terça-feira, 12 de novembro de 2024

Ozempic pode causar hipoglicemia? Endocrinologistas explicam

Os remédios para emagrecimento formulados com antagonistas do GLP-1, como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e liraglutida (Saxenda e Victoza) sempre dão o que falar. A última foi a postagem da modelo e atriz Lisandra Silva, que relatou que prefere a orientação de um médico ao uso do medicamento e como a única vez que o usou, foi parar no hospital com hipoglicemia, ou seja, uma queda na quantidade de açúcar no sangue.

Será que é preciso se preocupar com o uso desse medicamento? A CNN conversou com endocrinologistas para entender melhor quando se preocupar.

<><> Ozempic falsificado tem sido relacionado a hipoglicemia

A endocrinologista Andressa Heimbecher, professora do Ambulatório de Obesidade da Santa Casa de São Paulo, explica que é preciso considerar dois fatores ao se falar a relação entre a hipoglicemia e o Ozempic e similares. “O primeiro é a questão da falsificação: tem ocorrido a venda de caneta de insulina com outra etiqueta”, explica a médica.

A insulina é o hormônio responsável pelo transporte da glicose que está circulando no sangue para as células: pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 costumam usá-la para controlar a glicemia. Mas, caso a pessoa esteja com os índices de açúcar no sangue normais, aplicar mais do hormônio levaria a uma queda brusca desse índice, a hipoglicemia.

<><> E se a pessoa tomou o remédio verdadeiro?

No entanto, mesmo pacientes que não foram enganados por uma versão falsificada do medicamento devem tomar cuidado. Existem alguns fatores que devem ser observados, conforme explica a endocrinologista Maria Clara Martins:

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•        Uso de outros medicamentos para diabetes: como a semaglutida e a liraglutida já ajudam na absorção da glicose pelas células, o uso de outros remédios hipoglicemiantes podem resultar na queda maior desse índice;

•        Dieta restritiva ou desequilibrada: Comer muito pouco ou pular refeições pode baixar os níveis de açúcar, potencializando o risco. Pacientes que fazem o jejum intermitente por exemplo, precisa ser monitorado e individualizado, para evitar episódios de hipoglicemia;

•        Exercícios intensos: Atividade física intensa sem ajuste na alimentação pode contribuir para uma hipoglicemia, especialmente em quem já usa medicação para diabetes;

•        Consumo de álcool: O álcool pode interferir no controle de glicose e aumentar o risco de hipoglicemia. Principalmente se a pessoa consumir álcool e não se alimentar.

Heimbecher reforça a importância do acompanhamento médico regular na observação da dosagem do medicamento. “Se está muito alta, a pessoa acaba não comendo”, reforça a especialista. Além disso, ter um nutricionista especializado em pacientes que toma esse tipo de medicação é fundamental. “Se a pessoa está comendo muita gordura em uma dieta low carb, por exemplo, ela sentirá muito mais náuseas e comerá menos, o que pode ocasionar uma queda do açúcar no sangue”, conclui a médica.

Além disso, a endocrinologista Maria Fernanda Barca, doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), reforça como muitas vezes o uso dos antagonistas de GLP-1 podem anular o uso de insulina. “Esse medicamento é muito bom e costuma baixar o glucagon e reorganizar o metabolismo”, explica a especialista.

<><> Como reconhecer uma hipoglicemia

Mas como você pode saber que está tendo uma hipoglicemia? Geralmente, a queda do açúcar no sangue causa sintomas bastante desagradáveis, como enumera Barca:

•        Palpitações;

•        Sudorese;

•        Sensação de desmaio;

•        Falta de concentração;

•        Dor de cabeça;

•        Taquicardia;

•        Tremores.

Ao notar o surgimento desses sintomas, o ideal é consumir uma fonte de carboidrato simples, como uma fruta ou bala. “Se não se sentir bem minutos após se alimentar procure um atendimento médico de urgência”, reforça a endocrinologista Martins.

 

•        Ozempic falso pode gerar insuficiência cardíaca e hepática, diz endocrinologista

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um novo alerta, no último dia 29, sobre a falsificação do medicamento Ozempic, da farmacêutica Novo Nordisk, amplamente utilizado para tratamento de diabetes e, de forma off-label, para emagrecimento.

O alerta surge após a hospitalização de uma mulher em estado grave no Rio de Janeiro, vítima de uma suposta fraude envolvendo o medicamento.

Em entrevista à CNN Brasil, a endocrinologista Maria Fernanda Barca esclareceu os riscos associados ao uso de medicamentos falsificados.

<><> Riscos da falsificação

A falsificação do Ozempic pode conter substâncias perigosas como ácido bórico, álcool, chumbo ou até mesmo bactérias contaminantes, explica a médica.

“Podem ter substâncias que são poluentes, que fazem mal à saúde, que podem levar a insuficiência cardíaca e insuficiência hepática”, afirma.

Além disso, a maioria das compras suspeitas ocorre pela internet, com 97% das aquisições sendo feitas online. A médica enfatiza que mais de 62% do que é posto no mercado pode não ser o medicamento original.

Embora as autoridades atuem em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e setores policiais para combater as gangues responsáveis por essas falsificações, a médica ressalta que o processo não é simples. Portanto, o consumidor corre o risco de encontrar falsificações.

Desta forma, é fundamental que os pacientes adquiram o medicamento apenas com prescrição médica e em estabelecimentos confiáveis, evitando compras pela internet ou de fontes não autorizadas, recomenda a endocrinologista.

A vigilância e a conscientização são essenciais para prevenir os riscos associados ao uso de medicamentos falsificados.

<><> Como identificar o Ozempic original

A médica alertou sobre as características do produto original. Veja:

•        A caneta deve ser azul clara;

•        O mostrador deve ser cinza;

•        O botão de aplicação deve ser cinza;

•        A solução deve ser fosca, e não transparente;

 

•        “Ozempic natural”: alternativas sem comprovação trazem riscos à saúde

Recentemente, o Ozempic, medicamento para diabetes da Novo Nordisk, ganhou enorme popularidade devido ao seu efeito na perda de peso. Muitas pessoas têm buscado o remédio para fins estéticos, o que apresenta riscos se não utilizado com orientação médica, e pode levar à falta de estoque do remédio. Diante disso, alternativas naturais têm surgido e viralizado nas redes sociais.

Uma delas é o Psyllium, uma fibra solúvel obtida através da casca das sementes da planta Pantago ovata, encontrada na Ásia, África e região mediterrânea. Esse ingrediente é capaz de absorver água e, quando misturado com líquidos, aumenta de tamanho, formando um gel no trato gastrointestinal, o que aumenta o volume e umidade do bolo fecal, promovendo a regularidade intestinal, melhorando a consistência das fezes e aliviando a constipação.

No TikTok, a busca por “Psyllium” leva a diversos vídeos sobre seu efeito emagrecedor, regulador de apetite e laxante. Alguns vídeos, inclusive, chegam a chamá-lo de “bariátrica de pobre” ou “Ozempic de pobre“. Mas será que alternativas como essas são realmente seguras e levam a um emagrecimento saudável?

De acordo com especialistas ouvidos pela CNN, embora o Psyllium tenha propriedades que levam à saciedade e melhoram a regularidade intestinal, não há evidências científicas robustas que comprovem a sua eficácia direta no emagrecimento.

“O termo ‘Ozempic Natural‘ é uma forma de propaganda enganosa, já que não existe uma alternativa natural direta para medicamentos prescritos como o Ozempic”, afirma Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), à CNN.

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Alguns estudos realizados in vitro levantaram a hipótese de que essa substância, ao promover uma espécie de “fermentação” no intestino, poderia promover a produção de ácidos graxos de cadeia curta, dentre eles o ácido butírico.

Em outro estudo, também em laboratório, o ácido butírico pode estimular a produção do hormônio GLP-1, cuja ação é estimulada também pela semaglutida, principal componente do Ozempic.

“Esse componente promove a saciedade, retarda o esvaziamento gástrico e estimula a secreção de insulina. Talvez, a confusão tenha surgido dessa associação, mas é importante ressaltar que não há estudos demonstrando a elevação do GLP-1 com o uso do Psyllium”, reforça Leonardo Parr dos Santos Fernandes, diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo), à CNN.

“Na prática e em estudos realizados com humanos infelizmente o efeito do Psyllium sobre perda de peso foi muito pequeno e em alguns estudos, semelhante ao do placebo”, completa o especialista. Uma meta-análise que compilou resultados 22 estudos não mostrou alterações no peso corporal, no IMC (Índice de Massa Corporal) ou da medida da circunferência abdominal.

<><> Fiterápicos também não devem ser usados como “Ozempic Natural”

Essa não é a primeira vez que um ingrediente natural é apresentado como uma alternativa ao Ozempic. No ano passado, a berberina também se popularizou nas redes como uma alternativa ao medicamento para emagrecer.

A berberina é um fitoterápico feio a partir de um composto extraído de ervas chinesas. Porém, também não há evidências científicas robustas que atestem a sua eficácia para o emagrecimento.

“Estudos preliminares indicam que seu consumo pode levar a discretas reduções no IMC (índice de massa corporal), mas a maioria dos estudos são pequenos e de evidência questionável”, afirma Alvarenga.

Além disso, o uso da berberina sem acompanhamento médico pode causar efeitos colaterais e apresentar riscos à saúde, incluindo possíveis interações medicamentosas e intoxicação e lesão hepática.

“É preciso tomar cuidado ao consumir os produtos vendidos como ‘fitoterápicos’, especialmente nas compras on-line”, alerta Fernandes. “Há vários casos de intoxicação por produtos ditos naturais cuja procedência é duvidosa e em que o risco de contaminação por fungos, bactérias e outras substâncias tóxicas pode ocorrer”, completa.

Os especialistas alegam que o uso de fitoterápicos, para qualquer finalidade, deve ser feito com orientação de um profissional de saúde, como médico ou nutricionista. Além disso, esses produtos devem ser adquiridos em empresas com registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que garante boas práticas de produção e armazenamento.

<><> Estratégias que são realmente eficazes para o emagrecimento saudável

O uso de Ozempic para emagrecimento se popularizou por aumentar a sensação de saciedade devido ao papel da semaglutida. A Anvisa e a FDA (Food and Drug Administration, órgão regulador dos Estados Unidos), aprovaram o componente para o tratamento da obesidade.

“A semaglutida, presente no Ozempic, está aprovada para o uso no tratamento da obesidade. Porém, no caso do Ozempic, o uso é off label, não está prescrito na bula, mas o uso da molécula está liberado para a perda de peso”, afirma Lorena Lima Amato, endocrinologista com título da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia), em matéria publicada anteriormente na CNN.

No entanto, como toda medicação, o uso de remédios à base de semaglutida podem trazer efeitos colaterais, principalmente se usados indevidamente, ou seja, sem prescrição e acompanhamento médico. Por isso, o uso de medicação para emagrecer deve ser feito havendo a indicação de um profissional de saúde.

Além disso, o emagrecimento saudável pode ser atingido através da mudança de hábitos como um todo. É o caso de uma dieta saudável e baixa em calorias, adaptada a individualidade de cada pessoa e orientada por um nutricionista ou nutrólogo.

“A dieta deve ser equilibrada e rica em fibras, com carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico, restrição de gordura, açúcares refinados e alimentos ultraprocessados. Tudo isso, combinado a atividades aeróbicas e resistidas, já podem ajudar e muito na redução da gordura corporal”, afirma Fernandes.

“Não existe nenhuma pílula, pó ou suplemento mágico que vá consertar um estilo de vida ruim”, completa Alvarenga.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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