sábado, 9 de novembro de 2024

Avanços ou retrocessos? Como a vitória de Trump pode impactar o meio ambiente

A eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos desencadeou preocupação para ativistas do meio ambiente e para a comunidade científica. Ao que se refere às políticas climáticas globais, o republicano já declarou abertamente ser contra a agenda e até prometeu tirar o país do Acordo de Paris.

Além de ter o maior histórico de emissão de gases de efeito estufa, o país, atualmente, ocupa o segundo lugar no mundo das emissões. É também a nação que mais explora óleo e gás no planeta, um problema que causa preocupação pela elevada queima de combustíveis fósseis.

O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, alerta que, para a agenda ambiental, a vitória de Trump representa uma ameaça comparável a um "evento climático extremo". Em entrevista ao Terra, Astrini expôs como essa mudança política pode impactar negativamente o combate à crise climática, não só em solo americano, mas em todo o mundo.

"Não é apenas o fato de que ele vai tirar os Estados Unidos de qualquer hipótese de solução. Não é apenas isso – isso ele vai fazer com certeza –, é que ele vai ajudar a aumentar o problema de forma concreta, aumentando as emissões americanas e também de forma política, dificultando os acordos, alimentando o negacionismo, então realmente é uma pessoa que joga do lado da destruição", avalia.

O Acordo de Paris, firmado em 2015, foi um marco na cooperação global para limitar o aquecimento global, com os Estados Unidos ocupando um papel central nas negociações graças ao governo de Barack Obama.

Durante sua primeira gestão, Trump não só retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, como também enfraqueceu regulamentações ambientais e minimizou as evidências científicas das mudanças climáticas. "Ele classifica as mudanças climáticas como a maior enganação já realizada no planeta. E vai continuar dizendo isso, disse quando era presidente, disse quando não era, falou de novo na campanha, então ele está pronto para atrapalhar", explica Astrini, referindo-se à postura negacionista que Trump promete manter.

Com os Estados Unidos fora da liderança climática, muitos países se sentem desestimulados a adotar políticas rigorosas de redução de emissões. Além disso, Astrini acredita que a nova administração pode usar sua influência para financiar grupos que promovem o negacionismo climático, o que torna ainda mais difícil o avanço nas negociações internacionais.

·        EUA têm papel central na agenda climática global

Como um dos maiores emissores históricos de gases de efeito estufa e o maior explorador de óleo e gás do mundo, a posição dos EUA influencia diretamente a resposta global à crise ambiental. A ausência do país não só dificulta o cumprimento das metas, como enfraquece o financiamento para projetos climáticos em nações em desenvolvimento, segundo o especialista.

Entre as promessas de campanha de Trump, estava a de deixar de financiar órgãos americanos de cooperação internacional, inclusive aqueles que doam para o Fundo Amazônia. 

"Os Estados Unidos começaram a doar para o Fundo Amazônia faz pouquíssimo tempo. Doaram já U$ 50 milhões (cerca de R$ 284,6 mi), de uma promessa de U$ 500 milhões (R$ 2,8 bi). Provavelmente, eles vão parar esse fluxo de doações. Então o prejuízo também é moral para essas negociações", lamenta Astrini, enfatizando que essa perda impacta diretamente a preservação da floresta e as ações climáticas na América Latina.

·        A "Trumpização" do Congresso Brasileiro

No âmbito nacional, Astrini traçou paralelos com o cenário brasileiro de enfrentamento da crise climática. Ele apontou que, apesar das melhorias sob a gestão atual, o Congresso brasileiro permanece hostil à pauta ambiental.

"Nós não temos um país mobilizado no meio ambiente. A gente tem alguns setores de alguns poderes. Mas melhorou muito do que era, com certeza", diz. Mesmo com avanços, como a recente redução do desmatamento, Astrini alerta que, sem um Congresso comprometido, o Brasil terá dificuldades para implementar uma agenda climática abrangente.

Segundo dados divulgados pelo Observatório do Clima nesta quarta-feira, 6, houve redução de 45% da taxa de desmatamento da Amazônia em 2023, e no Cerrado o problema também diminuiu. As emissões de gases poluentes também foram reduzidas em 12% em 2023, comparado a 2022. É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990.

·        Persistência na ciência

Para Astrini, governantes como Trump negligenciam totalmente a agenda climática, assim como também se declaram inimigos da ciência. "Para que um país se mobilize, um governo se mobilize, ele precisa acreditar no que a ciência está dizendo. E são governos, no caso do Bolsonaro e Trump, totalmente anticientíficos".

"Então, se você não aceita a doença, você não vai conseguir tomar nenhuma atitude para cura". Astrini e outros especialistas concordam que a mensagem é clara: é preciso fortalecer a cooperação global para que o negacionismo climático não se torne o novo padrão global.

 

¨      Entendendo a vitória de Donald Trump e do partido Republicano. Por Fernanda Brandão

Após uma corrida eleitoral apertada, o partido epublicano parece, até o momento, ter sido o principal vencedor dessa disputa. Além da eleição de Donald Trump, o partido está perto de assegurar a maioria nas duas casas do Congresso americano. As pesquisas eleitorais mostravam uma disputa acirrada e um empate técnico entre os dois candidatos. O resultado final até o momento parece que não será tão apertado quanto o projetado pelas pesquisas, com Trump vencendo na maioria dos “swing states” ou estados-pêndulo.

Até o momento, as análises apontam para uma vitória de Trump entre diversos grupos populacionais como latinos e um engajamento das mulheres a favor de Kamala Harris menor que o esperado. Acreditava-se que a questão dos direitos reprodutivos seria capaz de mobilizar as mulheres para votar em massa na candidata democrata à presidência. Apesar do discurso anti-imigração e da

promessa de uma grande operação de deportação de imigrantes ilegais, Trump teve uma performance acima do esperado no eleitorado latino, principalmente entre os homens.

Apesar da diferença ideológica entre os dois candidatos e das propostas muito diferentes em termos de projeto de país e de engajamento internacional, o que provavelmente explica a significativa vitória de Trump é a economia. A percepção do eleitorado americano de que a economia americana não estava sendo bem gerida foi refletida nos baixos índices de aprovação do governo Biden nos

últimos meses. Historicamente, governos mal avaliados têm poucas chances de conseguir a reeleição ou de eleger o candidato do mesmo partido em um pleito eleitoral e essa tendência pôde ser novamente observada nas eleições americanas.

Predomina no eleitorado americano a percepção de que a economia americana está indo mal, principalmente por causa da inflação, sobretudo sobre o preço das habitações, e uma percepção de aumento do desemprego. Em termos estatísticos, houve um aumento das vagas de emprego no setor industrial durante o governo Biden e a alta inflação também é explicada pela aceleração da atividade econômica do país. Porém, a perda do poder de compra resultante do processo inflacionário afetou negativamente a percepção da população americana sobre a economia do país.

Em termos de política econômica, Trump afirma que a deportação em massa de imigrantes ilegais vai ajudar a reduzir os custos de moradia no país. Ele também promete aumentar as tarifas de importação sobre bens oriundos da China e de outros parceiros comerciais dos Estados Unidos, diminuindo o déficit comercial e aumentando a quantidade de vagas de emprego no país, além de prometer acabar com a inflação. O aumento das tarifas certamente vai afetar o custo final de diversos bens nos EUA levando ao aumento do custo dos mesmos. Além disso, os países que sofrerem a imposição de tarifas certamente devem retaliar comercialmente os EUA em alguma medida, o que pode gerar mais pressão sobre os preços dos bens no país.

Apesar dos apelos ideológicos, no fim do dia, o que realmente motiva o eleitor a sair de casa e votar é a sua percepção sobre a situação econômica do país e seu bem-estar. A avaliação negativa do governo Biden em torno de questões econômicas parece ser um dos principais fatores explicativos para a derrota de Kamala Harris nas urnas.

 

¨      “Prontos para o segundo round” e “alívio com o fim das eleições”: americanos comentam vitória de Trump e o que esperam para o futuro

O resultado das eleições americanas parece importar menos do que o fato de que a corrida eleitoral finalmente chegou ao fim – ao menos é o que dizem alguns americanos entrevistados pelo Terra em Charlotte, cidade da Carolina do Norte, após a consagração da vitória de Donald Trump, candidato republicano que derrotou a adversária do partido Democrata, Kamala Harris.

“Estou feliz que acabou, quem sabe agora parem de me mandar mensagens de textos e e-mails pedindo dinheiro para as campanhas políticas”, desabafou a americana Anette enquanto pegava um café em um grande shopping da cidade. “Mas estou decepcionada [com o resultado]; para mim, a gente se importou mais com nossos bolsos do que algumas questões principais reais, como os direitos das mulheres. Mas estou feliz que acabou e vamos ver o que o futuro nos reserva, quem sabe pode ser bom, ou não, mas temos que estar prontos para esse ‘segundo round’ de Trump”.

Para Anette, o discurso de que o governo Trump possa ser bom para a economia não cola, mas ela não quer remar contra a maré, pois deseja que a inflação caia e os preços fiquem mais acessíveis nos Estados Unidos. “Se vamos ter uma vitória dessa vez, espero que seja na economia. Mas, sabe, eu realmente não sinto que o presidente tenha muito a ver com a economia. Só acho que as pessoas assumem isso e sinto que, com Trump, ele recebeu muito do voto rural que está sofrendo muito mais do que o resto de nós, sabe. Porque eles mal conseguem sobreviver com os altos preços da gasolina e os altos preços dos alimentos, enquanto alguns de nós nem são afetados por isso, sabe. Então, essa é a área, é para quem ele mirou e é por isso que ele venceu, porque eles compareceram [às urnas] em massa”, completou.

A americana ainda elogiou o fato de Joe Biden ter discursado nessa quinta-feira, 7, prometendo uma transição pacífica. “Biden é um pouco mais cavalheiro, eu acho, do que Trump. Então, ele tende a ser mais politicamente correto (...) nós não elegemos a pessoa mais elegante, mas esperemos que Melania [mulher de Trump] entre e nos dê alguma elegância. Estou ansiosa pelas decorações de Natal dela. Ela faz um trabalho incrível na Casa Branca com suas decorações”, riu.

Conterrânea de Anette, Kelly - que preferiu não mostrar o rosto -- considera que o país está em um lugar diferente do que era no primeiro governo de Donald Trump, de 2016 até 2020. “Muita coisa aconteceu desde então. E veremos, ele tem muitas ideias, mas muitas dessas ideias precisam passar por muita gente, como no Congresso, antes de permitirem que se concretizem. Algumas serão boas, outras não. É assim que funciona na política. Sempre esperamos coisas boas para a nossa economia. E para as pessoas em geral. Não queremos que ninguém sofra”, pontuou, deixando claro sua posição política. “Sou uma eleitora independente, nem Trump e nem Kamala. Acho que ambos os lados tinham ideias valiosas, mas não sei se o plano econômico de Trump era melhor que o de Harris. É apenas um outro caminho”.

Ao Terra, ela também teceu elogios para a postura de Biden: “Transição pacífica é o que sempre buscamos. A última vez foi a primeira vez que isso nunca aconteceu [Trump não recebeu Biden na Casa Branca para a transição], isso não foi legal, então estou que Biden está se mostrando um estadista de verdade e não seria bom fazer de outra maneira (...) as pessoas que conseguiram o que queriam na eleição não terão motivos para ficar chateadas, não há motivos para repetir o 6 de janeiro de 2021 [dia da invasão do Capitólio em meio aos questionamentos de Trump após ter perdido a eleição para Biden nas eleições de 2020).

Natural do Tennessee, um Estado bem republicano, Andrew diz considerar que mesmo perdendo a eleição, Kamala Harris soube aceitar a derrota de forma madura. “Gosto da maneira como ela não queria brigar ou dizer: ‘Não, isso não está certo’; achei que ela lidou muito bem”, opina. “Eles [os democratas] concederam derrota de maneira justa, e então isso foi meio que um alívio por esse lado. Havia o medo de que haveria alguns distúrbios e protestos e coisas assim. E não importava para qual lado fosse, se fosse Republicano ou Democrata, mas realmente não houve nada. Está tranquilo, está calmo, e sabe, o país parece estar ainda dividido no que diz respeito ao voto popular, mas tudo parece estar bem tranquilo agora que acabou”.

Andrew deposita esperanças em um segundo governo Trump, principalmente sobre os custos de vida que, em sua visão, aumentaram de forma injusta. “O que costumava ser uma viagem de US$ 75 está quase em US$ 150 agora. E eu sei que não vai ser uma coisa que se conserta da noite para o dia, vai ser alguns anos pela frente. Mas eu gostaria de ver isso, sabe, meio que voltar ao que era em um ponto de nossas vidas, onde, sabe, nossos salários avancem um pouco além de apenas gasolina, alimentos e as contas. Então é mais ou menos onde estão minhas esperanças e expectativas”.

Apesar de vir de um Estado republicano, o americano não considera que Trump tenha lidado bem quando perdeu as eleições para Biden em 2020. “Ele fez isso no calor do momento, mas não foi a melhor maneira. Eu respeito Joe Biden e a maneira como ele está lidando com as coisas. E eu acho que ele sabe que seu tempo acabou, e tem mostrado respeito pelo país ao dizer que vai fazer uma transição fácil”, observa.

Criado por um porto-riquenho e uma moradora de um bairro pobre de Nova York, Manny Torres já viveu em vários lugares dos EUA, como Havaí, Alasca e agora na Carolina do Norte. Em sua opinião, governar um país é algo “difícil” e, por isso, não está na posição de julgar. “Você tem que tomar uma decisão pelo bem maior da maioria, e isso significa que alguém vai sair prejudicado”, diz. “E isso não se aplica apenas a um país, vale para empresas, por exemplo. Estar em uma posição de liderança não é fácil”. Manny também aposta nas propostas econômicas do plano de governo Trump, principalmente na criação de empregos. “Pelo menos parece que, no campo econômico, ele quer melhorar as coisas. Temos que esperar pelo melhor, certo? Todos nós temos (...) então vamos ver, sabe, economicamente, se ele faz o trabalho que diz que pode fazer”.

 

Fonte: Redação Terra

 

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