segunda-feira, 11 de novembro de 2024

(Des)Governo Jerônimo (PT), na Bahia, sucateia o Planserv e servidores 'batem com a cara na porta' de hospital

A busca por atendimento tem sido frustrante para os usuários do Planserv - plano de saúde dos servidores estaduais - que vão ao Hospital da Bahia. A unidade suspendeu, desde o dia 7 deste mês, o atendimento de urgência e emergência para quem tem o plano. Com dores no peito, a professora aposentada Maria Andrade, 68 anos foi ao local nessa quinta-feira (7), onde, normalmente, costumava ser atendida. Chegando ao hospital, ela foi informada que não poderia entrar na unidade.

“Fui orientada a ir para o Hospital de Brotas. Cheguei lá 11h e só fui atendida as 15h. Fiz um exame e demorou muito. O resultado só saiu 19h. Uma parte do hospital ainda está em obras e tem poucos funcionários. No final, me mandaram tomar dipirona em casa. No Hospital da Bahia, sempre tive um atendimento de maior qualidade”, declarou.

Indignada, a aposentada refletiu sobre a queda na qualidade do plano. “Pago quase R$ 2 mil de Planserv e, toda vez que preciso usar, é um sacrifício. É um desrespeito com os servidores”, diz ela.

A situação afetou o atendimento, e o Hospital de Brotas até colocou uma faixa na entrada da emergência, informando que o tempo de espera estava "elevado". O local registrou até três horas para realizar os atendimentos.

O empresário Pedro Gustavo Fonseca, 25 anos, conta que procurou a rede já no dia 26 de outubro - portanto, antes mesmo de valer a suspensão do atendimento - após sofrer um acidente com um objeto metálico.

“Eu estava trabalhando e tive um corte profundo na lateral do rosto. Fui procurar atendimento no hospital por saber do histórico do plano e, chegando lá, não consegui entrar na emergência porque o segurança chegou perguntando qual plano de saúde que eu tinha convênio. Quando respondi, ele falou que não podia entrar porque ali não atendia mais Planserv. Fui para o Hospital de Brotas e consegui atendimento lá”, falou.

Na quinta (7), a reportagem foi até o Hospital da Bahia e constatou a presença de placas na recepção e no elevador, informando que os atendimentos passarão “a ser exclusivamente eletivos e referenciados, requerendo autorização prévia”. O Hospital também indica que os beneficiários do Planserv deverão procurar os canais de comunicação do plano para obter informações sobre a rede credenciada.

Com a suspensão, o Planserv anunciou medidas para expansão dos atendimentos em outras unidades da região, como no Hospital da Pituba e o pronto atendimento San Miguel (antigo Santa Clara). Informou que também destinaria 18 leitos do Hospital Português para usuários do plano.

Os problemas com o plano são constantes. Descredenciamento de clínicas e hospitais, recusa em atendimentos de emergência e dificuldade para marcação de procedimentos são algumas das dificuldades enfrentadas por beneficiários do Planserv. Para se ter uma ideia, o sucateamento do plano de saúde dos servidores estaduais foi motivo para 6.177 ações movidas entre janeiro de 2020 e agosto de 2023.

Até o governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), disse “estar no limite” quanto à situação do plano. Em entrevista à imprensa nessa quinta-feira (7), o gestor admitiu que a suspensão do atendimento do Planserv no Hospital da Bahia trará “transtornos” ao sistema de saúde do estado.

“Qualquer dificuldade com hospital, como o Hospital da Bahia, gera um transtorno porque a quantidade de pessoas ali atendida vai acumular em algum lugar. Então, pedi ao secretário [da Administração, Edelvino] Góes para que a gente pudesse se preparar”, declarou Jerônimo.

Além disso, o governador lembrou que não existe uma rede de saúde privada no interior do estado para poder ter capilaridade com o serviço do plano. "Temos que criar um ambiente para que o setor privado amplie essa rede e possamos ter um serviço de Planserv maior. Quando não tem no interior vem para a capital e acaba sobrecarregando”, acrescentou.

•        Após suspensão no Hospital da Bahia, beneficiários do Planserv denunciam descaso: 'Cada vez pior'

No ano passado, o investigador Léo Magno precisou percorrer três emergências de hospitais de Salvador para conseguir ser atendido por um médico. Na época, o baiano teve um aumento súbito de pressão e achou que fosse morrer. O motivo para as recusas seguidas foi o paciente ser beneficiário do Planserv - o serviço de saúde dos servidores estaduais. As opções de atendimento vão ficar ainda mais restritas a partir de quinta-feira (7).

A data corresponde ao início da suspensão de atendimentos emergenciais no Hospital da Bahia, na Pituba, para beneficiários do Planserv. Apesar de as negativas na porta da emergência já serem conhecidas, a decisão foi oficializada pela unidade de saúde. Quem depende do plano, observa com apreensão a diminuição de opções. Em agosto de 2023, o Hospital da Bahia não foi o único a negar atendimento a Léo Magno.

Além dele, o Hospital Santa Izabel, em Nazaré, e o Hospital Português, na Graça, fecharam as portas para o servidor estadual. "É lamentável, o plano do Governo do Estado é destruir o Planserv. Os melhores médicos não atendem mais a gente", desabafa. Léo Magno mora em Lauro de Freitas e tinha como opção o Hospital Aeroporto, que foi descredenciado. "Agora, preciso ir para Cajazeiras para ser atendido", fala sobre Hospital Prohope.

O Hospital da Bahia diz que tentou negociar com o Planserv, mas que as partes não chegaram a um acordo. "Informamos que após meses de tratativas para solucionar um equilíbrio econômico, não foi possível chegar a um acordo e fez-se necessária uma alteração contratual", pontua a instituição. O CORREIO apurou que o hospital está em processo de aquisição por outro grupo nacional.

Presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Ahseb), Mauro Adan reiterou a importância das duas instituições, mas afirmou não poder entrar em detalhes sobre a interrupção do vínculo. "Não é normal [a descontinuação da relação]. Eu considero que qualquer relação de natureza comercial que tenha sido interrompida, as partes precisam avaliar o motivo disso. Cada instituição tem uma forma de atuar no mercado e tem parcerias com alguns planos de saúde e outros não. É importante que o cidadão procurar aonde e o que o plano atende", declarou.

A professora aposentada Maria Souza, beneficiária do Planserv, esteve pela última vez no Hospital da Bahia há três meses. Ela foi acompanhar a mãe em um procedimento. "Eles já não estavam atendendo a emergência. Minha mãe conseguiu ser atendida porque estava com um relatório médico e a equipe já estava esperando dentro do hospital", conta. "A suspensão é muito ruim. Ficamos com cada vez menos opção e o sentimento é de insegurança", lamenta.

Segundo o governo do estado, os beneficiários que deram entrada no Hospital da Bahia pela emergência e que se encontram assistidos no momento não terão descontinuidade no atendimento. Desde junho, o Planserv conta com um hospital de atendimento exclusivo do convênio, localizado em Brotas. A unidade terá a abertura de 150 leitos antecipada para atender a demanda.

Beneficiários denunciam que têm enfrentado dificuldades para agendar consultas e exames através do plano. O filho de Maria Souza lesionou o braço há cinco semanas, e a família não conseguiu agendar sessões de fisioterapia. "Precisei pagar consultas de R$130 porque o Planserv está péssimo, não temos opções", diz. O jovem vai precisar ser assistido por três meses.

<><> Interior do Estado

Se este descaso está ocorrendo na capital baiana, onde estão lotados a “elite do serviço público”, agora imaginem o que ocorre no interior do Estado.

O caos é muito pior, e a dirigente (ir)responsável pela gestão do Planserv, que foi mantida no cargo por ser apadrinahada de Manuel Vitório (que é quem manda de fato no governo da Bahia, assessorado pelo indigitado Ruim Costa, de péssia memória dos servidores públicos), ainda tem a cara de pau de quando é liberada pelo padrinho para falar com a imprensa do interior baiano, de afirmar que não há qualquer problema na gestão e que as dificuldades são pontuais ocasionadas pela elevada demanda.

Para citar um exemplo, em Feira de Santana, o EMEC hospital de referência suspendeu o atendimento, sabem porque, por atraso no pagamento das faturas, que se tornou rotina na atual gestão. Perguntada a respeito, a indigente dirigente saiu pela tangente dizendo que havia outros, sendo que em Feira a rede hospitalar se resume a três hospitais e um público.

O servidor conseguir marcar uma consulta médica está se tornando um feito heroico e saldado com festas quando consegue a consulta, porque o normal é levar três a quatro meses para conseguir, diante do limite de cotas estabelecidos, em quantidade mínima, chegando ao extremo de ter clinica conveniada que tem apenas a cota de 1 radiografia por dia.

São tratamentos que sofrem constantes descontinuidades, porque os médicos pedem descredenciamento, diante dos desgastes que enfrentam em razão das cotas reduzidas que lhes são destinadas e ou pelo valor da consulta que é paga, hoje próxima ao que paga o SUS, aliado aos constantes atrasos do pagamento das faturas.   

•        Hospital da Bahia diz que tentou negociar com o Planserv durante meses antes de suspensão

A decisão de suspender os atendimentos de urgência e emergência para os usuários do Planserv (plano de saúde dos servidores estaduais) foi tomada pelo Hospital da Bahia após meses de negociações. A unidade de saúde informou, através de nota, que foram feitas tratativas para solucionar um equilíbrio econômico, mas não houve acordo entre as partes. O CORREIO apurou que o hospital está em processo de aquisição por outro grupo nacional.

Ao longo deste ano, o CORREIO noticiou diversos casos de pacientes do Planserv que tiveram atendimentos emergenciais negados no Hospital da Bahia. Também foram alvo de denúncias o Hospital Santa Izabel e o Hospital Português. Os pacientes narram uma verdadeira peregrinação na tentativa de receber atendimento médico através do plano de saúde dos servidores estaduais.

Agora, a situação pode se agravar com a suspensão dos atendimentos no Hospital da Bahia. "Informamos que após meses de tratativas para solucionar um equilíbrio econômico, não foi possível chegar a um acordo e fez-se necessária uma alteração contratual. Nesse sentido, a partir do dia 07/11/2024 a unidade atenderá aos usuários do plano para situações eletivas e referenciadas, com prévia autorização. Não poderão ser mais realizados atendimentos de emergência", diz o hospital.

A unidade ressalta que o hospital continua "operando integralmente e prestando o usual serviço de excelência para a população". Continuarão sendo prestados pelo Hospital da Bahia, aos beneficiários do Planserv, atendimentos ambulatoriais relacionados à neurocirurgia, cirurgias torácica, cardíaca, cabeça e pescoço, cirurgia geral do trato digestivo e oncológica.

Segundo o governo do estado, os beneficiários que deram entrada na unidade pela emergência e que se encontram assistidos no momento não terão descontinuidade no atendimento. Desde junho, o Planserv conta com um hospital de atendimento exclusivo do convênio, localizado em Brotas.

Omisso com gestor e querendo tirar o braço da seringa, Jerônimo diz 'estar no limite' quanto à situação do Planserv

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) declarou, na última segunda-feira (4), “estar no limite” quanto à situação do Planserv - plano de saúde dos servidores estaduais.

“Recebi uma mensagem do André (Curvello, secretário de comunicação) dizendo que temos que conversar, porque estou chegando no meu limite. Vou aproveitar para marcar uma reunião com o meu chefe de gabinete nesta semana para ver como tratamos o Planserv”, disse o governador, em entrevista ao programa PodZé.

Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (7), o mandatário admitiu que a suspensão do atendimento do Planserv no Hospital da Bahia trará “transtornos” ao sistema de saúde do estado.

“Qualquer dificuldade com hospital, como o Hospital da Bahia, gera um transtorno porque a quantidade de pessoas ali atendida vai acumular em algum lugar. Então, pedi ao secretário (da Administração, Edelvino) Góes para que a gente pudesse se preparar”, declarou.

Jerônimo afirmou que foi uma decisão do Hospital da Bahia encerrar o contrato com o governo. A rede Dasa, que controla a unidade de saúde, informou, por sua vez, que após “meses de tratativas para solucionar um equilíbrio econômico, não foi possível chegar a um acordo e fez-se necessária uma alteração contratual”.

“Nesse sentido, a partir do dia 07/11/2024 a unidade atenderá aos usuários do plano para situações eletivas e referenciadas, com prévia autorização. Não poderão ser mais realizados atendimentos de emergência”, acrescentou, em em nota enviada ao CORREIO.

O governador declarou também que convocou uma reunião para tratar do plano. A expectativa, segundo Jerônimo, é que a discussão ocorra ainda nesta semana, com prazo máximo fixado para a próxima segunda-feira (11).

“Eu pedi para o secretário Góes coordenar com a equipe do Planserv para tomarmos uma decisão drástica. Não só em relação a isso. Padecemos muito porque não existe uma rede de saúde privada no interior do estado para que a gente pudesse ter capilaridade com o serviço do plano. Temos que criar um ambiente para que o setor privado amplie essa rede e possamos ter um serviço de Planserv maior. Quando não tem no interior vem para a capital e acaba sobrecarregando”, acrescentou.

<><> Venda do hospital

O Hospital da Bahia será comprado pela maior rede privada de hospitais do país, o Grupo Rede D'Or São Luiz.

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Com sede no Rio de Janeiro, está presente em diversos estados: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco, Maranhão e Sergipe. Em Salvador, o grupo já controla os hospitais Aliança, São Rafael, Aeroporto e Cardio Pulmonar.  E vai entregar em poucos dias o Star Aliança.

Conjuntamente com a Rede D'Or, a rede Dasa, que administra hoje o Hospital da Bahia, vai anunciar a negociação da unidade de saúde nos próximos dias. O valor é mantido em segredo absoluto.

No entanto, a venda corre o risco de emperrar por causa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A avaliação de segmentos da área de saúde é a de que, como o Grupo D'Or já administra quatro hospitais em Salvador, o órgão pode impedir a aquisição do Hospital da Bahia a fim de evitar o monopólio.

O Grupo Rede D'Or São Luiz está na bolsa de valores avaliado em mais de R$ 100 bilhões. Por causa da venda, o Hospital da Bahia suspendeu o atendimento de emergência do Planserv – plano de saúde dos servidores do governo estadual.

•        Fim de atendimento a usuários do Planserv foi exigência da Rede D'Or para comprar Hospital da Bahia

A suspensão do atendimento emergencial aos usuários do Planserv foi uma exigência da Rede D'Or para comprar o Hospital da Bahia, adquirido em 2021 pela Dasa por R$ 850 milhões. Segundo apurou a Metropolítica, os dois gigantes da medicina privada negociam há pelo menos três meses, mas a Rede D'Or impôs como condição que a Dasa fechasse antes as portas da emergência do hospital para a clientela do plano de saúde dos servidores estaduais. A exigência tem a ver com os desgastes que o grupo sofreu após comprar os hospitais São Rafael e Aeroporto e interromper o contrato com o Planserv em ambas as unidades. "Por isso, a Rede D'Or disse que só aceitaria comprar o Hospital da Bahia se a Dasa assumisse sozinha o ônus por encerrar as operações com o plano. O próprio governo já tinha sido informado de que havia essa exigência e se preparou para minimizar os danos, ampliando a cota do Português, renegociando valores com o Santa Izabel e ativando o Hospital de Brotas, o antigo Evangélico, que agora é exclusivo para beneficiários do Planserv", revelou uma fonte do setor que teve acesso aos termos da negociação.

<><> Abacaxi duplo

A Dasa é a maior interessada em se livrar do Hospital da Bahia, cuja aquisição é considerada um enorme fiasco no processo de expansão do grupo paulista, que não conseguiu reverter a operação deficitária do empreendimento inaugurado em 2006 pela Rede Alfa e acumula dívidas que, até setembro deste ano, beiravam os R$ 10 bilhões. No mesmo compasso, a Dasa pretende vender ainda a clínica AMO, especializada em tratamento de câncer e de doenças do sangue, entre as quais leucemia, linfoma e problemas de coagulação. A AMO foi adquirida por R$ 750 milhões também em 2021, mas desde então vem operando no vermelho. Não se sabe se a clínica oncológica faz parte do pacote oferecido à Rede D'Or nem se a eventual compra incluiria a interrupção do atendimento aos usuários do Planserv.

<><> Pedra no caminho

Para ser concretizada, entretanto, a venda do Hospital da Bahia precisará do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão federal responsável por combater práticas que afetam a livre concorrência, tais como cartel, monopólio ou domínio de determinado segmento por um só grupo empresarial. A princípio, a Rede D'Or não poderia adquirir novos leitos hospitalares em Salvador por causa das regras de concentração de mercado previstas na lei que regulamenta processos de fusões, aquisições de controle e incorporações entre grandes empresas. Uma saída, de acordo com as fontes consultadas pela coluna, seria reduzir a quantidade de leitos do Hospital da Bahia para tentar obter autorização prévia do Cade. Esta seria a origem da decisão da Dasa de encerrar as atividades na torre erguida ao lado do Hospital.

<><> Plano de dominação

Caso o negócio se concretize, a Rede D'Or passaria a dominar o mercado privado de saúde de alta complexidade em Salvador e Região Metropolitana, onde já possui os hospitais Aliança, Cardiopulmonar São Rafael e Aeroporto, que está localizado em Lauro de Freitas. Na capital, os únicos hospitais que não pertenceriam ao grupo carioca são: Mater Dei, Português, Santa Izabel, Prohope, Jorge Valente, Teresa de Lisieux e o de Brotas, embora estes dois último sejam exclusivos para usuários do Hapvida e Planserv, respectivamente.

 

Fonte: Correio/Metro 1

 

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