Seguindo Bolsonaro
e com Zema, Lula abre as portas à exploração de lítio para enriquecer
mineradoras
Continuando a
política extrativista e de entrega dos recursos naturais de Bolsonaro, que
retirou as restrições à exportação, o Governo Lula e Zema (Novo) foram à bolsa
de valores da Nasdaq nos EUA para vender os recursos do Vale do Jequitinhonha
(MG), uma das regiões mais pobres do país, rebatizando-o “Vale do Lítio”. Os
impactos ambientais e sociais dessa atividade são motivos de protestos e
revoltas sociais, como ocorre hoje em Jujuy, na Argentina. Nos inspiremos nessa
luta para defender nossos recursos hídricos e minerais contra esse projeto permeado
de “greenwashing” e cuja riqueza irá para os bolsos dos capitalistas pela
mineração exportadora e a fraudulenta dívida pública.
O lítio é
um dos principais componentes para a produção de baterias
recarregáveis utilizadas em smartphones, laptops, tablets e nos
novos veículos elétricos da demagógica “transição
energética” (cuja estimativa de
redução de gases de efeito estufa é de apenas 1%) propagandeada
pela mídia, a indústria e os governos capitalistas. Trata-se de um recurso
estratégico cobiçado pelos imperialismos norte-americano e europeus, como
também por potências em ascensão na luta por hegemonia industrial e militar,
como a China.
Assim,
por parte dos Estados capitalistas e das multinacionais se desenrola uma
importante competição política e econômica pelo controle da tecnologia
produtiva das baterias e do acesso aos recursos necessários, principalmente o
lítio. No extremo da cadeia produtiva se encontram gigantes como Toyota, BMW,
VW, Nissan, General Motors, Audi e as líderes do setor: Tesla e a chinesa
BYD, cujo peso no mercado afeta diretamente a demanda global de lítio.
O
Fundo Monetário Internacional calcula que as receitas dos produtores de metais
usados na fabricação de baterias deve aumentar 4 vezes até 2050 e que
a produção global desses minérios some 13 trilhões de dólares entre 2021 e
2040. Ou seja, um valor quase igual ao esperado para o setor do
petróleo no mesmo período. Nesse cenário, o lítio vem sendo chamado de
“ouro branco” do século XXI e é alvo de uma corrida extrativista pelos
recursos das regiões que possuem as maiores reservas, como é o caso da América
Latina - onde se encontra o “triângulo do lítio” (Bolívia,
Argentina e Chile), a maior reserva do mundo, estimada em 52 milhões de
toneladas de conjunto (cerca de 58% das reservas mundiais), e o Brasil,
com 8% das reservas
mundiais concentradas
no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Seguindo
o projeto extrativista iniciado com Bolsonaro, que decretou a extinção
das cotas e restrições à exportação de lítio em 2022, em maio, Lula enviou à Nasdaq (uma das
principais bolsas de valores norte-americanas) uma comitiva com Vitor Saback,
do Ministério de Minas e Energia (MME), ao lado do governador de Minas Gerais,
Romeu Zema (Novo), milionário privatista que apoiou a campanha de reeleição de
Bolsonaro, para anúnciar o “Vale do Lítio”, como chamaram o Vale do
Jequitinhonha - que abriga 85% das reservas do Brasil e já é um dos maiores
produtores do mundo. No enorme evento em Nova York, os recursos dessa que é uma
das regiões mais pobres do Brasil, com um IDH de 0,66 diante de uma média
nacional de 0,76, foram anunciados ao mercado financeiro do imperialismo
estadunidense para serem integrados em cadeias de valor internacionais das mais
lucrativas da atualidade.
Uma
mostra da lucratividade do lítio do Jequitinhonha e de seu potencial para os
capitalistas como nicho de acumulação na esteira da transição tecnológica é
que, enquanto o preço da tonelada do lítio bruto gira em torno de US$ 100, o
insumo pré-químico produzido pela mineradora canadense Sigma, instalada em
Minas Gerais desde maio, chega a US$ 8000. Um valor que facilita à mineradora o
envio para a China (US$ 120 por tonelada), onde se concentra o maior número de
fábricas de baterias. Uma imensa riqueza que não será colocada à serviço das
necessidades da população, mas irá para investidores estrangeiros,
multinacionais e os banqueiros que lucram com a dívida pública.
A
instalação de diversas operações de mineração de lítio se deu com a
flexibilização das leis ambientais estaduais e se acentuou no estado de Minas
Gerais com a liberação da exportação por Bolsonaro, operando principalmente: a
CODEMGE e a Oxis Energy do Reino Unido; a AMG Mineração, de capital holandês; a
canadense Sigma Lithium; a norte-americana Atlas Lithium (ex-Brazil Minerals);
as brasileiras Elektro Lithium Mining, CBL e a Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM), associada ao grupo Moreira Salles do Itaú.
Como
relatamos neste informe especial
sobre os conflitos do lítio na Argentina, para embelezar suas atividades, obter
licenças e minimizar a resistência local, mineradoras como a Sigma (que mantém
um discurso ecologista e socialmente comprometido como linha de frente) tem
como táticas políticas assistenciais e oferecimento de capacitação técnica e
postos de trabalho às comunidades locais, o que em situações de vulnerabilidade
como a de muitos municípios do Vale do Jequitinhonha - combinado com obras de
infraestrutura para garantir a produção e o escoamento - funcionam como
promessas de desenvolvimento social e moldam os territórios em torno do
extrativismo. Segundo o próprio
MME,
o projeto afetará 980 mil habitantes em 55 municípios (sem contabilizar os
impactos ambientais).
No
estado onde ocorreram catástrofes capitalistas como os rompimentos de barragem
de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), o maior acidente de trabalho no Brasil
em perda de vidas humanas e o segundo maior desastre industrial do século, os
impactos da mineração entre as comunidades incluem a expulsão de muitas
famílias de suas terras, a poluição sonora, do ar e das águas - causando
doenças respiratórias e elevação dos casos de câncer - danos sísmicos à casas e
construções, bem como o aumento do custo de vida e estatísticamente o aumento
dos índices de violência, inclusive contra as mulheres, como denunciam
movimentos sociais.
Com
Zema e garantindo os lucros bilionários dos capitalistas nacionais e
estrangeiros, o governo da frente ampla busca inserção em um possível novo
“boom das commodities” do lítio e outros minerais essenciais às tecnologias
mais avançadas. Mas também se inclui nesse projeto o investimento de R$ 3
bilhões pela chinesa BYD na Bahia. Para assumir as instalações da antiga
Ford, Lula e o governador
Jerônimo Rodrigues (PT) garantiram à montadora chinesa de veículos elétricos
isenções fiscais colossais, de até 95%, bem como concessão de portos, obras
viárias, isenções de impostos municipais e agilização de licenças e alvarás.
Conta nessa negociação também fatores como a garantia de força de trabalho
barata com a manutenção das reformas trabalhista e da terceirização irrestrita,
bem como a nova reforma tributária.
A
corrida por lucros com a produção de automóveis elétricos individuais, onde se
insere a demanda de lítio para armazenar energia elétrica (que em muitos países
deriva de fontes fósseis) nas baterias, não é uma saída para a crise
climática. É uma insanidade capitalista que aposta na continuidade da
drenagem industrial de recursos naturais e humanos para lucrar com um consumo
de massas, em vez de apostar, a partir do campo das necessidades sociais, em
sistemas de transporte públicos e gratuitos.
E
é justamente o Arcabouço Fiscal, o novo teto de gastos de Lula e
Haddad - que trava o aumento dos investimentos
públicos em no máximo 2,5% conforme o superávit primário - uma das
políticas fiscais ajustadoras que serão centrais em garantir que a receita dos
recursos e da atividade produtiva da cadeia do lítio no Brasil não se converta
em mais saúde, mais educação, mais investimento público, e sim em lucros para o
mercado financeiro pela via da fraudulenta, ilegal e ilegítima dívida pública.
Por
isso, diante de tamanhos ataques acumulados desde o golpe de 2016 e que agora o
PT se propõe a administrar, nós do MRT levantamos que é preciso conformar um
polo de independência de classes se apoiando na luta da nossa classe
internacional, como vemos hoje em Jujuy na Argentina com uma forte
rebelião popular, unindo trabalhadores e indígenas para enfrentar a sanha
exploratória do lítio e os ataques da direita.
Em
Jujuy, há semanas comunidades indígenas, trabalhadores e a juventude se
enfrentam com a brutal repressão do governador Gerardo Morales, repudiando nas
ruas a reforma constitucional reacionária aprovada com votos do peronismo de
Fernández e Kirchner. Uma reforma que acaba com o direito de protesto de
trabalhadores por seus salários e comunidades indígenas por suas terras - onde
se encontram grandes reservas de lítio cobiçadas por multinacionais e projetos
extrativistas endossados pelos governos, às custas das comunidades locais e dos
recursos ambientais.
Longe
do mito dos carros elétricos, combater a crise climática envolve um plano que
questione o modo de produção e consumo capitalistas de conjunto. É preciso
levantar a estatização integral da mineração sob administração democrática dos
trabalhadores e das comunidades, questionando o modelo extrativista
semicolonial do imperialismo, protegendo os recursos naturais, os ecossistemas
e colocando o conhecimento científico a serviço disso.
Fonte:
Esquerda Diário
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