sexta-feira, 4 de abril de 2025

Frutose em excesso altera intestino e aumenta risco de diabetes tipo 2

O consumo excessivo de frutose — comum em dietas com alto teor de alimentos ultraprocessados — modifica a forma como o intestino responde à glicose, aumentando a absorção desse açúcar e comprometendo o controle da glicemia. Essa foi a conclusão de um estudo publicado na revista Molecular Metabolism por pesquisadores da Université Laval (Ulaval), do Canadá, e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Segundo os autores, esses efeitos observados em camundongos precedem a intolerância à glicose e o acúmulo de gordura no fígado, dois fatores ligados ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MASLD, na sigla em inglês). E a absorção intestinal alterada é o gatilho do problema.

No estudo, camundongos foram alimentados durante sete semanas com uma dieta em que 8,5% da energia vinha da frutose — proporção considerada elevada, mas ainda próxima do consumo humano médio. Em apenas três dias, os animais já apresentavam um aumento na capacidade do intestino de absorver glicose, antes mesmo do surgimento da intolerância à glicose. Após quatro semanas, a glicose já não era eficientemente removida do sangue e, ao fim do estudo, observou-se acúmulo de gordura no fígado — condição que pode evoluir para quadros mais graves, como a cirrose.

Curiosamente, mesmo com esses efeitos adversos, os camundongos não desenvolveram resistência à insulina nos músculos ou no tecido adiposo, indicando que o descontrole glicêmico inicial ocorre por alterações no intestino e não por falha na resposta insulínica periférica.

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A explicação para esse fenômeno pode estar na ação de um hormônio chamado GLP-2, produzido por células do intestino. Os pesquisadores constataram que o consumo excessivo de frutose eleva os níveis circulantes de GLP-2, substância que estimula o crescimento da superfície intestinal e o aumento da absorção de nutrientes. Ao bloquear o receptor desse hormônio (Glp2r) com uma droga, foi possível impedir o aumento da absorção de glicose, evitando tanto a intolerância quanto o acúmulo de gordura no fígado.

No entanto, a estratégia de bloqueio do Glp2r não é facilmente aplicável a humanos, pois esse mesmo receptor está envolvido na proteção da barreira intestinal contra infecções e inflamações. Isso reforça a complexidade do papel do GLP-2 na saúde metabólica.

“Mostramos que o aumento da absorção de glicose pelo intestino ocorre antes da intolerância à glicose. Isso abre caminho para o uso desse mecanismo como um biomarcador precoce”, disse à Assessoria de Imprensa do ICB-USP Fernando Forato Anhê, professor da Faculdade de Medicina da Ulaval e coordenador da investigação. “O teste de absorção intestinal de glicose é barato, seguro e já utilizado em humanos – bastaria aplicá-lo em um novo contexto.”

Apoiada pela FAPESP por meio de quatro projetos (20/12201-4, 22/14545-8, 20/06397-3 e 22/02829-1), a pesquisa foi conduzida por Paulo H. Evangelista-Silva, doutorando no Programa de Pós-Graduação do Departamento de Biologia Funcional e Molecular do ICB-USP, em coautoria com Eya Sellami, pesquisadora da Ulaval, e Caio Jordão Teixeira, pós-doutorando no Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-USP.

Na próxima etapa, apoiada pelo Canadian Institutes of Health Research (CIHR), o grupo vai investigar como o microbioma intestinal pode ser manipulado para reduzir os efeitos nocivos do excesso de frutose.

<><> Fruta é aliada

De acordo com Evangelista-Silva, os resultados do estudo se referem ao consumo de frutose adicionada a alimentos ultraprocessados. “Frutas in natura são ricas em fibras, que ajudam a retardar a absorção de glicose e aumentam a saciedade. Além disso, contêm nutrientes benéficos para a saúde intestinal e hepática”, explicou.

A pobreza nutricional dos ultraprocessados, com baixo teor de fibras e altos níveis de açúcares adicionados – como o xarope de milho e o açúcar de cana –, sobrecarrega o organismo. Evangelista-Silva recomenda priorizar alimentos in natura, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O açúcar de cana-de-açúcar e o xarope de milho são exemplos de açúcares ricos em frutose amplamente utilizados pela indústria em alimentos ultraprocessados.

Confira abaixo alguns exemplos:

  • Refrigerantes e sucos industrializados (mesmo os 100% fruta)
  • Cereais matinais e barras adoçadas
  • Biscoitos recheados e doces industrializados
  • Pães e bolos prontos (como bisnaguinhas e pão de forma)
  • Chás prontos e bebidas esportivas adoçadas
  • Molhos industrializados (ketchup, barbecue etc.)
  • Iogurtes adoçados, sobremesas lácteas e geleias

 

¨      Amora protege contra diabetes e envelhecimento: veja 5 outros benefícios

A amora é uma fruta prática de ser consumida diariamente e versátil, podendo fazer parte de diversas receitas doces, chás e sucos. Além disso, ela oferece diversos benefícios para a saúde, como proteger contra o envelhecimento precoce e contra doenças crônicas, como o diabetes e a hipertensão.

“A amora é riquíssima em antioxidantes, como antocianinas e resveratrol, que combatem os radicais livres no organismo”, afirma Verônica Dias, nutricionista integrativa e farmacêutica do Instituto Nutrindo Ideais. “Ela também contém vitaminas C, K, e E, minerais como potássio, magnésio, ferro, cálcio e fibras solúveis e insolúveis. Esses nutrientes são importantes para a saúde celular, imunidade e regulação intestinal”, completa.

Além da fruta, a folha da amora também pode ser consumida, geralmente na forma de chás ou extratos. “Elas possuem polifenóis e flavonoides com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Ácido clorogênico, que ajuda no controle glicêmico e pode auxiliar no metabolismo lipídico. Propriedades calmantes, relatadas em usos tradicionais”, afirma Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

<<<<< A seguir, confira sete benefícios da amora para a saúde, de acordo com a nutricionista.

>> 1. Protege contra envelhecimento precoce

A amora possui alto teor de antioxidantes que ajudam a combater os radicais livres, protegendo as células do corpo contra o envelhecimento precoce. Consequentemente, ela pode ajudar no combate a flacidez e rugas na pele.

Um estudo publicado em 2019 mostrou que a antocianina presente em amoras são submetidas à fermentação da microbiota intestinal [bactérias saudáveis que vivem no intestino] e formam metabólitos ativos com potencial atividade antioxidante que atua contra o estresse oxidativo, prevenindo o envelhecimento.

Além disso, de acordo com Garcez, compostos como antocianinas podem proteger contra o declínio cognitivo.

>> 2. Protege contra diabetes e hipertensão

Também por possuir alto nível de antioxidantes, a amora pode proteger o organismo contra doenças crônicas, incluindo o diabetes e a hipertensão.

“Seu baixo índice glicêmico também desempenha um papel importante, pois evita picos de glicose e insulina no sangue, o que contribui para o controle do apetite e o equilíbrio energético. Além disso, o consumo regular de amoras pode ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina, favorecendo a regulação do metabolismo de carboidratos e reduzindo o acúmulo de gordura”, explica Dias.

Um estudo realizado em camundongos, e publicado em 2023, indica que os polifenóis encontrados nas amoras podem melhorar a função dos vasos sanguíneos, contribuindo para o melhor fluxo sanguíneo e redução da pressão arterial. Além disso, os polifenóis também ajudam a neutralizar os radicais livres, cuja ação também pode levar à hipertensão.

>> 3. Auxilia no emagrecimento

A amora pode ser uma grande aliada no processo de emagrecimento, segundo Dias. Isso porque ela é uma fruta com baixa densidade calórica e rica em fibras, ajudando a promover maior saciedade, a controlar o apetite e reduzir o consumo de calorias ao longo do dia.

“Outro ponto é o alto teor de antioxidantes, que auxiliam no combate à inflamação, um fator muitas vezes associado à dificuldade de perder peso”, afirma a nutricionista.

No entanto, Garcez faz uma ponderação: “Sozinha, a amora não promove emagrecimento significativo e deve ser associada a uma alimentação equilibrada aliada a atividade física”, afirma.

>> 4. Combate a inflamação

Por ser rica em antioxidantes, a amora pode auxiliar no combate à inflamação, podendo fazer auxiliar, inclusive, no tratamento do Lipedema, uma doença crônica que provoca o acúmulo anormal de gordura nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços.

Um estudo publicado em 2018 mostrou que as antocianinas presentes em amoras ajudaram a diminuir a produção de substâncias inflamatórias no organismo.

>> 5. Promove o equilíbrio intestinal

As fibras presentes nas amoras são importantes para promover o equilíbrio intestinal, aumentando o volume das fezes e combatendo a prisão de ventre.

Esse benefício também está relacionado aos polifenóis presentes na fruta, que agem como uma fonte de combustível para as bactérias que vivem no intestino. Um estudo publicado em 2022 mostrou que a amora promove o crescimento da microbiota intestinal e ajuda a regular o pH da região.

>> 6. Ajuda na saúde cardiovascular

“A amora apoia a saúde cardiovascular ao melhorar o perfil lipídico e reduzir inflamações, graças aos compostos bioativos [antocianinas, os carotenoides, os compostos fenólicos e os flavonoides]”, afirma Dias.

Um estudo publicado em 2016 mostrou que o consumo de amoras reduziu significativamente o colesterol LDL (considerado “ruim”), a pressão arterial sistólica e a glicemia de jejum.

>> 7. Fortalece o sistema imunológico

A vitamina C presente na amora pode fortalecer o sistema imunológico e ajuda na produção de colágeno, uma proteína essencial para a saúde da pele. Além disso, seus compostos antioxidantes e anti-inflamatórios podem auxiliar na prevenção e no tratamento de infecções.

A amora também é rica em manganês, um mineral importante para o desenvolvimento saudável dos ossos e um sistema imunológico saudável.

<><> Como consumir amora?

A amora é uma fruta versátil que pode ser consumida de diferentes formas, como in natura, congelada, desidratada, em sucos, vitaminas, chás, geleias, sobremesas, saladas e, até mesmo, como base para molhos.

“O consumo in natura ou congelada é a melhor forma de preservar todos os nutrientes, especialmente as fibras, antioxidantes e vitaminas sensíveis ao calor, como a vitamina C”, afirma Dias.

A nutricionista explica que, quando utilizada em sucos, parte das fibras pode ser perdida no processo de coar, mas os antioxidantes e outros compostos bioativos são mantidos. Já em preparos que envolvem aquecimento, como geleias ou sobremesas assadas, a amora mantém os antioxidantes, como as antocianinas, mas pode sofrer redução em nutrientes termossensíveis, como a vitamina C.

“Para aproveitar ao máximo os benefícios da amora, é ideal variar o modo de consumo e, sempre que possível, priorizar preparos que minimizem perdas nutricionais, como vitaminas e saladas”, orienta.

No entanto, a nutricionista alerta: o consumo em excesso da amora pode causar desconforto gastrointestinal e pode levar à diarreia, devido ao alto teor de fibras. “Além disso, como contém oxalatos, em quantidades muito elevadas pode aumentar o risco de formação de cálculos renais em pessoas predispostas”, alerta.

Além disso, de acordo com Garcez, a amora pode interagir com medicamentos anticoagulantes, devido à presença de vitamina K, e medicamentos para diabetes, pela eventual redução da glicemia. “Mas isso acontece apenas com o consumo de quantidades realmente excessivas”, afirma.

¨      Por que desejamos doce depois das refeições? Novo estudo responde

Você já sentiu vontade de comer um docinho depois de uma refeição? O desejo por sobremesas é algo comum a muitas pessoas e, agora, um novo estudo mostra que essa tentação pode estar relacionada à forma como os neurônios atuam no cérebro.

O trabalho, publicado na revista científica Science no último dia 13, foi realizado, primeiramente, com camundongos e mostrou que um grupo de células nervosas, chamados neurônios POMC, são responsáveis pelo apetite por doces, mesmo quando os ratos já estavam saciados.

Segundo o estudo, realizado por pesquisadores do Instituto Max Planck de Biologia do Envelhecimento, localizado na Alemanha, esses neurônios são ativados assim que os camundongos têm acesso ao açúcar, facilitando o apetite.

Além disso, quando os ratos comem doce, mesmo estando saciados, essas células nervosas liberam um dos opioides naturais do corpo: a endorfina. Essa liberação atua em outros neurônios, desencadeando uma sensação de recompensa, fazendo com que os camundongos comam açúcar mesmo estando satisfeitos com a refeição anterior.

A liberação de opioides só ocorreu quando os ratos comiam açúcar, e não aconteceu quando comeram alimentos salgados ou gordurosos. Quando os pesquisadores bloquearam essa via, os ratos não comeram açúcar.

<><> E o que acontece nos humanos?

Após observarem como os neurônios dos camundongos atuam diante do açúcar, os pesquisadores também realizaram exames cerebrais em voluntários que receberam uma solução de açúcar por meio de um tubo. Eles descobriram que a mesma região do cérebro reagiu ao doce em humanos e que, assim como nos camundongos, há muitos receptores de opioides naturais nessa região.

“De uma perspectiva evolucionária, isso faz sentido: o açúcar é raro na natureza, mas fornece energia rápida. O cérebro é programado para controlar a ingestão de açúcar sempre que estiver disponível”, explica Henning Fenselau, líder do grupo de pesquisa no Instituto Max Planck para Pesquisa de Metabolismo e chefe do estudo, em comunicado à imprensa.

Para os pesquisadores, as descobertas podem ser importantes para o tratamento da obesidade.

“Já existem medicamentos que bloqueiam os receptores opiáceos no cérebro, mas a perda de peso é menor do que com injeções de supressores de apetite. Acreditamos que uma combinação com eles ou com outras terapias pode ser muito útil. No entanto, precisamos investigar isso mais a fundo”, diz Fenselau.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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