnóstico e o tratamento adequado, afetando não apenas a saúde
emocional dos pacientes, mas também sua saúde bucal.
E um
dos profissionais que pode, inclusive, diagnosticar esse tipo de problema
precocemente é o dentista. Tanto a bulimia, devido ao mecanismo do vômito,
quanto a anorexia causam problemas diretos nos dentes que podem ser
identificados pelo especialista. No Dia Mundial da Saúde Bucal, entenda melhor
como esses dois pontos de saúde se cruzam.
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Como perceber os problemas nos dentes ligados aos transtornos alimentares?
Fernando
Avellar, odontologista e especialista em Adequação Nutricional e Manutenção da
Homeostase, destaca os sinais mais evidentes de problemas dentários associados
à bulimia: “Desgastes nos dentes, especialmente na parte palatina dos
anteriores superiores, são um dos principais indícios. Além disso, a
sensibilidade dentária exacerbada e o elevado risco de cáries são consequências
diretas da indução ao vômito,” explica.
Os
pacientes frequentemente apresentam outros sinais, como:
• Halitose: o mau hálito é comum devido à
presença de ácidos estomacais na boca após os episódios de vômito;
• Lesões na mucosa: as constantes
irritações causadas pelo vômito podem resultar em feridas ou lesões na boca e
garganta;
• Problemas estéticos: o desgaste dental
pode levar a uma aparência menos estética, o que contribui para a insatisfação
com a imagem corporal do paciente.
A
anorexia também causa sinais: “A má nutrição pode causar redução da saliva
(xerostomia), aumentando o risco de cáries e infecções na gengiva”, considera o
especialista. Ele enumera outros sinais:
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• Enfraquecimento do esmalte dentário;
• Maior suscetibilidade a doenças
periodontais;
• Alterações na mucosa oral, como língua
seca ou fissurada, também são possíveis.
Avellar
enfatiza que a intervenção precoce é crucial: “Quando diagnosticadas
rapidamente, conseguimos, por meio de uma equipe multidisciplinar, evitar que o
processo se agrave”. A equipe integrada de profissionais, incluindo médicos,
dentistas, nutricionistas e psicólogos, não apenas restabelece a saúde bucal,
mas também contribui para a melhora da autoestima e do bem-estar emocional dos
pacientes.
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A importância do diagnóstico precoce
Avellar
ressalta que é essencial agir rapidamente. “Quando diagnosticadas rapidamente,
conseguimos, por meio de uma equipe multidisciplinar, evitar que o processo se
agrave.” Ele também observa que a própria ação de comer pode se tornar um
gatilho para o vômito.
A
equipe integrada de profissionais, incluindo médicos, dentistas, nutricionistas
e psicólogos, não apenas restabelece a saúde bucal, mas também contribui para a
melhora da autoestima e do bem-estar emocional dos pacientes.
Andrea
Levy, psicóloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, complementa: “Pacientes
com bulimia enfrentam uma relação complicada com a comida e o corpo, marcada
por compulsão alimentar e purgação. Isso resulta em sentimentos de culpa e
vergonha, agravando a autoimagem.”
O
estigma social muitas vezes leva os pacientes a evitarem cuidados
odontológicos, temendo o julgamento.
“É
fundamental que os profissionais de saúde bucal sejam capacitados para lidar
com esses pacientes de forma acolhedora e não julgadora,” enfatiza a
profissional.
• Abordagens terapêuticas para o paciente
Danilo
Suassuna, doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
fala sobre as diversas abordagens terapêuticas que podem ser utilizadas para
ajudar os pacientes a lidar com os danos físicos e emocionais causados pelos
transtornos alimentares.
“O foco
é a reconstrução de uma relação saudável consigo mesmo e com o corpo,
trabalhando tanto nos aspectos emocionais quanto nos impactos físicos,”
explica.
• Reconstrução da autoimagem: a distorção
da autoimagem é um componente central dos transtornos alimentares. “Estratégias
psicológicas, como técnicas cognitivas e comportamentais, ajudam o paciente a
reavaliar suas crenças sobre o corpo e desenvolver uma percepção mais
realista,” afirma Suassuna. Trabalhar com a aceitação do próprio corpo é um
passo crucial para superar a autoimagem negativa e os comportamentos
autodestrutivos.
• Manejo dos danos físicos: muitas vezes,
os pacientes têm dificuldade em lidar com os efeitos físicos visíveis do
transtorno, como perda de cabelo, pele seca e desgaste dental. “O psicólogo, em
parceria com profissionais de saúde, ajuda o paciente a lidar emocionalmente
com essas mudanças físicas, além de oferecer suporte para aceitar os cuidados
médicos necessários,” destaca.
• Regulação emocional: os transtornos
alimentares frequentemente estão associados a dificuldades em lidar com emoções
intensas. “Intervenções como a Terapia Dialética Comportamental (TDC) ou
técnicas de Mindfulness podem ser usadas para ajudar o paciente a identificar e
regular suas emoções sem recorrer a comportamentos alimentares destrutivos,”
complementa.
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Apoio multidisciplinar
Suassuna
também enfatiza a importância da terapia de grupo, que permite que os pacientes
compartilhem suas experiências com outros que estão passando por situações
semelhantes. “Esse espaço de empatia e compreensão mútua pode ajudar a quebrar
o isolamento que muitas vezes acompanha os transtornos alimentares,” diz.
Os
participantes têm a oportunidade de trocar experiências e aprender novas formas
de lidar com os desafios diários relacionados à alimentação e à autoimagem. A
integração entre psicologia, nutrição e medicina é fundamental para um
tratamento eficaz.
“Os
nutricionistas orientam na reintrodução de hábitos alimentares saudáveis,
enquanto os psicólogos trabalham com as crenças disfuncionais que o paciente
tem em relação à comida e ao corpo,” explica Suassuna. Essa colaboração não só
trata os danos físicos, mas também aborda as questões emocionais que contribuem
para o transtorno.
Fonte:
CNN Brasil

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