Geoeconomia da globalização versus
geopolítica imperialista
A geoeconomia da
globalização, de fato, limita a expansão geopolítica de grandes potências
econômicas, principalmente por afetar o desempenho e a valorização das ações de
empresas transnacionais e, por consequência, seu poder de capitalização. A
interdependência econômica criada pela globalização coloca as empresas e, por
extensão, as economias nacionais, em uma posição vulnerável às oscilações do
mercado, tensões geopolíticas e instabilidades econômicas globais. Isso
interfere diretamente no capital necessário para financiar novos investimentos
e promover um crescimento sustentado. No caso atual da ascensão ao governo
norte-americano da extrema-direita nativista e populista, é interessante
analisar a contraposição das forças de mercado, no caso, representadas por
cotações das ações de big techs transnacionais em bolsa de
valores relevante.
A promessa de campanha
de Donald Trump de elevar muito as tarifas sobre produtos importados da China,
e o avanço da inflação nos EUA, projetado por economistas, são problemas na
expansão global das big techs. Seis das “sete magníficas” –
Alphabet (controladora do Google) com valor de mercado US$ 2,2 trilhões, Amazon
(US$ 2,2 trilhões), Apple (US$ 3,4 trilhões), Meta (US$ 1,4 trilhão), Microsoft
(3,1 trilhões), Nvidia (US$ 3,6 trilhões) e Tesla (US$ 926 bilhões) –
investiram em doações para a democrata Kamala Harris, exceto a Tesla, do
bilionário Elon Musk, maior apoiador de Donald Trump, inclusive com uso e abuso
de seu X.
Em janeiro de 2021,
após a invasão ao Congresso americano, Donald Trump foi banido das redes
sociais Facebook e Instagram, controladas pela Meta. Por isso, essa rede social
foi chamada de “inimigo do povo” no início da campanha de Donald Trump. Também
foi banido do antigo Twitter, mas depois tornou-se X sob a gestão de Elon Musk
em apoio à ultradireita. Ele defende seu interesse de haver um relaxamento
regulatório em questões anticoncorrenciais, de privacidade e monitoramento de
conteúdos.
As big techs esperam
logo a revogação de um decreto de regulamentação da Inteligência artificial nos
EUA, assinado por Joe Biden, em novembro de 2023. Outra medida prática de
Donald Trump deve ocorrer no comando de agências reguladoras, mais rígidas com
as big techs na gestão Joe Biden, acusando-as de monopólios em
comércio eletrônico, celulares, buscas na internet etc. em processos antitruste
e de privacidade. O relacionamento com investidores bilionários do Vale do
Silício também favorece o cenário de relaxamento de leis antitruste. O
bilionário eleito conhece o segmento de capital de risco e critica a postura
regulatória mais dura por reduzir os movimentos de aquisições de startups por big
techs.
Um enfraquecimento de
leis nacionais e de órgãos reguladores nos EUA levaria as decisões em torno
das big techs, inclusive os processos antitruste e de privacidade,
aos estados americanos. O vácuo regulatório seria ocupado pelas unidades
federativas e criaria “paraísos regulatórios” ocupados por empresas de
tecnologia.
O estado da Virginia,
por exemplo, já ofereceu benefícios fiscais para a expansão de centros de
dados, as bases para o avanço da Inteligência artificial. Outro é o Arizona,
onde gigantes de semicondutores como a americana Intel, a sul-coreana Samsung e
a taiwanesa TSMC receberam bilhões de dólares em incentivos da gestão de Joe
Biden para instalar fábricas de semicondutores, reduzindo a dependência de
componentes da China. Donald Trump não deve alterar a injeção de recursos na
indústria local de semicondutores, mas deve redirecioná-la às empresas
norte-americanas como a Intel. No entanto, é necessário analisar alguns dos
principais fatores dessa relação de confronto entre a pretensão geopolítica
ultranacionalista do novo governo norte-americano e a reação geoeconômica
globalista de empresas transnacionais. Algumas têm valores de mercado somente
abaixo dos quatro maiores PIBs: EUA (US$ 27,361 trilhões), China (US$ 17,795
trilhões), Alemanha (US$ 4,456 trilhões), Japão (US$ 4,213 trilhões). A soma
dos valores de mercado das ações das “sete magníficas” dá US$ 16,8 trilhões,
valor quase equivalente ao PIB anual da China!
A globalização
econômica, com suas redes complexas de cadeias de suprimentos e
interdependência de mercados, significa as ações de empresas transnacionais
serem altamente sensíveis a crises regionais, políticas e econômicas. As
tensões comerciais, sanções e restrições geopolíticas entre grandes potências
(como EUA e China) costumam resultar em queda dos preços das ações dessas
empresas. Essa desvalorização reduz o valor de mercado das empresas com
operações internacionais. Ao diminuir seu poder de capitalização, afeta a
capacidade de realizar novos investimentos em inovação e infraestrutura para
crescimento.
As incertezas
geopolíticas, como sanções, guerras comerciais, nacionalizações e mudanças
abruptas nas políticas econômicas, criam um ambiente desfavorável para
investimentos de longo prazo. A confiança dos investidores é essencial para a
valorização das ações e para a estabilidade dos fluxos de capital. Quando os
investidores percebem riscos geopolíticos elevados, eles tendem a vender as
ações das empresas expostas a esses riscos. Essa fuga de capital limita as
oportunidades de financiamento para as empresas mais afetadas.
Empresas
transnacionais dependem de um ciclo econômico global estável e de um
crescimento sustentado para maximizar seus lucros e expandir suas operações. No
entanto, a geoeconomia globalizada impõe uma dependência complexa das condições
macroeconômicas internacionais com ciclos de incerteza e fragilidade. Em tempos
de crise global, como a GCF de 2008 ou a crise pandêmica de 2020, houve forte
impacto nas ações de empresas transnacionais, refletindo diretamente na
capacidade de investimento de longo prazo e afetando suas operações em nível
global.
A geoeconomia global,
ao estabelecer uma rede de fluxos financeiros e de investimentos
internacionais, gera interdependência econômica entre países. Cria um cenário
no qual grandes potências econômicas, como EUA, China e União Europeia,
precisam equilibrar seus interesses econômicos globais com suas ambições
geopolíticas. Medidas de expansão ou proteção, como imposição de sanções ou
tarifas, enfraquecem os próprios ativos das empresas nacionais em mercados
globais. Se reduzem o valor de mercado dessas empresas, tornam-se uma barreira
para o financiamento de políticas de expansão ou influência geopolítica no
longo prazo.
A globalização
pressiona as empresas a buscar rentabilidade e maximizar o valor para os
acionistas em um curto prazo. Essa postura conflita com estratégias de
investimentos de longo prazo e de desenvolvimento sustentável. Muitas empresas
transnacionais, especialmente aquelas com operações em setores intensivos em
capital, energia e manufatura, enfrentam a dificuldade de equilibrar a
rentabilidade com a necessidade de adaptação às novas exigências regulatórias
ambientais e sociais. Essa pressão, imposta pela necessidade de responder a
mercados globais, retira o apoio delas às políticas geopolíticas.
A expansão de novos
atores econômicos e o ressurgimento de estratégias de autossuficiência regional
(como a iniciativa “Made in China 2025” ou a política industrial da
União Europeia) criam uma fragmentação da globalização econômica. Esse processo
impõe novas barreiras para empresas transnacionais necessitadas de enfrentar
diferentes regulamentações e políticas de proteção regional. A fragmentação
também reforça a rivalidade geopolítica e assim cria incertezas para o
investimento e para a valorização de ativos transnacionais.
A geoeconomia da
globalização, com sua interdependência complexa e sensibilidade a crises e
conflitos, efetivamente, cria barreiras para a expansão geopolítica das grandes
potências econômicas. As empresas transnacionais, ao serem influenciadas pelas
oscilações geopolíticas e tensões globais, enfrentam dificuldades em manter a
valorização das suas ações e, consequentemente, sua capacidade de financiar
novos investimentos. Para superar essas limitações, é necessário reavaliar as
estratégias de investimento de longo prazo diante as políticas de proteção
econômica. É possível sustentar a expansão geopolítica sem comprometer a
resiliência financeira das empresas transnacionais?
Além disso,
iniciativas de fortalecimento de mercados financeiros locais e desenvolvimento
de uma maior autossuficiência econômica são estratégias capazes de mitigar
alguns desses impactos. Talvez elas agravem a fragmentação da globalização e
intensifiquem as rivalidades geopolíticas.
Veremos se, de fato,
as empresas transnacionais atuarão como um contrapeso ao poder estrutural da
geopolítica imperialista. Buscarão ainda influenciar a definição de normas
globais para favorecer a abertura e reduzir o protecionismo?
¨ Mas, afinal, o que é o G20? Por Carol Proner
O Rio de Janeiro se
prepara para receber o G20 nos dias 18 a 19 de novembro. Com anúncios de
boas-vindas em diversos pontos da cidade, o Brasil espera exercer a presidência
de turno encantando as delegações internacionais com as belezas da cidade
maravilhosa e uma agenda ambiciosa em matéria social e ambiental. Para além dos
temas próprios de regulação do comércio e finanças globais, a liderança
brasileira coordena uma pauta dedicada ao combate à fome e à pobreza, reação às
mudanças climáticas e tributação cooperativa internacional.
Mas afinal, o que é o
G20?
Diferentemente de
outras agremiações do organograma ONU ou da União Europeia, o Grupo dos 20
provém de uma sucessão de fórmulas implementadas pelas maiores economias com o
objetivo de regular o sistema financeiro internacional. Originalmente, o
G20 tinha o propósito de estabelecer princípios e regras que pudessem favorecer
a estabilidade da economia mundial e o desenvolvimento de um sistema financeiro
mais previsível e equilibrado. Esperava-se que, pela liderança das grandes economias,
certa uniformidade de regras pudesse ser alcançada e, consequentemente,
existisse maior previsibilidade nas ações da comunidade internacional. Nesse
sentido, o G20 surgiu como um fórum de reunião dos Ministros da Fazenda e
Presidentes dos Bancos Centrais das maiores economias do mundo, dedicando-se a
temas eminentemente financeiros.
Ao mesmo tempo,
acompanhando as instituições de Bretton Woods, outros espaços multilaterais
eram estimulados. Na origem, prevaleciam também as chamadas “rodadas de
negociação da OMC” e a imposição das cláusulas de certo equilíbrio do comércio
mundial, como “a cláusula do tratamento nacional” e da “cláusula da nação mais
favorecida”, ambas aplicadas aos mais diversos temas de comércio e finanças.
Havia expectativa, ao menos em teoria, de que o comércio multilateral pudesse
criar compensações, diminuir assimetrias e preservar a paz, e o G20 serviria de
fórum para facilitar as relações entre as maiores econômicas na definição das
regras do jogo.
As palavras-chave em
cada encontro orbitam ao redor da “economia global”, em especial em torno do
comunicado aprovado em 2004, na reunião de Berlim, realçando uma variedade da
política neoliberal que inclui, como princípios a serem alcançados, i) a eliminação
de restrições no movimento de capital internacional; ii) a desregulação; iii) a
privatização; iv) a garantia de direitos de propriedade intelectual e de outros
direitos de propriedade; e v) a liberalização do comércio global (OMC e outros
acordos de comércio).
Já em 2006, ganhou
destaque o tema da prosperidade e as questões que envolviam reformas domésticas
para um crescimento sustentado, energia, mercado global das commodities,
reforma do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, bem como o impacto
das mudanças demográficas decorrentes do envelhecimento da população. A reunião
de 2006, na cidade de Melbourne, na Austrália, foi especialmente marcada por
protestos antiglobalização. Em 2007, na África do Sul, os temas passaram à
evolução econômica global e doméstica, reforma das instituições de Bretton
Woods, espaço fiscal, commodities e estabilidade financeira, temas discutidos
com certa inércia e sem antever as drásticas mudanças que ocorreriam no ano
seguinte.
Com o impacto da crise
de 2008, chamada “crise das hipotecas subprime”, várias premissas das regras de
comércio foram contestadas e o tema da governança global passou a ser
prioritário, com destaque aos mecanismos de prevenção e reforma das
instituições financeiras e ênfase na participação das economias emergentes. O
G20 passou a receber maior relevância e a União Africana tornou-se integrante
desde então, conformando a atual composição de membros. Paralelamente e
como reação às contradições do G20, a crise mundial de 2008 também levou à
criação de outras parcerias econômicas e políticas internacionais. Exemplo
dessa multiplicação de fóruns intergovernamentais, representantes da chamada
multipolaridade, é o surgimento dos BRICS, um bloco de países emergentes
formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, hoje em expansão.
Este entendimento
elementar, de que o G20 é um fórum para a cooperação e a consulta em temas
pertinentes ao sistema financeiro internacional a partir de experts de bancos
centrais e ministros da economia e finanças de cada economia, esclarece os
propósitos e os limites do que se pode esperar do G20 em cada nova reunião
ministerial. E também desvenda sua principal contradição, a manutenção das
instituições, regras e do poder unipolar. Outra mudança surgida no rescaldo da
crise de 2008 foi a ampliação do escopo das discussões do G20, que incorporou a
chamada Trilha de Sherpas (representantes de chefes de Estado), para tratar de
temas sociais, em paralelo à Trilha de Finanças, para tratar dos temas
financeiros debatidos desde a concepção deste fórum. Para refletir a crescente
importância do G20 naquele momento histórico e sua evolução, as Cúpulas do
Grupo de 20 passaram a receber não mais apenas os ministros encarregados da
política econômica e monetária, mas também os chefes de Estado, presidentes e
primeiros-ministros de seus países membros.
A Reunião Ministerial
de 2008, inclusive, foi sediada no Brasil, na cidade de São Paulo (embora a
Cúpula de Chefes de Estado tenha ocorrido nos Estados Unidos). Naquela ocasião,
o então Ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, questionou o consenso
pró-austeridade formado em resposta à crise dos subprime, e defendeu, ao invés
disso, políticas fiscais e monetárias anticíclicas. Além disso, ele enfatizou a
responsabilidade dos países desenvolvidos em relação aos países emergentes.
Atualmente, a
composição do grupo é de 19 países, incluindo os EUA, China, Rússia, Índia e as
maiores economias da Europa, entre outros, e 2 órgãos regionais, a União
Europeia e a União Africana. Juntos, os membros do G20 e representam cerca de
85% do PIB e dois terços da população do mundo.
Acompanhando a
evolução das reuniões a partir de 2008, são destaque a preocupação com a
retomada sustentável do emprego e do crescimento (Cúpula do G20 - Londres –
2009), agendas específicas como o combate à corrupção (Cúpula do G20 - Toronto
– 2010), medidas para evitar o recrudescimento do protecionismo comercial e
medidas de manipulação cambial, além de regras novas de regulação bancária e
preocupação com a desvalorização do dólar (Cúpula do G20 - Seoul – 2010).
A agenda anticorrupção é cumulativa e inclui o lançamento, em 2010, de um Plano
de Ação internacional que serviria de modelo para a legislação regulatória em
diversos países. Paralelamente ao debate sobre sistema monetário internacional,
ganharam destaque temas sociais, sobre segurança alimentar e agricultura
(Cúpula do G20 – Cannes – 2011) e o tema da governança global e do
financiamento, por parte do FMI, aos países emergentes. Também surgem algumas
propostas que conectam os países dos BRICS como financiadores do modelo de
desenvolvimento do futuro (Cúpula do G20 – Los Cabos – 2012).
As políticas
protecionistas e a desvalorização competitiva entre futuras potências mundiais
foram tema da Cúpula de 2013, incluindo propostas de empréstimos soberanos como
parte de um conjunto de medidas para estimular o desenvolvimento (Cúpula do G20
– São Petersburgo – 2013). Essa cúpula na cidade russa foi dominada por
questões envolvendo a guerra civil na Síria e o papel da ONU diante das
intervenções e conflitos bélicos. As cúpulas sucessivamente trabalharam o
chamado Acordo-Quadro em relação ao crescimento forte, sustentável e
equilibrado, à facilitação da criação de empregos, à reforma da moeda e
dos sistemas de regulação e à supervisão financeira. Em 2013 e 2014 também
esses eram os temas centrais, assim como o prolongamento dos efeitos da crise
de 2008 e os vazamentos ou sistemas de evasão fiscal (Cúpula do G20 – Brisbane
– 2014).
Os chamados três “ís”,
“inclusão, investimento e implementação” foram prioridade em 2015, com destaque
para preocupações com mudanças climáticas e desafios globais, como terrorismo e
a crise dos refugiados (Cúpula do G20 – Antália – 2015). Em 2016, a centralidade
dos debates incluiu os temas da inovação, interconectividade e inclusão, com o
endosso de “Plano de Ação do G20 sobre Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável” e a “Estratégia do G20 para Crescimento do Comércio Global”, como
o objetivo de atribuir maior transcendência para as decisões do G20 diante da
comunidade internacional (Cúpula do G20 – Hangzhou – 2016).
As cúpulas seguintes
também priorizaram cooperação multilateral e a transcendência das decisões do
grupo para a comunidade internacional. Em 2017 destacam-se iniciativas do G20
para a África, bem como ações nos temas climáticos, atualização do Acordo de Paris
e implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, bem como
migrantes e refugiados. O tema do combate ao terrorismo e ações financeiras
também foi destaque (Cúpula do G20 – Hamburgo – 2017).
O meio ambiente e a
crise climática passaram a ser prioridade em todas as seguintes cúpulas. Em
2018 também houve protagonismo da agenda das mudanças climáticas e do futuro
alimentar sustentável, cruzando-se com temas transversais e o papel dos países
em desenvolvimento para atingir objetivos globais (Cúpula do G20 – Argentina –
2018). Em 2019, o grupo voltou a discutir a insatisfação quanto ao sistema de
governança global, prevalecendo propostas em torno do livre comércio, da
inovação, do combate às desigualdades e soluções para os desafios ambientais e
sociais (Cúpula do G20 – Osaka– 2019).
Em 2020, em razão da
pandemia da Covid-19, a cúpula de Riad foi realizada virtualmente e dominada
pela preocupação planetária em coordenar soluções diante de um sistema frágil e
vulnerável. Além das questões sociais e laborais, especialmente destacadas em
2020, os líderes se dedicaram a coordenar esforços para apoiar economias mais
vulneráveis, principalmente na África (Cúpula do G20 – Riad – 2020). Em 2021 o
lema foi “pessoas, planeta, prosperidade”, incluindo questões ligadas ao
desenvolvimento macroeconômico global e à crise de saúde, soluções para
desafios climáticos e ambientais e superação da pandemia da Covid-19. Os
líderes acordaram a aceitação formal da “Declaração de Matera”, sobre segurança
alimentar e a meta de plantio de árvores até 2030 (Cúpula do G20 – Roma –
2021).
Nos anos seguintes, em
2022 e 2023, as cúpulas em Bali e em Nova Deli foram realizadas já no contexto
bélico da Ucrânia, da crise de abastecimento energético europeu e diante de
forte contestação das regras e sanções unilaterais produzidas pelas distorções
do sistema financeiro internacional. Os temas amplos foram saúde, economia
digital e agenda energética em 2022 (Cúpula do G20 – Bali – 2022) e
desenvolvimento verde, crescimento sustentável, resiliência, tecnologia,
reforma das instituições multilaterais em 2023 (Cúpula do G20 – Nova Deli –
2023).
Em 2024, a presidência
do grupo é brasileira sob o lema “construindo um mundo justo e um planeta
sustentável”. Como agendas prioritárias, destacam-se: inclusão social e combate
à fome, transição energética e desenvolvimento social, ambiental e econômico e
reforma das instituições de governança global. Sem dúvidas, a enumeração
dessas prioridades indica que a liderança brasileira está especialmente
interessada em promover transformações nas relações entre países, de modo a
garantir às nações emergentes (o chamado Sul Global) uma participação justa e
equitativa nos principais debates do século XXI. Estão em pauta, entre outros
temas, a mudança climática e preservação do meio ambiente, o combate à miséria
e às desigualdades nas escalas nacional e internacional, e a busca da paz, que
é urgente diante dos devastadores conflitos armados na Ucrânia e no Oriente
Médio. Para atingir essas metas, o Brasil reconhece a necessidade de
reestruturação das instituições globais criadas no contexto do pós-guerra no
século passado, como o Banco Mundial, o FMI, a OMC e a própria ONU.
Entre as principais
propostas do governo estão: i) a criação de um grupo de trabalho sobre
Mobilização Global Contra as Mudanças Climáticas; ii) o estabelecimento de uma
Força-tarefa para Aliança Global contra a Fome e a Pobreza; e iii) a Cooperação
Tributária Internacional. Esta última proposta, no âmbito da Trilha Financeira,
é iniciativa do Ministro da Fazenda Fernando Haddad, que traz como pauta
prioritária a taxação de fortunas bilionárias. Recentemente, esses esforços se
concretizaram na forma de um compromisso internacional a favor da taxação em no
mínimo 2% das fortunas pessoais superiores a US$1bi, que promete uma
arrecadação global de US$250bi ao ano.
Ao longo de seus 15
anos de história, o G20 evoluiu de um grupo informal dedicado tão somente a
discussões de natureza financeira para um dos principais fóruns para debates
intergovernamentais estratégicos. Em seu âmbito são desenvolvidas iniciativas
globais ligadas não apenas à economia, mas também ao desenvolvimento
sustentável, à justiça social, e à paz e segurança global. Por outro lado, não
se pode ignorar a crescente frustração quanto às instâncias tradicionais de
cooperação internacional, que muitas vezes fracassam ou tardam a atingir seus
objetivos. Em resposta a tais insuficiências, o chamado mundo multipolar se
reorganiza em torno de outros fóruns, liderados por países emergentes e
pautados por seus interesses e peculiaridades. Mesmo assim, sem menosprezo às
merecidas ressalvas ao G20 e ao sistema de governança global no qual está
inserido, é preciso aproveitar as oportunidades de diálogo que este fórum ainda
proporciona. O atual governo faz questão de anunciar que “o Brasil está de
volta” e de assegurar o protagonismo brasileiro nos grandes debates
internacionais. Nesse contexto, a culminância da presidência brasileira do G20
na vindoura Cúpula do Rio de Janeiro deve ser comemorada, tendo proporcionado
algumas conquistas valiosas na luta por um mundo mais justo.
Fonte: Por Fernando
Nogueira da Costa, em A Terra é Redonda/Brasil 247
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