Denise Assis: Sobra
arrogância e falta competência no presidente do BC
"O
mercado continuará indiferente aos nossos discursos e rebelde às nossas
leis." A frase, embora soe atual e progressista, foi dita por Roberto
Campos, economista ultra neoliberal, privatista e ex-ministro do Planejamento
de Castelo Branco (1964/1967), o primeiro ditador do regime implantado pelos
militares (1964/1985), e consta do segundo volume do seu livro de memórias,
“Lanterna na Popa”.
Com
todas essas credenciais de direitista conservador, é possível que se vivo fosse
não estivesse de acordo com o comportamento do netinho (53 anos), que herdou o
seu nome, mas não a sua fidalguia.
Diplomata
concursado, Campos (avô) foi testemunha, ao lado do também economista Eugênio
Gudin, do encontro de Bretton Woods, que criou dois monstros do capitalismo: o
Banco Mundial e o FMI. Ele certamente não aprovaria a postura autoritária,
absolutista e ameaçadora de Bob Neto, que fez constar da última ata divulgada
pelo COPOM, uma verdadeira ameaça (ou o nome é chantagem?), provocando revolta
e indignação no assessor especial do BNDES, André Lara Resende.
Em
entrevista nesta quarta (29/03) à jornalista Míriam Leitão, ele traduziu os
seus sentimentos com relação à postura do presidente do Banco Central e sua
equipe, além de classificar de “arrogante” o texto da ata emitida pelo Banco.
Disse com conhecimento de causa e autoridade, aquilo que eu diria apenas como
cidadã perplexa e revoltada com tamanha ousadia.
“O BC está se arvorando, com uma equipe de
jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles
estão olhando, e se acham no direito de passar pito no Congresso, no presidente
eleito e no Judiciário. O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a
se considerar um quarto poder. É um quarto poder que dá lições de moral e se
considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”, diagnosticou.
É
mais que isso. É a tal da arrogância de que nos falou André Lara Resende,
calcada apenas na soberba. Há dois dias ele chegou a falar que “um arcabouço
‘crível’ pode ajudar a baixar os juros”, Ora faça-me o favor! Agora os
comentaristas papagaios, estão a apelidar o arcabouço fiscal anunciado nesta
quinta-feira (30/03) pelo ministro Fernando Haddad, como “crível”, para admitir
que, sim, o governo cumpriu a sua parte e entregou um bom plano.
Desde
que foi entronizado no cargo, o presidente do BC não deve ter lido as regras
que remetem às obrigações que lhe competem. Caso o tivesse feito, saberia, por
exemplo, que uma delas – fundamental –, é “manter a inflação sob controle”.
Isso porque, como explica o estatuto do próprio órgão, “a estabilidade dos
preços mantém o poder de compra da moeda”. Na prática, significa que o Banco
Central atua para preservar o valor do dinheiro em poder dos cidadãos, coisa
que ele vem descumprindo desde o início de sua gestão, iniciada sob a
presidência daquele que o indicou para estar onde está. E não foi Lula.
Como
no caso da lenda do macaco, que se senta em cima do próprio rabo e fala dos
demais, Bob Neto acumula razões de sobra para ser ejetado do posto. Além de
torturar os setores produtivos, os pequenos empresários e os consumidores, com
juros escorchantes (13,75%, por enquanto), classificados pelo prêmio Nobel de
Economia, Joseph Stiglitz como verdadeira “sentença de morte” para a vida
financeira do país, não consegue se entender com a inflação, um dos seus
“deveres para casa”.
O
órgão enfatiza que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo
de desinflação não transcorra como esperado". Chegou a falar que “se fosse
cumprir a meta de inflação de 2023, teria que ter juros de 23,5%”. Uma elevação
até os píncaros, que fez ferver o sangue da deputada federal e presidente do
PT, Gleisi Hoffmann (PR), levando-a a sugerir a exoneração de toda a diretoria
do BC, sacando a Lei Complementar nº 179, de 24 de fevereiro de 2021, que
dispõe sobre a autonomia do Banco e a nomeação do presidente e seus diretores.
Motivos
Bob Neto já deu de sobra. Ele, sim, errou nas contas nos dados sobre balança
comercial, tendo de vir a público se retificar. Comercializou de forma nebulosa
de R$ 39 bilhões em ouro, no ano passado, escondendo, sob o argumento de
“sigilo bancário”, o que foi a maior quantidade de compra do metal dos últimos
20 anos, em um curto período de três meses. E, por fim, não consegue entregar o
controle da inflação, sua razão de existir. Fora Bob! O país precisa caminhar.
Em meio a divergências públicas, Lula
decide encontrar chefe do Banco Central para discutir juros
As
tensões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe do Banco
Central, Roberto Campos Neto, estão em alta desde o começo do mandato do
petista, mas agora, Lula finalmente aceitou encontrar com Campos Neto para uma
conversa.
O
necessário encontro entre o governo federal e o Banco Central não será apenas
um simples diálogo. Nas próximas semanas, o chefe do Senado, Rodrigo Pacheco,
promoverá um evento público na Casa para debater o tema com Campos Neto, e, de
acordo com a revista Veja, os olhos de Lula "teriam brilhado" quando
soube do evento.
"Eu
vou. Acho importante estar no Senado nesse dia", afirmou o presidente
citado pela mídia
O
mandatário disse a Pacheco que irá ao plenário para debater com o chefe do BC
"juros, inflação e crescimento econômico". Na mesma conversa com
Pacheco, ministros do governo e líderes do Senado, Lula pediu empenho na luta
pela redução dos juros.
O
governo federal e o Banco Central travam uma luta em torno da taxa básica de
juros brasileira que está em 13,75%, a maior taxa do mundo, segundo o G1.
Carros
são vistos no pátio da montadora Hyundai na rodovia Anhanguera, em São Paulo, 5
de julho de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 21.03.2023
Notícias
do Brasil
Alta
dos juros causa paralização das principais montadoras no Brasil, funcionários
estão de férias
21
de março, 07:54
Em
decisão tomada na semana passada, a instituição financeira, que é independente
do governo, decidiu manter a taxa e foi novamente alvo de críticas do poder
Executivo e do Ministério da Fazenda.
Brasil vai se reintegrar à Unasul
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina, nos próximos dias, decreto que
revoga a saída do Brasil da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). O país
deixou a entidade em 2019, na gestão Bolsonaro, e agora quer fomentar uma maior
integração internacional por meio da organização, esvaziada desde a saída
brasileira.
O
Ministério das Relações Exteriores ressalta a intenção do governo Lula em
estreitar as relações com os países sul-americanos. Em documento, a pasta destaca
como “firme e valioso” o cumprimento do tratado que criou a entidade, em 2008.
No
Itamaraty, o tema é tratado sem alarde. O temor é que o assunto seja politizado
pela oposição ao governo brasileiro. Em outra frente, fontes do Ministério das
Relações Exteriores acreditam que pode haver resistência por parte do Uruguai,
uma vez que o país do presidente Lacalle Pou deu uma guinada à direita desde
2020, quando assumiu a presidência local.
O
decreto e a carta de ratificação das intenções brasileiras estão prontos. A
previsão é que Lula assine o documento em até 10 dias. Assim, espera-se que a
Unasul seja retomada em sua composição original, com Argentina, Bolívia, Chile,
Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, além
do Brasil.
A
Unasul era formada por 12 países da América do Sul, com o objetivo de construir
um espaço de diálogo e articulação no âmbito cultural, econômico e político
entre seus membros. Mas, em abril de 2019, quatro meses após tomar posse,
Bolsonaro anunciou, via Twitter, a saída do Brasil do grupo. Na ocasião, o
então presidente considerou melhor integrar o Fórum para o Progresso da América
do Sul (Prosul).
No
ato da saída, o Ministério das Relações Exteriores fez o anúncio oficial por
meio de nota: “Em abril de 2018, os governos de Brasil, Argentina, Chile,
Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai decidiram, de forma conjunta, suspender a
sua participação da Unasul em função da prolongada crise no organismo, quadro
que, desde então, não se alterou”, disse o Itamaraty.
Integração
Em
24 de janeiro, logo no início de seu mandato, Luiz Inácio Lula da Silva já
demonstrava intenção diferente de seu antecessor. Em viagem à Argentina, Lula
afirmou que seu governo fortaleceria o Mercosul e recriaria a Unasul. “Sozinhos
somos fracos. Juntos, podemos crescer e desenvolver a região”, escreveu o
presidente em suas redes sociais.
Na
ocasião, Lula já dizia que queria melhorar as relações com os países vizinhos,
abaladas por Bolsonaro. “Vim para a Argentina não só para participar da Celac
(Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que acontece hoje, mas
também para dizer que o Brasil está de volta”, escreveu o petista.
A
promessa está prestes a ser cumprida. A corrida da documentação para retorno à
Unasul tem o objetivo de que Lula ainda consiga registrá-la em seu balanço de
100 dias de governo.
O
governo Lula trabalha para que a cúpula de reestreia da Unasul aconteça no
Brasil ainda no primeiro semestre de 2023, conforme antecipado pelo colunista
Igor Gadelha do Metrópoles.
Fonte:
Brasil 247/Sputnik Brasil//Metrópoles
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