Os riscos das
lentes de contato dentais, moda entre famosos e jogadores de futebol
Sucesso entre famosos e jogadores de futebol, as
lentes de contato dentais tornaram-se uma esperança para quem almeja ter um
sorriso branco e uniforme rapidamente — mas não sem custo.
Além
de ter preço elevado, a técnica não é indicada para qualquer pessoa e pode
oferecer riscos se for realizada por profissionais pouco qualificados.
"As
lentes são indicadas para correções de anatomia defeituosa dos dentes, como
dentes conoides (em formato de cone), muito comum nos incisivos laterais
superiores; dentes em forma de barril e microdentes, que dão um aspecto
infantil e desproporcional ao adulto", explica o dentista Cláudio Ximenes,
especialista em prótese dentária, implantodontia e estética.
De
acordo com Ximenes, elas também são bem-vindas para pacientes com dentes mais
escuros, cujo clareamento e outras técnicas não alcançaram o efeito desejado.
Além
disso, alterações na textura por defeitos estruturais congênitos, fechamento de
diastemas (dentes afastados) e correções após finalização do tratamento
ortodôntico também são possíveis indicações.
Por
outro lado, as lentes são contraindicadas para pacientes muito jovens, devido
aos desgastes necessários para a realização do procedimento.
"Isso
porque o dente, uma vez desgastado, não tem mais volta. Pacientes com grandes
apinhamentos (dentes encavalados), também devem fazer o tratamento ortodôntico
prévio e assim diminuir a quantidade de desgaste dos dentes", ressalta a
dentista Viviane Valverde, especialista em dentística e estética e professora
assistente no curso de Cirurgia Oral da Associação Paulista de Cirurgiões
Dentistas (APCD Central).
Pessoas
com bruxismo (hábito de apertar e ranger os dentes durante o sono), que roem
unhas ou tampas de caneta também não devem aderir às lentes dentais.
·
'Não recomendo o procedimento para ninguém'
Contudo,
o sorriso está intimamente ligado à autoestima, e nesse quesito as lentes têm
conquistado um papel social importante.
Por
isso, há um ano, mesmo sendo contraindicado pelo seu dentista, a paulista Julia
de Oliveira Gratão, de 20 anos, colocou as lentes de contato com outro
profissional.
Desde
criança, além de ter um conoide, Julia se incomodava com o formato dos seus
dentes que, segundo ela, eram desalinhados e muito pequenos. Ela usou aparelho
ortodôntico duas vezes e eles ficaram ordenados, porém, a forma era a mesma.
Motivada
pelas redes sociais e vários famosos que estavam fazendo o procedimento, ela
começou a buscar dentistas no Instagram, fez orçamentos, juntou dinheiro e
colocou as lentes.
"Eu
levei um susto quando me vi pela primeira vez, porque a cor realmente faz muita
diferença. E a lente de resina que coloquei eu não recomendo, porque ela é bem
artificial. Mesmo assim, eu saí de lá me achando linda e tirei várias
fotos", conta Julia.
"Mas,
no outro dia, quando acordei e me olhei no espelho, eu me assustei de novo, e
comecei a pesquisar uma forma de escurecer a lente para deixar com mais cara de
dente", confessa.
O
plano, contudo, não deu certo e a jovem permaneceu com os dentes extremamente
brancos. Ela lembra que, inicialmente, chegou a sofrer bullying por causa da
sua nova aparência. Esse porém, em pouco tempo, tornou-se o menor dos seus
problemas.
"No
começo eu não sentia quase nada, mas uns meses depois minha gengiva começou a
sangrar e comecei a ficar com muito mau hálito. Eu escovava muito os dentes,
usava enxaguante bucal, mas nada resolvia", recorda-se, lembrando que uma
das lentes de um dente do fundo chegou a cair e ela não repôs novamente, por
receio da dentista que fez o procedimento.
Por
meio de buscas na internet, ela deduziu que estava com gengivite, diagnóstico
confirmado por seu dentista pouco depois. Julia conta que não pesquisou quais
eram os possíveis riscos e a dentista responsável pelo procedimento também não
chegou a falar sobre isso. "Ela só me falou que a manutenção era a cada
cinco anos e pediu para eu trocar a escova por uma que tivesse as cerdas
finas", diz.
"Eu
fui ao meu dentista, que era totalmente contra eu colocar as lentes, para fazer
uma limpeza. Mas ele disse que não tinha como fazer e que primeiro eu tinha que
tratar a gengivite. Daí ele passou um creme dental para eu usar provisoriamente
e disse que quanto mais sangrasse, mais eu deveria usar esse creme e passar o
fio dental. E recomendou que eu tirasse as lentes, porque se eu não conseguisse
controlar a gengivite, ela iria virar uma periodontite", desabafa a jovem.
Entretanto,
pensando no investimento financeiro e no quanto havia mudado de aparência, ela
se recusou a seguir a orientação e, como consequência, sua rotina mudou
drasticamente. Hoje, ela não pode deixar de escovar os dentes depois de nenhuma
refeição, mesmo se estiver viajando ou fazendo um passeio.
Para
onde vai, a escova e o fio dental precisam acompanhá-la para que o problema não
se agrave e vire uma periodontite (que provoca a destruição dos tecidos
periodontais e do osso alveolar).
"Eu
uso esse creme dental até hoje, passo fio dental mais de cinco vezes por dia.
Se eu pulo um almoço, quando vou escovar à noite já está sangrando. Então é uma
limpeza que exige muito e qualquer vacilo já dá dor de cabeça. Não recomendo o
procedimento para ninguém, você fica refém", afirma Julia.
Valverde
explica que há muitos casos em que há a necessidade de remoção das lentes por
trabalhos malfeitos, com excessos de materiais, infiltrações nas emendas das
lentes com os dentes. E, tudo isso, segundo ela, ainda pode causar cáries, além
de deixar o paciente frustrado.
"Essa
remoção pode ser feita com desgastes das cerâmicas, resinas com brocas ou com
aparelhos de lasers de alta potência que "derretem" o cimento que as
colou no dente. Este último é um aparelho de custo elevado que vai onerar ainda
mais o retrabalho", alerta a dentista, ressaltando que toda vez que se
remove uma lente, é preciso colocar outra no lugar, pois o dente não será mais
o mesmo após o desgaste que é feito na maioria dos casos.
"Há
profissionais que prometem trabalhos sem desgastes prévios, porém, os casos em
que isso é possível são muito raros e devem ser muito bem avaliados",
orienta a professora da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas.
·
O que são as lentes de contato dentais?
São
laminados que podem ser feitos com cerâmica ou resinas compostas. Elas têm esse
nome popular justamente devido à sua espessura ultrafina, semelhante a uma
lente de contato para os olhos. Contudo, a espessura do laminado, que será
"cimentada" é atrelada a fatores individuais como, por exemplo, a cor
do dente. "Se um dente é muito escurecido, ele vai necessitar de maior
desgaste, para um laminado mais espesso mascarar esse escurecimento",
explica Valverde.
O
procedimento em si precisa ser bem planejado para diagnosticar qual a melhor
indicação individualmente. Na maioria dos casos, há necessidade de desgaste dos
dentes, para que não haja excesso de material restaurador, seja ele resina ou
cerâmica. "Caso isso ocorra, o paciente terá problemas como a gengivite,
mau hálito, cálculos dentais (tártaros)", alerta a especialista.
Após
esses preparos, os dentes são moldados com materiais precisos à base de
silicone ou escaneados em um processo digital. As cerâmicas são confeccionadas
em laboratórios de próteses, utilizando esses modelos.
A
chamada técnica direta permite que as lentes em resinas sejam feitas
diretamente na boca dos pacientes. Isso pode baratear o processo, porém, o
resultado depende muito mais da habilidade do dentista.
Em
suma, quando bem indicado e realizado corretamente, os riscos são baixos e o
trabalho fica bom. "Se for realizado dentro das indicações e com respeito
às especificações técnicas de cada passo como os preparos adequados, moldagem,
perfeita adaptação dos laminados aos dentes, cimentação e ajuste oclusal, os
riscos são minimizados", diz Ximenes.
Mesmo
assim, o paciente terá que ter alguns cuidados para evitar o surgimento de
problemas, como manter a higiene bucal adequada e não morder/quebrar alimentos
muito rígidos. Caso contrário, o paciente pode ter sensibilidade, dor e até a
necessidade de tratamento de canal, gengivites, periodontites, mau hálito por
acúmulo de sujeira e por aí vai. "É imprescindível deixar claro que a
higienização diária por parte do paciente é tão importante quanto as visitas ao
dentista para maior durabilidade dos laminados cerâmicos", pontua Ximenes.
·
As visitas ao dentista devem ser recorrentes?
De
acordo com os especialistas, se estiver tudo bem, sem manchas nas emendas,
gengivas sangrando ou sensibilidades excessivas, consultas semestrais ao
dentista, ou seja, duas vezes por ano são suficientes para avaliação de
polimentos e averiguar a presença de infiltrações nas emendas dos trabalhos.
Outro
ponto importante de ser mencionado é que não existe um tempo pré-determinado
para substituição das lentes de contato. "Normalmente, os laminados
cerâmicos precisam de menos manutenção do que os feitos em resina", avalia
Valverde.
Já
os preços podem variar entre R$ 500,00 (feitos em resina) até R$ 3.000,00
(cerâmica) por dente. "Desconfie quando os valores são muito baixos",
comenta a dentista. Por outro lado, ela diz que não é necessário colocar em
todos os dentes— mas tudo vai depender do planejamento do sorriso com o
profissional.
Por
fim, pessoas que não têm indicação devem seguir a orientação de seu dentista. E
a ortodontia, apesar de ser mais morosa, não deve ser menosprezada, pois
problemas de oclusão podem acabar com o sucesso de qualquer tratamento
estético.
"Eu
sempre deixo claro que o tratamento não é brincadeira e não deve ser feito para
que o paciente tenha os dentes ultra brancos, com aspecto de cerâmica
sanitária, e sim que fique o mais natural possível em anatomia, cores e
texturas, mimetizando os dentes naturais", conclui Ximenes.
Fonte:
BBC News Brasil
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