The Wall Street Journal aponta Xi Jinping
como o grande vencedor da guerra tarifária de Trump
O
presidente da China, Xi Jinping, está colhendo os maiores frutos da guerra
comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu
segundo mandato. A análise é do The Wall Street Journal e foi
repercutida neste domingo (6) pela Sputnik Brasil, que destaca os
efeitos colaterais das tarifas impostas por Washington sobre as relações
geopolíticas globais.
“As
tarifas generalizadas do presidente Trump mudarão a ordem mundial de várias
maneiras, e um vencedor já está surgindo: Xi Jinping. O presidente chinês teve
uma semana excelente”, aponta o Wall Street Journal, em referência
à recente escalada nas tensões comerciais.
Segundo
o jornal, os Estados Unidos passaram anos pressionando países europeus a
reduzir os laços econômicos com a China. No entanto, as medidas protecionistas
adotadas por Trump acabaram provocando o efeito inverso. A retomada do diálogo
entre Europa e Pequim, segundo a análise, é apenas uma questão de tempo.
Além da
Europa, os países asiáticos também tendem a se aproximar ainda mais de Pequim,
impulsionados pelo crescente sentimento antiamericano, avalia o jornal.
“Insatisfeito com as tarifas dos EUA, o Ocidente mostrou à China, nesta semana,
sua desconexão e fraqueza”, conclui a publicação.
O mais
recente movimento de Trump ocorreu na quarta-feira (3), quando o presidente
norte-americano assinou uma ordem executiva determinando tarifas recíprocas
sobre importações dos Estados Unidos. A taxa mínima estabelecida foi de 10%,
com percentuais mais elevados para países que apresentam déficit comercial com
os norte-americanos. Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, a medida visa
equilibrar as balanças bilaterais.
Em
resposta, o governo chinês anunciou tarifas adicionais de 34% sobre todos os
produtos importados dos Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 10 de
abril, intensificando ainda mais a disputa entre as duas maiores economias do
mundo.
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'Não provocamos problemas, mas também não temos medo',
afirma China sobre tarifas impostas pelos EUA
A China
voltou a criticar com veemência as novas tarifas comerciais impostas pelos
Estados Unidos. Em comunicado divulgado neste sábado (5), e repercutido
pela agência Sputnik
Brasil,
o governo chinês afirmou que “não provocamos problemas, mas também não temos
medo deles” e alertou que continuará a tomar “medidas decisivas” para proteger
seus interesses soberanos e econômicos.
A
reação ocorreu após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar na
última quarta-feira (2) a aplicação de novas tarifas sobre importações de uma
ampla lista de países, incluindo a China. As alíquotas mínimas são de 10%, mas
os percentuais variam conforme o déficit comercial dos EUA com cada país. Para
a China, o novo pacote estabelece tarifas de 34%, que somadas aos 20% impostos
em março por suposta negligência de Pequim no controle do tráfico de fentanil,
elevam a carga total a 54%.
“O
governo chinês condena e se opõe veementemente a isso”, diz o comunicado
oficial de Pequim, que também acusa os Estados Unidos de violar seriamente as
regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), de prejudicar o sistema
multilateral baseado em normas e de afetar a estabilidade econômica global.
“Pressão e ameaças são a maneira errada de lidar com a China”, reforça a nota.
O
governo chinês também exortou Washington a abandonar o uso de tarifas como
“arma para derrubar a economia e o comércio da China” e a respeitar o “direito
legítimo do povo chinês ao desenvolvimento”.
Em
retaliação, o Conselho de Estado da República Popular da China anunciou a
imposição de tarifas adicionais de 34% sobre todos os produtos originários dos
Estados Unidos. As novas alíquotas entram em vigor a partir de 10 de abril.
O
ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, também se manifestou sobre
o tema em entrevista à Sputnik. Segundo ele, o aumento das tarifas
americanas “não tem fundamento” e não ajudará a Casa Branca a solucionar seus
desafios econômicos internos. “Isso causará sérios danos não apenas ao mercado
global e à ordem comercial, mas também à reputação dos próprios Estados
Unidos”, advertiu Wang.
As
crescentes tensões comerciais entre Washington e Pequim reacendem os temores de
uma nova escalada protecionista com impacto direto sobre o comércio
internacional e a economia global. Economistas alertam que as medidas podem
agravar desequilíbrios financeiros e aumentar os riscos de recessão em várias
regiões do mundo.
A
resposta firme da China sugere que o segundo mandato de Donald Trump à frente
da Casa Branca, iniciado em 2025, manterá o tom confrontacional com a potência
asiática, especialmente em questões comerciais e geopolíticas. A disputa
tarifária tende, assim, a se tornar um dos principais focos de instabilidade
econômica nos próximos meses.
¨ Retaliação chinesa
contra EUA não envolve apenas tarifas
A China
anunciou uma série de medidas para retaliar as “tarifas recíprocas” impostas
pelos Estados Unidos aos seus parceiros comerciais.
Além da
imposição de tarifas adicionais de 34% sobre todos os produtos importados dos
Estados Unidos a partir de 10 de abril, o país vai abrir processo na
Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre as “tarifas recíprocas” dos EUA.
As
atuais políticas de redução de impostos e títulos permanecerão inalteradas, e
as novas tarifas não estarão sujeitas a isenções, segundo as autoridades. Os
produtos enviados de seu local de partida antes de 10 de abril de 2025 e
importados entre 10 de abril de 2025 e 13 de maio de 2025 não estarão sujeitos
às tarifas adicionais especificadas no anúncio.
Além
disso, o Ministério do Comércio e a Administração Geral das Alfândegas
anunciaram restrições imediatas à exportação de sete principais elementos de
terras raras de médio a pesado — a saber, samário, gadolínio, térbio,
disprósio, lutécio, escândio e ítrio.
Tais
elementos são fundamentais para a fabricação de ímãs de alto desempenho
empregados em energia verde, tecnologia aeroespacial e de defesa. Ao citar sua
natureza de uso duplo na indústria civil e militar, as autoridades ressaltaram
que a medida se alinha às normas globais e é necessária para proteger a
segurança nacional.
Outras
contramedidas são esperadas de outros países e regiões contra as tarifas
recíprocas impostas pelo presidente Donald Trump.
Segundo
o Ministério do Comércio Chinês (MOFCOM), a China entrou com uma ação judicial
na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a imposição de “tarifas
recíprocas” pelos EUA sobre seus parceiros comerciais, incluindo a China.
A
imposição norte-americana viola seriamente as regras da OMC, prejudica
gravemente os direitos e interesses legítimos dos membros da OMC e prejudica
significativamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras e a
ordem econômica e comercial internacional.
Além
das contramedidas mencionadas acima contra as “tarifas recíprocas” dos EUA, as
autoridades chinesas também lançaram uma série de medidas envolvendo entidades
dos EUA ou comércio relacionado aos EUA, bem como medidas de controle de
exportação.
O
ministério chinês adicionou 11 empresas norte-americanas à lista de entidades
não confiáveis, e outras 16 empresas foram inclusas na lista de controle de
exportação. A exportação de itens de uso duplo para essas 16 entidades dos EUA
é proibida, e quaisquer atividades de exportação relacionadas em andamento
devem ser imediatamente interrompidas, de acordo com o anúncio.
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Primeiro-ministro de Singapura faz alerta dramático e diz
que guerra comercial de Trump pode levar a conflitos armados
Em
pronunciamento solene à nação, o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence
Wong, fez um alerta contundente sobre os riscos globais desencadeados pela nova
política tarifária dos Estados Unidos. O vídeo do discurso, publicado no
YouTube com o título Aviso arrepiante do primeiro-ministro de Singapura
ao mundo em meio ao caos das tarifas de Trump: ‘Guerras comerciais podem virar
conflitos armados’, ganhou destaque internacional pelo tom direto e pelo
diagnóstico sombrio da atual conjuntura geopolítica.
“Meus
compatriotas de Singapura, já disse antes que o mundo está mudando de maneira
que prejudicará economias pequenas e abertas como a nossa”, iniciou Wong.
“Alguns questionaram essa avaliação, mas o recente anúncio do ‘Dia da
Libertação’ pelos Estados Unidos não deixa dúvidas. Marca uma mudança sísmica
na ordem global.” Para o premiê, a era da globalização baseada em regras e no
livre comércio chegou ao fim, sendo substituída por uma nova fase marcada por
protecionismo arbitrário e perigos crescentes.
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Críticas ao abandono do sistema multilateral
Durante
décadas, lembrou Wong, os Estados Unidos foram o pilar do sistema de comércio
global. “Eles defenderam o livre comércio e lideraram os esforços para
construir um sistema multilateral ancorado em regras claras, em que todos os
países podiam obter ganhos mútuos com o comércio”, afirmou. “Esse sistema,
liderado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), trouxe estabilidade e
prosperidade sem precedentes ao mundo — inclusive aos próprios EUA.”
Contudo,
a guinada recente da política comercial americana representa, segundo ele, uma
ruptura completa com essa tradição. “O que os EUA estão fazendo agora não é
reforma — é o abandono do sistema que eles mesmos construíram. A nova abordagem
de tarifas recíprocas, país por país, é uma rejeição total da estrutura da
OMC.”
Singapura
foi incluída na faixa tarifária mais baixa, com uma tarifa de 10%, mas Wong
advertiu que os efeitos mais graves podem vir do contágio global. “Se outros
países seguirem esse caminho, abandonando o sistema multilateral para negociar
somente com base em seus próprios termos, o resultado será desastroso para
todos, especialmente para países pequenos como o nosso. Podemos ser excluídos,
marginalizados e deixados para trás.”
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O espectro dos anos 1930 e a escalada para conflitos
O
momento atual, alertou Lawrence Wong, guarda paralelos preocupantes com a
década de 1930, quando disputas comerciais contribuíram para a eclosão de conflitos
armados. “A última vez que o mundo viveu algo semelhante foi nos anos 30.
Guerras comerciais se intensificaram e acabaram levando à Segunda Guerra
Mundial.”
Embora
Singapura tenha decidido não retaliar as tarifas americanas, o
primeiro-ministro reconhece que outras nações podem não agir com a mesma
cautela. “A probabilidade de uma guerra comercial global está aumentando. O
impacto das tarifas mais altas, somado à incerteza quanto às ações de outros
países, pesará fortemente sobre a economia mundial.”
Wong
alertou que o comércio e os investimentos internacionais serão prejudicados, e
o crescimento econômico global desacelerará — com Singapura entre os países
mais vulneráveis, dada sua alta dependência do comércio exterior.
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Um novo mundo, mais perigoso e menos previsível
Em sua
fala final, Lawrence Wong destacou o enfraquecimento das instituições
internacionais e o avanço de um mundo em que o poder e o interesse próprio se
sobrepõem à cooperação. “As instituições globais estão se enfraquecendo. As
normas internacionais estão se desgastando. Cada vez mais países agirão com
base em interesses estreitos, usando força ou pressão para impor sua vontade.
Essa é a dura realidade do mundo de hoje.”
Apesar
do cenário adverso, ele garantiu que Singapura está se preparando. “Estamos
mais prontos do que muitos outros países — com nossas reservas, nossa coesão e
nossa determinação. Mas devemos nos preparar para novos choques. A calma e a
estabilidade globais que conhecíamos não voltarão tão cedo. Não podemos mais
esperar que as regras que protegiam os Estados pequenos continuem valendo.”
“Compartilho
isso com vocês para que estejamos mentalmente preparados, para que não sejamos
pegos de surpresa. Os riscos são reais e os desafios, enormes. O caminho à
frente será mais difícil, mas se permanecermos firmes e unidos, Singapura
continuará a manter sua posição neste mundo conturbado.” Assista:
O
pronunciamento do primeiro-ministro Lawrence Wong serve como um
alerta não apenas para os cidadãos de Singapura, mas para o mundo todo. Ao
denunciar o colapso da ordem multilateral e prever os riscos de uma escalada
que pode culminar em confrontos armados, ele coloca em evidência o que está em
jogo diante do protecionismo crescente e do colapso das instituições que, por
décadas, sustentaram a estabilidade global.
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Nearshoring: a palavra decisiva para as relações
sino-brasileiras nos próximos anos, diz Leonardo Attuch
O
tarifaço anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump, prometendo
sobretaxar produtos chineses em 34%, é mais do que uma bravata eleitoral:
é a expressão concreta do desencanto do Ocidente com os rumos da globalização.
Uma globalização que, embora gestada nos centros financeiros do Atlântico
Norte, foi vencida industrialmente pela China, que se consolidou como a maior
potência manufatureira do planeta. Esse mal-estar, ainda que em outra chave,
também reverbera em países do Sul Global como o Brasil, que se veem diante do
desafio de reconstruir suas capacidades industriais diante de um novo cenário
geoeconômico.
Neste
contexto de reconfiguração das cadeias produtivas globais, o conceito de
nearshoring — isto é, a realocação de centros de produção para regiões mais
próximas dos mercados consumidores — surge como uma estratégia decisiva. E é
aqui que se encontra a grande oportunidade para o aprofundamento das relações
sino-brasileiras nas próximas décadas.
Brasil
e China já são parceiros estratégicos globais no mais alto nível, numa aliança
fortalecida pelas afinidades políticas e pela relação amistosa entre os
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping. Trata-se de uma parceria
pautada pelo respeito mútuo, pelo multilateralismo e por uma visão
compartilhada de desenvolvimento soberano. No entanto, para que essa aliança se
torne ainda mais frutífera e equilibrada, é preciso avançar para uma nova
etapa: a da industrialização compartilhada, com investimentos chineses em
produção local no Brasil.
Esse
movimento já começou a ganhar tração no setor automotivo, com a chegada de
gigantes como a BYD, que assumiu a antiga fábrica da Ford na Bahia, a Great
Wall Motors, que se estabeleceu em Iracemápolis (SP), e a GAC Motors, que
também está se instalando no País. Esses investimentos representam uma inflexão
importante: não se trata apenas de importar veículos elétricos e convencionais
chineses, mas de produzi-los aqui, gerando empregos, transferência de
tecnologia e estímulo a cadeias produtivas locais.
Mas o
potencial do nearshoring não pode se limitar ao setor automotivo. O Brasil
precisa mirar setores como eletroeletrônicos, energia renovável, equipamentos
médicos, química fina, semicondutores e biotecnologia. Ao oferecer um ambiente
institucional estável, um mercado interno robusto e acesso facilitado aos
países vizinhos da América do Sul, o Brasil se apresenta como a plataforma
ideal para a produção local voltada tanto ao mercado doméstico quanto à
exportação para toda a região latino-americana e, em médio prazo, até mesmo para
os Estados Unidos e o Canadá.
Essa
estratégia serviria aos interesses de ambos os países: a China diversificaria
suas bases industriais em meio ao cerco ocidental e reduziria riscos
geopolíticos, enquanto o Brasil daria um salto em sua reindustrialização e
retomaria o protagonismo econômico na região.
O
nearshoring, portanto, não é apenas uma tendência global ou uma reação às
disputas comerciais. Ele pode — e deve — se tornar a palavra-chave para a nova
fase das relações entre Brasil e China: uma relação de confiança,
complementaridade e desenvolvimento compartilhado. Se bem conduzida, essa
aliança poderá redefinir o mapa da indústria nas Américas e abrir um novo ciclo
virtuoso para o Brasil.
Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

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