César Fonseca: BC
independente descola do bolsonarismo e favorece lulismo
O
presidente Lula e seu escudeiro ministro Haddad comeram o presidente do BC
Independente, Roberto Campos Neto, pelas beiradas como se fosse mingau quente,
como diria Brizola, a partir da vitória política da aprovação, no Senado, do
estruturalista Gabriel Galípolo para diretoria do Banco, sinalizando sua
candidatura ao cargo, no próximo ano.
A
intransigência de Neto parecia intransponível sabendo que possui mandato
descolado do de Lula para administrar a taxa de juro ao largo dos interesses do
governo e de sua política comprometida com os avanços sociais prometidos em
campanha eleitoral.
O
confronto entre Palácio do Planalto e Ministério da Fazenda, de um lado,
compromissado com desenvolvimento sustentável, para vencer a recessão e o
neoliberalismo, e o Banco Central Independente, de outro, em dessintonia
mecânica, apolítica, meramente técnica, do governo, sinalizava desastre
irremediável.
Não
haveria jeito, senão esperar o fim do mandato de Neto, em vigor até final de
2024, para que Lula pudesse conduzir política monetária consequente com a
política fiscal de verniz social.
O
governo, submetido a uma maioria indesejável no Congresso comandada por Arthur
Lira, indisposto a flexibilizar-se frente a Lula e disposto a caminhar com
intransigência com mercado financeiro, dando as cartas, no parlamento
dominado pelo fascismo bolsonarista, estaria, então, em mãos lençóis.
Mas
não foi o que aconteceu, que está acontecendo; não contaram os adversários de
Lula com a conjugação de fatores internos e externos para o jogo ir virando a
seu favor.
CONSPIRAÇÃO
PRÓ LULA
No
plano interno, o presidente recompôs a sua política social e econômica
desenvolvimentista, destruída por Bolsonaro, embora, relativamente, travada
pela alta taxa de juros imposta pelo BC Independente sob aplauso do mercado
especulativo, travando produção e consumo.
Essa
queda de braços começou a trabalhar a favor de Lula em face dos acontecimentos
internacionais detonados pela guerra na Ucrânia que levou à polarização os
Estados Unidos e Europa, graças à inflação que promete criar ambiente de tensão
política internacional.
Os
europeus, desesperados pelas sanções econômicas impostas pelos americanos à
Rússia, fornecedora de matérias primas e energia barata para eles, viram na
América do Sul a saída para suas agruras impostas por Washington em forma de
exportações caras de insumos energéticos ao velho continente a preços
superfaturados, elevando a inflação à loucura para as famílias europeias.
Os
líderes europeus, temerosos quanto às próximas eleições parlamentares, correram
para fechar acordo entre União Europeia e Mercosul para desovar produção do
velho continente na América do Sul.
Com
isso, abre chances de negociação que estão sendo travadas nesse instante, cujas
consequências serão aumento de exportações brasileiras, que estão crescendo,
espetacularmente, nos últimos meses, melhorando balança comercial com superavit
no balanço de pagamento.
É
a Europa que, agora, precisa, desesperadamente, da América do Sul, em
particular do Brasil e não o contrário.
Os
capitalistas europeus fazem opção preferencial pelo Brasil e, consequentemente,
ajudam a baratear o dólar na praça.
Os
americanos, já preocupados com perda de mercado para a China, começam a
arrancar os cabelos com a onda da desdolarização desencadeada pela guerra na
Ucrânia.
DESDOLARIZAÇÃO
AMÉRICA DO SUL APAVORA TIO SAM
Depois
que Rússia e China estreitaram suas relações comerciais em moedas nacionais,
sem utilização do dólar, a moeda americana começou a se desvalorizar no mundo,
perdendo competitividade, principalmente, para o yuan chinês.
A
moda da desdolarização pegou na América Latina, África e Ásia e deverá se
ampliar na próxima reunião dos BRICS, na África do Sul, em agosto, criando fato
político internacional que alarma Washington.
Argentina
e Brasil ensaiam o mesmo movimento e o FMI e Banco Mundial se estremecem, como
agentes econômicos e financeiros do império americano, na cena internacional,
onde perdem, relativamente, a importância que tiveram em outros tempos.
Lula,
propagandista da desdolarização, como novo presidente pro tempore do Mercosul,
alarma governo Biden, pois influencia continente sulamericano em favor de nova
realidade monetária global, adequada aos interesses não de Washington, mas de
China e Rússia e seus aliados na geopolítica Sul-Sul.
Os
latino-americanos desejam seguir Lula na tarefa de incrementar o comércio
regional e atrair capital europeu para promover aqui dentro as inversões em
indústrias.
Querem
que os capitalistas industriais instalem por aqui suas indústrias para transformar
matérias primas locais em manufaturados; latino-americanos desejam exportar
valor agregado e não mais funcionarem como celeiro de matérias primas baratas,
como destacou presidente da Argentina, Alberto Fernandez, na reunião do
Mercosul.
NOVO
DISCURSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO-AMERICANA
Pressionados
pela inflação, os europeus estão sem competitividade para produzir e tendem a
perder mercado não apenas para China mas também para a América do Sul
onde indústrias internacionais são atraídas pelo mercado interno, no compasso
da redução de juros.
Lula,
portanto, aumentará a retórica dos juros baixos, para atender a lógica
reclamada pelo comércio e indústria, virando de cabeça para baixo a política
monetária do BC que impede competitividade internacional do Brasil.
Chegou
a hora da atração dos investidores para produzir barato a fim de reduzir a
inflação na Europa penalizada pelas exportações americanas, depois que Tio Sam
intensificou sanções comerciais contra a Rússia.
Todos
esses fatores, portanto, conspiram para a estratégia econômica de Lula de
incrementar discurso desenvolvimentista que reverbera no Congresso em favor não
da política monetária de Campos Neto, mas na do presidente, que força a barra,
politicamente, para que os congressistas flexibilizem cada vez mais o ajuste
fiscal.
A
crença dos congressistas em Lula se amplia com racha entre as forças
bolsonaristas, interessadas em se descolarem de Bolsonaro para colaborar com o
lulismo de olho nas eleições municipais de 2024, assim como os banqueiros que
fizeram jogo duro com o Planalto, até agora, se flexibilizam para influenciar o
BC Independente a diminuir a Selic.
Dessa
forma, a conjugação de fatores internos e externos, associados à retórica
política desenvolvimentista de Lula em defesa da melhor distribuição da renda
tende a apressar, por fim, aprovação da reforma tributária, pela qual se bate,
agora, até os neoliberais, temerosos de verem seus ativos se desvalorizarem, se
a economia não retomar o crescimento sustentável.
Ø
Reforma
tributária deve acelerar a economia, dizem especialistas
A
reforma tributária, aprovada
nesta sexta-feira (7)
pela Câmara dos Deputados, vai permitir o crescimento da economia brasileira,
de acordo com especialistas. Isso pode reforçar o movimento de queda nos juros
futuros, o que pode causar a alta de ações na Bolsa de Valores. Nesta sexta,
após a aprovação do texto, a Bolsa
subiu e o dólar caiu .
De
acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a
reforma tributária pode elevar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em
2,39% até 2032, em relação ao cenário sem nenhuma reforma.
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"As
propostas de reforma promovem mudança estrutural em favor de setores com cadeia
produtiva mais longa, com maior efeito multiplicador e, consequentemente, com
maior produtividade. Assim, além de promover crescimento econômico, a reforma
alinha a economia brasileira para crescer ainda mais", afirma João Maria
de Oliveira, autor do estudo do Ipea.
·
Por que a reforma tributária pode alavancar a economia?
Apesar
de não significar diminuição da carga tributária, a reforma prevê uma
simplificação dos tributos. Isso, por si só, já ajuda o setor produtivo
brasileiro. "Hoje, empresas chegam a gastar 5% do faturamento somente para
apuração de tributos. Menos tributos significam menos regras e regulamentações
complexas, resultando em um ambiente mais propício para a atividade
econômica", afirma Hélder Santos, CEO da Tax Strategy.
Segundo
o especialista, essa simplificação tem potencial para aumentar a
competitividade do ambiente de negócios brasileiro, atraindo investimentos
estrangeiros, criando empregos e impulsionando o crescimento econômico de longo
prazo.
Além
de alavancar a economia como um todo, a reforma também tende a provocar
melhorias no mercado financeiro, causando efeitos como a diminuição da cotação
do dólar. "O mercado quer que a questão tributária seja o mais
simplificada possível, dessa maneira será mais fácil atrair investidores
estrangeiros. Se realmente as coisas funcionarem de maneira simplificada, os
mercados veem isso com bons olhos", afirma Marcello Marin, CFO da Spot
Finanças.
·
Reforma não é garantia de sucesso
Apesar
do cenário promissor, os especialistas ainda veem a prática da reforma
tributária com cautela. Marcus Vinícius, sócio líder da área tributária da
KPMG, afirma que o texto aprovado na Câmara tem "mecanismos que podem
reimplementar complexidade no sistema".
Se,
na prática, a reforma tributária não simplificar os impostos da maneira
esperada, seus efeitos positivos podem ser descartados.
"No
texto aprovado, além do aumento para dois impostos e, em alguns casos, três (em
função do imposto seletivo para alguns produtos/setores), ampliou-se muito o
rol de atividades que terão alíquotas diferenciadas, além da manutenção ou
criação de uma série de regimes especiais. Essa multiplicidade de alíquotas e
regimes se assemelha ao regime atual e resulta em complexidade para os
negócios", argumenta Marcus.
"A
prática precisa ser vista para ser realmente definido o impacto positivo ou
negativo da reforma tributária", concorda Marcello
·
Indústria e serviços
Por
conta da esperada simplificação dos impostos, a aprovação da reforma tributária
foi recebida de forma positiva pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
"O modelo que defendemos elimina o principal obstáculo para o Brasil
crescer de forma sustentada, por remover travas ao investimento e promover um
ambiente de negócios que favoreça o crescimento das empresas, a geração de
emprego e a melhora da renda do brasileiro", afirma Robson Braga de
Andrade, presidente da CNI.
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A
Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD) também recebeu
positivamente a reforma, afirmando que este é o início de uma "caminhada
vitoriosa". "Deixaremos para trás décadas de conflitos judiciais que
oneram as empresas produtivas do país", diz a entidade.
Os
bancos também elogiaram a aprovação do texto. "O sistema atual é um
entrave para o crescimento: reduz a produtividade das empresas, impede a
alocação eficiente de recursos e gera um nível de litigiosidade na sociedade
sem paralelo nos demais países, tanto nos desenvolvidos como nos emergentes
comparáveis ao Brasil", diz Isaac Sidney, presidente da Federação
Brasileira de Bancos (Febraban).
Outra
entidade a elogiar a aprovação foi a Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (Abrainc), que afirma que a "proposta tornará a cobrança de
impostos mais racional e equilibrada, impulsionando o crescimento da
economia".
Por
outro lado, empresas de serviços podem ser prejudicadas pela reforma, de acordo
com Robson Carlos Nascimento, consultor tributário da Confirp Contabilidade.
Isso porque essas companhias não serão tão beneficiadas pela compensação de
impostos quanto a indústria.
"Quando
se analisa o impacto para a indústria, ele é positivo, uma vez que, embora as
alíquotas sejam majoradas, há maior possibilidade de utilização de créditos
referentes à matéria-prima, transporte, embalagens e custos de produção. No
caso das prestadoras de serviços, não há tantos créditos disponíveis para
abater o imposto devido pela prestação, o que, sem dúvida, onerará o setor",
explica.
Eduardo
Araújo, especialista tributário e CEO da Tax All Consultoria Tributária, também
problematiza o impacto da reforma no setor de serviços. "Se o governo
não ficar atento aos setores de serviços, que representam uma das maiores
fatias de empregabilidade do Brasil, isso pode acarretar em muito
desemprego", alerta.
"Tendo
desemprego, os índices da economia são afetados. E aí, novamente, lá na frente,
o Banco Central pode vir e segurar os impactos do desemprego no Brasil, que é
você ter menos consumo, o que pode ter um reflexo no aumento da inflação e na
taxa de juros lá na frente", completa.
Para
que esses prejuízos sejam evitados, Eduardo defende a necessidade de dialogar
com empresas de serviços e trabalhar na desoneração da folha de pagamento. "É
necessário fazer algo mais amplo, para que, realmente, contratar no Brasil seja
bem mais barato. Porque aí você tem um efeito imediato, que é a geração de
emprego", opina.
Fonte:
Brasil 247
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