sexta-feira, 11 de abril de 2025

Transtornos alimentares afetam saúde bucal: como dentista ajuda na detecção

Os transtornos alimentares, como bulimia e anorexia, impactam a saúde física e mental de milhões de brasileiros. O estigma social e a falta de conscientização dificultam o diagnóstico e o tratamento adequado, afetando não apenas a saúde emocional dos pacientes, mas também sua saúde bucal.

E um dos profissionais que pode, inclusive, diagnosticar esse tipo de problema precocemente é o dentista. Tanto a bulimia, devido ao mecanismo do vômito, quanto a anorexia causam problemas diretos nos dentes que podem ser identificados pelo especialista. No Dia Mundial da Saúde Bucal, entenda melhor como esses dois pontos de saúde se cruzam.

<><> Como perceber os problemas nos dentes ligados aos transtornos alimentares?

Fernando Avellar, odontologista e especialista em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase, destaca os sinais mais evidentes de problemas dentários associados à bulimia: “Desgastes nos dentes, especialmente na parte palatina dos anteriores superiores, são um dos principais indícios. Além disso, a sensibilidade dentária exacerbada e o elevado risco de cáries são consequências diretas da indução ao vômito,” explica.

Os pacientes frequentemente apresentam outros sinais, como:

•        Halitose: o mau hálito é comum devido à presença de ácidos estomacais na boca após os episódios de vômito;

•        Lesões na mucosa: as constantes irritações causadas pelo vômito podem resultar em feridas ou lesões na boca e garganta;

•        Problemas estéticos: o desgaste dental pode levar a uma aparência menos estética, o que contribui para a insatisfação com a imagem corporal do paciente.

A anorexia também causa sinais: “A má nutrição pode causar redução da saliva (xerostomia), aumentando o risco de cáries e infecções na gengiva”, considera o especialista. Ele enumera outros sinais:

Play Video

•        Enfraquecimento do esmalte dentário;

•        Maior suscetibilidade a doenças periodontais;

•        Alterações na mucosa oral, como língua seca ou fissurada, também são possíveis.

Avellar enfatiza que a intervenção precoce é crucial: “Quando diagnosticadas rapidamente, conseguimos, por meio de uma equipe multidisciplinar, evitar que o processo se agrave”. A equipe integrada de profissionais, incluindo médicos, dentistas, nutricionistas e psicólogos, não apenas restabelece a saúde bucal, mas também contribui para a melhora da autoestima e do bem-estar emocional dos pacientes.

<><> A importância do diagnóstico precoce

Avellar ressalta que é essencial agir rapidamente. “Quando diagnosticadas rapidamente, conseguimos, por meio de uma equipe multidisciplinar, evitar que o processo se agrave.” Ele também observa que a própria ação de comer pode se tornar um gatilho para o vômito.

A equipe integrada de profissionais, incluindo médicos, dentistas, nutricionistas e psicólogos, não apenas restabelece a saúde bucal, mas também contribui para a melhora da autoestima e do bem-estar emocional dos pacientes.

Andrea Levy, psicóloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, complementa: “Pacientes com bulimia enfrentam uma relação complicada com a comida e o corpo, marcada por compulsão alimentar e purgação. Isso resulta em sentimentos de culpa e vergonha, agravando a autoimagem.”

O estigma social muitas vezes leva os pacientes a evitarem cuidados odontológicos, temendo o julgamento.

“É fundamental que os profissionais de saúde bucal sejam capacitados para lidar com esses pacientes de forma acolhedora e não julgadora,” enfatiza a profissional.

•        Abordagens terapêuticas para o paciente

Danilo Suassuna, doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, fala sobre as diversas abordagens terapêuticas que podem ser utilizadas para ajudar os pacientes a lidar com os danos físicos e emocionais causados pelos transtornos alimentares.

“O foco é a reconstrução de uma relação saudável consigo mesmo e com o corpo, trabalhando tanto nos aspectos emocionais quanto nos impactos físicos,” explica.

•        Reconstrução da autoimagem: a distorção da autoimagem é um componente central dos transtornos alimentares. “Estratégias psicológicas, como técnicas cognitivas e comportamentais, ajudam o paciente a reavaliar suas crenças sobre o corpo e desenvolver uma percepção mais realista,” afirma Suassuna. Trabalhar com a aceitação do próprio corpo é um passo crucial para superar a autoimagem negativa e os comportamentos autodestrutivos.

•        Manejo dos danos físicos: muitas vezes, os pacientes têm dificuldade em lidar com os efeitos físicos visíveis do transtorno, como perda de cabelo, pele seca e desgaste dental. “O psicólogo, em parceria com profissionais de saúde, ajuda o paciente a lidar emocionalmente com essas mudanças físicas, além de oferecer suporte para aceitar os cuidados médicos necessários,” destaca.

•        Regulação emocional: os transtornos alimentares frequentemente estão associados a dificuldades em lidar com emoções intensas. “Intervenções como a Terapia Dialética Comportamental (TDC) ou técnicas de Mindfulness podem ser usadas para ajudar o paciente a identificar e regular suas emoções sem recorrer a comportamentos alimentares destrutivos,” complementa.

<><> Apoio multidisciplinar

Suassuna também enfatiza a importância da terapia de grupo, que permite que os pacientes compartilhem suas experiências com outros que estão passando por situações semelhantes. “Esse espaço de empatia e compreensão mútua pode ajudar a quebrar o isolamento que muitas vezes acompanha os transtornos alimentares,” diz.

Os participantes têm a oportunidade de trocar experiências e aprender novas formas de lidar com os desafios diários relacionados à alimentação e à autoimagem. A integração entre psicologia, nutrição e medicina é fundamental para um tratamento eficaz.

“Os nutricionistas orientam na reintrodução de hábitos alimentares saudáveis, enquanto os psicólogos trabalham com as crenças disfuncionais que o paciente tem em relação à comida e ao corpo,” explica Suassuna. Essa colaboração não só trata os danos físicos, mas também aborda as questões emocionais que contribuem para o transtorno.

 

Fonte: CNN Brasil

 

Nenhum comentário: