sábado, 1 de abril de 2023

Denise Assis: Sobra arrogância e falta competência no presidente do BC

"O mercado continuará indiferente aos nossos discursos e rebelde às nossas leis." A frase, embora soe atual e progressista, foi dita por Roberto Campos, economista ultra neoliberal, privatista e ex-ministro do Planejamento de Castelo Branco (1964/1967), o primeiro ditador do regime implantado pelos militares (1964/1985), e consta do segundo volume do seu livro de memórias, “Lanterna na Popa”.

Com todas essas credenciais de direitista conservador, é possível que se vivo fosse não estivesse de acordo com o comportamento do netinho (53 anos), que herdou o seu nome, mas não a sua fidalguia.

Diplomata concursado, Campos (avô) foi testemunha, ao lado do também economista Eugênio Gudin, do encontro de Bretton Woods, que criou dois monstros do capitalismo: o Banco Mundial e o FMI. Ele certamente não aprovaria a postura autoritária, absolutista e ameaçadora de Bob Neto, que fez constar da última ata divulgada pelo COPOM, uma verdadeira ameaça (ou o nome é chantagem?), provocando revolta e indignação no assessor especial do BNDES, André Lara Resende.

Em entrevista nesta quarta (29/03) à jornalista Míriam Leitão, ele traduziu os seus sentimentos com relação à postura do presidente do Banco Central e sua equipe, além de classificar de “arrogante” o texto da ata emitida pelo Banco. Disse com conhecimento de causa e autoridade, aquilo que eu diria apenas como cidadã perplexa e revoltada com tamanha ousadia.

 “O BC está se arvorando, com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando, e se acham no direito de passar pito no Congresso, no presidente eleito e no Judiciário. O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a se considerar um quarto poder. É um quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”, diagnosticou.

É mais que isso. É a tal da arrogância de que nos falou André Lara Resende, calcada apenas na soberba. Há dois dias ele chegou a falar que “um arcabouço ‘crível’ pode ajudar a baixar os juros”, Ora faça-me o favor! Agora os comentaristas papagaios, estão a apelidar o arcabouço fiscal anunciado nesta quinta-feira (30/03) pelo ministro Fernando Haddad, como “crível”, para admitir que, sim, o governo cumpriu a sua parte e entregou um bom plano.

Desde que foi entronizado no cargo, o presidente do BC não deve ter lido as regras que remetem às obrigações que lhe competem. Caso o tivesse feito, saberia, por exemplo, que uma delas – fundamental –, é “manter a inflação sob controle”. Isso porque, como explica o estatuto do próprio órgão, “a estabilidade dos preços mantém o poder de compra da moeda”. Na prática, significa que o Banco Central atua para preservar o valor do dinheiro em poder dos cidadãos, coisa que ele vem descumprindo desde o início de sua gestão, iniciada sob a presidência daquele que o indicou para estar onde está. E não foi Lula.

Como no caso da lenda do macaco, que se senta em cima do próprio rabo e fala dos demais, Bob Neto acumula razões de sobra para ser ejetado do posto. Além de torturar os setores produtivos, os pequenos empresários e os consumidores, com juros escorchantes (13,75%, por enquanto), classificados pelo prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz como verdadeira “sentença de morte” para a vida financeira do país, não consegue se entender com a inflação, um dos seus “deveres para casa”.

O órgão enfatiza que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado". Chegou a falar que “se fosse cumprir a meta de inflação de 2023, teria que ter juros de 23,5%”. Uma elevação até os píncaros, que fez ferver o sangue da deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), levando-a a sugerir a exoneração de toda a diretoria do BC, sacando a Lei Complementar nº 179, de 24 de fevereiro de 2021, que dispõe sobre a autonomia do Banco e a nomeação do presidente e seus diretores.

Motivos Bob Neto já deu de sobra. Ele, sim, errou nas contas nos dados sobre balança comercial, tendo de vir a público se retificar. Comercializou de forma nebulosa de R$ 39 bilhões em ouro, no ano passado, escondendo, sob o argumento de “sigilo bancário”, o que foi a maior quantidade de compra do metal dos últimos 20 anos, em um curto período de três meses. E, por fim, não consegue entregar o controle da inflação, sua razão de existir. Fora Bob! O país precisa caminhar.

 

       Em meio a divergências públicas, Lula decide encontrar chefe do Banco Central para discutir juros

 

As tensões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, estão em alta desde o começo do mandato do petista, mas agora, Lula finalmente aceitou encontrar com Campos Neto para uma conversa.

O necessário encontro entre o governo federal e o Banco Central não será apenas um simples diálogo. Nas próximas semanas, o chefe do Senado, Rodrigo Pacheco, promoverá um evento público na Casa para debater o tema com Campos Neto, e, de acordo com a revista Veja, os olhos de Lula "teriam brilhado" quando soube do evento.

"Eu vou. Acho importante estar no Senado nesse dia", afirmou o presidente citado pela mídia

O mandatário disse a Pacheco que irá ao plenário para debater com o chefe do BC "juros, inflação e crescimento econômico". Na mesma conversa com Pacheco, ministros do governo e líderes do Senado, Lula pediu empenho na luta pela redução dos juros.

O governo federal e o Banco Central travam uma luta em torno da taxa básica de juros brasileira que está em 13,75%, a maior taxa do mundo, segundo o G1.

Carros são vistos no pátio da montadora Hyundai na rodovia Anhanguera, em São Paulo, 5 de julho de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 21.03.2023

Notícias do Brasil

Alta dos juros causa paralização das principais montadoras no Brasil, funcionários estão de férias

21 de março, 07:54

Em decisão tomada na semana passada, a instituição financeira, que é independente do governo, decidiu manter a taxa e foi novamente alvo de críticas do poder Executivo e do Ministério da Fazenda.

 

       Brasil vai se reintegrar à Unasul

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina, nos próximos dias, decreto que revoga a saída do Brasil da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). O país deixou a entidade em 2019, na gestão Bolsonaro, e agora quer fomentar uma maior integração internacional por meio da organização, esvaziada desde a saída brasileira.

O Ministério das Relações Exteriores ressalta a intenção do governo Lula em estreitar as relações com os países sul-americanos. Em documento, a pasta destaca como “firme e valioso” o cumprimento do tratado que criou a entidade, em 2008.

No Itamaraty, o tema é tratado sem alarde. O temor é que o assunto seja politizado pela oposição ao governo brasileiro. Em outra frente, fontes do Ministério das Relações Exteriores acreditam que pode haver resistência por parte do Uruguai, uma vez que o país do presidente Lacalle Pou deu uma guinada à direita desde 2020, quando assumiu a presidência local.

O decreto e a carta de ratificação das intenções brasileiras estão prontos. A previsão é que Lula assine o documento em até 10 dias. Assim, espera-se que a Unasul seja retomada em sua composição original, com Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, além do Brasil.

A Unasul era formada por 12 países da América do Sul, com o objetivo de construir um espaço de diálogo e articulação no âmbito cultural, econômico e político entre seus membros. Mas, em abril de 2019, quatro meses após tomar posse, Bolsonaro anunciou, via Twitter, a saída do Brasil do grupo. Na ocasião, o então presidente considerou melhor integrar o Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul).

No ato da saída, o Ministério das Relações Exteriores fez o anúncio oficial por meio de nota: “Em abril de 2018, os governos de Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai decidiram, de forma conjunta, suspender a sua participação da Unasul em função da prolongada crise no organismo, quadro que, desde então, não se alterou”, disse o Itamaraty.

Integração

Em 24 de janeiro, logo no início de seu mandato, Luiz Inácio Lula da Silva já demonstrava intenção diferente de seu antecessor. Em viagem à Argentina, Lula afirmou que seu governo fortaleceria o Mercosul e recriaria a Unasul. “Sozinhos somos fracos. Juntos, podemos crescer e desenvolver a região”, escreveu o presidente em suas redes sociais.

Na ocasião, Lula já dizia que queria melhorar as relações com os países vizinhos, abaladas por Bolsonaro. “Vim para a Argentina não só para participar da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que acontece hoje, mas também para dizer que o Brasil está de volta”, escreveu o petista.

A promessa está prestes a ser cumprida. A corrida da documentação para retorno à Unasul tem o objetivo de que Lula ainda consiga registrá-la em seu balanço de 100 dias de governo.

O governo Lula trabalha para que a cúpula de reestreia da Unasul aconteça no Brasil ainda no primeiro semestre de 2023, conforme antecipado pelo colunista Igor Gadelha do Metrópoles.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil//Metrópoles

 

Nenhum comentário: