Avanços ou retrocessos? Como a vitória de
Trump pode impactar o meio ambiente
A eleição de Donald
Trump como novo presidente dos Estados Unidos desencadeou preocupação para
ativistas do meio ambiente e para a comunidade científica. Ao que se refere às
políticas climáticas globais, o republicano já declarou abertamente ser contra
a agenda e até prometeu tirar o país do Acordo de Paris.
Além de ter o maior
histórico de emissão de gases de efeito estufa, o país, atualmente, ocupa o
segundo lugar no mundo das emissões. É também a nação que mais explora óleo e
gás no planeta, um problema que causa preocupação pela elevada queima de
combustíveis fósseis.
O secretário executivo
do Observatório do Clima, Marcio Astrini, alerta que, para a agenda ambiental,
a vitória de Trump representa uma ameaça comparável a um "evento climático
extremo". Em entrevista ao Terra, Astrini expôs como essa mudança política
pode impactar negativamente o combate à crise climática, não só em solo
americano, mas em todo o mundo.
"Não é apenas o
fato de que ele vai tirar os Estados Unidos de qualquer hipótese de solução.
Não é apenas isso – isso ele vai fazer com certeza –, é que ele vai ajudar a
aumentar o problema de forma concreta, aumentando as emissões americanas e também
de forma política, dificultando os acordos, alimentando o negacionismo, então
realmente é uma pessoa que joga do lado da destruição", avalia.
O Acordo de Paris,
firmado em 2015, foi um marco na cooperação global para limitar o aquecimento
global, com os Estados Unidos ocupando um papel central nas negociações graças
ao governo de Barack Obama.
Durante sua primeira
gestão, Trump não só retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, como também
enfraqueceu regulamentações ambientais e minimizou as evidências científicas
das mudanças climáticas. "Ele classifica as mudanças climáticas como a maior
enganação já realizada no planeta. E vai continuar dizendo isso, disse quando
era presidente, disse quando não era, falou de novo na campanha, então ele está
pronto para atrapalhar", explica Astrini, referindo-se à postura
negacionista que Trump promete manter.
Com os Estados Unidos
fora da liderança climática, muitos países se sentem desestimulados a adotar
políticas rigorosas de redução de emissões. Além disso, Astrini acredita que a
nova administração pode usar sua influência para financiar grupos que promovem
o negacionismo climático, o que torna ainda mais difícil o avanço nas
negociações internacionais.
·
EUA têm papel central na agenda climática
global
Como um dos maiores
emissores históricos de gases de efeito estufa e o maior explorador de óleo e
gás do mundo, a posição dos EUA influencia diretamente a resposta global à
crise ambiental. A ausência do país não só dificulta o cumprimento das metas,
como enfraquece o financiamento para projetos climáticos em nações em
desenvolvimento, segundo o especialista.
Entre as promessas de
campanha de Trump, estava a de deixar de financiar órgãos americanos de
cooperação internacional, inclusive aqueles que doam para o Fundo
Amazônia.
"Os Estados
Unidos começaram a doar para o Fundo Amazônia faz pouquíssimo tempo. Doaram já
U$ 50 milhões (cerca de R$ 284,6 mi), de uma promessa de U$ 500 milhões (R$ 2,8
bi). Provavelmente, eles vão parar esse fluxo de doações. Então o prejuízo também
é moral para essas negociações", lamenta Astrini, enfatizando que essa
perda impacta diretamente a preservação da floresta e as ações climáticas na
América Latina.
·
A "Trumpização" do Congresso
Brasileiro
No âmbito nacional,
Astrini traçou paralelos com o cenário brasileiro de enfrentamento da crise
climática. Ele apontou que, apesar das melhorias sob a gestão atual, o
Congresso brasileiro permanece hostil à pauta ambiental.
"Nós não temos um
país mobilizado no meio ambiente. A gente tem alguns setores de alguns poderes.
Mas melhorou muito do que era, com certeza", diz. Mesmo com avanços, como
a recente redução do desmatamento, Astrini alerta que, sem um Congresso comprometido,
o Brasil terá dificuldades para implementar uma agenda climática abrangente.
Segundo dados
divulgados pelo Observatório do Clima nesta quarta-feira, 6, houve redução de
45% da taxa de desmatamento da Amazônia em 2023, e no Cerrado o problema também
diminuiu. As emissões de gases poluentes também foram reduzidas em 12% em 2023,
comparado a 2022. É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o
país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990.
·
Persistência na ciência
Para Astrini,
governantes como Trump negligenciam totalmente a agenda climática, assim como
também se declaram inimigos da ciência. "Para que um país se mobilize, um
governo se mobilize, ele precisa acreditar no que a ciência está dizendo. E são
governos, no caso do Bolsonaro e Trump, totalmente anticientíficos".
"Então, se você
não aceita a doença, você não vai conseguir tomar nenhuma atitude para
cura". Astrini e outros especialistas concordam que a mensagem é clara: é
preciso fortalecer a cooperação global para que o negacionismo climático não se
torne o novo padrão global.
¨
Entendendo a vitória
de Donald Trump e do partido Republicano. Por Fernanda Brandão
Após uma corrida
eleitoral apertada, o partido epublicano parece, até o momento, ter sido o
principal vencedor dessa disputa. Além da eleição de Donald Trump, o partido
está perto de assegurar a maioria nas duas casas do Congresso americano. As
pesquisas eleitorais mostravam uma disputa acirrada e um empate técnico entre
os dois candidatos. O resultado final até o momento parece que não será tão
apertado quanto o projetado pelas pesquisas, com Trump vencendo na maioria dos
“swing states” ou estados-pêndulo.
Até o momento, as
análises apontam para uma vitória de Trump entre diversos grupos populacionais
como latinos e um engajamento das mulheres a favor de Kamala Harris menor que o
esperado. Acreditava-se que a questão dos direitos reprodutivos seria capaz de
mobilizar as mulheres para votar em massa na candidata democrata à presidência.
Apesar do discurso anti-imigração e da
promessa de uma grande
operação de deportação de imigrantes ilegais, Trump teve uma performance acima
do esperado no eleitorado latino, principalmente entre os homens.
Apesar da diferença
ideológica entre os dois candidatos e das propostas muito diferentes em termos
de projeto de país e de engajamento internacional, o que provavelmente explica
a significativa vitória de Trump é a economia. A percepção do eleitorado americano
de que a economia americana não estava sendo bem gerida foi refletida nos
baixos índices de aprovação do governo Biden nos
últimos meses.
Historicamente, governos mal avaliados têm poucas chances de conseguir a
reeleição ou de eleger o candidato do mesmo partido em um pleito eleitoral e
essa tendência pôde ser novamente observada nas eleições americanas.
Predomina no
eleitorado americano a percepção de que a economia americana está indo mal,
principalmente por causa da inflação, sobretudo sobre o preço das habitações, e
uma percepção de aumento do desemprego. Em termos estatísticos, houve um
aumento das vagas de emprego no setor industrial durante o governo Biden e a
alta inflação também é explicada pela aceleração da atividade econômica do
país. Porém, a perda do poder de compra resultante do processo inflacionário
afetou negativamente a percepção da população americana sobre a economia do
país.
Em termos de política
econômica, Trump afirma que a deportação em massa de imigrantes ilegais vai
ajudar a reduzir os custos de moradia no país. Ele também promete aumentar as
tarifas de importação sobre bens oriundos da China e de outros parceiros comerciais
dos Estados Unidos, diminuindo o déficit comercial e aumentando a quantidade de
vagas de emprego no país, além de prometer acabar com a inflação. O aumento das
tarifas certamente vai afetar o custo final de diversos bens nos EUA levando ao
aumento do custo dos mesmos. Além disso, os países que sofrerem a imposição de
tarifas certamente devem retaliar comercialmente os EUA em alguma medida, o que
pode gerar mais pressão sobre os preços dos bens no país.
Apesar dos apelos
ideológicos, no fim do dia, o que realmente motiva o eleitor a sair de casa e
votar é a sua percepção sobre a situação econômica do país e seu bem-estar. A
avaliação negativa do governo Biden em torno de questões econômicas parece ser
um dos principais fatores explicativos para a derrota de Kamala Harris nas
urnas.
¨
“Prontos para o
segundo round” e “alívio com o fim das eleições”: americanos comentam vitória
de Trump e o que esperam para o futuro
O resultado das
eleições americanas parece importar menos do que o fato de que a corrida
eleitoral finalmente chegou ao fim – ao menos é o que dizem alguns americanos
entrevistados pelo Terra em Charlotte, cidade da Carolina do Norte, após a
consagração da vitória de Donald Trump, candidato republicano que derrotou a
adversária do partido Democrata, Kamala Harris.
“Estou feliz que
acabou, quem sabe agora parem de me mandar mensagens de textos e e-mails
pedindo dinheiro para as campanhas políticas”, desabafou a americana Anette
enquanto pegava um café em um grande shopping da cidade. “Mas estou
decepcionada [com o resultado]; para mim, a gente se importou mais com nossos
bolsos do que algumas questões principais reais, como os direitos das mulheres.
Mas estou feliz que acabou e vamos ver o que o futuro nos reserva, quem sabe
pode ser bom, ou não, mas temos que estar prontos para esse ‘segundo round’ de
Trump”.
Para Anette, o
discurso de que o governo Trump possa ser bom para a economia não cola, mas ela
não quer remar contra a maré, pois deseja que a inflação caia e os preços
fiquem mais acessíveis nos Estados Unidos. “Se vamos ter uma vitória dessa vez,
espero que seja na economia. Mas, sabe, eu realmente não sinto que o presidente
tenha muito a ver com a economia. Só acho que as pessoas assumem isso e sinto
que, com Trump, ele recebeu muito do voto rural que está sofrendo muito mais do
que o resto de nós, sabe. Porque eles mal conseguem sobreviver com os altos
preços da gasolina e os altos preços dos alimentos, enquanto alguns de nós nem
são afetados por isso, sabe. Então, essa é a área, é para quem ele mirou e é
por isso que ele venceu, porque eles compareceram [às urnas] em massa”,
completou.
A americana ainda
elogiou o fato de Joe Biden ter discursado nessa quinta-feira, 7,
prometendo uma transição pacífica. “Biden é um pouco mais cavalheiro, eu acho,
do que Trump. Então, ele tende a ser mais politicamente correto (...) nós não
elegemos a pessoa mais elegante, mas esperemos que Melania [mulher de Trump]
entre e nos dê alguma elegância. Estou ansiosa pelas decorações de Natal dela.
Ela faz um trabalho incrível na Casa Branca com suas decorações”, riu.
Conterrânea de Anette,
Kelly - que preferiu não mostrar o rosto -- considera que o país está em um
lugar diferente do que era no primeiro governo de Donald Trump, de 2016 até
2020. “Muita coisa aconteceu desde então. E veremos, ele tem muitas ideias, mas
muitas dessas ideias precisam passar por muita gente, como no Congresso, antes
de permitirem que se concretizem. Algumas serão boas, outras não. É assim que
funciona na política. Sempre esperamos coisas boas para a nossa economia. E
para as pessoas em geral. Não queremos que ninguém sofra”, pontuou, deixando
claro sua posição política. “Sou uma eleitora independente, nem Trump e nem
Kamala. Acho que ambos os lados tinham ideias valiosas, mas não sei se o plano
econômico de Trump era melhor que o de Harris. É apenas um outro caminho”.
Ao Terra,
ela também teceu elogios para a postura de Biden: “Transição pacífica é o
que sempre buscamos. A última vez foi a primeira vez que isso nunca aconteceu
[Trump não recebeu Biden na Casa Branca para a transição], isso não foi legal,
então estou que Biden está se mostrando um estadista de verdade e não seria bom
fazer de outra maneira (...) as pessoas que conseguiram o que queriam na
eleição não terão motivos para ficar chateadas, não há motivos para repetir o 6
de janeiro de 2021 [dia da invasão do Capitólio em meio aos questionamentos de
Trump após ter perdido a eleição para Biden nas eleições de 2020).
Natural do Tennessee,
um Estado bem republicano, Andrew diz considerar que mesmo perdendo a eleição,
Kamala Harris soube aceitar a derrota de forma madura. “Gosto da maneira como
ela não queria brigar ou dizer: ‘Não, isso não está certo’; achei que ela lidou
muito bem”, opina. “Eles [os democratas] concederam derrota de maneira justa, e
então isso foi meio que um alívio por esse lado. Havia o medo de que haveria
alguns distúrbios e protestos e coisas assim. E não importava para qual lado
fosse, se fosse Republicano ou Democrata, mas realmente não houve nada. Está
tranquilo, está calmo, e sabe, o país parece estar ainda dividido no que diz
respeito ao voto popular, mas tudo parece estar bem tranquilo agora que
acabou”.
Andrew deposita
esperanças em um segundo governo Trump, principalmente sobre os custos de vida
que, em sua visão, aumentaram de forma injusta. “O que costumava ser uma viagem
de US$ 75 está quase em US$ 150 agora. E eu sei que não vai ser uma coisa que se
conserta da noite para o dia, vai ser alguns anos pela frente. Mas eu gostaria
de ver isso, sabe, meio que voltar ao que era em um ponto de nossas vidas,
onde, sabe, nossos salários avancem um pouco além de apenas gasolina, alimentos
e as contas. Então é mais ou menos onde estão minhas esperanças e
expectativas”.
Apesar de vir de um
Estado republicano, o americano não considera que Trump tenha lidado bem quando
perdeu as eleições para Biden em 2020. “Ele fez isso no calor do momento, mas
não foi a melhor maneira. Eu respeito Joe Biden e a maneira como ele está lidando
com as coisas. E eu acho que ele sabe que seu tempo acabou, e tem mostrado
respeito pelo país ao dizer que vai fazer uma transição fácil”, observa.
Criado por um
porto-riquenho e uma moradora de um bairro pobre de Nova York, Manny Torres já
viveu em vários lugares dos EUA, como Havaí, Alasca e agora na Carolina do
Norte. Em sua opinião, governar um país é algo “difícil” e, por isso, não está
na posição de julgar. “Você tem que tomar uma decisão pelo bem maior da
maioria, e isso significa que alguém vai sair prejudicado”, diz. “E isso não se
aplica apenas a um país, vale para empresas, por exemplo. Estar em uma posição
de liderança não é fácil”. Manny também aposta nas propostas econômicas do
plano de governo Trump, principalmente na criação de empregos. “Pelo menos
parece que, no campo econômico, ele quer melhorar as coisas. Temos que esperar
pelo melhor, certo? Todos nós temos (...) então vamos ver, sabe,
economicamente, se ele faz o trabalho que diz que pode fazer”.
Fonte: Redação Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário