General Heleno
mentiu ao Congresso sobre uso de aviões da FAB pelo clã Bolsonaro, durante a
farra aérea
Um
cálculo matemático básico e uma checagem simples em documentos oficiais dá o
resultado: o general Augusto Heleno Ribeiro, ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro, mentiu ao Congresso
Nacional ao afirmar que, até outubro de 2019, só tinham ocorrido “dois apoios
de deslocamento” a familiares do então presidente da República.
A
prova de que o ministro não disse tudo está em dados oficiais do próprio GSI
aos quais o Metrópoles teve acesso. O número correto é o quádruplo do que ele
informou: foram, na verdade, oito voos.
O
Ofício 463/2019 foi enviado por Augusto Heleno no dia 4 de outubro de 2019 à
Câmara, em resposta a um requerimento de informação feito pelo então deputado
federal Marcelo Calero sobre o uso de dois helicópteros oficiais para levar
parentes do então presidente ao casamento de seu filho 03, o também deputado
federal Eduardo Bolsonaro. A festa ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio
daquele ano.
Heleno
respondeu aos questionamentos de Calero citando normas que permitiam que as
aeronaves fossem empregadas. Ao final, afirmou que, “mesmo com essa
prerrogativa, o transporte de membros da família do senhor presidente não tem
sido rotineiro, tendo ocorrido, até a presente data, somente dois apoios de
deslocamentos da primeira-dama em aeronave da FAB, no trecho Brasília-Rio de
Janeiro-Brasília”.
As
planilhas oficiais do GSI, porém, mostram que o número não estava correto. Até
a data do documento assinado pelo general, Michelle Bolsonaro já havia feito ao
menos sete voos classificados na categoria “DISP PR” – é quando as aeronaves
estão à disposição para serviços de interesse da Presidência.
O
cálculo feito pela reportagem, com base em dados oficiais mantidos em sigilo até
dias atrás, inclui viagens feitas desde o segundo mês de governo, em 2019.
Em
fevereiro daquele ano, houve voos de Michelle nos dias 22 e 24 entre Brasília e
Rio. A finalidade oficial que consta das planilhas é vaga: “apoio
primeira-dama”. Na internet, há registros da participação de Michelle em um
culto na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, no período. Em outro fim de
semana, já em maio, ela usou jatos da FAB nos dias 10 e 12, no mesmo trecho.
Novamente, esteve na igreja, sem sinais de compromissos oficiais.
Em
junho, ela foi para o Rio no dia 28. Voltou para Brasília em 1º de julho. Na
ocasião, participou do evento Vida Vitoriosa, da Igreja Batista. O sétimo voo
foi feito um dia antes do casamento de Eduardo Bolsonaro. Em 24 de maio, ela
saiu de Brasília às 8 horas e pousou às 9h30 na Base Aérea do Galeão, no Rio.
Já o oitavo voo levou ao Rio Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do então
presidente, que queria visitar a mãe no interior do estado.
“Nada
tenho a explicar”, diz general
Na
resposta enviada ao Congresso, o general Heleno afirmou ainda que as viagens
foram feitas “sem o dispêndio adicional de recursos públicos”, dando a entender
que Michelle aproveitou aeronaves que já estariam, por razões oficiais, indo
para o mesmo destino que ela. Os chamados voos “DISP PR”, no entanto, não estão
nessa categoria.
O
ofício enviado ao Congresso pelo general, apesar de mencionar textualmente
“dois apoios de deslocamentos”, é impreciso ao não esclarecer se os dois apoios
se referem a dois voos simplesmente ou a duas viagens de ida e volta entre o
Rio e Brasília, o que significaria quatro voos. Ainda assim, mesmo que
estivesse se referindo a dois deslocamentos completos, com as aeronaves indo ao
Rio e voltando para Brasília, Heleno passou longe do número real.
Procurado,
o ex-ministro limitou-se a responder que o transporte dos familiares do
ex-presidente atendeu “ao aspecto sigilo e segurança” e que não tem o que
explicar. “Não estou mais no GSI, não tenho mais acesso à documentação e nada
tenho a explicar”, disse Augusto Heleno.
• A farra aérea do clã
Como
o Metrópoles mostrou na última quarta-feira, listas de passageiros mantidas sob
sigilo e um conjunto de mensagens internas mostram que, durante o governo
Bolsonaro, a então família presidencial usou aviões da Força Aérea Brasileira
(FAB) para participar de eventos privados, como cultos religiosos, e para
transportar amigos, parentes, pastores e até uma cachorra de estimação.
Com
base em dados oficiais do GSI relativos aos quatro anos em que Bolsonaro esteve
no Palácio do Planalto, a reportagem mapeou mais de 70 viagens da família —
todas feitas sem que o próprio Bolsonaro estivesse a bordo.
Para
além de informações sobre essas viagens, como detalhes dos deslocamentos e as
listas detalhadas dos passageiros convidados, mensagens de um grupo de WhatsApp
usado como canal oficial de comunicação pelos funcionários do GSI encarregados
de providenciar os jatinhos revelam que os pedidos eram tratados como
verdadeiras ordens — tudo sob a coordenação de altos oficiais das Forças
Armadas que chefiavam o setor.
Aliados de Bolsonaro relataram ao TSE
desconhecerem fraudes em urnas
Os
depoimentos de aliados, testemunhas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em
ação que o deixou inelegível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), têm em comum
a afirmação de que nenhuma fraude nas urnas eletrônicas foi constatada. Embora
live realizada pelo ex-presidente, na presença de aliados e, também, durante
reunião com embaixadores, em julho de 2022, trouxessem informações da
possibilidade de “invasão hacker” em urnas, impossibilidade de verificação de
votos, entre outros, os aliados disseram à Corte que apenas sugeriam, em seus
discursos, aperfeiçoamento do sistema.
As
declarações de nomes importantes dentro da investigação que levou 5 dos 7 ministros
do TSE a deixarem Bolsonaro inelegível até 2030 foram tornadas públicas nesta
sexta-feira (7/7), após o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro
Benedito Gonçalves, determinar a suspensão do sigilo de documentos e
depoimentos colhidos durante instrução da Ação de Investigação Judicial
Eleitoral (Aije).
Questionado
em oitiva sobre documento que também está dentro do processo, a investigação
sobre vazamento de dados sigilosos sobre ataque hacker ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE),o deputado bolsonarista Filipe Barros (PL) relatou ter
conseguido acesso a inquérito da Polícia Federal por ser relator da PEC do voto
impresso e ter feito a requisição legal pelo papel que exercia.
O
vazamento dos dados é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e entrou
na Aije do TSE para análise de relação entre os fatos para desmerecer o sistema
eleitoral. Na oitiva de Barros, ele defendeu nunca ter indicado ao
ex-presidente que as urnas foram fraudadas.
Durante
o processo de instrução, em que são ouvidas testemunhas e colhidas provas, o
ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, também foi questionado
sobre live realizada, em 2021, na qual foram vazados os dados sigilosos.
O
ex-ministro respondeu ao TSE que os peritos da Polícia Federal “jamais afirmaram
ali haver fraude, ou qualquer coisa no sentido. Isso não é afirmação dos
peritos e muito menos nossa ali. A gente fez foi ler os questionamentos e as
considerações feitas por eles”.
Nessa
transmissão específica, Bolsonaro, o deputado federal Filipe Barros (PL) e
Anderson Torres falaram. Do Palácio da Alvorada, foram feitas diversas
acusações sobre fraudes nas urnas, além de críticas infundadas ao sistema
eleitoral brasileiro.
Torres,
no entanto, disse ao TSE que apenas leu um resumo sobre o que sabia de
documentos públicos da Polícia Federal e que nunca teve acesso a qualquer
documentação sobre “ataque hacker”. “Os trechos que eu selecionei ali para
poder falar são dos peritos da PF. Mas foi colocado por eles como
aperfeiçoamento do sistema eleitoral”, completou Torres em seu depoimento
“Meios
para difundir dúvidas”
A
live em questão foi citada pelo ministro Benedito Gonçalves, no julgamento de
Bolsonaro, como “sequência de meios para difundir dúvidas sobre o sistema
eleitoral”.
A
Aije que deixou Bolsonaro inelegível foi de autoria do Partido Democrático
Trabalhista (PDT). O sigilo dos depoimentos foi levantado após a conclusão do
julgamento.
O
TSE tornou Bolsonaro inelegível por oito anos, em 30 de junho. O ex-mandatário
foi condenado, com o placar de 5 a 2, pelos ataques que fez ao sistema
eleitoral brasileiro durante reunião com embaixadores, em julho de 2022. O TSE
entendeu que houve abuso de poder político e uso indevido dos meios de
comunicação.
• Aliados aconselham Cid a ficar em
silêncio na CPMI do 8 de janeiro, dizem fontes
Advogados
orientaram o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
(PL), a ficar em silêncio no depoimento previsto na Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, previsto para a próxima terça-feira (11).
Segundo
fontes ouvidas pela CNN e ligadas a Cid, a exposição do militar será inevitável
na CPMI. E, para evitar frases fora de contexto que possam comprometê-lo ainda
mais, a orientação é o silêncio, relatou à reportagem uma pessoa próxima a
familiares do coronel.
No
mês passado, uma decisão da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal
(STF), determinou que Mauro Cid seja obrigado a prestar depoimento à comissão,
mas que o militar tem o direito de ficar em silêncio.
Mensagens
encontradas após perícia da Polícia Federal (PF) no celular de Mauro Cid, nas
quais ele conversava com o coronel Jean Lawand Júnior, motivaram a convocação
do ex-ajudante de ordens à CPMI.
As
mensagens tratavam do acionamento do artigo 142 e de um suposto estado de
defesa.
Mauro
Cid está preso desde o dia 3 de maio por acusações de fraude em cartões de
vacinação.
O
tenente-coronel seria ouvido nesta semana. Entretanto, em função da pauta
econômica na Câmara dos Deputados, a convocação foi remarcada para semana que
vem.
Fonte:
Metrópoles/CNN Brasil
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