Entenda
a ofensiva de Trump contra universidades de ponta dos EUA
Governo
de Donald Trump usa bloqueio de verbas como ferramenta para pressionar
instituições acadêmicas a se alinharem a suas visões políticas e ideológicas;
entre alvos, estão Harvard, Princeton e Columbia.
Desde
que voltou à Casa Branca, Donald Trump tem colocado em risco a pesquisa
universitária nos Estados Unidos por meio do
bloqueio de financiamentos e de interferência na gestão de algumas das mais
importantes instituições acadêmicas do mundo.
Com um
Congresso submisso, controlado pelo partido Republicano, e uma Suprema Corte
dominada por conservadores, o presidente americano não tem tido dificuldade em
cumprir sua promessa de campanha de recuperar as instituições educacionais
americanas do que ele chama de "esquerda radical".
Nos
últimos dias, ele determinou a suspensão de 1,8 bilhão de dólares (cerca de R$
10,2 bilhões) em financiamentos a Harvard, Columbia, Princeton, Johns Hopkins e
Universidade da Pensilvânia, e ameaçou ir além caso essas instituições insistam
numa suposta postura antissemita. Na visão da atual administração, isso inclui
ações que questionem o governo de Israel, como acolher manifestações estudantis contra a guerra
em Gaza.
- Universidades
encurraladas
O
governo Trump mandou investigar cerca de 100 instituições de ensino superior
por discriminação e antissemitismo. Algumas delas conseguiram recorrer na
Justiça contra sanções mas, de forma geral, elas estão se curvando às
pressões, já que não podem prescindir dos recursos federais. Segundo
levantamento da Associated Press, essas universidades, juntas, receberam 33
bilhões de dólares (R$ 188,4 bilhões) entre 2022 e 2023, o que representa, em
média, 13% de seus orçamentos.
O
episódio mais recente aconteceu nesta semana com a Universidade de Princeton,
que foi punida com a suspensão de bolsas de pesquisa no valor de 210 milhões de
dólares (R$ 1,1 bilhão). A medida afeta dezenas de projetos que recebiam verbas
federais vinculados ao Departamento de Energia, à Nasa (agência espacial
americana) e ao Departamento de Defesa.
O
reitor da instituição, Christopher Eisgruber, descreveu as ações de Trump como
a maior ameaça às universidades americanas em décadas. "Estamos
comprometidos em combater o antissemitismo e todas as formas de discriminação e
cooperaremos com o governo nesse esforço. Princeton também defenderá
vigorosamente a liberdade acadêmica e os direitos ao devido processo desta
universidade", disse Eisgruber em comunicado.
Columbia,
epicentro dos protestos estudantis pró-palestinos que se
alastraram pelos Estados Unidos no ano passado, foi uma das primeiras
afetadas pela atual ofensiva. No início de março, o governo determinou o corte
de 400 milhões de dólares (R$ 2,3 bilhões) à universidade. A partir de então,
a instituição anunciou reformas
institucionais,
como regras mais rígidas para protestos em seus campi e maior vigilância sobre
departamentos de estudos do Oriente Médio.
No caso
de Harvard, considerada a universidade com mais recursos do mundo, uma
força-tarefa federal contra antissemitismo anunciou a revisão de 9 bilhões de
dólares (R$ 51,4 bilhões) em contratos e subsídios federais ao acusar a
instituição de não proteger seus estudantes judeus e de promover
"ideologias divisórias através da livre pesquisa". Desse total, 255,6
milhões de dólares (R$ 1,5 bilhão) são relativos a contratos em vigor que foram
suspensos, e o restante são compromissos de subsídios para os próximos anos.
A
sanção mais expressiva até o momento foi contra a Universidade Johns
Hopkins, um dos principais centros de pesquisa científica do país, que perdeu
800 milhões de dólares (R$ 4,5 bilhões) em financiamento. Segundo o governo, a
instituição deveria rever sua postura em relação aos protestos em seu campus e
garantir que alunos e professores respeitem as diretrizes do governo sobre
antissemitismo e apoio a movimentos considerados vinculados ao Hamas. Como
consequência, a universidade anunciou a demissão de mais de 2.000 funcionários.
- Canetadas sem
freio
As
medidas do governo Trump têm sido comparadas às adotadas durante a Guerra do Vietnã ( de 1955 a
1976), período em que as universidades consideradas centros de ativismo
antiguerra enfrentavam cortes de verbas federais. Professores que expressavam
posições críticas ao governo, sobretudo durante a presidência de Richard
Nixon, corriam o risco de perder financiamentos para pesquisas e até seus
empregos por serem considerados antiamericanos ou comunistas.
No
entanto, analistas avaliam que nenhum governo fez uso tão
intensivo de ordens executivas– ações
unilaterais do presidente – para atacar a oposição ao seu governo e
ao de aliados. "Ordens executivas nunca foram concebidas para visar
especificamente indivíduos ou atores não governamentais com propósitos de
retaliação ou vingança", afirmou à Reuters o advogado Mark Zaid.
Suas
ações têm despertado críticas até de aliados. "Ele [Trump] traçou essas
amplas linhas de batalha, seja contra pessoas que ele acredita terem tentado
arruiná-lo pessoalmente, seja contra aqueles que, em sua visão, tentaram
destruir a civilização ocidental", afirma o estrategista republicano Scott
Jennings. "Tudo o que ele disse que faria na campanha, ele está
fazendo."
Manifestantes,
incluindo alguns grupos judaicos, argumentam que o governo Trump erra ao
equiparar as críticas à campanha militar de Israel em Gaza e a defesa dos
direitos palestinos a antissemitismo e apoio ao
grupo terrorista Hamas.
Essa
pressão recai não só sobre instituições, mas também sobre estudantes,
com prisões, perseguições e ameaças de deportação. É o caso da
doutoranda turca Rumeysa Ozturk, que foi levada à força sob custódia por
agentes federais em plena luz do dia, perto de sua casa em Massachusetts, e
teve seu visto revogado.
Um ano
atrás, ela assinou um artigo de opinião no jornal estudantil da Universidade
Tufts, onde estuda, defendendo que a instituição deixasse de investir em
empresas com vínculos com Israel em reconhecimento ao "genocídio
palestino". Não está claro se esse foi o motivo da detenção, já que ela
não estava diretamente envolvida em protestos. O governo fala em apoio de
Ozturk ao Hamas.
Outro
símbolo da repressão do governo americano nas universidades é Mahmoud Khalil, ativista palestino
e aluno de pós-graduação de Columbia, detido em 8 de março em seu
apartamento universitário em Manhattan. Khalil corre o risco de ser
deportado, mesmo tendo green card e sendo casado com uma cidadã americana – que
estava grávida de oito meses na época de sua prisão.
"Esta
é a primeira prisão de muitas que virão", disse Trump em sua plataforma de
rede social Truth Social à época, acusado de ser um "estudante radical a
favor do Hamas".
O
secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou ter revogado mais de 300
vistos de estudantes dentro da atual ofensiva do governo.
"Guerra
cultural"
Entre
os temas "proibidos" pela administração Trump estão ainda questões de
diversidade, meio ambiente e direitos humanos.
Um dos
exemplos mais emblemáticos dessa perseguição à qual o governo chama de
"guerra cultural" foi a suspensão de 175 milhões de dólares
(quase R$ 1 bilhão) para a Universidade da Pensilvânia devido a políticas
esportivas para atletas transgênero.
No
centro do caso está a nadadora Lia Thomas, que fez história ao se tornar a
primeira mulher trans a vencer o campeonato universitário americano de natação
feminina, competindo pela universidade. Sua vitória gerou uma onda de
discussões e críticas, especialmente entre aqueles que acreditam que atletas transgênero têm uma vantagem
injusta sobre
mulheres cisgênero em competições esportivas.
O
governo Trump alegou que a universidade não estava aderindo a políticas que o
governo considerava necessárias para garantir a "equidade" no esporte
feminino.
Fonte:
DW Brasil
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