Enquanto é contra taxar ricos, Caiado critica
a isenção de até 5 mil do IR e de políticas sociais abrangentes
Em
1989, quando foi candidato à Presidência pela primeira vez, o jovem Ronaldo Caiado (União Brasil)
já havia fundado a União Democrática Ruralista (UDR). Com forte sotaque goiano,
ele se defendia na TV, dizendo ser "confundido", nas grandes cidades,
como "o candidato do interior".
"Se
existe São Paulo, se existem as grandes cidades, é porque existe o interior do
Brasil", afirmou, nas considerações finais de um debate entre os presidenciáveis na TV
Bandeirantes, a poucos dias do primeiro turno daquela primeira eleição após a
democratização do país.
Naquelas
eleições, Caiado ficou em 10º lugar, com menos de 1% dos votos.
Passados
quase 40 anos, o sotaque continua o mesmo. O orgulho de ser o candidato do
agro, também.
Mas
desta vez o governador de Goiás quer desfilar com mais de um chapéu. O de
boiadeiro, claro, mas também o do político experiente e com décadas de
"confronto com Lula e o PT" para tentar preencher o vácuo que o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) pode
deixar na disputa presidencial de 2026.
Em
entrevista concedida à BBC News Brasil em Salvador, na véspera do lançamento da
sua pré-candidatura à Presidência, Caiado criticou o governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e evitou falar de Bolsonaro.
Classificou
como "populista" a iniciativa do governo petista de aumentar o imposto dos mais ricos para compensar
a perda de arrecadação pela isenção de Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5
mil.
Nos
cálculos do governo, a nova taxa dos super-ricos atingiria 141 mil pessoas.
Caiado estaria entre elas - sua fortuna declarada ao Superior Tribunal
Eleitoral em 2022 foi de quase R$ 25 milhões, ancorada em negócios variados,
incluindo rebanhos e fazendas.
"Acho
que é um ato populista no momento em que ele está gastando
desenfreadamente", afirmou.
Fincando
os dois pés no eleitorado da direita, o governador disse que a alta letalidade
policial do seu Estado está ligada à melhora nos índices de segurança pública.
Goiás é
o terceiro Estado com a maior taxa de mortes violentas cometidas por policiais
em 2023, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública mais recente.
"Quando
o crime é confrontado com a polícia, quem é que morreu nesse
enfrentamento?", diz. "A tropa do Estado é preparada para o
confronto."
Ele
rejeitou a ideia de que a agropecuária deixa passivos ambientais. Segundo o
MapBiomas, projeto formado por diversas iniciativas que se dedica a monitorar a
cobertura e o uso da terra no Brasil, a pastagem foi a principal finalidade do
desmatamento ilegal na Amazônia entre 1985 e 2023.
Para
ele, a lei "está sendo cumprida" a atende as exigências de áreas de
preservação previstas no Código Florestal Brasileiro.
Para
virar candidato no ano que vem, no entanto, seus obstáculos são outros. Existe
a possibilidade de que o União Brasil forme uma federação partidária com o
Progressistas (PP).
Se isso
acontecer, a pré-candidatura do governador, que já enfrenta pressões internas
para desistir do projeto, estará ainda mais em xeque.
Além
disso, está previsto para a próxima terça-feira (8/4) o julgamento de um
recurso que ele moveu contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que
o tornou inelegível.
Segundo
o tribunal, Caiado cometeu abuso de poder ao usar o Palácio das Esmeraldas,
residência oficial do governador, para realizar eventos em apoio a Sandro
Mabel, candidato do União Brasil que venceu a disputa pela Prefeitura de
Goiânia no ano passado.
"Essa
matéria não tem nenhum fundamento", diz, sobre o processo.
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Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
- Na campanha de
1989, o senhor falava "eu sei que quando eu chego nos lugares, as
pessoas falam, ah, lá vem o candidato do agro". O senhor acha que o
agro ainda hoje é incompreendido?
Ronaldo
Caiado - Naquela
época, era impressionante a campanha que existia contra a figura do produtor
rural. Tentavam estigmatizar o produtor rural como uma pessoa que fosse
insensível, que não tivesse solidariedade, que não tivesse compromisso com o
social.
Hoje
você vê que no Brasil, todos já são defensores do agro. Naquela época, apenas o
Ronaldo Caiado tinha coragem de defender o agro.
O
Brasil hoje é a maior potência de produção de alimentação, não só de
brasileiros, mas também de mais de quase um bilhão de pessoas fora do país que
recebem hoje alimentos produzidos no Brasil. Então é o segmento que deu certo.
- Então o senhor
vai continuar sendo o candidato do agro?
Caiado
- Diria
que eu sou um candidato que vem de dois mandatos como governador. E se você
buscar todas as áreas de atuação do governo, que são comparadas com os demais
colegas meus governadores, você vê que eu sou o primeiro lugar em tudo. Então
não é um discurso único do setor.
Como
governante, você vê que Goiás é o primeiro lugar na educação, em transparência
das contas públicas, em liquidez, em segurança pública, é o primeiro lugar em
Estado que mais retirou pessoas da extrema pobreza.
Não tem
apenas uma linha de ação, eu tenho uma amplitude em todas as áreas de atuação
do governo.
- O Brasil tem
sido cobrado mundialmente a produzir carne, soja, e milho livres de
desmatamento. A União Europeia tem cobrado iniciativas do Brasil nesse
sentido, por exemplo. Goiás é o terceiro Estado com o maior rebanho bovino
do país. É possível falar em sustentabilidade na agropecuária? Até o
momento, as metas que foram traçadas de desmatamento não foram atingidas.
Caiado
- Sim,
eu posso discutir isso, mas com base em dados, não em achismo. Qualquer
parlamentar ou qualquer governante na Europa que tenha conteúdo capaz de poder
apresentar dados, eu estou inteiramente à disposição.
Porque
fui eu, como parlamentar, um dos que participou na elaboração do Código
Florestal Brasileiro. Então eu sei exatamente o que nós produzimos e sei
exatamente como é que é a realidade da agropecuária brasileira.
Na
Amazônia, por exemplo, você precisa ter 80% de preservação ambiental e apenas
20% de ocupação [dos imóveis rurais]. Essa é a lei. E ela está sendo cumprida.
Nós
somos o único país no mundo que temos todos os nossos biomas preservados.
Como os
europeus produzem carne? O animal é alimentado com resíduos de outros animais,
os europeus produziram uma carne onde lá eles desenvolveram o prion [proteína
infecciosa] da vaca louca.
A
partir daí, você colocou em risco todo um consumo de carne produzida por um
gesto totalmente irresponsável da alimentação de animal com resíduo animal.
Então,
se tem algo nocivo, é exatamente isso.
- O senhor está
falando das questões fitossanitárias.
Caiado
- Sim,
mas isso é importante, porque você há de convir que isso aqui provocou um
problema de saúde.
Agora
vamos à parte ambiental. Nós já temos uma lei que define como deve ser o
exercício e a prática da agropecuária no Brasil.
Aí vem
uma lei europeia que diz o seguinte, olha, mesmo que o produtor não tenha
atingido os seus 80% [de desmatamento que o Código Florestal permite no bioma
do Cerrado] da sua área, ele está impedido de continuar amanhã a ocupação do
restante da sua área. Isso é inaceitável.
Quando
nós produzíamos 60 milhões de toneladas de grãos, os europeus não falavam nada.
No
momento que nós estamos produzindo 320 milhões de toneladas de grãos, aí eles
se assustaram. É [mais] um viés econômico do que uma preocupação ambiental.
- Mas então o
senhor não acha que é preciso avançar em boas práticas ambientais na nossa
produção por conta da crise climática?
Caiado - Nós não
podemos partir desta tese. É cumprir a lei.
Fica
difícil para o europeu e o americano, eles chegarem para nós e dizerem, "é
porque a preservação..."
Vem cá,
vocês não precisam dizer isso a nós. Nós fazemos isso. Nós cumprimos nossa
tarefa. Quem não cumpre a tarefa são vocês. Vocês não têm florestas nativas.
Do
ponto de vista ambiental para o europeu e para o americano, nós estamos
quilômetros à frente deles.
O
problema todo é mais do ponto de vista econômico. Se o Brasil começasse a
produzir carro, se o Brasil começasse a produzir máquinas agrícolas, eles iam
criar algum problema para bloquear a entrada dos produtos nossos lá na Europa.
Agora,
o aquecimento global… As dificuldades todas, nós não usamos aqui. Nenhuma...
nós não utilizamos aqui o consumo de carvão, como se usa tanto ainda na Europa.
Nós não temos aqui nada que possa contaminar o meio ambiente.
"Ah,
mas nós temos as queimadas."
A
Amazônia já não é mais governada pelo Estado brasileiro, é governada pelas
facções criminosas. As facções do narcotráfico é que comandam a Amazônia, tanto
no garimpo ilegal, como no contrabando de árvores como na ocupação territorial.
Por uma
total omissão do governo federal, a Amazônia hoje, se ela está sendo destruída
e se estão ali comercializando árvores e estão ali ampliando garimpos, são
exatamente as facções que estão no comando dela.
É uma
região tão ocupada quanto... o Morro do Borel, a Rocinha…
O governo
federal é complacente com o narcotráfico.
- Este governo?
Caiado
- Sim,
este governo. A linha do atual governo sempre foi complacente com o crime.
- O governo
anterior tomou alguma medida em relação a isso?
Caiado
- Houve
uma reestruturação das polícias nos Estados, teve apoio nos Estados. Agora você
não tem contrapartida para os Estados.
- Segundo o
Observatório Brasileiro de Segurança Pública, os índices da violência em
Goiás vêm se reduzindo nos últimos anos, mas, ao mesmo tempo, letalidade
policial tem aumentado. Em 2023, um terço das mortes violentas foram
provocadas por policiais no Estado. É o terceiro Estado com o maior número
de mortes causadas pela polícia. O que está acontecendo? A polícia está
matando demais? O senhor considera colocar a câmera nas polícias?
Caiado
- Não,
não considero de maneira alguma [colocar câmeras].
A
Corregedoria é capaz de saber como é que se faz o tratamento ali e as ordens e
as diretrizes gerais são definidas pela polícia e pelo governo.
- E o que está
acontecendo então?
Caiado
- Está
acontecendo que você tem uma segurança plena.
- Plena?
Caiado
- Plena.
É plena, é plena.
Por
exemplo, é uma realidade que você tem hoje de 87% de aprovação da segurança
pública [pesquisa Quaest apontou, em fevereiro, que a segurança pública em
Goiás é aprovada por 74% da população]. Ora, o confronto não foi a polícia que
foi lá confrontar com ele.
Eles é
que foram confrontar com a polícia.
- O senhor
acredita que para ter uma segurança plena é necessário uma polícia que
atue de maneira efetiva, chegando às últimas consequências, como é nesse
caso?
Caiado
- Não,
você está invertendo a ordem da pergunta. A pergunta é a seguinte, para se ter
segurança plena é preciso que você tenha a força de segurança capaz de proteger
a sua população? A polícia de Goiás protege a sua população.
- Mas protege e
mata.
Caiado
- Mas
como que é mau, se a população de Goiás aprova a segurança pública em 87%?
Você
está fazendo um pré-julgamento da polícia, quer dizer, Estado bom é quando o
crime mata muito, é isto? Essa é a sua visão.
- Não. Eu não
disse isso.
Caiado
- É
exatamente isso que você coloca. Quando o crime mata muito, aí não tem
problema.
Quando
o crime é confrontado com a polícia, quem é que morreu nesse enfrentamento?
A tropa
do Estado é preparada para o confronto.
A
indignação que tem que ser da população, é diante da privação da pessoa dela
poder ter o direito de ir e vir.
Hoje a
droga no Brasil já passou a ser souvenir das facções. O setor imobiliário hoje
está todo tomado pelas facções no Brasil, ninguém enfrenta eles mais.
[Há
uma] Ocupação nas campanhas eleitorais, elegendo prefeitos, deputados,
governadores, ações [das facções] dentro dos poderes, do Tribunal de Justiça,
Defensoria Pública, Ministério Público em todas as áreas dos poderes constituídos
hoje. Os postos de gasolina, supermercados, onde circula dinheiro, o comando
nas penitenciárias, eles dão a ordem lá de dentro, são verdadeiros escritórios
do crime. Veja se isso acontece na Europa?
Então,
esta realidade, distorcer o fato, são exatamente de ONGs que são sustentadas
por eles.
- O senhor
discordou de Bolsonaro, quando ele falou sobre uma "ditadura do
Judiciário", se referindo ao julgamento dele no âmbito da suposta
tentativa de golpe. Ao mesmo tempo, o senhor tem uma condenação no
Tribunal Regional Eleitoral pela mesma razão que deixou o ex-presidente
inelegível: abuso de poder. O senhor acredita que isso pode mudar até o
ano que vem?
Caiado
- Quando
você está no Palácio que é a sua residência, as ações suas são as ações de
dentro da sua casa, você recebe as pessoas, como a Dilma [Rousseff] recebia no
Palácio da Alvorada, como o Bolsonaro recebia no Palácio da Alvorada e como o
Lula recebe no Palácio da Alvorada.
Da
mesma maneira que eu recebi vereadores dentro do Palácio das Esmeraldas.
Residência do governador, não é o palácio de despacho do governador.
O
palácio de despacho, aí sim, você está no exercício do seu mandato.
Na sua
residência, você recebe as pessoas, você convive com as pessoas, você fala,
você grava, você opina, você discute.
Tanto é
que essas matérias todas que foram levadas ao Tribunal Superior Eleitoral,
todas foram ditas, olha, estavam na residência.
Como
tal, essa matéria não tem nenhum fundamento.
Este
assunto será julgado agora dia 8 de abril. Então vamos aguardar a decisão. Eu
falo porque aquilo já é matéria transitada e julgada e eu não estou inibido de
poder receber dentro do Palácio das Esmeraldas. Uma coisa seria se eu estivesse
no palácio de despacho, chamando pessoas no horário de trabalho. Agora, eu
estou em um jantar, tá certo?
- Ainda falando
sobre o Bolsonaro, o senhor se afastou um pouco dele em alguns momentos,
depois retomou. Ao mesmo tempo, é muito possível que exista aí um vácuo
grande deixado por ele no campo da direita porque, até o momento, ele não
poderá concorrer em 2026. O que o senhor diria para o eleitorado
bolsonarista? Quais os princípios do Bolsonaro o senhor segue?
Caiado
- Não
existe nenhum político no Brasil que tenha essa antecedência de confronto com o
Lula e com o PT do que Ronaldo Caiado. Então, eu não preciso me explicar.
Eu sou
um político, eu não sou encabrestado de ninguém. Eu tenho a minha independência
intelectual.
Eu acho
que a vida do político se sustenta na coerência, na credibilidade moral e não
no oportunismo temporário.
Ou você
governa na autenticidade sua, ou você passa a ser preposto de alguém. Eu não
sou preposto de ninguém.
- O senhor acha
que tem algum preposto nesse momento?
Caiado
- Eu
não estou fazendo juízo de valor de quem pode ser, mas dizendo a você que a
eleição de 2026 é uma eleição onde você vê o Brasil num momento de altíssimo
risco do ponto de vista de os poderes estarem totalmente conflagrados.
Você,
por ausência de um presidente capaz de assumir o presidencialismo e de ser um
líder do processo, você nota hoje uma desordem institucional.
Você vê
hoje que o Congresso extrapola das suas prerrogativas, o Supremo extrapola as
suas prerrogativas. O governo principal, que é a Presidência da República, não
sabe o que deseja, não tem plano de governo, se perde no populismo, não tem uma
meta para atingir, tenta recuperar programas anteriores, não tem vocação para
trabalhar.
O
próximo presidente da República tem que ser alguém que tenha capacidade de ter
independência moral.
Então,
ou nós vamos nos preocupar com as metas principais do país, que são educação,
saúde, segurança, desenvolvimento social, tecnologia, avanço em pesquisa, ou
senão fica o Brasil perdido numa discussão.
- O governo está
propondo aumentar o imposto dos mais ricos. No caso, o senhor seria uma
pessoa cujo imposto seria aumentado para pagar a conta da isenção de
Imposto de Renda de 10 milhões. O senhor é a favor desse aumento de
imposto para os mais ricos?
Caiado
- Essa
posição de ir ao favor ou ser contra, você tem que saber no seu país como é que
o imposto está sendo aplicado. O Brasil tem recorde de arrecadação todo ano.
Se você
buscar o que é a dívida do país, quando Lula assumiu o governo, era de 72% do
PIB, que ele já jogou no mercado, sem o menor plano de governo, quase um
trilhão de reais.
A
dívida do país em relação ao PIB já está em 78%. Ou seja, em dois anos de
governo, ele [Lula] passou de 72 para 78.
É algo
inédito.
Se eu
chego ao governo, eu vou me ocupar com a dívida do país.
Porque
se eu continuar gastando desse jeito, eu vou aumentar a carga tributária para
todo mundo.
Agora,
esta consequência, ela vai resolver o problema do país? Ou vai ser mais um ato
que ele vai tomar, um ato populista no momento?
- O que o senhor
acha?
Caiado
- Eu
acho que é um ato populista no momento em que ele está gastando
desenfreadamente e todas as estatais hoje estão dando prejuízo. Eu acho que
você não precisa mais cobrar carga tributária.
Existe
algum país do mundo que cobre 32% de imposto no bolso? 32% é transferido
diretamente para o bolso do presidente.
Então,
se eu não tiver controle sobre o gasto público, ele vai taxar todo mundo.
E cada
vez em proporções maiores. Ninguém suporta isso.
- O governo Lula e
o Congresso discutem uma maneira de reagir ao tarifaço de Donald Trump.
Qual é sua posição sobre isso?
Caiado - Quem está
acompanhando as pesquisas nos Estados Unidos [vê que], pelo visto, está
afetando mais os americanos [o tarifaço de Trump não é apoiado pela maioria dos
eleitores americanos, segundo as pesquisas].
Então,
você tem que saber se aquilo que está tomando como alternativa ali vai ter
prejuízo para o Brasil, entre aspas.
Nós
temos a Ásia toda de mercado. Qual vai ser o problema para nós? Em que que vai
afetar o Brasil?
- A exportação de
aço, por exemplo.
Caiado
- Isso
aí é um segmento, um setor ou outro. Você compensa isso em outras áreas. Você
tem a Ásia toda aberta hoje. São os maiores consumidores, os maiores
importadores que tem do Brasil. Isso aí eu acho que vai ter reflexo na economia
interna deles [dos EUA].
- Então adotar uma
política de reciprocidade neste momento não seria necessário?
Caiado
- Eu
acho que neste momento, por que você não vai procurar outro mercado? Por que
essa briga? Hoje nós estamos expandindo tanto, nós temos tantos países que
importam do Brasil. Todo produto nosso tem demanda e tem mercado.
- O Trump é um
grande ídolo da direita. O Tarcísio já usou o boné MAGA [Make America
Great Again, um slogan da campanha do republicano]. O senhor acha que
algumas políticas que ele está adotando lá, por exemplo, enxugar o
funcionalismo público, seria algo que o senhor adotaria aqui?
Caiado
- Se
você analisar o gasto do Brasil hoje, você vê que gasta em primeiro lugar com
Previdência, depois vem o gasto pessoal.
Então,
é lógico que isso aí é uma demanda que está dentro do debate. Mas não é por
causa do assunto do Trump.
É por
isso que eu falo que a eleição próxima é uma eleição que vai exigir muito se o
cidadão terá independência moral para poder implantar as medidas que precisa.
Do
contrário, o Brasil vai consumindo cada vez mais, tirando dinheiro do bolso do
cidadão.
Se você
comparar com o BRICS hoje, nós estamos perdendo em quase todos os parâmetros.
Então, é o contrário, nós temos que ser um país competitivo.
- Uma nova reforma
da Previdência, redução do funcionalismo público são medidas impopulares.
Estariam em um eventual governo do senhor? O que mais?
Caiado
- Primeiro,
criaria o Ministério da Segurança Pública. Alavancaria um apoio direto com
inteligência e com material e com a cobertura real de fronteiras em nosso país.
A partir
daí, daria um outro estímulo aos jovens na área do empreendedorismo. Essa é a
vocação do brasileiro. O brasileiro não quer mais ter simplesmente o CLT dele,
a carteira assinada, ele quer ter a perspectiva e abrir um novo universo para o
mundo todo.
A
situação toda da saúde com médicos, as mortes evitáveis que nós precisamos
atacar, ou seja, quantos Estados só tem recursos de UTI nas capitais e não tem
a regionalização dos hospitais.
Reforma
da Previdência, reforma administrativa, cancelamento de excessos de incentivos
fiscais direcionados a algumas empresas sem eficiência. Essa tarefa de casa,
todo mundo sabe que tem que fazer.
Agora,
se ele [um presidente] não tiver coragem para fazer, não vai fazer. Porque ele
vai ter que enfrentar debates, discussões.
Às
vezes ele [um presidente], como se diz no Brasil, "amarela". Não
consegue levar isso adiante.
Agora,
para isso [levar adiante], tem que ter credibilidade. Você não pode nem ser
preposto de ninguém e nem pode ser amanhã cumpridor de ordem terceira.
Fonte: BBC News Brasil
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