Roberto R. Martins:
Direita versus extrema direita
A
inelegibilidade do capitão abre várias discussões, em especial quem o sucederá
na liderança da extrema direita. Este é um momento oportuno de rever os
conceitos de direita e extrema-direita e o papel que cada uma tem exercido no
Brasil desde a implantação da república.
No
tempo moderno, a direita nasce com o liberalismo, embora este, em seu
nascimento, teve um caráter progressista contra a velha ordem feudal. Ao
amadurecer, o liberalismo vai para o centro político, e mais tarde, o
neoliberalismo adquire um nítido caráter de direita; mais: passa a fornecer
bases para a extrema direita. Embora não se possa dizer que sejam iguais,
irmãos siameses ou gêmeos, mas estão se aproximando cada vez mais como bons
irmãos.
A
direita não é fascista. Conservadora, sim, mas em geral com aspectos
democráticos, civilistas, humanistas. Mas pode ser cooptada pelo fascismo em
momentos dados, sempre que este se impõe. Ora, no Brasil republicano são poucos
os momentos em que houve um forte movimento de extrema direita, seja de
lideranças e partidos, seja de governos. De um modo geral tem predominados
lideranças, partidos e governos de direita e liberais, embora seja necessário
reconhecer que a direita brasileira conservou muito da ideologia escravista,
autoritária e da submissão ao senhor maior.
Mas
afinal, o que é a extrema direita? Entendo-a como a que é fascista,
antidemocrática, repressora à oposição e aos movimentos sociais; defensora da
submissão do Brasil ao império do norte; da concentração da riqueza; e da falta
de olhar para os que sofrem a opressão econômica e social: “pobre que se dane!”
é sua maneira de pensar.
No
Brasil republicano, quais os movimentos e governos que podem ser classificados
como de extrema direita? Durante a República Velha, nenhum outro governo foi
tão antidemocrático e repressor como o de Arthur Bernardes (1922-1926).
Combateu a ferro e fogo o movimento democrático do tenentismo que resultou na
Coluna Prestes; seu resultado foi a Revolução do 30. Getúlio Vargas governou
por 15 anos tendo variado sua posição e implantado o Estado Novo quando chegou
a namorar com o fascismo. Mas recuou e findou entrando na guerra contra o eixo
nazista. Em seu período houve o movimento de extrema direita do integralismo,
os Galinhas Verdes de Plínio Salgado. Conseguiram alguma penetração popular,
até por força da ascensão do nazi-fascismo no mundo. Mas naufragou sem deixar
maiores herdeiros.
No
pós 45, foi apenas no meio militar que se desenvolveu uma extrema direita,
fomentada pela nova máquina de guerra criada pela pelo império do norte e sua
guerra fria contra o socialismo, e pelo domínio do mundo. As expressões
políticas e intelectuais da extrema direita foram pouco significativas. Setores
militares tentaram algumas vezes a implantação de governos de extrema direita,
mas não obtiveram êxito nem ressonância popular. Somente o conseguiram em 64,
quando, ganhando a direita e o centro, adquiriram apoio popular. A ditadura
militar que perdurou até 1985 foi o mais longo período de predomínio da extrema
direita no Brasil: 21 anos! Seguiram-se 30 anos de democracia com avanço para a
esquerda, com os governos Lula e Dilma. Mais uma vez a extrema direita cooptou
a direita e o centro, promoveu o golpe contra Dilma e impôs o Michel, antigo informante
da CIA (não sei se continua a informar), que preparou o caminho para o Planalto
ao mais fiel – e incompetente – representante da extrema direita brasileira.
Foram quatro conhecidos anos de obscurantismo.
Restabelecida
a democracia com um novo avanço para a esquerda com Lula III, e Bolsonaro
inelegível, para onde vão a direita e a extrema direita?
Devemos
diferenciar uma d’outra. A direita, com o centro – e ai vão tentar cooptar a
centro-esquerda – procurará restabelecer seu papel no cenário político, papel
que perdeu pelo esgotamento de seu projeto capitaneado pelo PSDB, conspurcado
que foi pelo Aécio Never, e que se consolidou com a vitória do capitão que
mereceu seu apoio envergonhado. Mas a direita junto ao centro é uma força
política nada desprezível: se se unirá, ou quando voltará a se unir, são outros
quinhentos. A liderança de Lula e seu surpreendente governo de reconstrução
nacional é um elemento de atração muito forte, não perderá a hegemonia
facilmente. E do outro lado, a extrema direita terá muita dificuldade em
cooptar novamente a direita e o centro: a experiência recente foi traumática!
No outro extremo do espectro político, restará a extrema direita com toda a
gama dos protofascistas descobertos pelo bolsonarismo – cerca de 15%, não muito
mais, do eleitorado – que não deixa de ser um cacife como ponto de partida para
qualquer candidato que almeje disputar um segundo lugar, saindo já com um
terceiro garantido. Não posso ver de outra forma. Claro que os processos contra
os crimes do capitão não terminaram, apenas começaram: agora virão os demais
processos no TSE; os de ressarcimento dos valores usados ilegalmente; e os
criminais que deverão colocá-lo atrás das grades por um bom tempo. Restará
futuro político para o inominável? Pequeníssimo, p lixo da história, já que ele
é, no máximo, como bem definiu um jornalista, um “palhaço macabro”.
O
futuro político do capitão, em si, é muito pequeno. É verdade que não está
morto e exercerá o direito de espernear, afinal – ai, sim! –, vivemos numa
democracia. Mas basta ver a pequena repercussão nas redes sociais de sua
inelegibilidade, sinal dos tempos. “Fujimorização”? Possível, o gado precisará
de um vaqueiro que toque o berrante, mas este não será ouvido além daqueles
15/20%.
E
nós? Nós devemos dar ao capitão enquanto ainda solto e depois quando estiver
atrás das grandes, a mais grave ofensa que se pode dar a um político: o
silencio!
"Eu estou na UTI, não morri ainda.
Alguém já queria dividir meu espólio", diz Bolsonaro sobre inelegibilidade
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira, 3, que não é
"justo" discutir antecipadamente quem será o "sucessor do
bolsonarismo" ou herdeiro de seu legado político para as eleições de 2026.
A declaração foi dada ao programa Pânico, da Jovem Pan News.
Na
última sexta-feira, 30, o TSE entendeu que o ex-presidente cometeu abuso de
poder e uso indevido dos meios de comunicação devido à sua participação em uma
reunião com embaixadores estrangeiros, na qual fez alegações infundadas contra
o sistema eleitoral, tornando-o inelegível por 8 anos.
“Não é justo [falar de substituto]. Estou na
UTI, não morri ainda, não é justo alguém querer dividir o meu espólio. Não tem
nome de conhecimento no país todo para fazer o que fiz nos 4 anos, nós ajudamos
a surgir certas lideranças. (…) Bons nomes apareceram, mas ainda não tem esse
carimbo”, afirmou o ex-chefe do Executivo.
Embora
considere injusto discutir antecipadamente seu sucessor, Bolsonaro mencionou
possíveis nomes que estão surgindo como candidatos para herdar seus 58 milhões
de votos. Entre eles estão o governador Tarcísio de Freitas, o governador de
Minas Gerais Romeu Zema e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
No
entanto, Bolsonaro acredita que novos nomes ainda surgirão e alertou que
aqueles que começarem a se destacar agora enfrentarão grandes desafios. Ele
comparou a situação dizendo que "quem tomar largada agora vai levar tiro
de bazuca".
“Uma
piada que conte, vai virar escândalo nacional. Tem muito tempo ainda. E 2026
passa pelas eleições de 2024. (…) Vão
aparecer os precoces, como já apareceu um precoce dizendo ‘nem a direita, nem
esquerda, vamos para o centro unir todo mundo'”, completou.
Lula faz alusão a Bolsonaro: “a gente
corre o risco de uma coisa ruim voltar nesse país “
O
presidente Lula fez uma referência a Jair Bolsonaro ao solicitar maior
agilidade na conclusão da Ferrovia Oeste-Leste. O pronunciamento ocorreu nesta
segunda-feira (3), durante a visita à via férrea em Ilhéus, no interior da
Bahia.
“Parem
de dizer que vão entregar [a ferrovia] em 2027, vocês têm que entregar antes de
31 de dezembro de 2026. Façam um pouco de hora extra, trabalhem no fim de
semana se for necessário, para que a gente possa inaugurar logo, se não a gente
corre o risco de uma outra coisa ruim voltar nesse país e ela ficar parada
outra vez”, disse Lula, sem mencionar explicitamente Bolsonaro.
Segundo
o governo, a integração ferroviária irá estabelecer um corredor para o
transporte de minério da região sul da Bahia e de grãos da região oeste do
estado. Quando concluída, espera-se uma redução de aproximadamente 86% na
emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
A
ferrovia é composta por três trechos, sendo que o primeiro trecho conecta as
cidades de Caetité e Ilhéus, percorrendo 537 quilômetros e atravessando 19
municípios. A previsão é que a conclusão e início das operações ocorram a
partir de 2027.
No
total, a extensão da ferrovia será de aproximadamente 1.527 quilômetros,
conectando o futuro Porto de Ilhéus ao município de Figueirópolis, no
Tocantins, onde se encontrará com a Ferrovia Norte-Sul, que foi inaugurada em
junho após quase quatro décadas de construção.
Bolsonaro vai torcer por Lula em 2026.
Por Alex Solnik
Se
Romeu Zema, Tarcísio de Freitas ou outro bolsonarista qualquer acham que terão
apoio de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026, podem tirar seus
cavalinhos da chuva.
Egoísta, egocêntrico e paranóico como é, não
vai entregar seu eleitorado de mãos beijadas para alguém que não seja da sua
família. Além disso, são apoios com os quais ele só tem a perder.
Se apoiar Zema ou Tarcísio e eles perderem,
o derrotado será ele; se eles ganharem, serão candidatos à reeleição em 2030,
quando Bolsonaro poderá concorrer de novo. Quem garante que eles vão desistir
da reeleição para apoiar Bolsonaro?
Tarcísio não tem muito com que se preocupar.
Pode se reeleger governador de São Paulo em 2026, o que para ele seria uma glória.
Zema, que não tem direito a reeleição em Minas Gerais, pode até ser candidato a
presidente pelo Novo, mas sem apoio de seu ídolo.
O PL, que é o maior partido na Câmara dos
Deputados, não deixará de ter candidato a presidente em 2026 e terá de ser
alguém com quem Bolsonaro vá com a cara. E esse alguém só pode ser sua mulher.
Ela não vai entrar para ganhar - pois Lula
será o grande favorito à reeleição - mas para aumentar a bancada federal de
Valdemar Costa Neto.
Se Michele perder (o que é o mais provável)
não será desgaste para Bolsonaro, já que é uma novata e, se chegar ao segundo
turno, será considerada vitoriosa. O melhor mesmo para ele é que ela tenha uma
grande votação e não ganhe.
O melhor cenário para ele é Lula se reeleger
em 2026. Desse modo, ele poderá atacar seu governo até 2030. O antipetismo é
seu principal discurso. É do que se alimenta. Se o grande adversário for de
outro partido, ele fica sem discurso, como o José do famoso poema.
Além disso, Lula não poderá ser candidato a
presidente em 2030, deixando a pista livre para Bolsonaro.
Qualquer outro candidato que vencer em 2026
será candidato à reeleição em 2030, e é sempre mais difícil enfrentar quem
tenta a reeleição, pois tem a máquina na mão.
Se quiser ter alguma chance de dar a volta
por cima em 2030, Bolsonaro tem que torcer por Lula em 2026.
Fonte:
Brasil 247/Terra/O Cafezinho
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