terça-feira, 8 de abril de 2025

The Wall Street Journal aponta Xi Jinping como o grande vencedor da guerra tarifária de Trump

O presidente da China, Xi Jinping, está colhendo os maiores frutos da guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato. A análise é do The Wall Street Journal e foi repercutida neste domingo (6) pela Sputnik Brasil, que destaca os efeitos colaterais das tarifas impostas por Washington sobre as relações geopolíticas globais.

“As tarifas generalizadas do presidente Trump mudarão a ordem mundial de várias maneiras, e um vencedor já está surgindo: Xi Jinping. O presidente chinês teve uma semana excelente”, aponta o Wall Street Journal, em referência à recente escalada nas tensões comerciais.

Segundo o jornal, os Estados Unidos passaram anos pressionando países europeus a reduzir os laços econômicos com a China. No entanto, as medidas protecionistas adotadas por Trump acabaram provocando o efeito inverso. A retomada do diálogo entre Europa e Pequim, segundo a análise, é apenas uma questão de tempo.

Além da Europa, os países asiáticos também tendem a se aproximar ainda mais de Pequim, impulsionados pelo crescente sentimento antiamericano, avalia o jornal. “Insatisfeito com as tarifas dos EUA, o Ocidente mostrou à China, nesta semana, sua desconexão e fraqueza”, conclui a publicação.

O mais recente movimento de Trump ocorreu na quarta-feira (3), quando o presidente norte-americano assinou uma ordem executiva determinando tarifas recíprocas sobre importações dos Estados Unidos. A taxa mínima estabelecida foi de 10%, com percentuais mais elevados para países que apresentam déficit comercial com os norte-americanos. Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, a medida visa equilibrar as balanças bilaterais.

Em resposta, o governo chinês anunciou tarifas adicionais de 34% sobre todos os produtos importados dos Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 10 de abril, intensificando ainda mais a disputa entre as duas maiores economias do mundo.

¨      'Não provocamos problemas, mas também não temos medo', afirma China sobre tarifas impostas pelos EUA

A China voltou a criticar com veemência as novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Em comunicado divulgado neste sábado (5), e repercutido pela agência Sputnik Brasil, o governo chinês afirmou que “não provocamos problemas, mas também não temos medo deles” e alertou que continuará a tomar “medidas decisivas” para proteger seus interesses soberanos e econômicos.

A reação ocorreu após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar na última quarta-feira (2) a aplicação de novas tarifas sobre importações de uma ampla lista de países, incluindo a China. As alíquotas mínimas são de 10%, mas os percentuais variam conforme o déficit comercial dos EUA com cada país. Para a China, o novo pacote estabelece tarifas de 34%, que somadas aos 20% impostos em março por suposta negligência de Pequim no controle do tráfico de fentanil, elevam a carga total a 54%.

“O governo chinês condena e se opõe veementemente a isso”, diz o comunicado oficial de Pequim, que também acusa os Estados Unidos de violar seriamente as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), de prejudicar o sistema multilateral baseado em normas e de afetar a estabilidade econômica global. “Pressão e ameaças são a maneira errada de lidar com a China”, reforça a nota.

O governo chinês também exortou Washington a abandonar o uso de tarifas como “arma para derrubar a economia e o comércio da China” e a respeitar o “direito legítimo do povo chinês ao desenvolvimento”.

Em retaliação, o Conselho de Estado da República Popular da China anunciou a imposição de tarifas adicionais de 34% sobre todos os produtos originários dos Estados Unidos. As novas alíquotas entram em vigor a partir de 10 de abril.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, também se manifestou sobre o tema em entrevista à Sputnik. Segundo ele, o aumento das tarifas americanas “não tem fundamento” e não ajudará a Casa Branca a solucionar seus desafios econômicos internos. “Isso causará sérios danos não apenas ao mercado global e à ordem comercial, mas também à reputação dos próprios Estados Unidos”, advertiu Wang.

As crescentes tensões comerciais entre Washington e Pequim reacendem os temores de uma nova escalada protecionista com impacto direto sobre o comércio internacional e a economia global. Economistas alertam que as medidas podem agravar desequilíbrios financeiros e aumentar os riscos de recessão em várias regiões do mundo.

A resposta firme da China sugere que o segundo mandato de Donald Trump à frente da Casa Branca, iniciado em 2025, manterá o tom confrontacional com a potência asiática, especialmente em questões comerciais e geopolíticas. A disputa tarifária tende, assim, a se tornar um dos principais focos de instabilidade econômica nos próximos meses.

¨      Retaliação chinesa contra EUA não envolve apenas tarifas

A China anunciou uma série de medidas para retaliar as “tarifas recíprocas” impostas pelos Estados Unidos aos seus parceiros comerciais.

Além da imposição de tarifas adicionais de 34% sobre todos os produtos importados dos Estados Unidos a partir de 10 de abril, o país vai abrir processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre as “tarifas recíprocas” dos EUA.

As atuais políticas de redução de impostos e títulos permanecerão inalteradas, e as novas tarifas não estarão sujeitas a isenções, segundo as autoridades. Os produtos enviados de seu local de partida antes de 10 de abril de 2025 e importados entre 10 de abril de 2025 e 13 de maio de 2025 não estarão sujeitos às tarifas adicionais especificadas no anúncio.

Além disso, o Ministério do Comércio e a Administração Geral das Alfândegas anunciaram restrições imediatas à exportação de sete principais elementos de terras raras de médio a pesado — a saber, samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

Tais elementos são fundamentais para a fabricação de ímãs de alto desempenho empregados em energia verde, tecnologia aeroespacial e de defesa. Ao citar sua natureza de uso duplo na indústria civil e militar, as autoridades ressaltaram que a medida se alinha às normas globais e é necessária para proteger a segurança nacional.

Outras contramedidas são esperadas de outros países e regiões contra as tarifas recíprocas impostas pelo presidente Donald Trump.

Segundo o Ministério do Comércio Chinês (MOFCOM), a China entrou com uma ação judicial na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a imposição de “tarifas recíprocas” pelos EUA sobre seus parceiros comerciais, incluindo a China.

A imposição norte-americana viola seriamente as regras da OMC, prejudica gravemente os direitos e interesses legítimos dos membros da OMC e prejudica significativamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras e a ordem econômica e comercial internacional.

Além das contramedidas mencionadas acima contra as “tarifas recíprocas” dos EUA, as autoridades chinesas também lançaram uma série de medidas envolvendo entidades dos EUA ou comércio relacionado aos EUA, bem como medidas de controle de exportação.

O ministério chinês adicionou 11 empresas norte-americanas à lista de entidades não confiáveis, e outras 16 empresas foram inclusas na lista de controle de exportação. A exportação de itens de uso duplo para essas 16 entidades dos EUA é proibida, e quaisquer atividades de exportação relacionadas em andamento devem ser imediatamente interrompidas, de acordo com o anúncio.

¨      Primeiro-ministro de Singapura faz alerta dramático e diz que guerra comercial de Trump pode levar a conflitos armados

Em pronunciamento solene à nação, o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, fez um alerta contundente sobre os riscos globais desencadeados pela nova política tarifária dos Estados Unidos. O vídeo do discurso, publicado no YouTube com o título Aviso arrepiante do primeiro-ministro de Singapura ao mundo em meio ao caos das tarifas de Trump: ‘Guerras comerciais podem virar conflitos armados’, ganhou destaque internacional pelo tom direto e pelo diagnóstico sombrio da atual conjuntura geopolítica.

“Meus compatriotas de Singapura, já disse antes que o mundo está mudando de maneira que prejudicará economias pequenas e abertas como a nossa”, iniciou Wong. “Alguns questionaram essa avaliação, mas o recente anúncio do ‘Dia da Libertação’ pelos Estados Unidos não deixa dúvidas. Marca uma mudança sísmica na ordem global.” Para o premiê, a era da globalização baseada em regras e no livre comércio chegou ao fim, sendo substituída por uma nova fase marcada por protecionismo arbitrário e perigos crescentes.

Play Video

<><> Críticas ao abandono do sistema multilateral

Durante décadas, lembrou Wong, os Estados Unidos foram o pilar do sistema de comércio global. “Eles defenderam o livre comércio e lideraram os esforços para construir um sistema multilateral ancorado em regras claras, em que todos os países podiam obter ganhos mútuos com o comércio”, afirmou. “Esse sistema, liderado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), trouxe estabilidade e prosperidade sem precedentes ao mundo — inclusive aos próprios EUA.”

Contudo, a guinada recente da política comercial americana representa, segundo ele, uma ruptura completa com essa tradição. “O que os EUA estão fazendo agora não é reforma — é o abandono do sistema que eles mesmos construíram. A nova abordagem de tarifas recíprocas, país por país, é uma rejeição total da estrutura da OMC.”

Singapura foi incluída na faixa tarifária mais baixa, com uma tarifa de 10%, mas Wong advertiu que os efeitos mais graves podem vir do contágio global. “Se outros países seguirem esse caminho, abandonando o sistema multilateral para negociar somente com base em seus próprios termos, o resultado será desastroso para todos, especialmente para países pequenos como o nosso. Podemos ser excluídos, marginalizados e deixados para trás.”

<><> O espectro dos anos 1930 e a escalada para conflitos

O momento atual, alertou Lawrence Wong, guarda paralelos preocupantes com a década de 1930, quando disputas comerciais contribuíram para a eclosão de conflitos armados. “A última vez que o mundo viveu algo semelhante foi nos anos 30. Guerras comerciais se intensificaram e acabaram levando à Segunda Guerra Mundial.”

Embora Singapura tenha decidido não retaliar as tarifas americanas, o primeiro-ministro reconhece que outras nações podem não agir com a mesma cautela. “A probabilidade de uma guerra comercial global está aumentando. O impacto das tarifas mais altas, somado à incerteza quanto às ações de outros países, pesará fortemente sobre a economia mundial.”

Wong alertou que o comércio e os investimentos internacionais serão prejudicados, e o crescimento econômico global desacelerará — com Singapura entre os países mais vulneráveis, dada sua alta dependência do comércio exterior.

<><> Um novo mundo, mais perigoso e menos previsível

Em sua fala final, Lawrence Wong destacou o enfraquecimento das instituições internacionais e o avanço de um mundo em que o poder e o interesse próprio se sobrepõem à cooperação. “As instituições globais estão se enfraquecendo. As normas internacionais estão se desgastando. Cada vez mais países agirão com base em interesses estreitos, usando força ou pressão para impor sua vontade. Essa é a dura realidade do mundo de hoje.”

Apesar do cenário adverso, ele garantiu que Singapura está se preparando. “Estamos mais prontos do que muitos outros países — com nossas reservas, nossa coesão e nossa determinação. Mas devemos nos preparar para novos choques. A calma e a estabilidade globais que conhecíamos não voltarão tão cedo. Não podemos mais esperar que as regras que protegiam os Estados pequenos continuem valendo.”

“Compartilho isso com vocês para que estejamos mentalmente preparados, para que não sejamos pegos de surpresa. Os riscos são reais e os desafios, enormes. O caminho à frente será mais difícil, mas se permanecermos firmes e unidos, Singapura continuará a manter sua posição neste mundo conturbado.” Assista:

O pronunciamento do primeiro-ministro Lawrence Wong serve como um alerta não apenas para os cidadãos de Singapura, mas para o mundo todo. Ao denunciar o colapso da ordem multilateral e prever os riscos de uma escalada que pode culminar em confrontos armados, ele coloca em evidência o que está em jogo diante do protecionismo crescente e do colapso das instituições que, por décadas, sustentaram a estabilidade global. 

¨      Nearshoring: a palavra decisiva para as relações sino-brasileiras nos próximos anos, diz Leonardo Attuch

O tarifaço anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump, prometendo sobretaxar produtos chineses em  34%, é mais do que uma bravata eleitoral: é a expressão concreta do desencanto do Ocidente com os rumos da globalização. Uma globalização que, embora gestada nos centros financeiros do Atlântico Norte, foi vencida industrialmente pela China, que se consolidou como a maior potência manufatureira do planeta. Esse mal-estar, ainda que em outra chave, também reverbera em países do Sul Global como o Brasil, que se veem diante do desafio de reconstruir suas capacidades industriais diante de um novo cenário geoeconômico.

Neste contexto de reconfiguração das cadeias produtivas globais, o conceito de nearshoring — isto é, a realocação de centros de produção para regiões mais próximas dos mercados consumidores — surge como uma estratégia decisiva. E é aqui que se encontra a grande oportunidade para o aprofundamento das relações sino-brasileiras nas próximas décadas.

Brasil e China já são parceiros estratégicos globais no mais alto nível, numa aliança fortalecida pelas afinidades políticas e pela relação amistosa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping. Trata-se de uma parceria pautada pelo respeito mútuo, pelo multilateralismo e por uma visão compartilhada de desenvolvimento soberano. No entanto, para que essa aliança se torne ainda mais frutífera e equilibrada, é preciso avançar para uma nova etapa: a da industrialização compartilhada, com investimentos chineses em produção local no Brasil.

Esse movimento já começou a ganhar tração no setor automotivo, com a chegada de gigantes como a BYD, que assumiu a antiga fábrica da Ford na Bahia, a Great Wall Motors, que se estabeleceu em Iracemápolis (SP), e a GAC Motors, que também está se instalando no País. Esses investimentos representam uma inflexão importante: não se trata apenas de importar veículos elétricos e convencionais chineses, mas de produzi-los aqui, gerando empregos, transferência de tecnologia e estímulo a cadeias produtivas locais.

Mas o potencial do nearshoring não pode se limitar ao setor automotivo. O Brasil precisa mirar setores como eletroeletrônicos, energia renovável, equipamentos médicos, química fina, semicondutores e biotecnologia. Ao oferecer um ambiente institucional estável, um mercado interno robusto e acesso facilitado aos países vizinhos da América do Sul, o Brasil se apresenta como a plataforma ideal para a produção local voltada tanto ao mercado doméstico quanto à exportação para toda a região latino-americana e, em médio prazo, até mesmo para os Estados Unidos e o Canadá.

Essa estratégia serviria aos interesses de ambos os países: a China diversificaria suas bases industriais em meio ao cerco ocidental e reduziria riscos geopolíticos, enquanto o Brasil daria um salto em sua reindustrialização e retomaria o protagonismo econômico na região.

O nearshoring, portanto, não é apenas uma tendência global ou uma reação às disputas comerciais. Ele pode — e deve — se tornar a palavra-chave para a nova fase das relações entre Brasil e China: uma relação de confiança, complementaridade e desenvolvimento compartilhado. Se bem conduzida, essa aliança poderá redefinir o mapa da indústria nas Américas e abrir um novo ciclo virtuoso para o Brasil.

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

 

Nenhum comentário: