Bets
ilegais: governo obriga bancos a denunciar contas suspeitas após bloquear 11
mil sites
Após bloquear mais de 11 mil sites de
apostas ilegais,
o governo federal definiu regras para obrigar que bancos e instituições
financeiras enviem notificações sobre contas suspeitas de operarem para bets
que não estão de acordo com as normas do setor.
Desde a
publicação da portaria, em 20 de março deste ano, a Secretaria de Prêmios e
Apostas (SPA), do Ministério da Fazenda, recebeu 9 notificações de
contas suspeitas ou movimentações irregulares. Ao todo, 32 contas foram
bloqueadas após os alertas.
Desde
outubro de 2024, só podem operar no Brasil bets autorizadas pelo governo.
Atualmente, são 159 sites de apostas, e todos eles são terminados
em .bet.br.
Para
impedir as bets ilegais de operar, o governo passou a tentar bloquear o acesso
aos sites delas. Mas, como o g1 mostrou, essas plataformas criavam novos sites, com alguns
caracteres de diferença, para driblarem o bloqueio e continuarem ativas.
“É um
esforço necessário, mas não suficiente”, diz Regis Dudena, secretário de
Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda.
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Notificação obrigatória
A lei
que regulamenta as bets já impedia bancos de operar contas de bets ilegais. No
mês passado, entretanto, o governo baixou uma portaria que obriga instituições
financeiras a notificar o ministério caso suspeitem de alguma conta, seja de
pessoa física ou jurídica.
Segundo
Dudena, com a portaria, as instituições financeiras e de pagamento agora vão
reforçar a fiscalização.
“[Uma
das frentes de combate às bets ilegais] é fazer com que as instituições de
pagamento e as instituições financeiras nos ajudem, cumprindo um dever legal. É
importante que elas compartilhem com o Ministério da Fazenda informações sobre
quem são esses agentes que estão atuando ilegalmente no setor de apostas”,
disse o secretário.
Os
bancos, fintechs e outras instituições financeiras e de pagamentos devem
comunicar à SPA, em até 24 horas, qualquer suspeita de uso de contas para
apostas ilegais.
A
comunicação deve incluir dados do titular, informações da transação e medidas
adotadas, como bloqueio ou encerramento das contas. “A ideia é cercar a
ilegalidade por todos os lados para proteger a economia popular”, afirma
Dudena.
Além de
exigir as notificações, a secretaria faz simulações em sites ilegais, criando
cadastros e fazendo depósitos para descobrir quais instituições estão
viabilizando as transações. Quando descobre o banco usado, notifica a
instituição.
A
Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) também faz testes para repassar
as informações para a secretaria. Já foram identificadas cerca de 10 mil bets
ilegais.
As
instituições que descumprirem o que determina a portaria podem ser punidas com
advertências, multas que podem chegar a R$ 2 bilhões e ser proibidas de
participar de licitações.
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'Apostar é entretenimento para perder dinheiro'
Dudena
afirma que a participação ativa dos bancos e outras instituições financeiras e
de pagamentos na identificação de contas associadas às bets ilegais não
pretende punir os apostadores, mas protegê-los. Isso porque, segundo ele, ainda
não é claro para a população que as apostas esportivas servem apenas para
diversão.
“A
aposta é um meio de entretenimento para se perder dinheiro. As pessoas precisam
começar a internalizar essa ideia. Você põe o seu dinheiro à disposição e perde
esse dinheiro, porque isso é um entretenimento para você”, disse.
Estimativas
do Banco Central indicam que os brasileiros gastam entre R$ 20 e R$ 30 bilhões
por mês com apostas online. A informação foi divulgada pelo presidente do Banco
Central, Gabriel Galípolo, e pelo secretário-executivo do órgão, Rogério Lucca,
em 8 de abril, durante uma audiência na CPI das Apostas Esportivas do Senado.
A CPI
foi instaurada no fim de 2024 para investigar a “influência dos jogos virtuais
de apostas online no orçamento das famílias brasileiras”, além da possível
associação com organizações criminosas em práticas de lavagem de dinheiro.
Uma vez
que um apostador faz um deposito em uma bet, é possível que o dinheiro nunca
mais seja recuperado, segundo o secretario.
"O
que nos cabe é tentar, da melhor forma possível, ter um cuidado para não fazer
com que esses recursos sejam perdidos. O fato é que é difícil o Estado fazer
com que esse dinheiro retorne para você", afirma.
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Arrecadação
O setor
de apostas de quota fixa já gerou cerca de R$ 2 bilhões em outorgas ao governo,
segundo Dudena.
Cada
autorização custa R$ 30 milhões e permite operar até três bets. Atualmente, 71
empresas possuem 73 autorizações. Atualmente, há 159 bets em atividade.
A
Receita Federal informou que os números da arrecadação com tributos ainda estão
sendo consolidados.
¨
“Educar, depois punir”, diz Fred Justo sobre bets ilegais
Fred
Justo, ex-coordenador-geral de Monitoramento de Lavagem da SPA (Secretaria de
Prêmios e Apostas), disse que é necessário “educar, depois punir” as operações
ilegais em apostas e jogos. Durante painel no Bis Sigma Américas nesta 5ª feira
(10.abr.2025), ele afirmou que ainda falta estudo da polícia e autoridades para
comandar grandes operações contra o mercado irregular no Brasil.
“As
autoridades, hoje, país afora, ainda não estão preparadas para lidar com esses
casos”, disse. “É preciso fazer 1º uma educação, na regulação de modo amplo,
para que o juiz ou promotor saiba minimamente [sobre] a denúncia que esta
lendo”.
Justo
ficou 1 ano e 8 meses no comando da PLD (Prevenção de Lavagem de Dinheiro) da
SPA no Ministério da Fazenda. Ele opinou que a melhor medida tomada pelo
Governo foi a criação da portaria SPA/MF nº 566 – que determina que, se
instituições financeiras ou de pagamento não seguirem as regras sobre apostas
não autorizadas, podem ser fiscalizadas e punidas.
O
ex-coordenador-geral disse que a presença dos operadores é indispensável para
detectar práticas de lavagem de dinheiro no mercado ilegal de apostas. Segundo
ele, a prática é um dos maiores problemas que devem ser erradicados com a
legalização da prática.
¨
“Ações contra bets devem aumentar”, diz especialista
jurídico
O
advogado e head do departamento de Apostas e Cripto do escritório Bichara e
Motta Advogados, Udo Seckelmann, disse que número de ações contra casas de
apostas devem aumentar após a regulamentação do mercado. A declaração foi feita
durante entrevista ao podcast do Poder360 no Bis Sigma Américas, em São Paulo.
“Como a
gente tem menos de 4 meses de mercado regulado, a expectativa é que o número de
ações contra casas de apostas deve aumentar a partir de agora. Antes, quando as
empresas estavam em outras jurisdições, era muito mais complexo para o
apostador buscar seus direitos. Agora estamos na transição do mercado regulado
com as empresas estabelecendo uma filial aqui no Brasil”, afirmou o
especialista, que também é professor da CBF Academy.
Seckelmann,
que possui mestrado em direito desportivo internacional pelo Instituto Superior
de Derecho y Economía, em Madri, também destacou a importância das bases
regulatórias adotadas no Brasil seguirem um padrão internacional. “As bases
regulatórias que hoje estão no Brasil acompanham as práticas internacionais.
Tem algumas diferenças, [por exemplo] na Inglaterra não é possível obter
licença não tendo sede na Inglaterra”, disse.
O
especialista ainda falou sobre como impedir a prática lavagem de dinheiro nas
apostas. “Se a movimentação do jogador for duvidosa, apostava R$ 10 por semana
e começou a apostar R$ 5.000, mudou a forma de apostar desse jogador, acende um
sinal vermelho para buscar mais informações sobre o apostador”, disse.
¨ Com habeas corpus
pelo ministro André Mendonça, Deolane não comparece à CPI das Bets
A
advogada e influenciadora Deolane Bezerra informou, via redes sociais, na noite
desta quarta-feira (9) que não vai comparecer à Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, conhecida como "CPI das Bets"
— instalada no Senado.
O
comunicado foi publicado no Instagram oficial da influenciadora, na área de
mensagens temporárias, conhecida como "story", mas, horas depois, ele
foi apagado.
Na
mensagem removida, Deolane justificava a ausência da seguinte forma:
"Eu
não vou ser boba da corte de ninguém, eu não vou ser usada de bode expiatório
mais uma vez. Então, eu não iriei, já que eu ganhei um habeas corpus me facultando
de ir ou não. Então, eu ficarei em São Paulo", disse.
Em
decisão nesta quarta (9), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
André Mendonça afirmou que Deolane não é obrigada a comparecer à CPI.
Apesar
de Deolane ter sido convocada na condição de testemunha, Mendonça entendeu que
há investigações em curso contra ela na Justiça.
Dessa
forma — já que também é investigada — ela tem a garantia constitucional de não
se autoincriminar. Por isso, a presença é facultativa.
Uma
pessoa investigada não é obrigada a comparecer.
A
defesa da influenciadora argumentou que a convocação feria garantias legais, já
que há procedimentos abertos que a envolvem, e o ministro acatou o pedido.
<><>Testemunha
X investigado
🔎 Em uma CPI os senadores podem
apresentar requerimentos para que uma pessoa seja chamada a prestar
depoimentos, podendo ser em condição de testemunha ou investigado.
- ➡️No caso de testemunha, o depoente
é obrigado a dizer a verdade sobre o que tem conhecimento, viu ou ouviu
sobre o que for questionado.
- ➡️Já no caso de investigado, há um
entendimento de que o depoente possui algum tipo de envolvimento com o
caso investigado.
Deolane
foi convocada para prestar depoimento na condição de testemunha em novembro do
ano passado.
Autor
do requerimento de convocação, o senador Izalci Lucas (PL-DF) justificou que o
depoimento de Deolane é necessário para “esclarecer seu envolvimento na
promoção de apostas e o possível uso de sua imagem para legitimar operações
financeiras ilícitas, conforme indicam as investigações”.
Além
disso, argumentou que a presença da advogada seria “crucial” para entender as
conexões entre influenciadores e esquemas ilícitos no mercado de apostas e que
Deolane poderia esclarecer como influenciadores têm sido utilizados por
plataformas de apostas para atrair consumidores.
Deolane é investigada na Operação
Integration,
que apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro e jogos ilegais.
Além
dela, sua mãe, Solange Bezerra, e Darwin Henrique da Silva Filho, dono da
Esportes da Sorte, também estariam entre os beneficiados pelo esquema.
Ela foi presa no Recife em setembro
do ano passado. Segundo
a polícia, foram movimentados, de janeiro de 2019 a maio de 2023, cerca de R$ 3
bilhões em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie,
provenientes de jogos ilegais.
Fonte:
g1/Poder 360
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