O exterminador do
futuro: amigo ou inimigo?
No
filme o Exterminador do Futuro, estrelado em 1985 por Arnold Schwarzenegger, um
sistema de inteligência artificial (SkyNet) se torna consciente e deflagra um
ataque nuclear, destruindo a civilização e trazendo um futuro distópico para a
humanidade. No filme, SkyNet se tornaria consciente em 1997, 26 anos atrás.
Esse
exemplo ilustra duas características associadas à inteligência artificial (IA):
primeiramente tem sido uma promessa que sempre parece estar uma década no
futuro, entregando menos que o esperado. Em segundo lugar, muitos associam o
avanço da IA como perigoso para empregos e, no limite, para a humanidade. Será
a inteligência artificial nossa amiga ou inimiga?
A
inteligência artificial é a maior promessa do século XXI
Nos
últimos anos, o mundo tem se tornado cada vez mais digital, levando a uma
geração de dados em volumes nunca vistos. Para se ter uma ideia, hoje mais
dados são criados por hora, do que em um ano inteiro na virada do século.
Existem tantos dados que seria preciso mais de um trilhão de iphones 128GB para
armazená-los! Mas ainda assim, apenas 1% disso é capturado, armazenado e usado.
Parece um desperdício, não?
Mas
isso está prestes a mudar. Estamos em um momento decisivo em que a inteligência
artificial caminha para a adoção em massa, permitindo a possibilidade de
capitalizar totalmente a revolução dos dados e acelerar o ritmo de produção
global.
IA
é a tecnologia que permite que máquinas executem tarefas tipicamente humanas.
Robôs que analisam dados, dirigem, programam, compõem músicas e até descobrem
curas. Esses são só alguns dos produtos do enorme mercado que está por vir.
Vimos
os anos 2010 como a década das “Big 5”: (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e
Google), que tiveram suas ações valorizando mais de 1000%, principalmente pela
inteligência de dados. Essas empresas têm em comum a capacidade de utilizar
dados coletados para a predição de recomendações de produtos de acordo com o
perfil do cliente, aumentando a eficiência de vendas.
Como
as ferramentas de IA revolucionam a inteligência de dados, elas têm um
potencial incrivelmente alto. A IA pode permitir uma descoberta mais eficiente
das preferências do consumidor, reunindo e analisando dados e estimulando o
consumo.
Há
sinais claros que mostram o poder da tecnologia de IA. Já nos primeiros cinco
dias após a liberação do ChatGPT, ferramenta de IA que desempenha diversas
tarefas sob comandos, ele atingiu um milhão de usuários. Foram um bilhão de
visitas em três meses e uma taxa de adoção 3x a do TikTok e 10x a do Instagram.
Outro
possível impacto dessa tecnologia é a otimização do tempo: IA pode economizar
tempo dos funcionários, como por exemplo, ajudando a resumir textos técnicos
para pesquisa, relatórios de empresas, ajudando a programar e criar músicas.
Existem
até mesmo veículos autônomos hoje, o piloto automático da Tesla permite que a
pessoa possa dormir ou utilizar seu tempo de outra forma enquanto o veículo faz
o trabalho sozinho. A Gartner projeta que, em 2030, meio bilhão de usuários
economizarão duas horas por dia devido a IA.
Essa
evolução na produtividade é essencial, já que estamos desacelerando nas últimas
décadas.
Precisamos
de novas tecnologias: estamos perdendo produtividade e crescendo menos!
As
invenções do século XX foram instrumentais em liberar a força de trabalho de um
eterno suplício de trabalhos manuais e prevenir mortes prematuras. Pouco
podemos imaginar o quanto a produtividade cresceu com a eletricidade, carros,
aviões, máquina de lavar, ar-condicionado, entre outros.
Depois
do forte crescimento que vivemos no fim do século XIX e primeira metade do
século XX, curiosamente ao mesmo tempo que os computadores chegavam ao mundo,
ao redor de 1980, o crescimento começou a desacelerar nas maiores economias do
mundo.
Após
a crise financeira de 2008, juntamente com o surgimento das grandes empresas de
tecnologia nos Estados Unidos, essa desaceleração se mostrou mais presente, com
os Estados Unidos crescendo menos que 2% ao ano e a Europa meramente 1% a.a.
Parte
desse fenômeno é devido ao desenvolvimento digital ter ocorrido em áreas mais
estreitas da atividade humana: comunicação, manipulação de dados e
entretenimento. Por exemplo, o crescimento da produtividade nos Estados Unidos
após 1970 caiu para 1/3 do crescimento entre 1920 e 1970.
Em
resumo, após mais de 20 anos de internet, temos pouco a mostrar em termos de
ganhos de produtividade nas principais economias, particularmente no berço da
revolução tecnológica, os Estados Unidos.
Na
verdade, o oposto tem ocorrido, a economia americana tem se endividado mais e
gerado menos PIB por quantidade de dívida. Além disso, o governo tem crescido
em relação ao total da economia e diminuído a participação do setor privado
que, por definição, é mais produtivo.
Será
que IA pode ser a tecnologia que irá retomar o caminho da produtividade?
• Inteligências artificiais que marcaram a
história
Para
a tecnologia de IA evoluir ao ponto atual, um longo caminho já foi percorrido.
Na
guerra fria, uma das principais rivalidades entre Estados Unidos e União
Soviética era a supremacia intelectual. Os soviéticos levavam a sério os
campeonatos de xadrez, pois por meio dele podiam mostrar sua superioridade em
raciocínio lógico.
Na
época, eles eram campeões mundiais, liderados por Garry Kasparov. Eram tidos
como imbatíveis, até que em 1997, a derrota de Kasparov pela IA DeepBlue ficou
conhecida mundialmente. A cena de um soviético sendo derrotado por uma máquina
americana foi um marco na história.
Em
2011, a inteligência artificial IBM Watson foi vencedora em um programa de TV
de perguntas e respostas “Jeopardy!” contra os campeões da edição passada Brad
Rutter e Ken Jennings, valendo o prêmio de um milhão de dólares. O feito desse
sistema foi marcante por reforçar o imaginário que um dia a máquina poderia,
pelo menos em certas tarefas, superar a incrível mente humana.
Já
em 2016, a IA “AlphaGO”, desenvolvido pela DeepMind (empresa do Google),
derrotou o sul-coreano Lee Sedol que era, na época, 18 vezes campeão mundial do
jogo de tabuleiro “Go”. Lee Sedol se aposentou na carreira de jogador e disse a
célebre frase: “mesmo se eu me tornar o número um, existe uma entidade que não
pode ser derrotada”. Assista ao filme premiado dessa história: AlphaGo – O Filme.
A
partir de 2018, os milestones de IA passaram a gerar valor. O AlphaFold, também
desenvolvido pela DeepMind, determinou a estrutura de uma proteína apenas com
sua fórmula química, uma tarefa bem difícil para os humanos. Isso é imprescindível
na criação de novos remédios, já que as proteínas precisam ter formas
específicas para reagir com o nosso corpo.
O
precursor desse tipo de produto já existe, a Insilico Medicine é uma empresa de
biotecnologia, com sede em Hong Kong, que combina genética e deep learning para
a descoberta de medicamentos.
Por
fim, em 2022, a criatividade da IA passou a alcançar o público geral. O Dall-E
2 com imagens e o ChatGPT com textos, geram conteúdo a partir de instruções
humanas. O potencial de valor é enorme. As ferramentas de geração de imagem já
conseguem contribuir no mercado de design por sua capacidade de criação de
acordo com os detalhes pedidos:
No
caso do ChatGPT, ele foi aprovado no MBA em Wharton, na prova de Medicina e
Direito de Stanford, entre vários outros testes.
• Integração ou o risco de obsolescência
para os profissionais
Após
alguns dias utilizando o ChatGPT em nossas atividades, concluímos que em alguns
anos teremos duas classes de pessoas no mercado de trabalho: as que aprenderão
a utilizar a IA em suas atividades e aumentarão sua produtividade, e as que se
colocarão em risco por não a integrar.
A
utilização dessas ferramentas traz novas habilidades inimagináveis, verdadeiros
superpoderes: ilustradores hoje geram milhares de imagens por semana para seus
projetos, compositores compõem com extrema velocidade e melhor qualidade,
arquitetos usam IA para criar projetos a partir de uma ideia inicial, como o
projeto abaixo, por exemplo.
Se
imaginarmos que a tarefa da tecnologia é liberar o ser humano para atividades
criativas, a IA é o ápice desse processo: onde a própria máquina contribui
ativamente no processo criativo, liberando o profissional para conectar ideias
e gerar as perguntas certas no seu objetivo de análise, marketing ou produção.
E
esse é apenas o início de um longo processo de integração. Perguntamos ao
ChatGPT quais as próximas tecnologias de IA, eis a resposta:
Mesmo
os que consideram que hoje as capacidades de IA estão aquém do requerido por
suas profissões, devem lembrar que essas ferramentas estão evoluindo
rapidamente. Levou somente quatro horas para o AlphaGo aprender xadrez, jogando
contra si mesmo, e derrotar a IA então campeã mundial. Nesse campo, os
desenvolvimentos podem ser extremamente rápidos.
• Onde investimos hoje em oportunidades
relacionadas com IA
Perguntamos
ao ChatGPT quais seriam as principais empresas de IA para investimentos. A
resposta é praticamente indistinguível da resposta de um analista do setor.
Entre
essas empresas, escolhemos detalhar o caso da Nvidia, empresa responsável pelos
chips mais avançados utilizados para a inteligência artificial, os chamados
GPUs.
Todas
as Big Techs citadas como fortes players de inteligência artificial chegaram a
esse ponto de evolução por meio dos processadores da Nvidia.
A
tecnologia é tão avançada que, no conflito geopolítico EUA x China, os Estados
Unidos proibiram a exportação dos chips Nvidia A100 e H100 para a China para
prevenir que a China tenha inteligência artificial de ponta. No Kinea Insights
“A Guerra do Silício” detalhamos esse conflito.
A
Nvidia teve uma estratégia crucial quando, em 1999, criou a tecnologia de GPU
para processar imagens de videogames em alta velocidade. A diferença essencial
entre o CPU e GPU é que os CPUs fazem tarefas complexas sequencialmente, enquanto
os GPUs conseguem executar várias tarefas mais simples ao mesmo tempo, uma
arquitetura essencial para vídeos.
Enquanto
o mundo via a desaceleração da tecnologia de processamento com os CPUs, os GPUs
da Nvidia mudaram a história e possibilitaram a progressão da tecnologia a
passos largos novamente.
Agora,
seguindo a mesma estratégia vencedora do passado, a Nvidia foca seus esforços
em GPUs para aproveitar a grande oportunidade da década: a inteligência
artificial. Utilizando da mesma arquitetura, a Nvidia criou designs de GPU para
as redes neurais, imprescindíveis para os algoritmos de IA.
O
passo que eles conseguiram evoluir da tecnologia dos chips de IA foi
impressionante. Se o GPU de videogames fosse treinar o ChatGPT, pelo
equivalente que o chip de IA o treina em um dia, ele gastaria 288 anos!
Imagine,
por exemplo, a imagem do carro que está logo abaixo. Ele é autônomo, devido a
um chip de IA Nvidia. Ele tem telas para vídeo ou videogame, por meio de um
chip Nvidia. Ele está integrado a aplicativos como Netflix, Amazon, Google, que
utilizam chips Nvidia para armazenamento cloud. Seus produtos estão presentes
em diversas frentes de tecnologia de ponta.
A
empresa utilizou a estratégia de focar seus esforços integralmente no design
dos processadores e terceirizar a fabricação dos chips. Com isso, ela tem um
modelo de negócio diferente da sua principal competidora Intel, o que foi
essencial para a sua vantagem competitiva.
Além
disso, criaram uma plataforma de programação CUDA, que o cliente, ao assinar, consegue
potencializar ainda mais o poder de processamento do GPU Nvidia. Com isso, a
empresa fideliza os clientes, cria uma receita recorrente e aumenta o switching
cost. Nessas condições, acreditamos que a Nvidia pode ter um papel importante
na longa transição tecnológica da IA.
• Para fecharmos esse Kinea Insights, o
que dizer quanto ao medo de muitos que a IA poderá afetar o nível de empregos
conforme previsto por futuristas como Yuval Harari?
A
evidência até o momento, com décadas de tecnologia é que a sociedade ainda
possui enorme capacidade de criação de profissões e absorção de força de
trabalho. Após a recente década de revolução tecnológica, temos hoje a taxa
mais baixa de desemprego desde 1969, e isso também vale para outras economias
desenvolvidas como o continente europeu.
Vemos
a inteligência artificial, no momento, como uma esperança positiva para dias
melhores. Lembramos que a energia elétrica, de sua invenção no final do século
XIX até aplicação em fábricas levou cerca de três décadas.
Estamos
ainda longe, em nossa visão, de tecnologias apocalípticas como no caso do
SkyNet que mencionamos na abertura desse Insights, mas próximos de tecnologias
que podem nos propulsionar para novos níveis de produtividade e qualidade de
vida. Entretanto, também caminhamos para a realidade que os profissionais
precisarão integrar suas atividades à IA, caso contrário, nas palavras do
Exterminador, “hasta la vista baby!”.
Curiosamente,
no primeiro filme da serie, o Exterminador do Futuro vem ao mundo para tentar
destruir a humanidade e matar o suposto salvador. Entretanto, no segundo filme,
ele retorna com a missão de salvá-lo. Se você ainda não assistiu esses dois
filmes, recomendamos.
Fonte:
Kinea Investimentos
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